Stanzerville ocupava uma área superior àquela que, na realidade, lhe corresponderia em função do número dos seus habitantes. Quando, havia cerca de um mês, Harold Rodney chegara à cidade, erguia-se, no extremo sudoeste desta, uma construção que lhe despertou a atenção. Agora, enquanto cavalgava ao lado de Karl Stanzer e de «Ghost», sentiu novamente a curiosidade de saber o que seria aquilo. «Mister» Stanzer seguiu-lhe o olhar.
— Uma das melhores coisas que fiz na vida —disse com orgulho. — E já realizei muitas coisas bem feitas — acrescentou. — Não sabes o que é aquilo?
— Parece uma cisterna gigantesca — respondeu Rodney examinando a obra com toda a atenção.
—É realmente uma cisterna — foi a resposta. —Stanzerville cresceu... Cresceu por onde tinha de crescer, mas não havia água. Eu desviei o curso de um afluente do rio Boise e construí essa cisterna. Todas as pessoas bebem da minha água e, se eu quisesse, num dado momento poderia matá-las à sede.
— Toda a água consumida por Stanzerville provém desse depósito? — indagou Harold.
— Sim — respondeu o outro.
Os seus olhos vagueavam pela paisagem. De onde estavam, divisava-se quase toda a cidade. À esquerda, vários homens trabalhavam num longo valado •com tapume.
— E o que é aquilo? — perguntou.
Stanzer olhou-o de relance e, acto contínuo, voltou--se para «Ghost».
— Diz àqueles homens que se apressem. É preciso — ordenou. Depois, dirigindo-se a Rodney: — Não é da tua conta, rapaz. Não te trouxe aqui para me fazeres perguntas. — Ergueu-se um pouco na sela. — Gostarias de ser o xerife de Stanzerville?
—Esse cargo não está ocupado? — interrogou Rodney com brandura.
O outro esboçou um gesto de impaciência.
— Não te fiz uma pergunta para que me respondas com outra. Gostarias de ser o xerife de Stanzerville?
— Claro que sim, chefe!
— Receberias o melhor ordenado da tua vida e o trabalho não te mataria... — acrescentou com uma risadinha que fez eriçar os cabelos da nuca de Harold. — Mas já sabes: obediência absoluta às minhas ordens ou às de «Ghost». Compreendeste?
— Sim, chefe.
Os olhos de «mister» Stanzer, grandes e pestanudos, fixaram-se no rosto de Rodney. Embora o dono de Stanzerville quisesse tornar hipnótico o seu olhar, este tornava-se um tanto esquivo, quando alguém o enfrentava durante uns momentos. Harold não o quis contrariar.
—E isto não é tudo. O xerife actual serviu os meus interesses, mas já não vale grande coisa, entendes? É um homem embrutecido pelo álcool, um inútil. Harold assentiu com um movimento de cabeça.
— Devo pedir-lhe a insígnia? — perguntou.
— Não! — foi a resposta. — Tens de tirar-lha. Esse indivíduo estorva-me. Uma das tuas primeiras obrigações, ou melhor, a primeira, será a de eliminares o xerife. Assim, o teu direito ao cargo será maior. Compreendeste?
— Devo, pois, eliminá-lo?
— Sim. E agora. — Estendeu o braço, com o gesto de um homem que envia cem mil soldados para a guerra, e dísse:
— Cumpre a tua primeira obrigação de novo xerife. Mas... discrição! Não actues onde todos possam ver-te, entendido?
Harold levou a mão à aba do chapéu, simulando uma continência, e partiu a galope.
Um momento depois, entrava na povoação e parava a montada em frente do comissariado. O xerife dormitava numa cadeira, a cabeça descaída sobre o peito. Sabendo que nesse instante estariam muitos olhos a observá-lo, Rodney despertou-o com uma brusca sacudidela.
— Que há? — perguntou o homem mirando-o com um olhar vago.
— Oiça-me bem, xerife — disse Harold em voz baixa. — Consegue entender-me?
— Eu... Você está preso por ter desrespeitado a autoridade... — mas, ao ver expressão de Harold, pareceu adquirir consciência.
— Não há tempo a perder -- disse Rodney olhando-o fixamente.
— Ordenaram-me que o matasse, mas não quero fazer isso. Não olhe lá para fora! Volte-se para mim. Levá-lo-ei da cidade e pensarão que vou liquidá-lo. Agarre em tudo aquilo que lhe possa fazer falta e prepare-se. São ordens de «mister» Stanzer. percebeu?
O xerife despertara por completo e ergueu-se no' tanto trémulo.
—Não dará cabo de mim? -- perguntou. — Isto não será uma armadilha?
— Se assim fosse, matava-o já aqui. Vamos, depressa!
O xerife retirou uma bolsa da gaveta da mesa. Harold levantou a voz para que o ouvissem no exterior.
—Vamos já, xerife. Não perca mais tempo, com seiscentos demónios!
Saíram para a rua.
—Monte no seu cavalo — ordenou Harold — ouça o que ouvir, não faça caso.
Atravessaram a cidade. O xerife tremia na sela e, de quando em quando, passeava em redor os seus olhos de cevado, mostrando não compreender lá muito bem o que se estava a passar. Duas milhas mais adiante de Stanzerville corria o afluente do Boise que servia para encher o depósito construído por «mister» Stanzer. Harold Rodney deteve a montada junto de uns amieiros, à beira do rio.
— E agora, homem, fuja e não volte mais a Stanzerville.
— O... o... obrigado — gaguejou o xerife.
E desapareceu por entre o arvoredo, vagarosamente.
— Uma das melhores coisas que fiz na vida —disse com orgulho. — E já realizei muitas coisas bem feitas — acrescentou. — Não sabes o que é aquilo?
— Parece uma cisterna gigantesca — respondeu Rodney examinando a obra com toda a atenção.
—É realmente uma cisterna — foi a resposta. —Stanzerville cresceu... Cresceu por onde tinha de crescer, mas não havia água. Eu desviei o curso de um afluente do rio Boise e construí essa cisterna. Todas as pessoas bebem da minha água e, se eu quisesse, num dado momento poderia matá-las à sede.
— Toda a água consumida por Stanzerville provém desse depósito? — indagou Harold.
— Sim — respondeu o outro.
Os seus olhos vagueavam pela paisagem. De onde estavam, divisava-se quase toda a cidade. À esquerda, vários homens trabalhavam num longo valado •com tapume.
— E o que é aquilo? — perguntou.
Stanzer olhou-o de relance e, acto contínuo, voltou--se para «Ghost».
— Diz àqueles homens que se apressem. É preciso — ordenou. Depois, dirigindo-se a Rodney: — Não é da tua conta, rapaz. Não te trouxe aqui para me fazeres perguntas. — Ergueu-se um pouco na sela. — Gostarias de ser o xerife de Stanzerville?
—Esse cargo não está ocupado? — interrogou Rodney com brandura.
O outro esboçou um gesto de impaciência.
— Não te fiz uma pergunta para que me respondas com outra. Gostarias de ser o xerife de Stanzerville?
— Claro que sim, chefe!
— Receberias o melhor ordenado da tua vida e o trabalho não te mataria... — acrescentou com uma risadinha que fez eriçar os cabelos da nuca de Harold. — Mas já sabes: obediência absoluta às minhas ordens ou às de «Ghost». Compreendeste?
— Sim, chefe.
Os olhos de «mister» Stanzer, grandes e pestanudos, fixaram-se no rosto de Rodney. Embora o dono de Stanzerville quisesse tornar hipnótico o seu olhar, este tornava-se um tanto esquivo, quando alguém o enfrentava durante uns momentos. Harold não o quis contrariar.
—E isto não é tudo. O xerife actual serviu os meus interesses, mas já não vale grande coisa, entendes? É um homem embrutecido pelo álcool, um inútil. Harold assentiu com um movimento de cabeça.
— Devo pedir-lhe a insígnia? — perguntou.
— Não! — foi a resposta. — Tens de tirar-lha. Esse indivíduo estorva-me. Uma das tuas primeiras obrigações, ou melhor, a primeira, será a de eliminares o xerife. Assim, o teu direito ao cargo será maior. Compreendeste?
— Devo, pois, eliminá-lo?
— Sim. E agora. — Estendeu o braço, com o gesto de um homem que envia cem mil soldados para a guerra, e dísse:
— Cumpre a tua primeira obrigação de novo xerife. Mas... discrição! Não actues onde todos possam ver-te, entendido?
Harold levou a mão à aba do chapéu, simulando uma continência, e partiu a galope.
Um momento depois, entrava na povoação e parava a montada em frente do comissariado. O xerife dormitava numa cadeira, a cabeça descaída sobre o peito. Sabendo que nesse instante estariam muitos olhos a observá-lo, Rodney despertou-o com uma brusca sacudidela.
— Que há? — perguntou o homem mirando-o com um olhar vago.
— Oiça-me bem, xerife — disse Harold em voz baixa. — Consegue entender-me?
— Eu... Você está preso por ter desrespeitado a autoridade... — mas, ao ver expressão de Harold, pareceu adquirir consciência.
— Não há tempo a perder -- disse Rodney olhando-o fixamente.
— Ordenaram-me que o matasse, mas não quero fazer isso. Não olhe lá para fora! Volte-se para mim. Levá-lo-ei da cidade e pensarão que vou liquidá-lo. Agarre em tudo aquilo que lhe possa fazer falta e prepare-se. São ordens de «mister» Stanzer. percebeu?
O xerife despertara por completo e ergueu-se no' tanto trémulo.
—Não dará cabo de mim? -- perguntou. — Isto não será uma armadilha?
— Se assim fosse, matava-o já aqui. Vamos, depressa!
O xerife retirou uma bolsa da gaveta da mesa. Harold levantou a voz para que o ouvissem no exterior.
—Vamos já, xerife. Não perca mais tempo, com seiscentos demónios!
Saíram para a rua.
—Monte no seu cavalo — ordenou Harold — ouça o que ouvir, não faça caso.
Atravessaram a cidade. O xerife tremia na sela e, de quando em quando, passeava em redor os seus olhos de cevado, mostrando não compreender lá muito bem o que se estava a passar. Duas milhas mais adiante de Stanzerville corria o afluente do Boise que servia para encher o depósito construído por «mister» Stanzer. Harold Rodney deteve a montada junto de uns amieiros, à beira do rio.
— E agora, homem, fuja e não volte mais a Stanzerville.
— O... o... obrigado — gaguejou o xerife.
E desapareceu por entre o arvoredo, vagarosamente.
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