segunda-feira, 17 de outubro de 2022

BIS207.12 Cavalos para os bandidos


O quarto de Bertha ficava ao fundo da cozinha. A boa mulher disse à rapariga: 

— Deite-se tranquila. O Jones e eu dormiremos em qualquer dos outros quartos, se tivermos tempo para descansar, pois estes novos clientes vão tardar em ir para a cama. Agora puseram-se a jogar às cartas. Mau ofício, este de estalajadeiro! 

Maria ficou sozinha no quarto. A rapariga estivera quase a confiar-se a Bertha, mas resolvera não o fazer, porque sabia que, tratando-se de dinheiro, não podia confiar em ninguém. Nem naquela boa mulher que a protegia. 

Esperou uma meia hora. Aqueles homens que procuravam o pai dela ficariam toda a noite na estalagem. Tinha, portanto, um bom avanço. 

— Mas... onde estarão eles agora? Nem sequer sei por onde vêm, não serei capaz de os encontrar de noite. E, no entanto, tenho de o tentar! 

A jovem levantou-se. Tinha-se deitado vestida. Abriu a janela do quarto e saiu para o exterior. A noite estava muito escura, a rapariga segurava com força no seu saco. 

— O velho do estábulo. Deus queira que esteja a dormir! 

Estava a dormir, sobre um monte de palha, e cheirava a álcool de muito longe. No estábulo estava o cavalo de Maria e outros três, aos quais nem sequer tinham ainda tirado as selas. 

Maria selou o seu e, enquanto o fazia, pensou: «Não deve haver mais cavalos na estalagem, os outros clientes foram-se embora. Se eu levasse estes... Esses homens não poderiam sair daqui, levariam muito tempo a arranjar outros...» Tinha amarrado o saco ao arção da sua sela. Depois amarrou as rédeas dos outros três cavalos a uma longa corda. 

O piso da cavalariça estava coberto de palha, pelo que os cavalos não faziam ruído ao caminhar sobre ele. Lá fora, a terra mole também abafava o ruído. 

Maria Andella, a corajosa rapariga, pôde afastar-se assim da estalagem. Depois montou no seu próprio cavalo, segurando a corda que sujeitava os outros três, e empreendeu a viagem, para Noroeste, guiando-se pelas longínquas sombras dos montes. 

Matt Coleman lançou as cartas para cima da mesa, bocejando, e depois espreguiçou-se, 

— Vou dormir. Temos de sair ao amanhecer, não esqueçam. Taberneiro!

Jones aproximou-se. 

— Os quartos estão prontos, senhor. 

Matt Coleman dirigiu-se para a porta que lhe indicavam, mas subitamente mudou de direção. 

— Vou ver se esse velho bêbedo que está no estábulo deu de comer aos cavalos — comentou. 

Saiu de casa e dirigiu-se para o estábulo. A primeira coisa que viu foi o velho, roncando na palha. E depois, as baias vazias. Matt Coleman pôs-se vermelho. Pegou num candeeiro que pendia de um barrote e revistou o pequeno estábulo, mas não estava ali nenhum cavalo. 

Furioso, Matt Coleman desferiu um pontapé no velho, mas depressa compreendeu que este não estava em condições de falar. Voltou à estalagem, entrando como um furacão. O taberneiro perguntou, ingenuamente: 

— Foram bem tratados os seus cavalos, senhor? 

— Não estão lá, levaram-nos! Que espécie de estalagem é esta? Roubam os cavalos mesmo nas barbas dos clientes! Diga-me onde estão ou queimamos este antro com vocês cá dentro! 

Tinha ferrado Jones pelo pescoço e abanava-o. Os seus gritos fizeram sair Bertha da cozinha e os outros dois homens, que já estavam nos quartos. 

— Que se passa, chefe? 

—Roubaram os cavalos! Não há um único no estábulo, além do velho! 

Bertha, que era muito mais esperta que o marido, perguntou: 

— Também não está o da menina? 

— Não sei de que menina fala, não está lá nenhum, Vocês devem ser cúmplices do ladrão e... 

Bertha atravessou a cozinha e entrou no quarto. Viu a janela aberta. 

— A rapariga. Não é possível... Uma vulgar ladra! 

Jones gritava, pois tinham começado a bater-lhe, e a mulher voltou à sala, vociferando: 

— Deixem o Jones, canalhas! Ele não saiu daqui, não temos nada a ver com este roubo! Não podemos responder por todos os clientes, isto é um sítio público! Os vossos cavalos levou-os uma rapariga, uma linda rapariga com ar de anjo. Que barbaridade. Mulheres a roubar cavalos! 

Matt Coleman rosnou: 

— Deixem-no! Tu, examina essas pegadas e diz-me depressa o que vês! 

O homem voltou depressa, porque a terra mole que rodeava o estábulo conservava bem as marcas. 

— Pois parece que era uma mulher, a julgar pelo tamanho das botas. Decididamente, são botas de mulher, Matt. Estava sozinha e levou quatro cavalos. 

—Já lhe tinha dito! Estava uma rapariga na estalagem, chegou antes de vocês! Como vinha sozinha, metemo-la num quarto, para que não a incomodassem, parecia uma menina e... 

— Essa menina roubou-nos os cavalos e ainda não sei se seria vossa cúmplice. Temos de apanhá-la. Onde há outros cavalos? 

— Aqui não, senhor. 

— Onde? 

— O curral mais próximo é a dez léguas... 

— Maldito sejas, vou-te rachar a cabeça, taberneiro! Dá-me o teu! Vou apanhar sozinho esse ladrão de saias! 

— Eu... eu não tenho cavalo, senhor! Nunca saio daqui, trazem-me os víveres uma vez por semana e... 

Matt Coleman, furioso, deu-lhe um soco que lançou o taberneiro ao solo. Bertha insultava Matt que, sem lhe ligar a mínima importância, se voltou para os seus homens. 

— Não podemos fazer nada, é inútil tentar segui-la a pé. Temos de esperar. 

— O quê, chefe? 

—Imbecil, que passe por aqui alguém com cavalos! Isto é um caminho concorrido, apanharemos os primeiros que passarem! Sejam de quem forem! Sentem-se lá fora, no portal, e escutem! Se os que passarem não pensarem deter-se nesta imunda estalagem, o que demonstrará o seu bom senso, teremos de detê-los nós! Se for preciso, a tiro! Lá para fora, e avisem-me se ouvirem alguma coisa! Neste deserto ouve-se muito longe! Os dois homens obedeceram. 

Matt voltou para a mesa. O taberneiro levantava-se, olhando com ódio para o seu feroz cliente. Matt ordenou-lhe: 

— Traga-me uma garrafa de uísque, do melhor que tiver! Você é o responsável por isto, os cavalos estavam a seu cargo, a cargo desse bêbedo que tem no estábulo, e terá de pagar-me o que eles valem se não aparecerem! E valem mais que todo este sujo estabelecimento! 

Bertha murmurou ao marido: 

— Deixa-o, não faças caso. Já lhe passa. 

As três da manhã, um dos homens que estavam no portal, lutando contra o sono, levantou a cabeça e disse ao outro: 

— Tu! Não ouves o ruído de cavalos? 

— Sim! Por este lado! Avisa o chefe! 

Matt Coleman, como era ele quem pagava, estava a dormir, depois de ter bebido meia garrafa. Acordaram-no. 

— Chefe! Vem aí alguém a cavalo! 

Matt pôs-se de pé, sacudindo a cabeça, e empunhou o revólver. 

— Vamos, é preciso detê-los! Ao caminho! 


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