Diana Haskell olhou o homem que lhe estendia a mão para a ajudar a entrar na diligência. E sentiu ruborizar-se imenso. Ela conhecia aquele homem, esperava-o, pelo menos. Aguardara, durante vinte e dois anos, um homem como Jake Duncan.
— Sim, obrigada.
Jake subiu atrás dela, observando os cabelos muito negros, brilhantes. E recordando os olhos azuis, a boca pequena, os lábios carnudos...
Sentou-se ao lado de Diana e, distraidamente, passeou um olhar pelos restantes passageiros. Num canto; à janela, estava Carter Maxine, a quem identificou como sendo o tal Barclay de Jane.
A diligência arrancou, com enorme estrépito, e, durante os primeiros quilómetros, ninguém abriu a boca. A viagem seria longa é teriam tempo de sobra para tragar pó e gastar saliva.
— Vai ao "rodeo"? — perguntou Diana, tempos depois, com um cativante sorriso.
— Desconhecia a sua existência. Onde se realiza?
— Em Rockdale. Começará dentro de quinze dias.
— Lamento, mas os meus assuntos devem resolver-se antes disso. De qualquer modo, não sabia que também participavam mulheres nos "rodeos".
— E uma maneira muito elegante de perguntar o que vou fazer a Rockdale. Eu só sei cantar. E fá-lo-ei no "Hopalong's". Um contrato curto, mas vantajoso.
Embrenharam-se na conversa, chegando, facilmente, à conclusão de que pareciam destinados um ao outro. E foram dois disparos que interromperam aquele já idílio de gestos, olhares e palavras. O rochoso desfiladeiro por onde, naqueles momentos, circulava a diligência, devolveu, multiplicados, estrondosos, os ecos dos tiros. Ao mesmo tempo, mais apagados, soaram os do ajudante do cocheiro, a que se juntou o estridente relincho de um cavalo.
Ainda os passageiros não tinham recuperado o equilíbrio, uns sobre os outros, em consequência da brusca travagem, e já uma porta se abria, violentamente, e aparecia o cano de um revólver, empunhado por um tipo mascarado. Depois, repetiu--se a operação com a segunda porta.
Entretanto, outros homens mantinham em respeito o condutor e o ajudante, protegendo, também, os que ameaçavam os passageiros.
— Não se assustem. Nada acontecerá. Quem é Thomas Moffat?
Os passageiros entreolharam-se, silenciosos. Jake apertava a Mão de Diana, que estava, positivamente, em cima dele, trémula de medo.
— Ninguém se chama Moffat? — insistiu o pistoleiro. — E uma pena, senhores. Terão de descer e suportar algumas moléstias. Moffat leva trinta mil dólares na carteira. E nós só queremos o dinheiro.
Os passageiros continuavam a olhar-se, silenciosos. Jake viu que Carter se mantinha sereno, tranquilo. E também se apercebeu de que um dos homens, com aspeto de comerciante, começava a suar, copiosamente, e a empalidecer. Não era necessário ser muito esperto para deduzir quem era Moffat.
— Está bem. Sou eu. — gritou, de súbito, o homem. — E dar-lhes-ei...
Não empunhava a carteira, mas sim um "Colt". No entanto, não chegou a concluir a frase, nem teve tempo de apertar o gatilho. A diligência encheu-se, repentinamente, de estampidos e de um irritante cheiro a pólvora.
Muitos pares de olhos viram cair Moffat, com o peito ensanguentado. E ficou coma cabeça no colo de outro dos passageiros, que parecia uma estátua, imóvel, petrificado. Um dos pistoleiros entrou na diligência, recolhendo a carteira que pertencera a Moffat. Abriu-a, rapidamente, comprovando se, na realidade, levava o dinheiro. Depois, lançou-a a outro tipo que a recolheu com a mão esquerda.
— Desculpem o incómodo, senhores. Quanto a esse imbecil, poderia estar ainda vivo.
-- Vamos — disse outro dos salteadores, acercando-se da diligência. — Não podemos perder mais tem...
Era impossível não notar a súbita expressão de incredulidade que apareceu nos olhos do bandido. Ficou, uns instantes, imóvel, com os olhos fixos em Carter Maxine, que, pelo seu lado, ficara tenso, ainda que as suas negras pupilas dissimulassem melhor quanto lhe ia na alma. Soou um sussurro, através do lenço que cobria o rosto do pistoleiro:
— Carter... — aproximou-se, apontando-lhe a pistola. — Carter — repetiu, em tom mais alto. —Vamos, desce daí. Não ouviste? Desce!
Havia furor na voz do bandido. Os restantes passageiros permaneciam silenciosos, olhando Car-ter Maxine. Quanto a Jake, surpreendido, não conseguira reagir, compreendendo, por outro lado, que tentar algo, naquela altura, seria um estúpido suicídio.
Carter começou a levantar-se, lentamente, mas puxaram-lhe pelos cabelos e caiu no duro chão, de joelhos, com os olhos rasos de lágrimas, mas sem soltar um queixume. Foi desarmado, num instante, e um dos bandidos perguntou:
— Que fazemos com ele, chefe?
— De momento, interessa-me vivo. Levá-lo-emos connosco.
Uma rápida coronhada mergulhou-o na inconsciência. E, como um fardo, foi atravessado no dorso de um cavalo. Depois, os passageiros ouviram o galope de vários animais, que se afastavam velozmente.
Durante alguns segundos, reinou o maior silêncio no interior da diligência. E quebrou-o um tipo, com aspeto de jogador, que se encarou com Jake, furiosamente.
— O senhor podia ter feito qualquer coisa. É um pistoleiro. Ou será que usa assim os revólveres só por vaidade?
Jake sorriu, semicerrando os olhos. De súbito, a sua mão direita saiu, disparada, em direção ao braço do outro, agarrando-o pelo pulso. O homem gritou e tentou soltar-se, mas já era demasiado tarde. Jake metera os dedos na sua manga, retirando-os com uma "Derringer" entre eles. Ampliou o seu sorriso e disse:
— E preciso muita calma, amigo. Por vezes, os revólveres são perigosos. Estamos de acordo, não?
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