Clareava o dia, quando Dave acordou.
Olhando à sua volta, viu "Niño” Gallardo que dormia, pesadamente junto à apagada fogueira. Jane descansava com as costas apoiadas na rocha e a cabeça inclinada para o lado esquerdo.
Dave, enquanto se espreguiçava, observava-a, recreando-se com a contemplação daquela beleza, que tanta desgraça trouxera ti sua dona. Estava nisto, quando uma voz ressoou, fortemente, nas concavidades da montanha.
— Rendam-se! Estão cercados!
Dave atirou-se logo para o chão, ao mesmo tempo que "Niño" e a rapariga acordavam sobressaltados.
— Já podem começar o fogo de artificio — bradou "Niño".
— Não querem sair? — insistiu a voz anterior.
— Vinde buscar-nos, cobardes! — foi a resposta de Dave.
— Está hem. Vocês assim o quiseram... Fogo, rapazes!
De todos os lados soaram tiros, tanto da esquerda como da direita, de cima como de baixo, o chumbo chegava até eles.
Imediatamente, Dave verificou que os atiradores mais perigosos eram os que se encontravam situados por cima deles.
— Temos de localizar os de cima, "Nino"!
O mexicano, oculto entre duas rochas, também já se apercebera do perigo. O fogo continuou, e, pouco a pouco, o cerco fechava-se sobre eles. As possibilidades de salvação eram mínimas.
Mas "Niño" não tardou a localizar um dos que disparavam por cima deles e que tinha de assomar a cabeça para fazer fogo. O mexicano apontou o revólver para o sítio onde devia aparecer a cabeça do outro e aguardou, com os nervos tensos.
Até que o outro apareceu. Fê-lo com rapidez para oferecer menor alvo. Mas o mexicano estava atento e apertou o gatilho duas vezes.
Um grito de agonia repetiu-se de rocha em rocha, e um corpo rolou pela vertente da montanha.
O companheiro do morto, que também se encontrava bem colocado para atirar, resolveu vingar o companheiro. "Niño", que continuava atento, viu--o aparecer entre os rochedos. Disparou de novo, uma só vez. O grito anterior repetiu-se, desta v e z com maior intensidade. Um grito desgarrado, inumano.
— Bravo, "Niño"! — animou-o Dave.
As novas baixas sofridas pelos atacantes fizeram com que estes se lançassem ao ataque, doidamente, para vingar os companheiros. Dave e " Niño" não os deixaram chegar perto de si. Movendo-se de um lado para o outro, disparavam constantemente.
Um dos assaltantes caiu com a fronte atravessada por uma bala. Outro rolou por entre os rochedos, com um gemido de dor. Os outros, surpreendidos com a resposta dos raptores da "Loira Jane", empreenderam a retirada, galopando, envoltos numa nuvem de pó. "Nino" acolheu a fuga com grandes risadas.
— Fogem com o rabo entre as pernas - gargalhou o mexicano.
— Voltarão — sentenciou Dave —. Agora, o que nos interessa é procurar um novo refúgio. E temos de pensar na nossa vida. Não te esqueças que temos de seguir até Santa Fé e voltar com os bois.
— Ao diabo os bois! A vida do próximo vale mais, Dave.
— É provável. Mas o patrão disse-nos para estarmos de volta antes de um mês. E já perdemos bastante tempo.
Foi quando a rapariga lhe disse:
— Se me entregar ao xerife, será o mesmo que condenar-me à morte! Os habitantes de Candelaria já me julgaram, embora injustamente. Acredita que o julgamento faria aparecer a verdade?
— A rapariga tem razão — disse "Nino" com entusiasmo.
— A lei se encarregará de esclarecer os factos... — retorquiu Dave e voltando-se para "Nino": — Vai buscar os cavalos.
O mexicano obedeceu, contrariado. A atitude de Dave parecia-lhe estúpida. Era um tipo altruísta capaz de jogar a vida por uma causa nobre. E aquela podia sê-lo. Porque não averiguar se a rapariga falava ou não verdade? Para que tinham então arriscado a vida? Decididamente, não compreendia o seu amigo.
Um grito de raiva escapou dos seus lábios ao chegar junto dos cavalos. Girou, sobre os calcanhares e bradou:
— Dave!
O rapaz correu para ele, mas ficou imóvel ao ver os nobres animais estendidos no solo, mortos por balas dos assaltantes, para que os fugitivos não pudessem escapar.
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