Isto cantava a bailarina Aline Norman, enquanto as suas seis «girls» dançavam, balouçando premeditadamente os quadris. Aline viu entrar a figura atlética de Harold Rodney e dirigiu-lhe um olhar interrogativo. Rodney pareceu não reparar no gesto da rapariga e esta continuou a descrever para uma assembleia pouco interessada de jogadores a cor vermelha das rosas e do seu coração.
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Aline falava com Harold...
— Não é «mister» Karl Stanzer um tipo demoníaco? Ele não pode atacar Martin Stanzer em virtude do que está expresso no testamento. Contudo, um punhado de foragidos pode destruir o rancho numa noite. E as carroças, cheias de sal e de água, deixarão improdutivas, por muito tempo, as terras de Karl Stanzer. Sim. O senhor Karl Stanzer deve ter pensado nestes pormenores. Não é em vão que se medita, durante anos inteiros. Todos esses forasteiros, com «mister» Kerr à cabeça, darão cabo de tudo o que se lhes deparar. Que dizes a isto, xerife?
Rodney ficou pensativo. A rapariga não deixava de olhar para ele.
— Que tencionas fazer? — perguntou, de novo, Aline.
— Necessito de dar uma passeata — retorquiu Harold, com um sorriso. — Sim. Preciso de sair...
A bailarina interpôs-se, então, entre ele e a porta.
— Não penses que me vais enganar, Harold — disse--lhe muito séria. — Sei que vieste para Stanzerville, não por gostares da cidade ou da gente que nela vive. Não vale a pena negares esta verdade. Tu nunca me conseguiste enganar. Vieste, sim, porque ouviste, certo dia, o senhor Karl explicar o que tencionava fazer...
— Admitamos isso — respondeu Harold. A sensação de estar a ser espiado voltara a apoderar-se dele.. — E o que tem?
Olhou em redor, mas não conseguiu descortinar de onde poderiam observá-lo.
— Tem muito — disse Aline. — Não tens qualquer possibilidade de escapar, vivo, deste «negócio». Nem tão-pouco poderás evitar o que parece ser inevitável. Mas existe uma oportunidade. Uma ocasião, para te salvares agora.
— E qual é? — indagou Harold sentindo que o perigo se tornava mais real.
— Fugires daqui... comigo.
Harold fitou-a e, por um momento, abrandou a vigilância.
— Que disseste, pequena?
— Aquilo que ouviste. a única possibilidade que tens de sair vivo desta casa acrescentou, baixando a voz.
— Eu… eu já sabes que... — e os olhos dela brilharam. — Bem... Eu estou a brincar, meu palerma.
Harold sorriu. Agarrou-a pelos braços e, mirando-a nos olhos, disse:
— Na minha opinião, és a rapariga mais engraçada que vi até hoje. Todavia, não posso fazer o que me aconselhas.
— Porquê? — perguntou ela num tom irritado. —Compreendo! Trata-se da filha do Stanzer, não é? O motivo que te impede de seguires o meu alvitre é essa rapariga?
Harold largou-a.
—Suponhamos que sim... O caso muda de figura?
— Pelo menos és sincero... Brutalmente sincero —respondeu a jovem.
Hesitou um momento. Os seus olhos tinham um brilho estranho.
— Continua, rapaz — acrescentou.
— Ê bem feito por eu andar a sonhar quando deveria... — principiou ele com ternura.
Nesse instante soaram duas pancadas na porta. Aline ergueu os olhos, mas Rodney não pôde ler neles qualquer surpresa.
— Já conheces o caminho -- disse a bailarina. Vai a minha casa...
Com a sensação de que a cada momento se ia fechando mais à sua volta algo que não sabia explicar, Harold refugiou-se no quarto contíguo. Aline abriu a porta enquanto ele se detinha para ouvir, antes de verificar se a janela estava ou não aberta. Deixara o cavalo nas traseiras da casa. Para encontrá-lo, bastava-lhe, pois, sair dali. Quatro homens entraram.
Eram Karl Stanz. «Ghost» e dois dos seus guarda-costas. Karl perguntou qualquer coisa em voz baixa e a rapariga respondeu-lhe no mesmo tom. Depois, o senhor de Stanzerville, levantou a voz.
— Amanhã à noite — disse, como se respondes, a uma pergunta da jovem -- soarão as trombetas do juízo final, para esse miserável que tentou humilhar-me com as suas belas e nobres acções. Soará o castigo para o homem que, quando éramos crianças, roubou até o pão que eu devia comer, o homem que..:
Rodney notou que «Ghost» e os outros dois brutamontes, apesar de atentos às palavras do chefe, avançavam lentamente para a porta do quarto onde se ocultara. Foi então que compreendeu tudo. A. armadilha tinha funcionado perfeitamente.
«Aline, Aline — pensou. — Não serias mulher se procedesses de outro modo!».
Experimentou a janela, sem fazer ruído. Estava E chada. O revólver saiu silenciosamente do coldre direito. Havia poucas probabilidades de escapar numa luta contra três homens armados, mas, pelo menos, vender-lhes-ia por bom preço a sua pele. E talvez «mister» Karl Stanzer não chegasse a ver o dia da vingança que sonhava.
—E pronto, Aline — dizia a voz de Karl.
Desta vez soava mais distante. Harold não podia vê-lo mas percebeu que o valente «mister» Stanzer tinha escolhido uma posição estratégica, para não arriscar o físico. Rodney mordeu os lábios e preparou-se para agir. Não foi, porém, necessário. A voz de Aline chegou, de novo, até ele.
— Salva-te, Harold! — gritou a bailarina.
A última sílaba soou abafada, pois «Ghost» tapara, com a mão, a boca da rapariga.
Os dois guarda-costas tinham principiado a disparar para o quarto onde Rodney se encontrava, descarregando, com fúria, os tambores dos revólveres sobre o frágil mobiliário. Harold esquivou-se e, graças aos seus músculos bem exercitados, transpôs, de um salto, a distância que o separava da janela.
Os vidros estilhaçaram-se, tendo-o ferido, um deles, no pescoço e outro num braço. A verdade, porém, é que se via agora ao ar livre e não metido naquela autêntica armadilha. Mas, como é óbvio, o seu cavalo não se encontrava nas redondezas.
Quem estacionava no local era um homem que ficou muito surpreendido com a súbita e ruidosa aparição do xerife. Não conseguiu., todavia, servir-se a 'tempo da carabina. Rodney prostrou-o com um tiro certeiro. Depois, correndo velozmente, logrou pôr-se fora do alcance das balas que lhe dirigiam da j anela. Um coro de berros e maldições acompanhou-o na fuga. Karl Stanzer apodava de cobardes os seus homens.
Nessa altura Harold descobriu o cavalo que pertencia ao homem que haviam colocado de guarda às traseiras da casa. Sem hesitar, saltou-lhe para a sela e logo a seguir inclinou-se todo para um lado da montada, como se uma campainha de alarme o tivesse avisado do perigo que o ameaçava. Uma bala levou-lhe o chapéu. Voltou-se para trás e disparou quase sem fazer pontaria. Um grito foi a resposta que obteve.
A noite, negra como breu, estava cheia de imprevistos. Harold esporeou o cavalo, e da janela ainda dispararam mais dois tiros contra ele, sem lhe acertarem. O cavalo não valia grande coisa, mas possuía quatro patas e isso bastava. Em menos de quinze segundos tinha •conseguido sair da povoação e galopava, a toda a brida, pela pradaria.
Karl Stanzer virou-se para a rapariga e, num ataque de fúria, esbofeteou-a.
— Maldita! Três vezes maldita!
— Eu já o avisara, chefe — disse «Ghost». — Esta mulher...
Aline empertigou-se.
—Não quis que matassem o único homem que havia aqui — atalhou, com uma expressão insultante. Stanzer empalideceu e o brilho da loucura instalou--se, de novo, nos seus olhos.
— Um traidor não merece viver — gritou. — «Ghost», cumpre a tua obrigação! Deu meia volta e saiu de casa. «Ghost» ficou só, com a jovem.
— Vamos, carrasco, toca a obedecer — disse-lhe Aline com um riso trocista. — Por que esperas?
— O chefe não pretendeu dizer... — principiou «Ghost». Mas como, na realidade, ignorava aquilo que o patrão tinha querido dizer, calou-se. Após uma breve hesitação, acrescentou:
— O que você pode fazer 'de melhor é estar caladinha e não dar nas vistas, durante uns tempos. Creio não haver necessidade de tomarmos medidas drásticas. E não tente ausentar-se. Estes homens nunca a deixariam sair.
Aline conhecia «Ghost» muito bem e o caso não ia ficar por ali. A ideia de fugir passou-lhe pelo cérebro, mas logo se desvaneceu. Como lhe dissera o lugar-tenente de Karl Stanzer, daí em diante ela seria vigiada. A traição que fizera não lhe tinha servido para coisa nenhuma.
«Um prato de lentilhas», pensou a rapariga.
Desde muito nova que não chorava, mas, naquela emergência, sentiu os olhos rasos de água.
«Harold... Harold... Poderás compreender-me?» —murmurou.
Rodney ficou pensativo. A rapariga não deixava de olhar para ele.
— Que tencionas fazer? — perguntou, de novo, Aline.
— Necessito de dar uma passeata — retorquiu Harold, com um sorriso. — Sim. Preciso de sair...
A bailarina interpôs-se, então, entre ele e a porta.
— Não penses que me vais enganar, Harold — disse--lhe muito séria. — Sei que vieste para Stanzerville, não por gostares da cidade ou da gente que nela vive. Não vale a pena negares esta verdade. Tu nunca me conseguiste enganar. Vieste, sim, porque ouviste, certo dia, o senhor Karl explicar o que tencionava fazer...
— Admitamos isso — respondeu Harold. A sensação de estar a ser espiado voltara a apoderar-se dele.. — E o que tem?
Olhou em redor, mas não conseguiu descortinar de onde poderiam observá-lo.
— Tem muito — disse Aline. — Não tens qualquer possibilidade de escapar, vivo, deste «negócio». Nem tão-pouco poderás evitar o que parece ser inevitável. Mas existe uma oportunidade. Uma ocasião, para te salvares agora.
— E qual é? — indagou Harold sentindo que o perigo se tornava mais real.
— Fugires daqui... comigo.
Harold fitou-a e, por um momento, abrandou a vigilância.
— Que disseste, pequena?
— Aquilo que ouviste. a única possibilidade que tens de sair vivo desta casa acrescentou, baixando a voz.
— Eu… eu já sabes que... — e os olhos dela brilharam. — Bem... Eu estou a brincar, meu palerma.
Harold sorriu. Agarrou-a pelos braços e, mirando-a nos olhos, disse:
— Na minha opinião, és a rapariga mais engraçada que vi até hoje. Todavia, não posso fazer o que me aconselhas.
— Porquê? — perguntou ela num tom irritado. —Compreendo! Trata-se da filha do Stanzer, não é? O motivo que te impede de seguires o meu alvitre é essa rapariga?
Harold largou-a.
—Suponhamos que sim... O caso muda de figura?
— Pelo menos és sincero... Brutalmente sincero —respondeu a jovem.
Hesitou um momento. Os seus olhos tinham um brilho estranho.
— Continua, rapaz — acrescentou.
— Ê bem feito por eu andar a sonhar quando deveria... — principiou ele com ternura.
Nesse instante soaram duas pancadas na porta. Aline ergueu os olhos, mas Rodney não pôde ler neles qualquer surpresa.
— Já conheces o caminho -- disse a bailarina. Vai a minha casa...
Com a sensação de que a cada momento se ia fechando mais à sua volta algo que não sabia explicar, Harold refugiou-se no quarto contíguo. Aline abriu a porta enquanto ele se detinha para ouvir, antes de verificar se a janela estava ou não aberta. Deixara o cavalo nas traseiras da casa. Para encontrá-lo, bastava-lhe, pois, sair dali. Quatro homens entraram.
Eram Karl Stanz. «Ghost» e dois dos seus guarda-costas. Karl perguntou qualquer coisa em voz baixa e a rapariga respondeu-lhe no mesmo tom. Depois, o senhor de Stanzerville, levantou a voz.
— Amanhã à noite — disse, como se respondes, a uma pergunta da jovem -- soarão as trombetas do juízo final, para esse miserável que tentou humilhar-me com as suas belas e nobres acções. Soará o castigo para o homem que, quando éramos crianças, roubou até o pão que eu devia comer, o homem que..:
Rodney notou que «Ghost» e os outros dois brutamontes, apesar de atentos às palavras do chefe, avançavam lentamente para a porta do quarto onde se ocultara. Foi então que compreendeu tudo. A. armadilha tinha funcionado perfeitamente.
«Aline, Aline — pensou. — Não serias mulher se procedesses de outro modo!».
Experimentou a janela, sem fazer ruído. Estava E chada. O revólver saiu silenciosamente do coldre direito. Havia poucas probabilidades de escapar numa luta contra três homens armados, mas, pelo menos, vender-lhes-ia por bom preço a sua pele. E talvez «mister» Karl Stanzer não chegasse a ver o dia da vingança que sonhava.
—E pronto, Aline — dizia a voz de Karl.
Desta vez soava mais distante. Harold não podia vê-lo mas percebeu que o valente «mister» Stanzer tinha escolhido uma posição estratégica, para não arriscar o físico. Rodney mordeu os lábios e preparou-se para agir. Não foi, porém, necessário. A voz de Aline chegou, de novo, até ele.
— Salva-te, Harold! — gritou a bailarina.
A última sílaba soou abafada, pois «Ghost» tapara, com a mão, a boca da rapariga.
Os dois guarda-costas tinham principiado a disparar para o quarto onde Rodney se encontrava, descarregando, com fúria, os tambores dos revólveres sobre o frágil mobiliário. Harold esquivou-se e, graças aos seus músculos bem exercitados, transpôs, de um salto, a distância que o separava da janela.
Os vidros estilhaçaram-se, tendo-o ferido, um deles, no pescoço e outro num braço. A verdade, porém, é que se via agora ao ar livre e não metido naquela autêntica armadilha. Mas, como é óbvio, o seu cavalo não se encontrava nas redondezas.
Quem estacionava no local era um homem que ficou muito surpreendido com a súbita e ruidosa aparição do xerife. Não conseguiu., todavia, servir-se a 'tempo da carabina. Rodney prostrou-o com um tiro certeiro. Depois, correndo velozmente, logrou pôr-se fora do alcance das balas que lhe dirigiam da j anela. Um coro de berros e maldições acompanhou-o na fuga. Karl Stanzer apodava de cobardes os seus homens.
Nessa altura Harold descobriu o cavalo que pertencia ao homem que haviam colocado de guarda às traseiras da casa. Sem hesitar, saltou-lhe para a sela e logo a seguir inclinou-se todo para um lado da montada, como se uma campainha de alarme o tivesse avisado do perigo que o ameaçava. Uma bala levou-lhe o chapéu. Voltou-se para trás e disparou quase sem fazer pontaria. Um grito foi a resposta que obteve.
A noite, negra como breu, estava cheia de imprevistos. Harold esporeou o cavalo, e da janela ainda dispararam mais dois tiros contra ele, sem lhe acertarem. O cavalo não valia grande coisa, mas possuía quatro patas e isso bastava. Em menos de quinze segundos tinha •conseguido sair da povoação e galopava, a toda a brida, pela pradaria.
Karl Stanzer virou-se para a rapariga e, num ataque de fúria, esbofeteou-a.
— Maldita! Três vezes maldita!
— Eu já o avisara, chefe — disse «Ghost». — Esta mulher...
Aline empertigou-se.
—Não quis que matassem o único homem que havia aqui — atalhou, com uma expressão insultante. Stanzer empalideceu e o brilho da loucura instalou--se, de novo, nos seus olhos.
— Um traidor não merece viver — gritou. — «Ghost», cumpre a tua obrigação! Deu meia volta e saiu de casa. «Ghost» ficou só, com a jovem.
— Vamos, carrasco, toca a obedecer — disse-lhe Aline com um riso trocista. — Por que esperas?
— O chefe não pretendeu dizer... — principiou «Ghost». Mas como, na realidade, ignorava aquilo que o patrão tinha querido dizer, calou-se. Após uma breve hesitação, acrescentou:
— O que você pode fazer 'de melhor é estar caladinha e não dar nas vistas, durante uns tempos. Creio não haver necessidade de tomarmos medidas drásticas. E não tente ausentar-se. Estes homens nunca a deixariam sair.
Aline conhecia «Ghost» muito bem e o caso não ia ficar por ali. A ideia de fugir passou-lhe pelo cérebro, mas logo se desvaneceu. Como lhe dissera o lugar-tenente de Karl Stanzer, daí em diante ela seria vigiada. A traição que fizera não lhe tinha servido para coisa nenhuma.
«Um prato de lentilhas», pensou a rapariga.
Desde muito nova que não chorava, mas, naquela emergência, sentiu os olhos rasos de água.
«Harold... Harold... Poderás compreender-me?» —murmurou.
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