terça-feira, 11 de maio de 2021

6BL045.06 Concentração de pistoleiros

Duncan, junto da porta do quarto, que ocupava no hotel, deteve-se, olhando Diana Haskel, que se dirigia para ele, com uma expressão de ansiedade no olhar.

— Jake…, que aconteceu? Temi o pior e...

— Tranquiliza-te, pequena — sorriu Jake. — Na realidade, ainda não aconteceu nada. 

Abriu a porta e, nesse preciso instante, uma pequenita chama rasgou a escuridão reinante, ao mesmo tempo que se ouvia um estrondo enorme. Ao primeiro tiro seguiram-se outros, e Jake, que sentira a deslocação do ar, provocada pela bala, lançou-se sobre Diana, derrubando-a. 

Depois, soltando a mala dos cem mil dólares, rolou sobre si mesmo e "sacou" o revólver direito, fazendo fogo. Afogado, raivoso, ouviu-se um grito de dor. 

Jake semicerrou os olhos, sorrindo. Fitou Diana e disse, num sussurro: 

— Vai buscar o candeeiro do teu quarto e acende-o. 

A jovem tardou um par de minutos a reaparecer. Com mão trémula, estendeu-lhe o globo de vidro. Jake recebeu-o e, aproximando-se, cautelosamente, da porta, lançou o candeeiro para o meio do quarto. 

O petróleo derramou-se pelo chão de madeira, iluminando tudo. Ouviram-se grunhidos de ira, e uma sombra projetou-se no vão da porta. 

Jake apertou o gatilho do revólver e o estampido foi seguido por um grito de dor. A parte superior do corpo de um homem, com uma bala no peito, tombou para o corredor. O sujeito estava morto antes de tocar no chão. 

Entretanto, as chamas continuavam a projetar a sua vacilante luz, e Jake, colado à umbreira, olhou para dentro do quarto. Unia bala arrancou esquírolas de madeira a escassos centímetros da sua cabeça. E o jovem, surpreendentemente, saltou para o interior do quarto em vez de o fazer para o corredor. 

Foi Jake o primeiro a disparar, alcançando o novo adversário no ventre. Ouviu-se um gemido de dor, e a bala disparada pelo sobrevivente dos dois homens, que esperavam Jake, cravou-se no tecto. O tipo, dobrado pelo meio, ainda quis inclinar-se para o revólver que lhe escapara dos dedos. Mas novo tiro de Jake, positivamente à queima-roupa, acabou com todas as suas pretensões. 

Tranquilo, sorrindo, recarregando o revólver, Jake voltou ao corredor. Diana, trémula, precipitou-se para ele, abraçando-o estreitamente. Jake recolheu a mala do dinheiro e seguiu Diana até ao quarto desta, não sem antes se ver na necessidade de explicar ao dono do hotel, mas muito por alto, o que ocorrera. 

— Há cem mil dólares nesta mala, Diana. Se me acontecer alguma coisa, entrega-os a Carter Maxine, o homem de cabelo louro que, esta manhã, foi raptado da diligência. E se também a ele algo ocorrer, procura o xerife e diz-lhe que esse dinheiro, e duzentos mil dólares mais, pertencem à Union Pacific. O xerife que converse com Hopalong Smith e Bronson Cutting. 

— Hopalong Smith ...? Isso significa... 

— Que, se eu tiver sorte, ficarás sem trabalho, pequena. Não esquecerás o que te pedi? 

— Não Jake, mas... 

— Perfeito, pequena. Até logo. 

***

Carter Maxine desmontou, lentamente, e, depois de comprovar o bom funcionamento dos revólveres, entrou no "Hopalong's". Era ainda cedo, e havia poucos clientes. Carter passeou um olhar em redor, e as suas pupilas detiveram-se no rosto de um sujeito que, numa mesa, se dedicava a uma paciência com cartas. Sem pressas, avançou para o homem, que não se moveu nem levantou a cabeça quando Carter parou diante dele e se limitou a dizer: 

— Senta-te, Carter. 

— Não pareces muito surpreendido, Hopalong — afirmou Carter, fazendo o que o outro lhe dizia. 

— Surpreendi-me a seu devido tempo. Bronson esteve cá. Procura um tipo qualquer. Pensas, de verdade, recuperar todo o dinheiro? Eu não tomei parte em nada, Carter. Foi Bronson quem disparou sobre ti. Nós, julgando-te morto, seguimos o nosso caminho. Não terias feito o mesmo? 

— Talvez. De qualquer modo, Hopalong, de ti só quero os cem mil dólares. E estou disposto a lutar para os conseguir. Encontrei uma ajuda inesperada e... 

— Bem sei. E esse pistoleiro que ia contigo na diligência, não é verdade? 

— Vejo que Bronson se abriu contigo. Esse pistoleiro, no entanto, não é o que Bronson crê, nem o que eu julgava. Está a soldo da Union Pacific...E eu só pretendo antecipar-me a ele na recuperação dos trezentos mil dólares que roubamos. 

— Não achas que te tornaste demasiado ambicioso? Devias pedir apenas a parte que te compete. 

— Nao me percebeste, Hopalong. Eu penso devolver todo o dinheiro. 

— Sim? Mas que te aconteceu, homem? 

Carter meneou a cabeça. A imagem de Jane dançou diante dos seus olhos, doce, suplicante. 

— Nao o entenderias, Hopalong. Trata-se de uma mulher. E prometi-me que só a terei quando devolver o dinheiro. Quero ser um homem honrado. 

— Queres ser um homem honrado, hem? Sabes algo de Ballinger? Ele também o queria ser, recordas? E não o conseguiu. Teve de fugir daqui. Bem, a história é um pouco longa e não posso perder mais tempo. Começaram a chegar os clientes e há muito que fazer. Fica por cá esta noite, Carter. A casa convida-te. Apesar de tudo, não esqueço que fomos amigos. Sabes o que queria Bronson? Que nos aliássemos para acabar contigo e com esse pistoleiro. Disse-lhe que sabia defender-me sozinho. Cuspi-lhe no rosto e expulsei-o. Ele converteu-se num bicho, realmente, perigoso. 

— Sempre o foi. 

— Sim... Sabe-lo melhor do que nós — sorriu Hopalong. — Bem... aceitas o meu convite? Teremos tempo para falar. E tentarei convencer-te... 

— Não poderás fazê-lo, Hopalong. Quanto a Ballinger, encontrá-lo-ei em qualquer lado. Que foi feito de Fanny?

— Uma história feia, rapaz. Esse Bronson... qualquer dia darei cabo dele, Carter. Palavra.  Agora, tenho de deixar-te. O negócio reclama-me. É um grande negócio, Carter. Dos trinta mil dólares que empreguei para o levantar, já recuperei quase tudo. Se te mostrares inteligente, talvez possamos chegar a um acordo. 

— Não haverá nenhum acordo, Hopalong. 

— Tomas as coisas demasiado a sério, Carter — Hopalong sorria, enquanto se levantava. —Esperavas que eu me comovesse com a tua história de amor e devolvesse o dinheiro? 

— Não sou estúpido a esse ponto, Hopalong. Por agora, só me resta acrescentar uma coisa: amanhã., antes do meio-dia, virei buscar os cem mil dólares. Espera-me onde quiseres. 

Hopalong Smith empalideceu, ligeiramente. 

— Está bem, Carter. De qualquer modo, nas horas que faltam, pensa. Reconheço que, desses trezentos mil, uma parte é tua. Mas é absurdo o que pretendes. 

— Não vim discutir isso, Hopalong... — Interrompeu-se, olhando os batentes do " saloon". 

Hopalong seguiu o seu olhar e sorriu: 

— Urna visita pouco grata, hem, Carter? —comentou em voz baixa. 

Carter nada disse. Só se moveu, ligeiramente, permitindo maior liberdade de movimentos à sua mão direita. Sorrindo cinicamente, fixo o olhar em Carter, Bronson Cutting avançava para a mesa. Ao seu lado, indiferente, com um cigarro entre os dedos da mão direita, caminhava um pistoleiro. 

— Continuas a ser um tipo de recursos, Carter. Nunca julguei que pudesses escapar da cabana. Que aconteceu, homem? 

Carter, impassível, sem se mover da cadeira, olhou os dois recém-chegados. 

— Felizmente, existe gente melhor do que nós. E não te incomodes em voltar lá acima. Só encontrarias cinzas e... mortos. 

A palidez de Bronson nada de bom pressagiava. E Carter, de súbito, compreendeu tudo. Começou a rir baixinho, trocista. 

— O dinheiro estava lá escondido, hem? E muito mais de cem mil dólares, não? Porque não te dedicaste a algo de maior segurança, Bronson? Hopalong, por exemplo... 

— Vai-te, Carter — ordenou, friamente, o dono do "saloon". 

— Não queres tiroteio aqui, não é isso? 

— Exato. Vão para a rua. 

Carter olhou Bronson e o seu pistoleiro. Estavam ambos tensos, com as respetivas mãos em posição mais do que significativas. 

— Chegou o momento, Bronson — sorriu Carter, apoiando as mãos na mesa, como se fosse a levantar-se. 

O seu cérebro, naqueles momentos, era como uma fria máquina de calcular. Recordava, perfeitamente, o sucedido havia alguns meses. E chegava à conclusão de que não podia confiar em Bronson, uma luta com ele não seria nobre. E, por outro lado, o pistoleiro também interviria. A sua reação, por isso, foi rápida, violenta, de todo inesperada. 

Com as mãos, lançou a mesa contra Bronson e o pistoleiro. O movimento apanhou os homens desprevenidos e tirou-lhes todas as possibilidades de "sacar". Sem hesitações, Carter correu para a janela que dava para a rua. E atravessou-a de um salto, quando já no interior do "saloon" se sucediam os disparos. 

Sentiu, no ombro direito, uma dor aguda, como se o tivessem queimado com um ferro em brasa. No entanto, conseguiu alcançar o passeio de madeira e rolar até à rua. 

Puxou o revólver e fez dois tiros contra a janela, na qual aparecera o pistoleiro que acompanhava Bronson. Riu, silenciosamente, ao ouvir o grito do outro, que se apressou a esconder-se. Depois, com cautela, começou a arrastar-se pela poeirenta rua, sempre colado ao passeio. E ficou num ponto mais ou menos equidistante dos batentes e da janela. A situação parecia ter mudado bastante. 

Tocou o ombro e olhou a mão. Estava manchada de sangue, mas o ferimento não devia passar de um simples arranhão. Apercebeu-se, depois, de que a rua, subitamente, ficara mergulhada no maior silêncio, e que grande parte das luzes se apagava. Carter não viu a sombra que cruzava a rua. Mas ouviu os passos e voltou-se. 

— Olá, Duncan. Espero que me tenha perdoado. 

Jake Duncan parou junto dele, olhando o "saloon". 

— Porque o fez? 

— Enganei-me, rapaz. Pensei que poderia enfrentar-me sozinho, com Bronson e com Hopalong. Quanto a Ballinger... 

— Ballinger não passa de um farrapo. E não deve preocupar-nos. Tenho, em meu poder, os seus cem mil dólares. 

— Hopalong disse-me que Ballinger desaparecera...Bem, aí dentro estão Bronson e um dos seus pistoleiros. Faltam mais dois. 

— Tão-pouco devemos temê-los. 

— Creio que compreendo, Duncan — murmurou Carter. — Estou a ser derrotado em toda a linha. Esperava conseguir, sozinho, recuperar esse dinheiro. 

— Ainda pode sair-se bem, Carter. 

— Sim. Temos, frente a nós, dois homens. Portanto, as mesmas probabilidades de vencer. 

— Esquece Hopalong Smith. 

— Não, não esqueço ninguém. Hopalong não fará o jogo de Bronson. E, se se dispuser a lutar, fá-lo-á de frente. Outra coisa, Duncan. O dinheiro de Bronson está na cabana. Suponho que o tivesse escondido nalguma tábua do soalho, resta a possibilidade de o couro da mala o ter protegido. 

— Ótimo, Carter. Celebro que Jane não se tivesse enganado a seu respeito. Eu confiei inteiramente nela. 

— Sim... E difícil não confiar em Jane. E não sei até que ponto ela saiu beneficiada, enamorando-se de mim. Nunca fui bom. E tenho um medo horrível de que as coisas, agora, saiam mal... 

Naquele instante, aos ouvidos de Carter e Jake chegaram os gemidos das rodas de um carro, que avançava, lentamente, na sua direção. A claridade da lua permitiu distinguir o homem que o conduzia. E antes que Jake e Carter tivessem tempo de surpreender-se, o condutor parava o carro e saltava da boleia. Depois, devagar, arrastando uma espingarda, aproximou-se deles. 

— Olá, Ballinger — sorriu Carter, friamente. — Não estás muito bem conservado, hem? 

— Não troces, Carter. Na realidade, recordei-te muitas vezes. Devia ter feito caso das tuas palavras e dar cabo de Bronson. Mas ainda estou a tempo de o fazer...Não pude ver chorar Fanny. Ela sempre se mostrara forte, mas não lhe foi possível resistir por mais tempo. 

— Está bem, Ballinger. Baixe-se. Podem vê-lo lá de dentro. 

O velho não se moveu. Limitou-se a perguntar: 

— Bronson está no "saloon"? 

— Sim — respondeu Jake. 

— Obrigado. 

Quando Ballinger ia a dirigir-se para o "saIoon", Jake agarrou-o por um braço, puxando com força. O homem ficou de joelhos no chão, olhando, aparvalhado, Jake. 

— E estúpido expor-se a uma bala, compreende? 

— Bronson destroçou a minha vida. Bem... Juro que penso mais em Fanny do que em mim. Ela dizia, constantemente, que seria feliz se eu tivesse voltado, de mãos vazias, quando terminou a guerra. No Texas, havia muitas oportunidades honradas para um homem... Talvez não me acredites, Carter, mas comecei a odiar este dinheiro, desde o momento em que Bronson disparou sobre ti ... —Pusera-se, de novo, em pé, e acrescentou, resoluto: — Vou entrar naquele "saloon". 

Dessa vez, Jake nada disse nem fez para o reter. E foi Carter quem perguntou: 

— Estás seguro de que isso é o melhor, Al? 

— Não sei. Mas preciso de matar Bronson. 

Começou a andar, junto do passeio, em direção aos degraus de madeira que levavam aos batentes do "saloon". O silêncio era total, tanto na rua como no estabelecimento. 


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