quinta-feira, 13 de maio de 2021

6BL045.08 Preocupações de mulheres apaixonadas

— Tenho medo, Jake. Que poderá acontecer? 

Jake Duncan sorriu, tranquilo. 

Fitou Diana e soube que a jovem não mentia. 

Diana... 

Como a vida era estranha. Trinta anos de calma e ali estava Diana. Parecia que a conhecia desde sempre. Diana era formosa, jovem, feminina...O que um homem tranquilo, seguro do que quer, espera. 

— Não acontecerá nada, pequena. Isto é: só o que está escrito. 

— Não me importa o que possa suceder a esses dois homens. Referia-me a... 

— Quando eu disse que nada aconteceria, falava a meu respeito. Mais sossegada? 

— Não sei, Jake. Outra das coisas que me põe nervosa é ter em meu poder mais de duzentos mil dólares. Confias assim tanto em mim, Jake? Conhecemo-nos ontem e... 

— Tens a certeza, pequena? 

— Eu já não tenho a certeza de nada... Beija-me, Jake. Quero, pelo menos, sentir a realidade... 

Inadvertidamente, enquanto a beijava, Jake olhou a rua. O sol começava a aquecer. E, dentro de poucos minutos, aquele mesmo sol faria brilhar algo vermelho e quente... A sua atenção, de súbito, foi canalizada para a diligência da linha Lamesa - Sanderson, que chegava nesse instante. E um estremecimento percorreu-o da cabeça aos pés, ao ver descer uma mulher loura, ainda nova, bonita, de corpo esbelto. 

— Que foi, Jake? — inquiriu Diana, percebendo a sua alteração. 

— Essa mulher, Diana... Meu Deus..., porque está aqui? 

— Conhece-la? 

— Sim. E cheguei a admirá-la. Nestes momentos, creio que a minha admiração é total. 

— É Jane Meeker, a mulher de que me falaste? 

— Exatamente, Diana. E ainda bem que me compreendes. 

Diana, curiosa, acercou-se também da janela e pôde contemplar Jane, que parecia desconcertada e nervosa. Olhava, indecisa, em redor, como se não soubesse que caminho tomar. A jovem conhecia a história completa, que o próprio Jake lhe contara. 

— Deve querer muito a esse Carter. 

— Sim. Até logo, pequena. 

Diana olhou Jake. Depois, fitou a rua. O sol ia já muito alto. Terminado o espetáculo da chegada da diligência, os habitantes do povoado recordaram, era já voz corrente, o que ocorreria ao cabo de poucos minutos, e a rua começou a ficar deserta, enquanto os mais curiosos e atrevidos procuravam posições cómodas para assistir ao duelo que iria ter lugar. 

A jovem não tentou deter Jake, que abandonou o quarto e desceu as escadas que levavam ao vestíbulo do hotel. Antes de alcançar a rua, verificou, rapidamente, as cargas dos revólveres. Não confiava demasiado naquele Hopalong Smith, apesar de Carter insistir que ele lutaria nobremente. Saiu, por fim, e ficou imóvel, na alpendrada, pestanejando. 

A pouca distância, Jane Meeker continuava sem saber o que fazer. Jane respirou fundo e começou a andar para o edifício de paragem das diligências. Jane viu-o, ainda a razoável distância, e precipitou-se, ansiosamente, para o rapaz. 

— Senhor Duncan... 

Jake sorriu, tranquilo, tentando infundir confiança a Jane. 

— Acalme-se, Jane. Porque veio? 

A mulher pestanejou, sem saber que responder. Foi o próprio Jake quem tentou encontrar a resposta. 

— Não confiava em mim? 

Jane humedeceu os lábios. 

— Não é isso...Não é bem isso, senhor Duncan—murmurou, olhando-o, fixamente. — Talvez tivesse a estúpida pretensão de, estando mais perto, evitar qualquer perigo a....James. 

— A Carter. 

Ali, sob o escaldante sol, pareceu mais velha a Jake do que, dias atrás, em Lamesa, sob o prateado luar. Pensou, rapidamente, que a lua dissimulava muitos defeitos e, por isso, era a preferida dos poetas. E, ao sabê-la mais velha, Jake sentiu ainda maior compaixão. 

— Conhece... — começou a dizer Jane. 

— Sim, mas não se preocupe, Jane. Apesar de tudo, Carter merece uma oportunidade. Pela minha parte, concedo-lha. Não tanto por ele, mas sim por si. 

— Mas..., quem é o senhor? Sabe uma coisa? A sua atitude desconcertou-me. Posso dizer-lhe que estou aqui por causa do medo que me provocou a sua...generosidade. Nunca julguei possível que um pistoleiro fosse como o senhor... E eu amo Carter. Amo-o de verdade, compreende? 

— Bem o sei, Jane. E lamento dizer-lhe que não pude cumprir a minha palavra. No entanto, asseguro-lhe que Carter fez o mesmo que eu, no seu caso, teria feito. Seria, realmente, maravilhoso que ele conseguisse o seu objetivo. 

— Continuo sem o perceber, senhor Duncan. 

— Carter quer devolver o dinheiro. Deseja oferecer-lhe algo digno, Jane. Ainda que essa missão me corresponda, não posso opor-me. Por outro lado, temo defraudá-la, comunicando-lhe que sou apenas um pistoleiro a soldo da Union Pacific. 

Jane empalideceu, visivelmente, o que tornou ainda mais patentes as ligeiríssimas rugas do seu pescoço, muito branco. 

— Então..., o senhor procurava Carter... 

— Eu procurava quatro homens, Jane. 

— Mas Carter estava entre eles, e eu pu-lo na sua pista. 

— É verdade, mas não deve atormentar-se. Tê-los-ia encontrado na mesma, compreende? 

Jake mordiscou o lábio inferior, quando viu resvalar algumas lágrimas pelas faces de Jane Meeker. 

— Meu Deus... — murmurou a mulher. 

Mas Jake deixara já de prestar-lhe atenção. A rua, aparentemente, ficara deserta. Apenas existia nela sol. Sol e pó. Também silêncio. E tensão. Um homem, lentamente, avançava pela ponta sul do povoado, onde se situava o "Hopalong's". Um homem sozinho; uma mera silhueta, abrasada pelo sol; uma sombra projetada no pó da rua. 

— Carter... — quase soluçou Jane. — Mas… Não pensa fazer nada, senhor Duncan? Deter esta loucura... 

Jake olhou-a, fixamente. 

— Não posso fazer nada, Jane. Isto é: poderia, por exemplo, matar Hopalong Smith e recuperar os últimos cem mil dólares. Mas, em tal caso, Carter sentir-se-ia defraudado, compreende? Quer fazê-lo ele. E a sua ação é a de um verdadeiro homem. Repito que só o faz por si, Jane. 

A mulher, não podendo dominar as lágrimas que lhe corriam pelas faces, retorquiu: 

— Creio compreendê-lo, senhor Duncan. Deveria estar-lhe agradecida, não é verdade? 

— Não pense nisso, Jane. Você recorda-me a... minha mãe. E desculpe: talvez a ofenda... 

— De modo nenhum, Jake. Sei que já não sou nenhuma criança, senhor Duncan. Mas gostaria de ser feliz. Creio tê-lo merecido. 

— De acordo, Jane. Vamos? 

— Acha que terei valor para contemplar o duelo? 

— Deve tê-lo. 

— Sim.... Na realidade, nunca me faltou a coragem. Talvez porque nunca tive nada a perder. No entanto, agora... Agora, senhor Duncan, posso perder tudo. 

Jake Duncan sentiu uma espécie de pontada no peito. Na realidade, as coisas não deviam ter acontecido assim. Ele esperava encontrar-se com quatro pistoleiros, sem escrúpulos e sucedera, em parte, precisamente o contrário. E havia ainda a agravante do problema daquela mulher, de Jane Meeker, jovem, valorosa..., como a senhora Katy Duncan. Katy Duncan esperara, durante três anos, Elmer Duncan; aguardara, pacientemente, que o marido cumprisse a pena a que fora condenado... 

Duncan encaixou as mandíbulas. Pois bem. Cada qual é senhor de se enfrentar com os seus próprios problemas. Portanto, Jane podia estar, perfeitamente, junto de Carter Maxine. Jake empurrou-a, suavemente, obrigando-a a avançar para a ponta sul do povoado. 


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