domingo, 19 de maio de 2019

BUF011.03 Você é o Máscara Vermelha

Capítulo III Você é o Máscara Vermelha
O bandido não havia tomado qualquer espécie de precaução para não deixar uma pista. As pegadas do seu cavalo eram tão claras como uma página escrita para os olhos argutos de Smith.
Levantando a cabeça, o texano lançou um olhar para o lugar onde sabia estar o seu companheiro mestiço esperando-o. Tinham-se separado logo que havia soado o primeiro tiro vindo do deserto, logo seguido dum outro que roçou pela cabeça de Collins.
Smith pensou que o seu camarada teria já calculado que acontecia qualquer coisa de anormal e, portanto, seria necessário avisá-lo. Levantou os ombros e concentrou a sua atenção na pista aberta pelo atacante.
As marcas continuaram a demonstrar que o homem não tinha pressa. Em redor de meia milha, Smith adquiriu a certeza de estar no bom caminho.
Supondo, sem dúvida, ter acabado com a vida de Collins e certo de que Tana se incomodaria mais em atender ao namorado do que iniciar uma perseguição, o atacante agia com toda a tranquilidade.
Smith sorriu. Do pouco que Collins lhe havia dito, deduzira com facilidade que o dinheiro roubado era de suma importância para os dois jovens. E isso era o bastante para entrar em ação. O profundo sentido de justiça impelia-o sempre, quase automaticamente, a tomar o partido dos oprimidos, dos fracos e dos espoliados. Precisamente por isso se encontrava a sós com o companheiro mestiço naquelas paragens do Arizona, longe da sociedade e da civilização, com metade da vida aparentemente destroçada.


A direção em que avançava conduziu-o a um planalto que dominava um imenso e frondoso vale. O bandido havia descido por ali. Smith parou.
A imensidão da planície e a beleza das suas cores fizeram-no sentir uma grata impressão. De súbito, em baixo, apareceu um cavaleiro. Os músculos de Smith retesaram-se. O homem que cavalgava com toda a tranquilidade vestia uma camisa branca e calças cinzentas. Na cabeça usava um chapéu da mesma cor das calças. Nem mesmo, foi necessário ver o lenço vermelho enrolado no pescoço, para Smith saber que aquele era o homem que procurava.
Sem perder um segundo, o texano lançou o alazão em vertiginosa corrida pela encosta, entrando no bosque com uma temeridade suicida. Enquanto galopava, empunhou o revólver.
O cavaleiro acabava de se aproximar do final da clareira e quase a perder-se na imensidão do arvoredo.
Smith não hesitou. Levantou a arma e fez fogo. Aquele tiro não passava duma advertência, destinada a fazer que o foragido se imobilizasse, impedindo-o de se entrincheirar por detrás das grossas árvores.
Com pasmosa precisão, a bala perfurou a copa do chapéu do outro, levantando uma pequena nuvem de poeira. Sobressaltado, o desconhecido encolheu-se na sela.
— Quieto! — gritou Smith com voz forte e cortante, enquanto avançava.
Bruscamente, o homem levantou o lenço, ocultando assim o rosto; porém, não tentou fugir nem mesmo defender-se. Pelo contrário. Fez o cavalo dar meia volta e ficou de frente para o cavaleiro que se aproximava.
A vitória de Smith não era, no entanto, tão simples e fácil como parecia. Tinha já o mascarado ao alcance da mão, quando o ruído surdo de vários cavalos se ouviu. O desalento apoderou-se dele ao ver que oito cavaleiros surgiam do bosque, armados de revólveres, cobrindo as costas do homem do lenço vermelho.
Durante uns segundos, Smith ainda pensou que o grupo se compusesse de pessoas honestas, prontas a apoiá-lo na sua missão voluntária. Mas uma exclamação de triunfo, que brotou da garganta do mascarado, desvaneceu todas as suas dúvidas. O bandido não estava sozinho. Os oito cavaleiros eram membros do seu bando. Esta era a razão porque se mostrava tão tranquilo.
A luz do sol arrancou centelhas deslumbrantes ao aço dos revólveres quando os oito homens fizeram pontaria. Smith fez que o seu cavalo desse um salto para o lado. Nesse momento as balas zuniram de todos os lados. Smith inclinou-se sobre o pescoço do cavalo, enquanto a Weber 69 do foragido tomava parte na fuzilaria. As balas assobiavam da direita e da esquerda.
Por instantes o texano viu-se apertado no cerco de chumbo. Depois compreendeu que só havia um processo de sair daquele inferno. Imediatamente o pôs em prática. Deitando-se sobre o cavalo, esporeou-o e o animal rompeu numa corrida vertiginosa, ziguezagueando por entre as árvores do bosque.
As balas passam sem nenhuma delas atingir o alvo desejado. Smith continuava a cavalgar por entre as árvores. As balas deixaram de assobiar, mas o ruído de vários cavalos em corrida deu a certeza ao homem, de que era agora alvo duma perseguição.
Os bandidos soltavam gritos como se tivessem como certa a captura do texano. Esta situação prolongou-se para Smith por alguns minutos, até que a orla do bosque surgiu aos seus olhos. Agora era mais difícil para ele esquivar-se às balas inimigas.
À sua direita apareceu o leito seco dum rio. Meteu o cavalo por ali, cônscio de que aquele caminho o levaria a bom recato. As patas do cavalo soaram forte sobre o pedregoso leito, que era agora emparedado, por altas muralhas.
Smith continuou a incitar o alazão. Mas de súbito, todos os seus esforços foram gorados. Na sua frente erguia-se uma alta muralha rochas, naturalmente provocada por qualquer desmoronamento.
Atrás de si, principiaram a ecoar os passos dos cavalos dos seus perseguidores, cavalgando agora mais devagar como se soubessem já que, mais em frente, havia um obstáculo a barrar a fuga do perseguido.
Dada a impossibilidade de qualquer escalada, Smith empunhou as armas, disposto a defender-se se a ocasião a isso se proporcionasse. Sentia uma certa curiosidade. Não era natural encontrar um bando de foragidos num lugar tão remoto como os Montes Culebra, onde não existiam gado nem riquezas de quaisquer espécies e por onde não passava nenhuma das importantes caravanas do Sudoeste. A presença daquela quadrilha intrigava-o.
Subitamente, o grupo de bandidos irrompeu na curva do leito do rio seco. Todos os homens traziam as armas aperradas. Smith deu-se ao trabalho de os contar. Nove. Continuavam a ser nove, mas à primeira vista o homem do lenço vermelho parecia não fazer parte do grupo. No entanto, o texano não tardou em descobri-lo.
O seu aspeto havia-se modificado muito. O lenço desaparecera. Vestia agora um colete cinzento, como as calças e, debaixo da aba do chapéu faiscavam as lentes duns óculos. O seu olhar era duro e um volumoso bigode ensombrava-lhe a boca de lábios grossos.
Os cavaleiros saltaram das montadas e rodearam Smith sem pronunciarem uma só palavra. O dos óculos adiantou-se e examinou-o detidamente, antes de falar. Depois, estendeu a Weber que empunhava, tocando no peito do texano e perguntou:
— Qual é o seu nome?
Smith susteve aquele olhar duro.
— Suponha que é John Smith. E o seu?
— Bosco Bates. — O homem não parecia muito seguro de si mesmo. — Sou o agente do Governo no acampamento-reserva apache do Forte Culebra. Esta possessão está sob as minhas ordens. Bem! Quem é você e o que faz por aqui? Será algum agente federal? Ou membro dos Arizona Rangers?
— Sou um viajante qualquer que, sem motivo, foi vítima duma perseguição.
Bates não procurou esconder o seu alívio. Contemplando-o, Smith pensava quão acertada fora a suposição de Ted Collins acerca da identidade do seu atacante. Para um indian-agent, para um homem que ocupava uma responsável posição oficial, Bosco Bates revelava-se em costumes um tanto surpreendentes. De súbito, a sua voz elevou-se, dizendo:
— Pagam mil dólares por você. Tenho no meu escritório a oferta da recompensa. — Com o cano da arma bateu no lenço vermelho que Smith trazia enrolado ao pescoço. — Mil dólares... vivo ou morto.
— Suponho que estará falando desse a quem chamam «Máscara Vermelha» ...
— Estou falando de você...
— Admiro o seu cinismo. Ainda há pouco o vi...
— Viu-me agora pela primeira vez. — A interrupção surgiu cortante e nervosa. — Os meus homens intimaram-no a parar, no outro lado do bosque e você não respondeu à intimação, empreendendo a fuga. Como nos parecia suspeito, viemos em sua perseguição. A partir deste momento, considere-se preso. Esta é a única, a verdadeira versão dos factos. Não sei se compreende.
Smith olhou-o nos olhos e fez um sinal com a cabeça.
— Muitíssimo bem. Mas você sabe que eu não sou esse «Máscara Vermelha». Gostaria de saber como se arranja para provar em público tão grande absurdo.
O indian-agent continuou a tentar aparentar tranquilidade, mas a nobreza das pupilas de Smith obrigou-o a desviar o olhar.
— Você esquece uma coisa. Esquece que nunca ninguém viu ainda, até hoje, o rosto do «Máscara Vermelha».

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