Harry não se atreveu a voltar a cabeça.
Ele mesmo não compreendia como a sua conduta podia ter sido tão absurda, adulando de forma descarada uma mulher que via pela primeira vez. E o pior era que a sua recordação não lhe saía do pensamento e julgava sentir ainda a doçura daqueles lábios encantadores.
Apaixonara-se por Eleonor Horner? Esta pergunta assaltou-o de improviso e não se atreveu a pensar. Até então sempre tentara evitar que aquela possibilidade surgisse, pois queria andar sempre de um lado para o outro, desfrutando uma vida alegre e despreocupada, gozando o espetáculo maravilhoso que a natureza lhe oferecia continuamente. Logo que vira o lindo semblante de Eleonor sentira-se subjugado e atraído pela sua beleza. Tudo o que fizera não fora ordenado pela sua vontade, mas sim por uma força superior a ela, que até então desconhecia. Era como se estivesse embriagado e os vapores do álcool o obrigassem a fazer coisas que, estando no seu estado normal, seria incapaz de fazer. Todavia, não se arrependia, pois, se voltasse a apresentar-se-lhe a mesma oportunidade, voltaria a beijar Eleonor Horner.
Ao divisar o «saloon» voltou a recobrar a serenidade; talvez estivesse a chegar o momento mais perigoso que teria de enfrentar. Sem nunca ter estado em Evil Town, conhecia-a como se tivesse andado pelas suas ruas, por lhe ter sido descrita por Frankie Simmons e, na realidade, por ser, também muito semelhante às diversas povoações do Oeste que visitara durante a sua existência errante. Sim, aquele luxuoso edifício de madeira era o «saloon» de Eddie Bipsho.
Desmontou e amarrou o cavalo à barra e, com passo firme, entrou no estabelecimento. Este estava bastante frequentado, apesar de ser quase meio-dia.
A entrada de Harry despertou uma inusitada expectativa. O jovem apercebeu-se disso por causa do espanto que se refletiu em alguns semblantes e pelo ruído produzido por algumas cadeiras, ao levantarem-se precipitadamente os que nelas se sentavam. Todavia, fingiu que não compreendia e aproximou-se tranquilamente do balcão.
— Bill — pediu com indolência — quero um copo de cerveja. O «barman» serviu-o de forma automática, como se não acreditasse no que os seus olhos viam.
— Acaso te surpreende o facto de me veres aqui, Bill? — perguntou com suavidade.
O homem respondeu com um movimento afirmativo da cabeça.
— Compreendo — e Harry sorriu divertido — julgavas que aqueles coiotes me tinham matado. Mas não foi assim, dois deles caíram para não mais se levantarem. Creio que um deles era Shapiro.
Bebeu um gole de cerveja e, pelo espelho, viu que se aproximava dele um homem alto e corpulento. O seu aspeto era brutal e não duvidou de que se trataria de um dos homens de Bipsho. Permaneceu imperturbável até que ouviu um forte vozeirão que dizia: Richard Graham, disse que não te queria voltar a ver aqui. Harry voltou-se lentamente. — E porquê? — perguntou.
A serenidade de que o jovem dava mostras impressionou o seu interlocutor, que coçou o queixo, perplexo.
— Já te fiz demasiados avisos. E o homenzarrão deu dois passos, ameaçador, para Harry que o via aproximar e estava imperturbável. S6 se voltou ligeiramente quando o formidável punho do seu adversário lhe passou roçando a cabeça; graças a um hábil movimento evitou ser atingido pelo potente soco. Afastou-se do balcão enquanto o seu inimigo recobrava o equilíbrio.
— Duro nele, Murphy — disse uma voz — mas não batas com muita força que podes estragar o seu belo físico.
O corpulento Murphy soltou uma gargalhada e dispôs-se a socar o jovem. Tudo sucedeu como da vez anterior, com a diferença de que, quando o punho de Murphy passou roçando a cabeça de Harry, este, com rapidez, atingiu secamente o nariz do seu inimigo que soltou um grito de dor.
O gigante enfureceu-se e lançou-se para a frente, batendo à esquerda e à direita; mas de súbito, dois socos secos e potentes que o atingiram em pleno rosto fizeram-no retroceder vários passos. Harry contemplou-o surpreendido. Havia batido com prazer, os dois socos haviam atingido Murphy e este limitara-se a recuar, quando ele julgava que cairia pesadamente.
***
Ele mesmo não compreendia como a sua conduta podia ter sido tão absurda, adulando de forma descarada uma mulher que via pela primeira vez. E o pior era que a sua recordação não lhe saía do pensamento e julgava sentir ainda a doçura daqueles lábios encantadores.
Apaixonara-se por Eleonor Horner? Esta pergunta assaltou-o de improviso e não se atreveu a pensar. Até então sempre tentara evitar que aquela possibilidade surgisse, pois queria andar sempre de um lado para o outro, desfrutando uma vida alegre e despreocupada, gozando o espetáculo maravilhoso que a natureza lhe oferecia continuamente. Logo que vira o lindo semblante de Eleonor sentira-se subjugado e atraído pela sua beleza. Tudo o que fizera não fora ordenado pela sua vontade, mas sim por uma força superior a ela, que até então desconhecia. Era como se estivesse embriagado e os vapores do álcool o obrigassem a fazer coisas que, estando no seu estado normal, seria incapaz de fazer. Todavia, não se arrependia, pois, se voltasse a apresentar-se-lhe a mesma oportunidade, voltaria a beijar Eleonor Horner.
Ao divisar o «saloon» voltou a recobrar a serenidade; talvez estivesse a chegar o momento mais perigoso que teria de enfrentar. Sem nunca ter estado em Evil Town, conhecia-a como se tivesse andado pelas suas ruas, por lhe ter sido descrita por Frankie Simmons e, na realidade, por ser, também muito semelhante às diversas povoações do Oeste que visitara durante a sua existência errante. Sim, aquele luxuoso edifício de madeira era o «saloon» de Eddie Bipsho.
Desmontou e amarrou o cavalo à barra e, com passo firme, entrou no estabelecimento. Este estava bastante frequentado, apesar de ser quase meio-dia.
A entrada de Harry despertou uma inusitada expectativa. O jovem apercebeu-se disso por causa do espanto que se refletiu em alguns semblantes e pelo ruído produzido por algumas cadeiras, ao levantarem-se precipitadamente os que nelas se sentavam. Todavia, fingiu que não compreendia e aproximou-se tranquilamente do balcão.
— Bill — pediu com indolência — quero um copo de cerveja. O «barman» serviu-o de forma automática, como se não acreditasse no que os seus olhos viam.
— Acaso te surpreende o facto de me veres aqui, Bill? — perguntou com suavidade.
O homem respondeu com um movimento afirmativo da cabeça.
— Compreendo — e Harry sorriu divertido — julgavas que aqueles coiotes me tinham matado. Mas não foi assim, dois deles caíram para não mais se levantarem. Creio que um deles era Shapiro.
Bebeu um gole de cerveja e, pelo espelho, viu que se aproximava dele um homem alto e corpulento. O seu aspeto era brutal e não duvidou de que se trataria de um dos homens de Bipsho. Permaneceu imperturbável até que ouviu um forte vozeirão que dizia: Richard Graham, disse que não te queria voltar a ver aqui. Harry voltou-se lentamente. — E porquê? — perguntou.
A serenidade de que o jovem dava mostras impressionou o seu interlocutor, que coçou o queixo, perplexo.
— Já te fiz demasiados avisos. E o homenzarrão deu dois passos, ameaçador, para Harry que o via aproximar e estava imperturbável. S6 se voltou ligeiramente quando o formidável punho do seu adversário lhe passou roçando a cabeça; graças a um hábil movimento evitou ser atingido pelo potente soco. Afastou-se do balcão enquanto o seu inimigo recobrava o equilíbrio.
— Duro nele, Murphy — disse uma voz — mas não batas com muita força que podes estragar o seu belo físico.
O corpulento Murphy soltou uma gargalhada e dispôs-se a socar o jovem. Tudo sucedeu como da vez anterior, com a diferença de que, quando o punho de Murphy passou roçando a cabeça de Harry, este, com rapidez, atingiu secamente o nariz do seu inimigo que soltou um grito de dor.
O gigante enfureceu-se e lançou-se para a frente, batendo à esquerda e à direita; mas de súbito, dois socos secos e potentes que o atingiram em pleno rosto fizeram-no retroceder vários passos. Harry contemplou-o surpreendido. Havia batido com prazer, os dois socos haviam atingido Murphy e este limitara-se a recuar, quando ele julgava que cairia pesadamente.
***
O sangue brotou da ferida recebida ao ser atingido por um soco na face que o atirou sobre os espectadores. Sentia-se aturdido, e viu que Murphy avançava para ele, com um sinistro sorriso de triunfo no semblante sanguinolento.
Reunindo as suas energias disparou o punho sobre ele, ao mesmo tempo que recebia um potente golpe. Encaixou-o bem e sentiu que se dissipavam os efeitos adormecedores em que o seu cérebro estava mergulhado, dando-se conta perfeitamente de que o soco que acabava de aplicar provocara efeitos demolidores no seu adversário.
Não se entreteve mais e os punhos castigaram Murphy sem cessar, obrigando este a retroceder cambaleando. Perseguiu-o sem lhe dar tréguas, pois não lhe queria permitir que se recompusesse, desejando acabar de vez com aquela luta cruenta, visto que as suas energias se esgotavam. O seu punho direito partiu violentamente e o gigante caiu para trás. Um silêncio absoluto reinava no «saloon», ouvindo-se as respirações agitadas dos dois contendores.
Harry deu a luta por terminada, mas, surpreendido, viu que Murphy se endireitava cambaleando e se dirigia para ele. Evitou com facilidade o murro que o seu antagonista lhe dirigira, ainda cheio de potência e o seu punho esquerdo castigou o fígado do corpulento foragido que caiu, retorcendo-se de dor no solo. Harry esfregou os nós dos dedos doridos, enquanto olhava o corpo maltratado do seu inimigo; agora, sim, Joe Murphy ficara fora de combate de forma definitiva.
Dirigiu-se para o balcão, enquanto vários homens o felicitavam efusivamente. De um trago bebeu o conteúdo do copo que, continuava no lugar onde o deixara.
O «barman» contemplava-o com pueril admiração e não pôde deixar de sorrir ao vê-lo. Viu então avançar na sua direção um homem alto e elegante. Vestia com gosto e um sorriso punha-lhe a descoberto a dentadura branca.
— Felicito-o, Richard, foi uma façanha o facto de ter vencido Joe Murphy.
— Acho que sim, Bipsho — respondeu com ironia.
Não tinha dúvidas de que o homem que estava na sua frente era o que ordenara a morte de Richard Graham e que acabava de enviar o gigante para o eliminar. Alegrou-se de que o engano não tivesse sido descoberto, de que estivessem persuadidos de que se tratava do próprio Richard. Eddie Bipsho fingiu que não se apercebia do tom do seu interlocutor e, voltando-se para o «barman», ordenou:
— Bill, serve dois uísques.
— Obrigado, creio que me saberá bem.
— Um bom uísque sabe sempre bem e muito mais depois de se ter realizado um duro exercício.
Harry não respondeu, pois olhava para uma atraente loira que se aproximava dele. Devia ser Linda Morgan.
Era tal e qual como a descrevera Frankie Simmons: formosa e insinuante.
— Esteve magnífico, Richard.
— Obrigado pelo elogio, Linda. E Harry bebeu o uísque de um trago, sentindo-se reconfortado.
— Venha, Richard, vou curar-lhe as feridas.
— Sim, esse porco rasgou-me uma das faces com uma cabeçada.
O jovem seguiu a formosa artista, depois de fazer um ligeiro cumprimento com a cabeça a Eddie Bipsho que franziu as sobrancelhas ao vê-lo partir.
Linda conduziu o jovem para uma pequena sala e limpou-lhe o rosto com habilidade, tratando-lhe do ferimento que aliás não tinha importância.
— Estou-lhe muito agradecido, Linda.
Ela moveu a cabeça desdenhosamente.
— Não diga tolices. Fi-lo com prazer. Entusiasmou-me a sova que aplicou a Murphy, pois ele é um tipo brutal. O senhor limitou-se a vencê-lo; ele tê-lo-ia matado, se pudesse.
— Acredito.
—E por que aceitou a luta?
— Não podia recusá-la e passar por um cobarde. Além disso tinha a certeza de o vencer.
O perturbador olhar das pupilas verdes cravou-se com insistência em Harry. Este sentiu-se perscrutado até ao mais íntimo do seu ser, tendo de recorrer a toda a sua força de vontade para o sustentar com indiferença. Estava convencido de que as relações entre Richard e Linda Morgan não haviam passado da superficialidade e que a artista não sentia pelo jovem fazendeiro muita simpatia e de que, se fizera alguns esforços para o atrair, fora devido a qualquer plano traçado por Eddie Bipsho.
— E por que não a aceitou há seis dias, em vez de se ir embora como um cobarde?
— Agora é diferente.
— Acho-o estranho, Richard.
Harry não desejava ouvir estas palavras. Queria ter uma grande semelhança com o irmão de Ruth, embora a conduta a seguir fosse muito diferente. Sentia-se mais intranquilo, quando se enfrentava com Eleonor Horner e Linda Morgan que quando os seus interlocutores eram Eddie Bipsho e os seus pistoleiros ou os vaqueiros do rancho.
As mulheres eram mais perspicazes, os seus olhares pousavam sobre ele, inquiridores, como se quisessem ler nos seus olhos o segredo daquela súbita transformação, pois já não o viam com um jovem indiferente, ávido de prazeres, mas sim como um homem forte e decidido, dispondo-se a lutar contra todos os obstáculos que se apresentassem no seu caminho.
Ambas o amavam: Eleonor desde criança e vira como no seu rosto o amor ressuscitava poderoso e pujante, apesar dos esforços que fizera para não se denunciar.
Linda Morgan, pelo contrário, era diferente. Tratava-o como se ele acabasse de nascer, como se a indiferença que Richard Graham sempre lhe inspirara se dissipasse perante a audaz entrada que fizera no «saloon», sem receio de ser atacado e a formidável sova que aplicara a um homem tão temível como Joe Murphy.
Harry sentia tão perto de si o corpo perturbador da artista, via o rosto de Linda tão perto do seu e os lábios sensuais a tão curta distância oferecendo-se-lhe de forma irresistível que teve de fazer um esforço poderoso para não a estreitar entre os braços e a beijar com ardor. Linda sorriu despeitada, ao ver que o homem não se rendia aos seus encantos.
—É uma excelente enfermeira. Terei de procurar outra oportunidade para ficar ferido e as suas belas mãos me tratarem.
E, tomando uma das mãos da artista, beijou-a com suavidade. Linda acariciou os cabelos negros, enquanto os seus lábios soltavam um impercetível suspiro.
— Acho-o muito estranho, Richard, como se fosse outro homem muito diferente.
— De certo modo sou-o, Linda, de forma alguma estou disposto a vender a minha propriedade e por isso já não sou o indiferente desocupado que fui até agora, mas enfrentarei todo aquele que quiser arrebatar-me o rancho.
Reunindo as suas energias disparou o punho sobre ele, ao mesmo tempo que recebia um potente golpe. Encaixou-o bem e sentiu que se dissipavam os efeitos adormecedores em que o seu cérebro estava mergulhado, dando-se conta perfeitamente de que o soco que acabava de aplicar provocara efeitos demolidores no seu adversário.
Não se entreteve mais e os punhos castigaram Murphy sem cessar, obrigando este a retroceder cambaleando. Perseguiu-o sem lhe dar tréguas, pois não lhe queria permitir que se recompusesse, desejando acabar de vez com aquela luta cruenta, visto que as suas energias se esgotavam. O seu punho direito partiu violentamente e o gigante caiu para trás. Um silêncio absoluto reinava no «saloon», ouvindo-se as respirações agitadas dos dois contendores.
Harry deu a luta por terminada, mas, surpreendido, viu que Murphy se endireitava cambaleando e se dirigia para ele. Evitou com facilidade o murro que o seu antagonista lhe dirigira, ainda cheio de potência e o seu punho esquerdo castigou o fígado do corpulento foragido que caiu, retorcendo-se de dor no solo. Harry esfregou os nós dos dedos doridos, enquanto olhava o corpo maltratado do seu inimigo; agora, sim, Joe Murphy ficara fora de combate de forma definitiva.
Dirigiu-se para o balcão, enquanto vários homens o felicitavam efusivamente. De um trago bebeu o conteúdo do copo que, continuava no lugar onde o deixara.
O «barman» contemplava-o com pueril admiração e não pôde deixar de sorrir ao vê-lo. Viu então avançar na sua direção um homem alto e elegante. Vestia com gosto e um sorriso punha-lhe a descoberto a dentadura branca.
— Felicito-o, Richard, foi uma façanha o facto de ter vencido Joe Murphy.
— Acho que sim, Bipsho — respondeu com ironia.
Não tinha dúvidas de que o homem que estava na sua frente era o que ordenara a morte de Richard Graham e que acabava de enviar o gigante para o eliminar. Alegrou-se de que o engano não tivesse sido descoberto, de que estivessem persuadidos de que se tratava do próprio Richard. Eddie Bipsho fingiu que não se apercebia do tom do seu interlocutor e, voltando-se para o «barman», ordenou:
— Bill, serve dois uísques.
— Obrigado, creio que me saberá bem.
— Um bom uísque sabe sempre bem e muito mais depois de se ter realizado um duro exercício.
Harry não respondeu, pois olhava para uma atraente loira que se aproximava dele. Devia ser Linda Morgan.
Era tal e qual como a descrevera Frankie Simmons: formosa e insinuante.
— Esteve magnífico, Richard.
— Obrigado pelo elogio, Linda. E Harry bebeu o uísque de um trago, sentindo-se reconfortado.
— Venha, Richard, vou curar-lhe as feridas.
— Sim, esse porco rasgou-me uma das faces com uma cabeçada.
O jovem seguiu a formosa artista, depois de fazer um ligeiro cumprimento com a cabeça a Eddie Bipsho que franziu as sobrancelhas ao vê-lo partir.
Linda conduziu o jovem para uma pequena sala e limpou-lhe o rosto com habilidade, tratando-lhe do ferimento que aliás não tinha importância.
— Estou-lhe muito agradecido, Linda.
Ela moveu a cabeça desdenhosamente.
— Não diga tolices. Fi-lo com prazer. Entusiasmou-me a sova que aplicou a Murphy, pois ele é um tipo brutal. O senhor limitou-se a vencê-lo; ele tê-lo-ia matado, se pudesse.
— Acredito.
—E por que aceitou a luta?
— Não podia recusá-la e passar por um cobarde. Além disso tinha a certeza de o vencer.
O perturbador olhar das pupilas verdes cravou-se com insistência em Harry. Este sentiu-se perscrutado até ao mais íntimo do seu ser, tendo de recorrer a toda a sua força de vontade para o sustentar com indiferença. Estava convencido de que as relações entre Richard e Linda Morgan não haviam passado da superficialidade e que a artista não sentia pelo jovem fazendeiro muita simpatia e de que, se fizera alguns esforços para o atrair, fora devido a qualquer plano traçado por Eddie Bipsho.
— E por que não a aceitou há seis dias, em vez de se ir embora como um cobarde?
— Agora é diferente.
— Acho-o estranho, Richard.
Harry não desejava ouvir estas palavras. Queria ter uma grande semelhança com o irmão de Ruth, embora a conduta a seguir fosse muito diferente. Sentia-se mais intranquilo, quando se enfrentava com Eleonor Horner e Linda Morgan que quando os seus interlocutores eram Eddie Bipsho e os seus pistoleiros ou os vaqueiros do rancho.
As mulheres eram mais perspicazes, os seus olhares pousavam sobre ele, inquiridores, como se quisessem ler nos seus olhos o segredo daquela súbita transformação, pois já não o viam com um jovem indiferente, ávido de prazeres, mas sim como um homem forte e decidido, dispondo-se a lutar contra todos os obstáculos que se apresentassem no seu caminho.
Ambas o amavam: Eleonor desde criança e vira como no seu rosto o amor ressuscitava poderoso e pujante, apesar dos esforços que fizera para não se denunciar.
Linda Morgan, pelo contrário, era diferente. Tratava-o como se ele acabasse de nascer, como se a indiferença que Richard Graham sempre lhe inspirara se dissipasse perante a audaz entrada que fizera no «saloon», sem receio de ser atacado e a formidável sova que aplicara a um homem tão temível como Joe Murphy.
Harry sentia tão perto de si o corpo perturbador da artista, via o rosto de Linda tão perto do seu e os lábios sensuais a tão curta distância oferecendo-se-lhe de forma irresistível que teve de fazer um esforço poderoso para não a estreitar entre os braços e a beijar com ardor. Linda sorriu despeitada, ao ver que o homem não se rendia aos seus encantos.
—É uma excelente enfermeira. Terei de procurar outra oportunidade para ficar ferido e as suas belas mãos me tratarem.
E, tomando uma das mãos da artista, beijou-a com suavidade. Linda acariciou os cabelos negros, enquanto os seus lábios soltavam um impercetível suspiro.
— Acho-o muito estranho, Richard, como se fosse outro homem muito diferente.
— De certo modo sou-o, Linda, de forma alguma estou disposto a vender a minha propriedade e por isso já não sou o indiferente desocupado que fui até agora, mas enfrentarei todo aquele que quiser arrebatar-me o rancho.
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