sábado, 8 de maio de 2021

6BL045.04 Um pistoleiro que gostava de resolver os seus problemas

Bastou um suave puxão nas rédeas para o cavalo parar. E o homem, tranquilamente, sem mostrar a menor impaciência, desmontou. Jake humedeceu os lábios e continuou a pé, pelo pedregoso caminho. A partir daquele ponto, não lhe era muito fácil seguir o rasto dos homens que, nessa manhã, tinham assaltado a diligência e levado Carter. Carter ou James Barclay, tanto se lhe dava. Pobre Jane... Naquele momento, devia estar a rezar, com os olhos cheios de lágrimas. A rezar por um pistoleiro... 

Jake Duncan apertou os lábios. Devia deixar de pensar, estar atento a quanto o rodeava. E a pensar nada solucionaria. Nem a pensar nem a tentar decifrar o porquê dos factos.

Encontrou um lugar para prender o cavalo, que tranquilizou com uma palmada no pescoço. Depois, continuou a subir, prudentemente, devagar. 

De súbito, um ruido, bem seu conhecido, chegou-lhe aos ouvidos. Escondeu-se atrás de uma rocha, com o revólver empunhado, e viu passar quatro homens, quatro cavaleiros que desciam, confiadamente, sem se preocupar em ocultar os rostos. 

No entanto, Jake não pôde identificar nenhum. Além de não os conhecer, o entardecer apenas lhe permitia distinguir quatro silhuetas. Os homens afastaram-se, e Jake respirou, aliviado. Aquilo era dar-lhe facilidades... no caso de eles ainda não terem liquidado Carter. 

Minutos mais tarde, coroava a rochosa colina. E sorriu, trocista, ao ver as costas de um homem. Uma boa oportunidade... 

A dois metros dele, Jake saltou. Ressoou, apagadamente, um grito de surpresa, que se estrangulou quando as mãos de Jake rodearam o pescoço do outro. Depois, o seu joelho cravou-se nos rins do pistoleiro, obrigando-o a arquear-se, violentamente. Soltou-lhe o pescoço e golpeou-o na nuca, com força, deixando o adversário de joelhos, sem saber, ainda, o que lhe acontecia. E o bandido só começou a compreender quando Jake o obrigou a voltar e o pisou, ao mesmo tempo que lhe apontava o revólver. 

— Quantos homens estão no acampamento? Espero que compreendas que não posso perder tempo. 

— Apenas um — resmungou o facínora. 

— E Carter? 

— Também está... Mas não o deves reconhecer. 

Aquilo devia ter produzido imensa graça ao pistoleiro, pois riu, estupidamente. Jake fê-lo calar, batendo-lhe com o cano do revólver na boca. O seu gemido nem sequer foi percetível, já que, com nova coronhada na cabeça, o jovem lhe fez perder os sentidos. 

Jake olhou para cima, onde continuava o mesmo silêncio, a mesma solidão. Recomeçou a andar e, pouco depois, via uma tosca cabana, metida entre as rochas. Por uma janela, aberta na parede lateral, saia a luz de um candeeiro. 

Cautelosamente, aproximou-se da rústica construção e espreitou pela janela. Sorriu, ao ver um homem que fumava, tranquilamente, um cigarro, e parecia absorto em pensamentos que Jake gostaria de conhecer. Que diabos poderia pensar um homem como aquele? 

Num canto, estendido de bruços, estava Carter. Não era possível saber se respirava ou não. Jake baixou-se e agarrou uma pedra. Depois, serenamente, atirou-a contra o candeeiro. O barulho sobressaltou o pistoleiro, que se levantou bruscamente, olhando a chama que alastrava pela mesa, sobre a qual estava uma garrafa de uísque. Resoluto, e passado o primeiro momento de surpresa, caminhou para a porta, que abriu. 

— Quem...? 

Enquanto começava a falar, "sacou" o revólver, com o que apenas conseguiu tranquilizar a consciência de Jake Duncan. O jovem, sem a menor hesitação, fez três disparos contra o pistoleiro, que foi projetado para trás. Quando tocou no solo, estava morto. 

Jake saltou por cima do cadáver e correu para Carter Maxine. Pelas axilas, arrastou-o para o exterior. Deixou-o em terra e regressou à cabana, em busca da garrafa de uísque. Despejou considerável porção dela boca de Carter, ao mesmo tempo que chamava por ele e lhe dava suaves palmadas no rosto. 

Maxine começou a reagir, e as suas negras pupilas giraram em redor, tentando compreender o que sucedia. A camisa, que em tempos pertencera ao pai de Jane Meeker, estava manchada de sangue, do sangue que, em abundância, lhe jorrara do nariz e da boca. 

— Beba um pouco, Carter — disse Jake, aproximando o gargalo dos tumefactos lábios do homem. 

Carter bebeu, avidamente, e, depois, fechou os olhos. Permaneceu uns instantes silencioso, imóvel, respirando, pausadamente. Por fim, perguntou: 

— Quem é você? 

— Chamo-me Jake Duncan. Está em condições de descer? 

— Talvez... 

Jake ajudou-o e, lentamente, começaram a afastar-se da cabana. A prudente distância, pararam, e Jake deixou Carter em terra, com as costas apoiadas numa rocha. Sentou-se diante dele e começou a fazer um cigarro. Por fim, perguntou: 

— Recorda uma mulher chamada Jane Meeker? Pois ela procurou-me e contou-me uma história a seu respeito. Que o haviam atacado nas Montanhas Rochosas, ferido gravemente e roubado a pequena fortuna que amealhara... Essa história é falsa. 

Carter Maxine permaneceu inalterável. Limitou-se a cravar as pupilas nas de Jake. 

— Com efeito, é falsa. Mas que tem a ver Jane com a sua presença aqui? 

— Prefiro falar da sua história, Carter. Talvez eu possa, no que diz respeito à última parte, aclarar alguns pontos.... Há, aproximadamente, cinco meses, quatro homens apoderaram-se de uns trezentos mil dólares pertencentes à Union Pacific. Foi relativamente fácil a operação, e esses quatro homens fugiram, deixando, nas suas costas, dois cadáveres. Como era de esperar, internaram-se pelas Montanhas Rochosas. E teriam escapado, se eu não me tivesse criado entre elas. Quando os segui, não tardei a encontrar uma pista de sangue. 

— A minha — afirmou, serenamente, Carter. 

— Alegro-me por querer colaborar, Carter. Temi que você não fosse digno de Jane. A rapariga impressionou-me, sabe? Ela estava disposta a gastar os seus últimos trezentos dólares para alugar os serviços de um pistoleiro que o protegesse. 

Carter pestanejou. E disse, sorrindo: 

— Foi ela a única coisa de bom que a vida me ofereceu até agora. Jane fez-me pensar muito. E arrepiar caminho. Quando saí de Lamesa, estava decidido a recuperar o dinheiro e a devolvê-lo à Union Pacific. E o menos que posso fazer por ela, nao acha? E pode ter a certeza de que me entregaria, também, às autoridades. Demonstrando que nao matei ninguém, a minha pena nao seria muito grande. E Jane esperar-me-ia. 

Jake olhou, fixamente, o homem, cujas pupilas cintilavam na escuridão. Carter respirava com força, e tinha a testa e o rosto húmidos de suor. 

— Acredito em si, Carter. E, agora, iremos ver os seus amigos. 

— Amigos...0s seus nomes são: AI Ballinger, Hopalong Smith e Bronson Cutting. Foi este último quem disparou contra mim, obrigando os outros a abandonar-me, julgando-me morto. Esta manhã, quando me viu, a sua surpresa foi enorme. Quanto aos dois primeiros, suponho que também viverão por aqui, mas não se devem dedicar a assaltar diligências. Queriam viver tranquilos, compreende? 

— Não lhe parece estranho o facto de Bronson não o ter matado? 

— Ele pretendia saber se eu atuava sozinho ou não. Vê o meu rosto? Resisti bastante antes de confessar que, efetivamente, contava com um cúmplice para recuperar o dinheiro. E, agora, tenho-o, de certo modo: é você. 

— Disse a Bronson que eu era seu cúmplice? 

— Espero que me perdoe — sorriu, irônica - mente, Carter. — Eu estava à beira do desfaleci -mento e Bronson daria cabo de mim. Tentei, desesperadamente, encontrar uma solução. Recordei-o, sem saber porquê. Sabe que, quando o vi subir para a diligência, pensei que você deveria ser um péssimo inimigo? 

Jake, dissimulando, a custo, a sua ira, recordou os quatro cavaleiros que vira cerca de uma hora antes. Procurá-lo-iam em Rockdale e, o que era pior, já não poderia lutar nas sombras. Uma maldita casualidade aquela, mas que deveria ser resolvida como lhe agradava: em luta franca, aberta. 

— Está bem, Carter — resmungou, por fim. — Encontrámos já Bronson Cutting… E os outros? 

— Não sei. Estava convencido de que encontraria Bronson casado com Fanny, a filha de Al Ballinger, e este com o casal. Quanto a Hopalong... 

— Creio saber onde o encontrar. Recorda a jovem que viajava connosco? E cantora, e disse que fora contratada para o "Hopalong's". Não me parece simples coincidência. Vamos, Carter. Ajudá-lo--ei. Tenho o cavalo lá em baixo. 

Inclinou-se para ele, tentando levantá-lo. E só se apercebeu das intenções de Maxine quando o seu punho direito lhe bateu na boca do estômago. Com a respiração cortada, dobrou-se pelos joelhos. E um novo golpe, no queixo, enviou-o para o mundo dos sonhos. 

— Sinto-o — suspirou Carter. — E oxalá me compreendas, rapaz. O assunto só a mim diz respeito. Além disso, apenas pretendo evitar-te aborrecimentos. Gostaria de triunfar sozinho. Teria mais mérito, sabes? 


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