quarta-feira, 29 de maio de 2019

BUF011.13 Cilada contra cilada

CAPITULO XIII
Bosco Bates regressou à «Agência» ao cair da tarde. Depois de se certificar que Joe Spain não se encontrava nos arredores, enviou um homem à procura de Doyle, seu lugar-tenente depois da morte de Poggy. Quando o pistoleiro apareceu, Bates fechou-se com ele.
— Acabo de assinar o contrato com Collins, para a entrega das mantas — anunciou o chefe do acampamento. — Amanhã sairá de Culebra City. Provavelmente ao amanhecer, passará em Blue Lake Spring, com tempo para acampar.
Os olhos de Doyle iluminaram-se.
— Essas mantas nunca cá chegarão.
Bates principiou a rir, encostando-se ao espaldar da cadeira.
— Tiras-me as palavras da boca, Doyle. Na verdade, não chegarão cá. Mas é preciso que reúnas os rapazes e prepares com muito tino a operação. Tive uma ideia.
— Qual?
— Veste-os como se fossem índios. Arcos, penas e tomahawks... Se Ted Collins ou algum dos seus ajudantes conseguir escapar com vida, contará em Culebra City, que o carregamento foi assaltado pelos índios. Compreendeste?
Doyle esfregou as mãos.
— Claro que compreendi. É para amanhã à noite em Lake Spring?
— Aí, o lugar presta-se. Ah! Outra coisa. Quero que não deixem Collins escapar.
— Não escapará — repetiu o pistoleiro.
— Está tudo compreendido?
— Tudo, chefe. Esse pássaro deixará em Lake Spring todas as penas. Garanto-lhe. E a rapariga...
— Deixa a rapariga em paz, Doyle — interrompeu Bates asperamente. — É de supor que Tana Nelson guie um dos carros. Ninguém deve tocar num cabelo seu. E aquele que o fizer servirá de pasto às formigas.


— Nunca gostei que me falassem nesse petisco, chefe. Garanto-te que ninguém ousará tocar na rapariga.
Bates deu mostras de satisfação.
— Bem, vai lá tratar dessa ordem.
O pistoleiro murmurou uma despedida e saiu, encaminhando-se diretamente para o pavilhão do pessoal.
Nesse mesmo momento, Joe Spain entrava no seu gabinete. Fechou a porta por dentro e dirigiu-se para o antigo arquivo. Ali, tossiu como se isso fosse um sinal convencional, o mestiço «Corvo Louco» abriu o alçapão do sótão e saiu, descendo para uma cadeira.
— E então? — perguntou o agente auxiliar.
«Corvo Louco» sacudiu o pó das mãos e da roupa.
— Tive sorte. Bates acaba de expor a Doyle o seu plano. E concordo que não deixa de ser engenhoso.
— Conta...
O mestiço, durante algum tempo, narrou a conversa ouvida.
— Magnífico! — exclamou Spain, depois de o mestiço terminar. — Não seria fácil impedir que esse plano fosse posto em prática. Mas até tenho vontade que Doyle e os seus sequazes estejam emboscados em Blue Lake Spring. Nem sequer sonham com o que lhes vai acontecer.
— Que será?
«Corvo Louco» escutou, interessado, o plano formado por Spain para estabelecer o contra--ataque. O jovem sentiu-se entusiasmado à medida que Spain ia falando. Quando o agente auxiliar terminou de expor a sua ideia, o mestiço exclamou:
— Estou às suas ordens...
— Pois, então, vá ao acampamento apache e diga a «Nuvem Negra» que tenha tudo preparado antes do amanhecer.
«Corvo Louco» abandonou o escritório, saltando por uma janela e afastou-se envolto nas sombras.
Depois, já quando a noite ia adiantada, uma outra silhueta atravessou a praça em direção ao mais luxuoso dos edifícios onde Bates tinha instaladas as suas habitações particulares. Aquela figura entrou silenciosamente no quarto de dormir de Bates.
Uma mão agitou-se sobre o rosto do indian-agent. Este acordou sobressaltado e assustou-se ao ver aquela figura fantasmagórica, com um toucado de penas na cabeça. Endireitando-se, Bosco deitou a mão ao revólver que sempre usava debaixo do travesseiro. Demorou alguns segundos em reconhecer «Grande Águia».
— Condenação, maldito fantoche! — mastigou — Como é que vocês entram sem serem pressentidos?!
«Grande Águia» respondeu num sussurro:
— Outros que não são propriamente índios fazem-no melhor do que eu.
— Que dizes tu?
— «Corvo Louco». Ele percebe bem do seu ofício de espião. Escutou toda a conversa que tiveste com Doyle e repetiu-a no tipi a «Nuvem Negra», palavra por palavra.
Bates ficou boquiaberto. Depois, reagindo, saltou da cama.
— É impossível! — exclamou —. Doyle e eu estávamos sozinhos no escritório.
— Pois é assim como te conto. E ainda há mais, muito mais. «Nuvem Negra» está neste momento reunindo um grupo de guerreiros selecionados para irem a Blue Lake Spring. Sairão antes de amanhecer, para se emboscarem no caminho. Amanhã, Doyle e os seus homens serão exterminados antes mesmo de atacarem os transportes de Collins. É uma cilada dentro de outra cilada.
— Tens a certeza que isso é como dizes?
— «Corvo Louco» irá com eles.
— Mas tens a certeza? — voltou Bates a perguntar.
«Grande Águia» encolheu os ombros.
— Acabo de assistir ao pow-wow de guerra que «Nuvem Negra» convocou.
O agente deixou-se cair na beira da cama. Pensativamente, abriu uma gaveta e tirou uma garrafa que desrolhou e levou à boca, bebendo um trago. O feiticeiro tirou-lha da boca e imitou-o.
— Maldita situação. Bem, tenho de enfrentar a realidade. É natural que tudo se resolva. Doyle e os outros rapazes não vão meter-se na boca do lobo. Obrigado pelo aviso.
«Grande Águia» poisou, com pesar, a garrafa sobre um móvel.
— O senhor Spain disse no pow-wow que também se unirá aos rapazes.
— Spain, hem?
— E eu também irei — atalhou o feiticeiro.
O indian-agent levantou-se e pôs-se a passear dum lado para o outro do quarto. E o seu hediondo sorriso voltou de novo a surgir, ao pensar que a situação lhe era favorável.

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