Dispunham-se a colher as selas, quando Jane se acercou deles.
— Aproxima-se um homem — disse ela.
Efetivamente, lá em baixo, um indivíduo subia a encosta da montanha. Dave ficou observando o seu lento caminhar, enquanto "Niño" descia a encosta e se colocava em posição de pôr o visitante debaixo de fogo. Quando estava a poucos metros, gritou:
— Mãos ao ar! Senão, agora mesmo, te transformo num defunto!
O outro obedeceu com presteza.
— Não dispare! Só queria encontrá-los.
Levava o revólver no coldre, o que parecia confirmar as suas palavras. Era jovem, de mediana estatura e vestia no estilo dos vaqueiros. Jane, quando ele já estava perto, deixou escapar uma exclamação de surpresa.
— Mas, é Bruce!
— Conheces este tipo, Linda? — e "Niño” sorria ao dizer estas palavras.
Ela acenou, afirmativamente, com a cabeça. O chamado Bruce, ao ver a rapariga, teve uma expressão de alívio.
— Vim à tua procura, Jane. Tenho notícias para ti.
Ela olhou para "Niño" e disse-lhe:
— Pode guardar o revólver. Bruce é bom amigo...o meu único amigo de Candelaria. — E voltando-se para o recém-chegado: — Que notícias tens para mim, Bruce?
— Más. A gente de Candelaria parece louca. Os ânimos estão muito exaltados.
— Mas o que se passou mais?
-- Queimaram o "saloon", Jane... ontem, à noite, quando alguns homens te perseguiam.
A rapariga mordeu o lábio inferior. Os olhos banharam-se de lágrimas.
— Isso quer dizer que perdi o pouco que tinha — murmurou, desalentada.
— Sinto muito, Jane. O xerife e mais alguns ainda quiseram impedi-lo, mas não o conseguiram. Apesar disso, alguma coisa ainda consegui salvar... — Introduziu a mão no bolso e dali tirou um maço de dólares.
A jovem parecia voltar a si do desalento que a tinha invadido. Lentamente, acercou-se do rapaz a colher o dinheiro.
— Não devias ter arriscado a vida, Bruce. —Tomou-lhe as mãos entre as suas. — Obrigada, Bruce. Não sei como pagar-te...
— Já estou pago com a tua amizade, Jane. —Hesitou um momento, antes de perguntar—: Já pensaste o que vais fazer?
A jovem olhou-o, primeiro, e depois fixou Dave.
— Deve responder pelo crime que cometeu —afirmou este —. Será julgada, como manda a lei. Por isso impedimos o linchamento.
Bruce olhou-o, admirado.
— Pensa, na verdade, que Jane matou Tony Madigan?
— Não penso nada, amigo.
— Jane não o fez — objetou Bruce com calor. — Estou seguro disso.
— Tudo se esclarecerá em juízo.
Bruce contrapôs, com um gesto:
— Não haverá julgamento. Os habitantes de Candelaria converteram-se em feras sedentas de vingança. Aaron Madigan, pai do morto, pôs todos os seus vaqueiros no vosso rasto. Quer pendurá-los numa árvore, por terem salvo Jane.
O panorama não tinha nada de delicioso. Sem cavalos, e sem provisões, dificilmente lograriam iludir a perseguição. E quando caíssem em poder dos homens de Candelaria, estes enforcá-los-iam; sem escutar as razões da "Loira Jane", nem as suas.
Dave deu-se conta do vespeiro em que se tinha metido. Já era tarde para voltar atrás. Impunha-se aclarar a situação, sem perda de tempo.
— Você conhecia o morto, Bruce?
— Sim. Tony Madigan era um indesejável borracho. Passava os dias nos "saloons", molestando as raparigas. O pai não lhe dava um só dólar, para evitar que ele fizesse a vida de "saloons". Mas Tony não se resignou...
— Que quer dizer?
— Larry Stone, primo de Tony, surpreendeu-o ontem no escritório do pai, roubando dinheiro. Tratou de dissuadi-lo de cometer tal ação, mas Tony golpeou-o, furiosamente, escapando em seguida. Uma hora mais tarde aparecia morto no quarto de Jane.
Dave começou a interessar-se pelo que ouvia.
— Como sabe tudo isso?
— O próprio Stone o contou ontem, à noite. Aaron Madigan, que o encontrou no escritório desmaiado pôs sobrinho ao corrente do que se passara, e os dois vieram ao povoado. Chegaram a tempo de tomar conta do cadáver de Tony.
— E o dinheiro?
— Não apareceu!
Dave absteve-se de fazer comentários, mas quando observou a “Loira Jane" bailava-lhe nos lábios um sorriso. Ela viu-lhe o sorriso e apressou-se a dizer:
— O dinheiro que Bruce me deu pertence-me. São as minhas economias.
Dave encarou de novo o rapaz.
— Quanto roubou Tony?
— Dois mil dólares.
Dave voltou-se para a rapariga e perguntou--lhe:
— Quanto tinha economizado, Jane?
— Três mil e quinhentos.
— São os que lhe deu o seu amigo?
A "Loira", furiosa, sacou um maço de notas e deitou-lho aos pés.
— Conte-os o senhor mesmo! — E dizendo isto, voltou-lhe as costas.
Dave inclinou-se e recolheu o dinheiro, contando-o depois, sob o olhar atento de “Niño“. Quando terminou, acercou-se da jovem.
— Aí tem o seu dinheiro... Mas não são três mil e quinhentos dólares. São cinco mil e quinhentos.
A formosa loira, voltou-se com a mesma rapidez como se a tivessem picado. Havia fúria nos seus olhos. Fúria e surpresa.
— Que diz?
— Conte você mesma.
A rapariga assim fez. Ao terminar, deixou cair o dinheiro e os seus braços resvalaram ao longo do corpo.
— Não é possível!
— Ainda nega que matou esse rapaz? E que o induziu a roubar os dois mil dólares?
Para Dave, isto era a prova da sua culpabilidade. Se antes tivera alguma dúvida a esse respeito, esta desvanecera-se. Tomou, então, a resolução de falar com o xerife e com Aaron Madigan, para esclarecer, devidamente, o assunto.
— Escute, Bruce — disse ao amigo da rapariga. — Eu e "Niño" temos de falar com o xerife e com o pai do rapaz assassinado...Quer ficar aqui com Jane? Não tardaremos em regressar, e este refúgio parece suficientemente bom para que passem despercebidos.
— Ficarei a teu lado...
Em breve, Dave e "Niño" se puseram a caminho. Quando eles já estavam bastante distanciados, Bruce acercou-se da jovem.
— Tens de fugir! Esses tipos não conseguirão nada!
Ela recusou.
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