segunda-feira, 27 de junho de 2022

FBV026.03 A história de "Loira" Jane

Quando chegaram junto de um grupo de rochedos, donde se avistava todo o vale, decidiram passar ali a noite. "Niño" acendeu uma pequena fogueira e, por momentos, descansaram. A rapariga fixou o olhar em Dave e perguntou:

— Não pensam entregar-me de novo, pois não?

A sua voz mostrava incredulidade, como se fosse impossível admitir que, depois de a terem salvo, a entregassem.

— Sim — confirmou Dave —. Não gostamos de linchamentos. Mas você deve responder pelo seu crime.

— Não fui eu — disse Jane, acrescentando: —. Sei que é difícil acreditá-lo, mas é a verdade.

— Conta, linda, como isso se passou — pediu "Niño".

Ela, então, começou:                                       

— Tony Madigan apareceu no "saloon", ao princípio da tarde desse dia. Tony era filho único de um rancheiro vizinho de Candelaria e perseguia-me com as suas manifestações de interesse, desde que cheguei.

— Que espécie de interesse?

— Dizia estar enamorado de mim, mas não era verdade. Procurava outra coisa; pensando que eu era bebida que se pudesse pagar…

— E não é verdade?

Ela não respondeu à contundente pergunta de Dave, e continuou:

— Tony dirigiu-se ao meu quarto, procurando-me. Eu estava num outro compartimento, falando com algumas das raparigas, e não o vi entrar. Um dos empregados avisou-me de que ele me procurava. Subi, mas antes de entrar, ainda ouvi um ruído estranho, de que não fiz caso. Quando entrei, Tony estava estendido no solo, morto o sangue saía-lhe do peito, em borbotões.

— Que sucedeu depois? — perguntou Dave. — O meu revólver, um "Colt" calibre 48, estava sobre a mesa... Não sei por que o fiz, mas o certo é que peguei nele... Assim me surpreenderam alguns fregueses. A seguir, chegou Percy, e conduziu-me ao cárcere...O resto já o sabem...

Seguiu-se um longo silêncio. A rapariga parecia sincera. Mas a história soava falso. Muitos dos pormenores não encaixavam bem e, entre eles, surgia como o mais flagrante, o facto de ela ter um revólver.

Quando Dave lhe perguntou a razão, a resposta foi surpreendente, incrível.

— Tinham-me ameaçado de morte.

Perante o silêncio que se fez, a "Loira Jane" explicou, com voz pausada:

— Dias antes recebera uma carta em que me ameaçavam de morte. Por isso, tomei precauções, comprando um revólver.

— Não teria sido melhor dizer ao xerife?

Repentinamente, a formosa rapariga começou a chorar.

— Toda a minha vida tem decorrido numa constante fuga — murmurou, tentando conter os soluços —. Procurei em muitos sítios uma vida tranquila, mas a minha beleza tem sido o meu pior inimigo... só serve para os homens me assediarem com os seus torpes propósitos.

Dave e "Nino" voltaram a olhar-se, cada vez mais confundidos com a narração da rapariga, que continuou soluçando.

— Acalme-se — disse o primeiro —. Quem ameaçou matá-la?

Jane levantou a cabeça e secou algumas lágrimas com a mão.

— Há um ano, tinha um "saloon" em Beaver, uma povoação de Utah. Como em tantas outras partes, houve um homem que se sentiu atraído pela minha beleza. Certo dia, quis satisfazer, pela força, os seus propósitos. Defendi-me com um ferro que tinha à mão e feri-o na cara. Em consequência disso, ficou cego dum olho. Ainda que se tenha provado a minha inocência, tive de sair dali.

— Que dizia a carta que recebeu?

A rapariga introduziu a mão no decote e tirou um papel amarrotado cujo escrito rezava assim: 


"Chegou a tua hora, maldita. Contratei um homem para te matar. Fá-lo-á quando tu menos esperares".


 Não estava assinado.

— Como sabe que se trata desse homem?

— Só ele pode desejar a minha morte.

— E provável — concordou Dave.

A sua opinião modificara-se um pouco, mais favorável agora à inocência da rapariga. Mas, sendo assim, quem teria assassinado Tony Madigan? Que razões teria o assassino para envolver no caso a "Loira Jane"?

— Será melhor dormirmos um pouco — disse em voz alta.

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