Capítulo II
Vacilante, a rapariga levantou-se e encaminhou-se para o riacho, onde refrescou o rosto. Depois encheu o seu chapéu com água e aproximou-se de Collins. Ajoelhou-se e principiou a lavar-lhe a ferida.
Estava fazendo amorosamente aquele tratamento de emergência, quando adquiriu súbita consciência de que, entre ela e o sol, existia uma sombra opaca. Quase instintivamente, Tana empunhou o revólver de Collins.
Voltou-se. Se o homem do lenço vermelho havia regressado, ela sentia-se na disposição de defender, a tiros, a sua vida e a do rapaz.
Mas não foi a figura do bandido que ela viu recortada contra o azul do céu. Imóvel, sobre um penhasco, do outro lado do caminho, estava um cavaleiro. Montava um soberbo alazão e na cabeça usava um chapéu preto. Enquanto a rapariga o olhava, foi-se aproximando. Tana, ao distinguir o seu nobre e enérgico rosto, deixou escapar um suspiro de alívio.
Nem pelo seu porte, nem tão-pouco pelas suas roupas, apesar de usar também no pescoço um lenço vermelho, era aquele o homem que os havia atacado. No entanto, ela continuava com o revólver apontado, quando o desconhecido, num gesto galante, tirou o chapéu.
— Posso ajudá-la em alguma coisa? — perguntou.
Nesse momento, Ted Collins abriu os olhos e, apertando entre as mãos as doridas têmporas, dirigiu o seu olhar para o cavaleiro. Teve um sobressalto como se se recordasse de alguma coisa e, acto contínuo, levou as mãos ao corpo. Lançou uma surda exclamação ao verificar que os mil dólares haviam desaparecido.
— Roubaram-me!... — gritou.
Debruçou-se para a arma que a rapariga segurava, mas ela conteve-o. E encostando-lhe a cabeça ao seu ombro, sussurrou:
— Não, Ted querido... Não foi ele, espera...
As palavras chegaram aos ouvidos do desconhecido, que sorriu.
— Essa pequena diz a verdade, amigo. Descia para aqui à procura de caça, quando soou um tiro. Pretendo somente ajudá-los.
Tana observava-o sem pestanejar. Uma mancha escura principiava a aparecer no rosto, no sítio onde recebera a pancada.
— Foi um homem que tapava o rosto com um lenço vermelho — disse. — Fugiu há momentos, desaparecendo por detrás dessas rochas e levando com ele o cinturão que nos roubou. — E apontando para o rapaz, acrescentou, voltando-se para o desconhecido: — Este é Ted Collins, provedor do acampamento índio. Eu chamo-me Tana Nelson.
— São sócios?
— Ajudo-o no seu trabalho. Vamo-nos casar.
Os olhos cinzentos do homem miraram o par com simpatia.
— Podem chamar-me Smith — apresentou-se por sua vez.
Tana havia já notado o acento peculiar da sua voz.
— É do Texas? — perguntou.
O homem concordou. Depois informou:
— Encontrarão os seus cavalos ao fundo do caminho. Detive-os próximo do pequeno bosque de álamos, a duzentos metros.
O rapaz contraiu o rosto e fez um gesto brusco ao ver que o homem se dispunha a afastar-se.
— Para onde vai?
— Vou tentar deter esse bandido.
Collins fechou os punhos.
— Eu lhe darei uma pista. Quem quer que seja o gatuno, deveria ter recebido ordens de Bosco Bates, o indian-agent. Foi Bates quem me deu o ouro que eu trazia no cinturão... Era o único que sabia de tal facto.
Nos olhos do homem, que dizia chamar-se Smith, refletiu-se uma luz viva.
— Bosco Bates ?!...
— Sim, é o encarregado do acampamento-reserva. Tentou em vão apossar-se de Tana, a minha rapariga, compreende? O seu prazer é ver-me na lama, e daria sei lá o quê para ver o meu negócio ir por água abaixo. E a verdade é que se perco esse dinheiro ficarei sem o negócio.
Smith puxou as rédeas do cavalo.
— Não deve andar longe. Vá buscar os seus cavalos, Collins, e siga depois o seu caminho. Verei o que é preciso fazer-se para remediar a situação.
— Quem é o senhor?
— Já lhe disse que me chamo Smith.
E dito isso, o homem partiu a galope. Em silêncio, os dois jovens esperaram que a sua figura desaparecesse na primeira curva do caminho. Depois, Tana sorriu. Havia qualquer coisa de enérgico no porte resoluto do desconhecido que a fez sentir-se esperançada.
— Smith parece ser um nome improvisado... — murmurou Collins, levantando-se a custo, — mas não há dúvida que esse amigo é todo ele um personagem de truz. Aposto dez contra um, em como nos devolverá o dinheiro. Não devíamos tê-lo deixado partir sozinho. Se Bosco Bates lhe arma uma cilada não sei o que acontecerá! Ted, por que não te esqueces de Bosco Bates? Por que o metes em tudo isto?
— É ele próprio que se mete!...
— Não tens a menor prova. Em troca, eu vi o homem que nos atacou. Tapava o rosto com um lenço vermelho. Se não fosses tão teimoso...
— «Máscara Vermelha»?... Pura coincidência... — Collins passou uma mão pela fronte. — Também Smith usa um lenço vermelho. Também eu por vezes o uso! Não, Tana, quer o defendas ou não, é Bates quem está por detrás deste caso. Espera e te convencerás.
A rapariga não respondeu. Levantou-se nas pontas dos pés e beijou-o. O roçar dos seus lábios fez que Collins afastasse de si o mau humor.
Vacilante, a rapariga levantou-se e encaminhou-se para o riacho, onde refrescou o rosto. Depois encheu o seu chapéu com água e aproximou-se de Collins. Ajoelhou-se e principiou a lavar-lhe a ferida.
Estava fazendo amorosamente aquele tratamento de emergência, quando adquiriu súbita consciência de que, entre ela e o sol, existia uma sombra opaca. Quase instintivamente, Tana empunhou o revólver de Collins.
Voltou-se. Se o homem do lenço vermelho havia regressado, ela sentia-se na disposição de defender, a tiros, a sua vida e a do rapaz.
Mas não foi a figura do bandido que ela viu recortada contra o azul do céu. Imóvel, sobre um penhasco, do outro lado do caminho, estava um cavaleiro. Montava um soberbo alazão e na cabeça usava um chapéu preto. Enquanto a rapariga o olhava, foi-se aproximando. Tana, ao distinguir o seu nobre e enérgico rosto, deixou escapar um suspiro de alívio.
Nem pelo seu porte, nem tão-pouco pelas suas roupas, apesar de usar também no pescoço um lenço vermelho, era aquele o homem que os havia atacado. No entanto, ela continuava com o revólver apontado, quando o desconhecido, num gesto galante, tirou o chapéu.
— Posso ajudá-la em alguma coisa? — perguntou.
Nesse momento, Ted Collins abriu os olhos e, apertando entre as mãos as doridas têmporas, dirigiu o seu olhar para o cavaleiro. Teve um sobressalto como se se recordasse de alguma coisa e, acto contínuo, levou as mãos ao corpo. Lançou uma surda exclamação ao verificar que os mil dólares haviam desaparecido.
— Roubaram-me!... — gritou.
Debruçou-se para a arma que a rapariga segurava, mas ela conteve-o. E encostando-lhe a cabeça ao seu ombro, sussurrou:
— Não, Ted querido... Não foi ele, espera...
As palavras chegaram aos ouvidos do desconhecido, que sorriu.
— Essa pequena diz a verdade, amigo. Descia para aqui à procura de caça, quando soou um tiro. Pretendo somente ajudá-los.
Tana observava-o sem pestanejar. Uma mancha escura principiava a aparecer no rosto, no sítio onde recebera a pancada.
— Foi um homem que tapava o rosto com um lenço vermelho — disse. — Fugiu há momentos, desaparecendo por detrás dessas rochas e levando com ele o cinturão que nos roubou. — E apontando para o rapaz, acrescentou, voltando-se para o desconhecido: — Este é Ted Collins, provedor do acampamento índio. Eu chamo-me Tana Nelson.
— São sócios?
— Ajudo-o no seu trabalho. Vamo-nos casar.
Os olhos cinzentos do homem miraram o par com simpatia.
— Podem chamar-me Smith — apresentou-se por sua vez.
Tana havia já notado o acento peculiar da sua voz.
— É do Texas? — perguntou.
O homem concordou. Depois informou:
— Encontrarão os seus cavalos ao fundo do caminho. Detive-os próximo do pequeno bosque de álamos, a duzentos metros.
O rapaz contraiu o rosto e fez um gesto brusco ao ver que o homem se dispunha a afastar-se.
— Para onde vai?
— Vou tentar deter esse bandido.
Collins fechou os punhos.
— Eu lhe darei uma pista. Quem quer que seja o gatuno, deveria ter recebido ordens de Bosco Bates, o indian-agent. Foi Bates quem me deu o ouro que eu trazia no cinturão... Era o único que sabia de tal facto.
Nos olhos do homem, que dizia chamar-se Smith, refletiu-se uma luz viva.
— Bosco Bates ?!...
— Sim, é o encarregado do acampamento-reserva. Tentou em vão apossar-se de Tana, a minha rapariga, compreende? O seu prazer é ver-me na lama, e daria sei lá o quê para ver o meu negócio ir por água abaixo. E a verdade é que se perco esse dinheiro ficarei sem o negócio.
Smith puxou as rédeas do cavalo.
— Não deve andar longe. Vá buscar os seus cavalos, Collins, e siga depois o seu caminho. Verei o que é preciso fazer-se para remediar a situação.
— Quem é o senhor?
— Já lhe disse que me chamo Smith.
E dito isso, o homem partiu a galope. Em silêncio, os dois jovens esperaram que a sua figura desaparecesse na primeira curva do caminho. Depois, Tana sorriu. Havia qualquer coisa de enérgico no porte resoluto do desconhecido que a fez sentir-se esperançada.
— Smith parece ser um nome improvisado... — murmurou Collins, levantando-se a custo, — mas não há dúvida que esse amigo é todo ele um personagem de truz. Aposto dez contra um, em como nos devolverá o dinheiro. Não devíamos tê-lo deixado partir sozinho. Se Bosco Bates lhe arma uma cilada não sei o que acontecerá! Ted, por que não te esqueces de Bosco Bates? Por que o metes em tudo isto?
— É ele próprio que se mete!...
— Não tens a menor prova. Em troca, eu vi o homem que nos atacou. Tapava o rosto com um lenço vermelho. Se não fosses tão teimoso...
— «Máscara Vermelha»?... Pura coincidência... — Collins passou uma mão pela fronte. — Também Smith usa um lenço vermelho. Também eu por vezes o uso! Não, Tana, quer o defendas ou não, é Bates quem está por detrás deste caso. Espera e te convencerás.
A rapariga não respondeu. Levantou-se nas pontas dos pés e beijou-o. O roçar dos seus lábios fez que Collins afastasse de si o mau humor.
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