— Que quer?
— Apenas um cavalo. Pagá-lo-ei, naturalmente. Perdi-me e preciso de chegar ao povoado.
— Está bem. Entre. Preparar-lhe-ei um pouco de café.
— Obrigado, senhora.
Por uma porta entreaberta, assomou o rosto de um garoto.
— Volta para a cama, Bronson.
Jake surpreendeu-se. Haveria alguma relação entre aquela humilde gente e o bandido que tentara liquidar Carter?
— Desculpe o incómodo que estou a dar-lhe, minha senhora. Não queria...
— Não se preocupe. Eu precisava de vender o único cavalo que possuo, para comprar outras coisas mais necessárias.
— Duzentos dólares estão bem, senhora...?
— Chamo-me Fanny. E só esperava cem.
— Fanny Ballinger? — inquiriu Jake, sem poder conter, por mais tempo, a sua curiosidade. —Vive sozinha?
— É como se vivesse — respondeu a jovem, duramente.
— Gostaria de falar com Al Ballinger. Onde poderei encontrá-lo?
— Quer falar com o meu pai? Está bem. Siga--me.
Um tanto desconcertado, Jake seguiu Fanny até um dos quartos. E não foi necessário entrar para saber o que se passava. O cheiro a uísque, a suor e a porcaria era, por demais, elucidativo. Sem pronunciar palavra, com os lábios apertados, Fanny afastou-se para um lado, convidando-o a entrar.
Al Ballinger estava estendido numa mísera enxerga, com as roupas sujas, cheias de pó. Torpemente, sentou-se, olhando os dois jovens.
— Porque o fizeste, Fanny? — perguntou, por fim, com voz rouca.
— Estou farta de tudo, pai — repôs, secamente, Fanny. — Esta situação a nada conduz. E gostaria de enfrentar-me, por uma vez, cara a cara, com o futuro.
— Como?
Antes que Fanny respondesse, Jake deu um passo em direção ao velho e disse:
— Devolvendo cem mil dólares. Prestando contas pelo que fez, há cinco meses, na Union Pacific.
— Eu já não tenho esse dinheiro — retorquiu Al, olhando, estupidamente, Jake.
— Mentes!
Pai e filha olharam-se, fixamente. E foi o velho quem, perturbado, pousou o olhar no chão.
— Como queiras, Fanny. Eu... Esse dinheiro era para ti e para o pequeno. Só havia que esperar um tempo prudente para que tudo corresse melhor.
— Nada poderia melhorar, pai. Vou entregar o dinheiro a este homem, e rezarei para que ele mate Bronson. Só então poderemos começar de novo, como há cinco anos.
— Não, Fanny, não. Nessa altura, ainda não tinha nascido o teu filho.
A rapariga, muito pálida, deu meia volta e abandonou o quarto. Ballinger fechou os punhos com força.
— Devia tê-lo matado... devia tê-lo matado ... Ele é um monstro... Carter tinha razão. Pobre Carter.
— Carter não morreu. Está aqui, em Rockdale — disse Jake. — Mas, se não se importa, gostaria de ouvir toda a história.
— Há muito pouco que contar. Quando chegámos a Rockdale, recebi o primeiro golpe ao inteirar-me de que Fanny tinha um filho de Bronson. Tudo acontecera antes que ele, Hopalong e eu decidíssemos lutar com os Confederados. Depois, pensámos que não poderíamos regressar de mãos vazias ... Bem... disse que Carter não morreu? Alegro-me. Carter é melhor do que nós. Teria procedido com Fanny de maneira diferente de Bronson. Ele desprezou-a, e eu tive de esconder-me. A minha vida e os cem mil dólares corriam perigo. Ocorreu-me a ideia de fingir que fugira com o dinheiro. Enterrei-o, e escondi-me, à espera de uma oportunidade para matar Bronson.
— Tem estado sempre aqui? Não me parece muito homem, Ballinger.
— Esperava a minha oportunidade — defendeu--se, torpemente, Al. — Quando conseguisse matar Bronson, iria para muito longe, com Fanny e o garoto.
— E Hopalong Smith?
— Esse sabe defender-se, compreende? Bronson não se atreve com ele. Montou um "saloon", em Rockdale, e o negócio vai de vento em popa ... —Ballinger baixou a cabeça. E, depois de uma ligeira pausa, inquiriu: — Que pensa fazer comigo?
— Nada, Ballinger, dir-lhe-ei uma coisa: Bronson Cutting está no povoado. Um homem compreenderia o que deve fazer. E já não é só por si, Ballinger. Pense um pouco na sua filha,
Jake Duncan voltou-lhe as costas sem nenhum temor. Aquele homem estava aniquilado pelo medo e pelo uísque. Junto de um poço, Fanny manejava uma pá. Abriu um buraco e, pouco depois, mostrava a Jake uma mala. A mala onde Al escondera os cem mil dólares.
— Isto pesava-me demasiado — murmurou. —Diga-me, senhor: chegou aqui por casualidade?
— Juro que cheguei, Fanny.
— Está bem. Apesar de tudo, só posso agradecer-lhe.
— Eu nada fiz por si, Fanny. E oxalá tivesse chegado há mais tempo.
— Não se preocupe comigo. Dizem que as adversidades endurecem. Deve ser verdade. Creio que estou insensível a tudo.
Contrariando o que dissera, cobriu o rosto com as mãos e, chorando convulsivamente, correu para casa.
Só passado algum tempo Jake a seguiu. Fanny sentava-se numa cadeira e, atrás dela, trémulo, vacilante, estava Al. Um Al que, sem palavras, se limitava a estender, quase a medo, a mão, para os revoltos cabelos da filha.
Jake, em silêncio, deixou os duzentos dólares que oferecera pelo cavalo, em cima da mesa. Depois, sem olhar Ballinger, voltou a sair, encaminhando-se para o estábulo. Aparelhou o cavalo, prendeu a mala do dinheiro ao arção da sela, e regressou ao pátio. Ao passar diante da porta da casa, viu que Ballinger se acercava dele.
— Ouça... creio que tem razão… E já encontrei a melhor solução para o meu problema e, também, para o de Fanny. Não devíamos tê-la dececionado tão brutalmente. Pelo menos, eu não o devia ter feito. Agora, só espero que ela me perdoe...
Ballinger permaneceu, uns instantes, como cravado no chão, vendo Jake afastar-se. Depois, lentamente, voltou a casa, aproximando-se da filha.
— Fanny... Bronson Cutting está no povoado.
— Nao vás, pai. Ele matar-te-á.
— Talvez.
O velho dirigiu-se para um canto da casa, recolhendo uma espingarda. Comprovou se estava carregada e disse:
— Devo ir, Fanny. Era isso que faria um homem. O que um homem teria feito há muito tempo. Deixei que nos humilhassem demasiado. Mas estou farto, Fanny. Foi muito o que sofreste.
— Pai...
Ballinger pareceu não a ouvir. Com os ombros arqueados, encaminhou-se para a saída.
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