Capítulo XII O condutor especial
Culebra City, na qualidade de único núcleo povoado mais próximo dos ranchos que delimitavam a zona de criação de gado, recebia habitualmente um certo número de forasteiros, entre os quais figuravam cavaleiros de todas as camadas em busca de trabalho como cowpunchers. Isso fez que John Smith entrasse na cidade com a confiança de passar despercebido.
Atravessou a única rua principal do povoado, onde numa parede estava anunciado o prémio de mil dólares pela captura de «Máscara Vermelha». A pretendida aparência existente entre ele e o bandido só era digna do tacanho espírito de Bosco Bates, pois a mais ninguém ocorreria determinar tal parecença.
Smith prendeu o cavalo perto dum estábulo de aluguer e pediu ao rapaz que o veio atender, que lhe tratasse bem do alazão. Depois, a passos seguros e de cabeça levantada, dirigiu-se para o armazém de Ted Collins.
Entrou. Estavam quatro pessoas junto do balcão. A rapariga atendia-as. Quando os seus olhos poisaram na figura do recém-chegado, abriram-se-lhe de assombro, mas nada disse. Ao olhar significativo que o texano lhe lançou, ela respondeu com outro olhar, indicando a porta do fundo que se via à esquerda. Collins ficou por sua vez boquiaberto ao ver o visitante aproximar-se.
— Você! — exclamou —. Você é o homem do caminho... Smith!
O texano, sorrindo, estendeu-lhe a mão.
— Capturar o bandido do lenço vermelho vai-se tornando uma tarefa bem mais difícil do que parecia.
Mas ainda a não terminei.
— Quer dizer que ainda continua?
— Claro que sim.
Collins mostrou-se perplexo.
— Ouvi dizer ...que Bosco Bates prendeu esse tal «Máscara Vermelha» e que o tinha detido no acampamento-reserva... Mas que também esse mesmo tipo havia fugido...
— Sente-se... — interrompeu-o Smith, enquanto tirava do bolso o pacote do tabaco —. Precisamos falar com muito tino. Desde que nos encontrámos no caminho, têm acontecido muitas coisas. — Estendeu a bolsa a Collins —. Vá, faça um cigarro.
Collins olhou-o admirado e aceitou a oferta. A conversa entre os dois homens prolongou-se por longo tempo.
E quando ambos saíram pela porta das traseiras do armazém, Smith era oficialmente um condutor de carros de transporte, moço e empregado para todo o serviço do rapaz.
— Mas que interesse o move em tudo isto? —perguntou Collins, depois de estar tudo bem planeado. — Quem é você? Posso saber por que motivo intervém tão diretamente numa questão que, no fundo, não lhe diz respeito. Não vai dizer-me que é cinicamente para se vingar de Bosco Bates, pois não?
Smith sorriu.
— Suponha que faço tudo isso para me divertir.
— Divertir-se!? Se Bates pensa realmente em assaltar os meus carros, não pense que será um engraçado divertimento. Ele deu boa prova das suas intenções ao atirar sobre mim para me aliviar da carga dos mil dólares.
O texano encolheu os ombros.
— Isso pouco importa.
— Perfeitamente. Se é também um tiro na cabeça que procura, isso é com você.
E assim ficou Smith incorporado no serviço de Ted Collins, pronto a salvá-lo da ruína. Depois procurou alojamento no «Trail House Hotel». O seu trabalho era aquele que Collins encontrasse para ele. Esta situação durou dois dias. Ao terceiro, Smith, quando se encontrava a limpar uns arreios, viu entrar na povoação um cavaleiro que ele reconheceu. O cavaleiro era Bosco Bates. Uns metros atrás e com uma espingarda aperrada, cavalgava um dos seus guarda-costas.
O texano fez uma careta e tocou instintivamente nas coronhas dos seus Navy. Não podia correr o risco de se exibir ante Bates. A sua hospedagem na prisão do acampamento ainda permanecia bem vincada na sua memória.
Deslizando para as traseiras do armazém, Smith viu como o indian-agent entrou no armazém, pisando forte e despreocupado. Collins e Tana, sozinhos em frente dum livro de contas, levantaram a cabeça e ao reconhecerem o recém--chegado receberam-no com antipatia e hostilidade.
— Bem, Collins. — disse Bates com forçado bom humor — Tiveste a concessão do Governo para o fornecimento de inverno. Permite que te felicite.
— Refere-se às mantas?!
Bates tirou um cigarro do bolso do colete e acendeu-o cuidadosamente.
— Exatamente. A tua oferta foi a mais baixa de todas quantas foram apresentadas.
— E depois?
O indian-agent soprou o fumo do cigarro com deleite.
— Essa tua oferta prevalece?
— Se a fiz, prevalece. Há um mês que guardo as mantas dentro do meu armazém. Supus que a entrega era. para mim e antecipei-me.
— Bom comerciante, hem?
Collins não fez caso da ironia.
— Quando as quer? — perguntou.
Bates exibiu uns documentos e respondeu:
— Depois de amanhã sem falta. Até ao pôr do Sol. Aqui está o contrato. Se nesse prazo não tiver recebido as mantas, já sabes, Collins, que me assiste todo o direito para fazer caducar o contrato.
— E você gostaria de que eu não pudesse cumprir, não é verdade? Mas descanse que nada disse deve acontecer. Dê-me o contrato.
Os documentos foram assinados. Bates guardou uma cópia e deu duas palmadas no ombro de Collins.
— Pensas mal de mim, rapaz... — declarou — Nada me satisfaz mais do que ver-te derrotar os teus competidores. A única coisa que me preocupa é o bem-estar dos pobres índios.
— Não me diga! — exclamou Collins, guardando o contrato numa gaveta —. A você é que lhe há-de importar bem pouco que os apaches morram ou não de frio. O que acontece é que você encontrou um caminho para as enviar à fronteira do México...
Smith, por detrás da porta do fundo, esperou que o indian-agent fizesse uma loucura. Mas tal não sucedeu. Bates, embora congestionado, soube conter os nervos. Deu meia volta e saiu, seguido pelo pistoleiro.
— Não devias tê-lo indisposto, Ted — murmurou a rapariga quando o bandido se retirou — Bates converte-se num diabo, quando alguém lhe mostra os seus propósitos.
— Que rebente para aí — respondeu o rapaz, furioso.
Smith abandonou o seu posto de observação e caminhou para os dois jovens.
— O senhor estava aí? — perguntou a rapariga, admirada.
O texano fez um sinal afirmativo com a cabeça.
— Ouvi tudo. Isto é precisamente o princípio do fim. Quando sai o carregamento?
— Amanhã pela manhã. Precisarei de três carros e outras tantas juntas de bois. Você conduzirá um, Smith. Eu levarei o outro E para o terceiro...
— E eu o terceiro — exclamou a rapariga.
Collins olhou para a noiva. A sua boca abriu-se, mas nenhum som saiu. O texano foi quem falou:
— Mas... não sabe que perigos a espera.
— Não há perigo de qualquer espécie — respondeu a rapariga em tom firme —. Bates não se atreverá a fazer-me mal. Por outro lado, sei lutar como qualquer outra pessoa. Sempre estive junto de Ted. Também estarei nesses momentos.
Smith não pareceu muito convencido.
— Mas não há ninguém que possa conduzir o terceiro carro em seu lugar?
— Sou eu quem o conduz e mais ninguém —afirmou Tana.
E a conversa terminou nessa afirmação categórica.
Culebra City, na qualidade de único núcleo povoado mais próximo dos ranchos que delimitavam a zona de criação de gado, recebia habitualmente um certo número de forasteiros, entre os quais figuravam cavaleiros de todas as camadas em busca de trabalho como cowpunchers. Isso fez que John Smith entrasse na cidade com a confiança de passar despercebido.
Atravessou a única rua principal do povoado, onde numa parede estava anunciado o prémio de mil dólares pela captura de «Máscara Vermelha». A pretendida aparência existente entre ele e o bandido só era digna do tacanho espírito de Bosco Bates, pois a mais ninguém ocorreria determinar tal parecença.
Smith prendeu o cavalo perto dum estábulo de aluguer e pediu ao rapaz que o veio atender, que lhe tratasse bem do alazão. Depois, a passos seguros e de cabeça levantada, dirigiu-se para o armazém de Ted Collins.
Entrou. Estavam quatro pessoas junto do balcão. A rapariga atendia-as. Quando os seus olhos poisaram na figura do recém-chegado, abriram-se-lhe de assombro, mas nada disse. Ao olhar significativo que o texano lhe lançou, ela respondeu com outro olhar, indicando a porta do fundo que se via à esquerda. Collins ficou por sua vez boquiaberto ao ver o visitante aproximar-se.
— Você! — exclamou —. Você é o homem do caminho... Smith!
O texano, sorrindo, estendeu-lhe a mão.
— Capturar o bandido do lenço vermelho vai-se tornando uma tarefa bem mais difícil do que parecia.
Mas ainda a não terminei.
— Quer dizer que ainda continua?
— Claro que sim.
Collins mostrou-se perplexo.
— Ouvi dizer ...que Bosco Bates prendeu esse tal «Máscara Vermelha» e que o tinha detido no acampamento-reserva... Mas que também esse mesmo tipo havia fugido...
— Sente-se... — interrompeu-o Smith, enquanto tirava do bolso o pacote do tabaco —. Precisamos falar com muito tino. Desde que nos encontrámos no caminho, têm acontecido muitas coisas. — Estendeu a bolsa a Collins —. Vá, faça um cigarro.
Collins olhou-o admirado e aceitou a oferta. A conversa entre os dois homens prolongou-se por longo tempo.
E quando ambos saíram pela porta das traseiras do armazém, Smith era oficialmente um condutor de carros de transporte, moço e empregado para todo o serviço do rapaz.
— Mas que interesse o move em tudo isto? —perguntou Collins, depois de estar tudo bem planeado. — Quem é você? Posso saber por que motivo intervém tão diretamente numa questão que, no fundo, não lhe diz respeito. Não vai dizer-me que é cinicamente para se vingar de Bosco Bates, pois não?
Smith sorriu.
— Suponha que faço tudo isso para me divertir.
— Divertir-se!? Se Bates pensa realmente em assaltar os meus carros, não pense que será um engraçado divertimento. Ele deu boa prova das suas intenções ao atirar sobre mim para me aliviar da carga dos mil dólares.
O texano encolheu os ombros.
— Isso pouco importa.
— Perfeitamente. Se é também um tiro na cabeça que procura, isso é com você.
E assim ficou Smith incorporado no serviço de Ted Collins, pronto a salvá-lo da ruína. Depois procurou alojamento no «Trail House Hotel». O seu trabalho era aquele que Collins encontrasse para ele. Esta situação durou dois dias. Ao terceiro, Smith, quando se encontrava a limpar uns arreios, viu entrar na povoação um cavaleiro que ele reconheceu. O cavaleiro era Bosco Bates. Uns metros atrás e com uma espingarda aperrada, cavalgava um dos seus guarda-costas.
O texano fez uma careta e tocou instintivamente nas coronhas dos seus Navy. Não podia correr o risco de se exibir ante Bates. A sua hospedagem na prisão do acampamento ainda permanecia bem vincada na sua memória.
Deslizando para as traseiras do armazém, Smith viu como o indian-agent entrou no armazém, pisando forte e despreocupado. Collins e Tana, sozinhos em frente dum livro de contas, levantaram a cabeça e ao reconhecerem o recém--chegado receberam-no com antipatia e hostilidade.
— Bem, Collins. — disse Bates com forçado bom humor — Tiveste a concessão do Governo para o fornecimento de inverno. Permite que te felicite.
— Refere-se às mantas?!
Bates tirou um cigarro do bolso do colete e acendeu-o cuidadosamente.
— Exatamente. A tua oferta foi a mais baixa de todas quantas foram apresentadas.
— E depois?
O indian-agent soprou o fumo do cigarro com deleite.
— Essa tua oferta prevalece?
— Se a fiz, prevalece. Há um mês que guardo as mantas dentro do meu armazém. Supus que a entrega era. para mim e antecipei-me.
— Bom comerciante, hem?
Collins não fez caso da ironia.
— Quando as quer? — perguntou.
Bates exibiu uns documentos e respondeu:
— Depois de amanhã sem falta. Até ao pôr do Sol. Aqui está o contrato. Se nesse prazo não tiver recebido as mantas, já sabes, Collins, que me assiste todo o direito para fazer caducar o contrato.
— E você gostaria de que eu não pudesse cumprir, não é verdade? Mas descanse que nada disse deve acontecer. Dê-me o contrato.
Os documentos foram assinados. Bates guardou uma cópia e deu duas palmadas no ombro de Collins.
— Pensas mal de mim, rapaz... — declarou — Nada me satisfaz mais do que ver-te derrotar os teus competidores. A única coisa que me preocupa é o bem-estar dos pobres índios.
— Não me diga! — exclamou Collins, guardando o contrato numa gaveta —. A você é que lhe há-de importar bem pouco que os apaches morram ou não de frio. O que acontece é que você encontrou um caminho para as enviar à fronteira do México...
Smith, por detrás da porta do fundo, esperou que o indian-agent fizesse uma loucura. Mas tal não sucedeu. Bates, embora congestionado, soube conter os nervos. Deu meia volta e saiu, seguido pelo pistoleiro.
— Não devias tê-lo indisposto, Ted — murmurou a rapariga quando o bandido se retirou — Bates converte-se num diabo, quando alguém lhe mostra os seus propósitos.
— Que rebente para aí — respondeu o rapaz, furioso.
Smith abandonou o seu posto de observação e caminhou para os dois jovens.
— O senhor estava aí? — perguntou a rapariga, admirada.
O texano fez um sinal afirmativo com a cabeça.
— Ouvi tudo. Isto é precisamente o princípio do fim. Quando sai o carregamento?
— Amanhã pela manhã. Precisarei de três carros e outras tantas juntas de bois. Você conduzirá um, Smith. Eu levarei o outro E para o terceiro...
— E eu o terceiro — exclamou a rapariga.
Collins olhou para a noiva. A sua boca abriu-se, mas nenhum som saiu. O texano foi quem falou:
— Mas... não sabe que perigos a espera.
— Não há perigo de qualquer espécie — respondeu a rapariga em tom firme —. Bates não se atreverá a fazer-me mal. Por outro lado, sei lutar como qualquer outra pessoa. Sempre estive junto de Ted. Também estarei nesses momentos.
Smith não pareceu muito convencido.
— Mas não há ninguém que possa conduzir o terceiro carro em seu lugar?
— Sou eu quem o conduz e mais ninguém —afirmou Tana.
E a conversa terminou nessa afirmação categórica.
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