Capítulo XV A certeza da traição
Três sólidos carrões moviam-se vagarosamente ao longo do caminho. Ao longe, apareciam os contrafortes montanhosos de Blue Lake Spring, etapa intermédia da viagem para Culebra City. A cada um desses carros ia atrelada uma junta de bois. O carregamento eram mantas militares, destinadas ao acampamento-reserva dos índios do Forte de Culebra City.
O primeiro carro era conduzido pelo próprio Collins. O segundo por sua noiva Tana Nelson e, por último, na retaguarda poeirenta, seguia aquele que Smith se comprometera a guiar.
O valoroso alazão do texano seguia, preso pela arreata, às traseiras do carro, não fosse o seu dono precisar dele dum momento para o outro.
Cerca do meio dia, quando Collins deu voz de alto para fazerem a refeição, Smith descobriu um cavaleiro que descia por entre os bosques, vindo de Blue Lake Spring. A distância era demasiadamente longa para o texano poder identificar o homem que parecia voar sobre um cavalo.
Com a testa enrugada, o texano desatrelou os bois do seu carro, deu-lhes de beber e soltou-os' depois para que pastassem. Então procurou um ponto de observação apropriado.
O cavaleiro aproximava-se. Os agudos olhos de Smith observaram, com espanto, que era um índio. Mais ainda. O seu toucado correspondia ao do feiticeiro da tribo escravizada por Bosco Bates.
Alguma razão poderosa o devia ter impelido a abandonar o acampamento, em fulgurante desobediência às ordens de Bates. Um pouco mais além do local onde os carros estacionaram, o caminho dividia-se em dois, levando um por Blue Lake Spring e outro por Skeleton Pass.
Nesse momento, Collins e Tana avistaram por sua vez o cavaleiro.
— Eh! Smith! — exclamou o rapaz. — Já viu isto? Um índio que foge do acampamento!
— Pode ser que seja uma personagem de destaque e Bates tenha permitido a sua saída.
— Para Bates, nenhum índio é importante, amigo. Se esse índio não é um rebelde, também não posso explicar a razão da sua passagem por estas paragens.
— Então, nesse caso, só pode ser uma coisa. — Smith acabou de enrolar o cigarro e chegou-lhe fogo. — Sim, só poder ser uma coisa. Um emissário de «Corvo Louco», o meu camarada. Por certo qualquer coisa de grave se passou.
Tana anunciou que o almoço estava pronto, mas os dois homens nem se mexeram. O cavaleiro deteve-se junto do acampamento. Levantou um braço em sinal de saudação, e Collins exclamou:
— Hem!! Mas ele é o feiticeiro «Grande Aguia»!...
Os dois homens encaminharam-se ao encontro do índio.
— Howg, irmão branco! — articulou o feiticeiro solenemente. Dirigia-se a Collins, mas os seus olhos poisavam desconfiados em Smith —. Trago uma importante notícia da parte de meu irmão Spain!
Smith e Collins trocaram um olhar. O feiticeiro mirava tudo em redor, fitando com insistência o carregamento.
— Bem! O que foi que aconteceu? — perguntou Collins.
— Meu irmão Spain disse que tu levavas mantas para o nosso acampamento. Disse também que deves desviar-te para o Oeste e tomar o caminho de Skeleton Pass.
Smith pensou que aquela era a prova de ter surgido qualquer contratempo.
— Skeleton Pass? — repetiu Collins, intrigado —. E porquê?
— Muita terra e grandes rochas caíram do monte em Blue Lake Spring. O meu irmão Spain disse que o melhor caminho para chegar ao acampamento é o do Oeste.
— E mais nada? — perguntou inesperadamente Smith em língua apache.
«Grande Águia» poisou no texano o seu duro e inexpressivo olhar.
— Meu irmão Spain não disse mais nada.
— Por que não veio «Corvo Louco» em teu lugar?
— «Corvo Louco» está junto do grande chefe «Nuvem Negra», disposto a lutar se os diabos brancos provocarem a luta. É necessário junto dos meus irmãos.
— Não sabes se Bosco Bates prepara alguma emboscada? — insistiu o texano —. Não te deu outras instruções?
O feiticeiro moveu negativamente a cabeça. As perguntas pareciam incomodar o apache.
— «Grande Águia» já falou — proferiu o pele-vermelha entre dentes.
Ergueu um braço em sinal de saudação, deu meia volta ao cavalo e afastou-se num galope desenfreado.
Tana, com os olhos fitos na figura que se afastava, aproximou-se dos dois homens.
— Que pensa disto, senhor Smith? — perguntou.
O texano acariciava pensativamente o queixo.
— Forçosamente tem de ser verdade. O contrário, significaria que tanto «Grande Águia» como «Nuvem Negra» estão de acordo com Bosco Bates, mesmo contra os seus interesses.
-- Impossível — obtemperou Collins. — O cacique é um homem absolutamente leal e recto.
— E esse feiticeiro?
O rapaz encolheu os ombros.
— Que eu saiba, é o mesmo.
— Então, não se fala mais nisso. A única questão pendente é saber se chegaremos à reserva ainda dentro do prazo estipulado por Bates, no caso de seguirmos o caminho de Skeleton Pass.
— Chegaremos — respondeu Collins, sombrio — mas viajando toda a noite. Gostaria de ter a certeza se o outro caminho está ou não impedido.
— Eu irei procurar a verdade — anunciou Smith. — Entretanto dirijam-se para Skeleton Pass. Passaremos por ali de qualquer maneira. Se acaso o caminho não está cortado, é sinal que nos prepararam um ardil. Haja o que houver em Blue Lake Spring, irei ter com vocês ao caminho, antes de anoitecer.
Um sorriso bailou nos lábios de Collins. Voltou-se para a rapariga, dizendo:
— Em Skeleton Pass está a missão do padre Miguel. Casaremos na viagem da ida, Tana. Quando chegarmos à reserva, seremos já marido e mulher.
— Você terá de se arranjar para conduzir os três carros, Collins — avisou o texano — Pela minha parte, se me restar tempo, tentarei entrar em contacto com «Corvo Louco». A sua ajuda seria preciosa.
— Você parece ter a certeza de que qualquer coisa de mau está para acontecer.
O texano titubeou.
— Sim — confessou a meia voz —. Tenho a certeza.
Pouco depois, e após ter almoçado, Smith, cavalgando o seu alazão, lançou-se numa corrida desenfreada.
Apesar dos potentes raios do sol, o texano conservou o seu cavalo no mesmo andamento. No trajeto, Smith, como não viu a pista do feiticeiro, pensou que ele, bom conhecedor do caminho, tinha metido por atalhos.
O cavalo de Smith corria agora ao longo duma serra nua, rochosa, onde as marcas do feiticeiro apareciam pouco visíveis. O calor era asfixiante.
Tomando como referência o mais alto cume do bloco montanhoso, cujo perfil conhecia bem, o texano calculou que não tardaria em encontrar-se nas proximidades de Blue Lake Spring. A ladeira pedregosa converteu-se num desfiladeiro. Então Smith apeou-se do cavalo. Na sua frente, um morro dominava o vale.
Prendeu o cavalo ao abrigo da sombra dumas rochas e, sem hesitar, principiou a escalada. Quando atingiu o cume, o suor banhava-lhe o rosto. Instintivamente abaixou-se junto dum pinheiro. Olhou em redor.
Dali, apreciava-se em toda a sua beleza os Montes Culebra. Como uma sinuosa e amarela fita, o caminho serpenteava livre de quaisquer escolhos. Enquanto o texano mirava em redor, adquiria a angustiosa certeza de que o feiticeiro os traíra.
Três sólidos carrões moviam-se vagarosamente ao longo do caminho. Ao longe, apareciam os contrafortes montanhosos de Blue Lake Spring, etapa intermédia da viagem para Culebra City. A cada um desses carros ia atrelada uma junta de bois. O carregamento eram mantas militares, destinadas ao acampamento-reserva dos índios do Forte de Culebra City.
O primeiro carro era conduzido pelo próprio Collins. O segundo por sua noiva Tana Nelson e, por último, na retaguarda poeirenta, seguia aquele que Smith se comprometera a guiar.
O valoroso alazão do texano seguia, preso pela arreata, às traseiras do carro, não fosse o seu dono precisar dele dum momento para o outro.
Cerca do meio dia, quando Collins deu voz de alto para fazerem a refeição, Smith descobriu um cavaleiro que descia por entre os bosques, vindo de Blue Lake Spring. A distância era demasiadamente longa para o texano poder identificar o homem que parecia voar sobre um cavalo.
Com a testa enrugada, o texano desatrelou os bois do seu carro, deu-lhes de beber e soltou-os' depois para que pastassem. Então procurou um ponto de observação apropriado.
O cavaleiro aproximava-se. Os agudos olhos de Smith observaram, com espanto, que era um índio. Mais ainda. O seu toucado correspondia ao do feiticeiro da tribo escravizada por Bosco Bates.
Alguma razão poderosa o devia ter impelido a abandonar o acampamento, em fulgurante desobediência às ordens de Bates. Um pouco mais além do local onde os carros estacionaram, o caminho dividia-se em dois, levando um por Blue Lake Spring e outro por Skeleton Pass.
Nesse momento, Collins e Tana avistaram por sua vez o cavaleiro.
— Eh! Smith! — exclamou o rapaz. — Já viu isto? Um índio que foge do acampamento!
— Pode ser que seja uma personagem de destaque e Bates tenha permitido a sua saída.
— Para Bates, nenhum índio é importante, amigo. Se esse índio não é um rebelde, também não posso explicar a razão da sua passagem por estas paragens.
— Então, nesse caso, só pode ser uma coisa. — Smith acabou de enrolar o cigarro e chegou-lhe fogo. — Sim, só poder ser uma coisa. Um emissário de «Corvo Louco», o meu camarada. Por certo qualquer coisa de grave se passou.
Tana anunciou que o almoço estava pronto, mas os dois homens nem se mexeram. O cavaleiro deteve-se junto do acampamento. Levantou um braço em sinal de saudação, e Collins exclamou:
— Hem!! Mas ele é o feiticeiro «Grande Aguia»!...
Os dois homens encaminharam-se ao encontro do índio.
— Howg, irmão branco! — articulou o feiticeiro solenemente. Dirigia-se a Collins, mas os seus olhos poisavam desconfiados em Smith —. Trago uma importante notícia da parte de meu irmão Spain!
Smith e Collins trocaram um olhar. O feiticeiro mirava tudo em redor, fitando com insistência o carregamento.
— Bem! O que foi que aconteceu? — perguntou Collins.
— Meu irmão Spain disse que tu levavas mantas para o nosso acampamento. Disse também que deves desviar-te para o Oeste e tomar o caminho de Skeleton Pass.
Smith pensou que aquela era a prova de ter surgido qualquer contratempo.
— Skeleton Pass? — repetiu Collins, intrigado —. E porquê?
— Muita terra e grandes rochas caíram do monte em Blue Lake Spring. O meu irmão Spain disse que o melhor caminho para chegar ao acampamento é o do Oeste.
— E mais nada? — perguntou inesperadamente Smith em língua apache.
«Grande Águia» poisou no texano o seu duro e inexpressivo olhar.
— Meu irmão Spain não disse mais nada.
— Por que não veio «Corvo Louco» em teu lugar?
— «Corvo Louco» está junto do grande chefe «Nuvem Negra», disposto a lutar se os diabos brancos provocarem a luta. É necessário junto dos meus irmãos.
— Não sabes se Bosco Bates prepara alguma emboscada? — insistiu o texano —. Não te deu outras instruções?
O feiticeiro moveu negativamente a cabeça. As perguntas pareciam incomodar o apache.
— «Grande Águia» já falou — proferiu o pele-vermelha entre dentes.
Ergueu um braço em sinal de saudação, deu meia volta ao cavalo e afastou-se num galope desenfreado.
Tana, com os olhos fitos na figura que se afastava, aproximou-se dos dois homens.
— Que pensa disto, senhor Smith? — perguntou.
O texano acariciava pensativamente o queixo.
— Forçosamente tem de ser verdade. O contrário, significaria que tanto «Grande Águia» como «Nuvem Negra» estão de acordo com Bosco Bates, mesmo contra os seus interesses.
-- Impossível — obtemperou Collins. — O cacique é um homem absolutamente leal e recto.
— E esse feiticeiro?
O rapaz encolheu os ombros.
— Que eu saiba, é o mesmo.
— Então, não se fala mais nisso. A única questão pendente é saber se chegaremos à reserva ainda dentro do prazo estipulado por Bates, no caso de seguirmos o caminho de Skeleton Pass.
— Chegaremos — respondeu Collins, sombrio — mas viajando toda a noite. Gostaria de ter a certeza se o outro caminho está ou não impedido.
— Eu irei procurar a verdade — anunciou Smith. — Entretanto dirijam-se para Skeleton Pass. Passaremos por ali de qualquer maneira. Se acaso o caminho não está cortado, é sinal que nos prepararam um ardil. Haja o que houver em Blue Lake Spring, irei ter com vocês ao caminho, antes de anoitecer.
Um sorriso bailou nos lábios de Collins. Voltou-se para a rapariga, dizendo:
— Em Skeleton Pass está a missão do padre Miguel. Casaremos na viagem da ida, Tana. Quando chegarmos à reserva, seremos já marido e mulher.
— Você terá de se arranjar para conduzir os três carros, Collins — avisou o texano — Pela minha parte, se me restar tempo, tentarei entrar em contacto com «Corvo Louco». A sua ajuda seria preciosa.
— Você parece ter a certeza de que qualquer coisa de mau está para acontecer.
O texano titubeou.
— Sim — confessou a meia voz —. Tenho a certeza.
Pouco depois, e após ter almoçado, Smith, cavalgando o seu alazão, lançou-se numa corrida desenfreada.
Apesar dos potentes raios do sol, o texano conservou o seu cavalo no mesmo andamento. No trajeto, Smith, como não viu a pista do feiticeiro, pensou que ele, bom conhecedor do caminho, tinha metido por atalhos.
O cavalo de Smith corria agora ao longo duma serra nua, rochosa, onde as marcas do feiticeiro apareciam pouco visíveis. O calor era asfixiante.
Tomando como referência o mais alto cume do bloco montanhoso, cujo perfil conhecia bem, o texano calculou que não tardaria em encontrar-se nas proximidades de Blue Lake Spring. A ladeira pedregosa converteu-se num desfiladeiro. Então Smith apeou-se do cavalo. Na sua frente, um morro dominava o vale.
Prendeu o cavalo ao abrigo da sombra dumas rochas e, sem hesitar, principiou a escalada. Quando atingiu o cume, o suor banhava-lhe o rosto. Instintivamente abaixou-se junto dum pinheiro. Olhou em redor.
Dali, apreciava-se em toda a sua beleza os Montes Culebra. Como uma sinuosa e amarela fita, o caminho serpenteava livre de quaisquer escolhos. Enquanto o texano mirava em redor, adquiria a angustiosa certeza de que o feiticeiro os traíra.
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