— Deite-se tranquila. O Jones e eu dormiremos em qualquer dos outros quartos, se tivermos tempo para descansar, pois estes novos clientes vão tardar em ir para a cama. Agora puseram-se a jogar às cartas. Mau ofício, este de estalajadeiro!
Maria ficou sozinha no quarto. A rapariga estivera quase a confiar-se a Bertha, mas resolvera não o fazer, porque sabia que, tratando-se de dinheiro, não podia confiar em ninguém. Nem naquela boa mulher que a protegia.
Esperou uma meia hora. Aqueles homens que procuravam o pai dela ficariam toda a noite na estalagem. Tinha, portanto, um bom avanço.
— Mas... onde estarão eles agora? Nem sequer sei por onde vêm, não serei capaz de os encontrar de noite. E, no entanto, tenho de o tentar!
A jovem levantou-se. Tinha-se deitado vestida. Abriu a janela do quarto e saiu para o exterior. A noite estava muito escura, a rapariga segurava com força no seu saco.
— O velho do estábulo. Deus queira que esteja a dormir!
Estava a dormir, sobre um monte de palha, e cheirava a álcool de muito longe. No estábulo estava o cavalo de Maria e outros três, aos quais nem sequer tinham ainda tirado as selas.
Maria selou o seu e, enquanto o fazia, pensou: «Não deve haver mais cavalos na estalagem, os outros clientes foram-se embora. Se eu levasse estes... Esses homens não poderiam sair daqui, levariam muito tempo a arranjar outros...» Tinha amarrado o saco ao arção da sua sela. Depois amarrou as rédeas dos outros três cavalos a uma longa corda.
O piso da cavalariça estava coberto de palha, pelo que os cavalos não faziam ruído ao caminhar sobre ele. Lá fora, a terra mole também abafava o ruído.
Maria Andella, a corajosa rapariga, pôde afastar-se assim da estalagem. Depois montou no seu próprio cavalo, segurando a corda que sujeitava os outros três, e empreendeu a viagem, para Noroeste, guiando-se pelas longínquas sombras dos montes.
Matt Coleman lançou as cartas para cima da mesa, bocejando, e depois espreguiçou-se,
— Vou dormir. Temos de sair ao amanhecer, não esqueçam. Taberneiro!
Jones aproximou-se.
— Os quartos estão prontos, senhor.
Matt Coleman dirigiu-se para a porta que lhe indicavam, mas subitamente mudou de direção.
— Vou ver se esse velho bêbedo que está no estábulo deu de comer aos cavalos — comentou.
Saiu de casa e dirigiu-se para o estábulo. A primeira coisa que viu foi o velho, roncando na palha. E depois, as baias vazias. Matt Coleman pôs-se vermelho. Pegou num candeeiro que pendia de um barrote e revistou o pequeno estábulo, mas não estava ali nenhum cavalo.
Furioso, Matt Coleman desferiu um pontapé no velho, mas depressa compreendeu que este não estava em condições de falar. Voltou à estalagem, entrando como um furacão. O taberneiro perguntou, ingenuamente:
— Foram bem tratados os seus cavalos, senhor?
— Não estão lá, levaram-nos! Que espécie de estalagem é esta? Roubam os cavalos mesmo nas barbas dos clientes! Diga-me onde estão ou queimamos este antro com vocês cá dentro!
Tinha ferrado Jones pelo pescoço e abanava-o. Os seus gritos fizeram sair Bertha da cozinha e os outros dois homens, que já estavam nos quartos.
— Que se passa, chefe?
—Roubaram os cavalos! Não há um único no estábulo, além do velho!
Bertha, que era muito mais esperta que o marido, perguntou:
— Também não está o da menina?
— Não sei de que menina fala, não está lá nenhum, Vocês devem ser cúmplices do ladrão e...
Bertha atravessou a cozinha e entrou no quarto. Viu a janela aberta.
— A rapariga. Não é possível... Uma vulgar ladra!
Jones gritava, pois tinham começado a bater-lhe, e a mulher voltou à sala, vociferando:
— Deixem o Jones, canalhas! Ele não saiu daqui, não temos nada a ver com este roubo! Não podemos responder por todos os clientes, isto é um sítio público! Os vossos cavalos levou-os uma rapariga, uma linda rapariga com ar de anjo. Que barbaridade. Mulheres a roubar cavalos!
Matt Coleman rosnou:
— Deixem-no! Tu, examina essas pegadas e diz-me depressa o que vês!
O homem voltou depressa, porque a terra mole que rodeava o estábulo conservava bem as marcas.
— Pois parece que era uma mulher, a julgar pelo tamanho das botas. Decididamente, são botas de mulher, Matt. Estava sozinha e levou quatro cavalos.
—Já lhe tinha dito! Estava uma rapariga na estalagem, chegou antes de vocês! Como vinha sozinha, metemo-la num quarto, para que não a incomodassem, parecia uma menina e...
— Essa menina roubou-nos os cavalos e ainda não sei se seria vossa cúmplice. Temos de apanhá-la. Onde há outros cavalos?
— Aqui não, senhor.
— Onde?
— O curral mais próximo é a dez léguas...
— Maldito sejas, vou-te rachar a cabeça, taberneiro! Dá-me o teu! Vou apanhar sozinho esse ladrão de saias!
— Eu... eu não tenho cavalo, senhor! Nunca saio daqui, trazem-me os víveres uma vez por semana e...
Matt Coleman, furioso, deu-lhe um soco que lançou o taberneiro ao solo. Bertha insultava Matt que, sem lhe ligar a mínima importância, se voltou para os seus homens.
— Não podemos fazer nada, é inútil tentar segui-la a pé. Temos de esperar.
— O quê, chefe?
—Imbecil, que passe por aqui alguém com cavalos! Isto é um caminho concorrido, apanharemos os primeiros que passarem! Sejam de quem forem! Sentem-se lá fora, no portal, e escutem! Se os que passarem não pensarem deter-se nesta imunda estalagem, o que demonstrará o seu bom senso, teremos de detê-los nós! Se for preciso, a tiro! Lá para fora, e avisem-me se ouvirem alguma coisa! Neste deserto ouve-se muito longe! Os dois homens obedeceram.
Matt voltou para a mesa. O taberneiro levantava-se, olhando com ódio para o seu feroz cliente. Matt ordenou-lhe:
— Traga-me uma garrafa de uísque, do melhor que tiver! Você é o responsável por isto, os cavalos estavam a seu cargo, a cargo desse bêbedo que tem no estábulo, e terá de pagar-me o que eles valem se não aparecerem! E valem mais que todo este sujo estabelecimento!
Bertha murmurou ao marido:
— Deixa-o, não faças caso. Já lhe passa.
As três da manhã, um dos homens que estavam no portal, lutando contra o sono, levantou a cabeça e disse ao outro:
— Tu! Não ouves o ruído de cavalos?
— Sim! Por este lado! Avisa o chefe!
Matt Coleman, como era ele quem pagava, estava a dormir, depois de ter bebido meia garrafa. Acordaram-no.
— Chefe! Vem aí alguém a cavalo!
Matt pôs-se de pé, sacudindo a cabeça, e empunhou o revólver.
— Vamos, é preciso detê-los! Ao caminho!
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