segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

PAS213. O último Custer

Os aromas da pradaria, os velhos odores da seiva e da artemísia inundavam o seu olfato. Pensou que, mesmo de olhos vendados, saberia onde se encontrava. Nenhuma pradaria do mundo cheirava como a de Rosalita. Aquele aroma era toda a sua infância, a sua vida inteira. O melhor da sua infância e da sua vida, antes das coisas tomarem mau caminho! Era Pete, Hank, Jerry, os três em plena juventude. Era tudo!
Certa ocasião, tinha catorze anos, aproximara-se daquele rancho levando amarrado à sela o cadáver dum puma. Dera mnorte ao felino a tiros de revólver, depois duma luta selvagem, e sentia-se orgulhoso do seu troféu. Uma rapariguinha de cabelo revolto havia saído a correr ao seu encontro. Johnny depositara o corpo do animal aos seus pés e dissera: «Faz um tapete com a sua pele, Louise». Nunca, nunca mais em nenhuns olhos voltara a ler a admiração que os olhos da pequena refletiam.
A grande casa, com a sua varanda e a sua frontaria, continuava igual. A colina, a parte do bosque, o riacho, os hortos dos peões mexicanos, as dependências e a dupla fila de árvores de fruto que separavam estas da vereda, eram as mesmas.
Apenas ele mudara!
Um homem alto pôs-se de pé na varanda logo que os dois cavaleiros se aproximaram. Permaneceu um momento imóvel. Em seguida, avançou e deteve-se a esperá-los no mais baixo dos quatro degraus que distanciavam a varanda do solo. Tinha o cabelo completamente branco em contraste com a sua pele tostada e os seus olhos negros e profundos. Conservava-se direito e galhardo. As suas pernas grandes e ligeiramente arqueadas denotavam que passara a cavalo grande parte da sua vida.
Johnny saltou da salta atrás do «cow-boy».  O homem nem sequer olhou este. Os seus olhos detinham-se apenas em Johnny. Os traços viris do seu rosto era como se tivessem endurecido. Os seus lábios formavam uma linha reta e estreita.
Johnny, passo a passo, caminhou ao seu encontro.
- Olá, Wolfe – disse.
O homem articulou:
- Recebeste a minha carta?
- Sim.
- Sabia que virias. Sabia. Sabia… que existe qualquer coisa em ti. És um Custer.
- O último - assentiu Johnny a meia voz.
E, de súbito, um pouco incomodado de início, firme, atrapalhado ao mesmo tempo, achou-se estreitado pelos braços de Wolfe. O abraço durou um segundo. Johnny sentiu no coração uma coisa estranha, rara, um vazio incompreensível. Quando olhou o homem, viu agitar-se uma onda de emoção na parte mais funda das suas pupilas.
(Coleção Búfalo, nº 53)

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