Dennis Blake começou a sua ronda, a sua única ronda, porque duraria até ao amanhecer.
Já anoitecera. Tinham-se acendido todos os candeeiros de petróleo e de vez em quando ouvia-se um galope de cavalo que se aproximava, entrava na povoação estrepitosamente e cessava de repente, enquanto as vozes dos cavaleiros substituíam o barulho dos cascos, gritando e rindo. E até, como se assim se fizessem ouvir melhor, disparavam para o ar.
«Deixa-os disparar para o ar», dissera-lhe o velho xerife. «Não fazem mal a ninguém e expandem-se. Compreendes?»
Os passeios ficavam ocultos atrás dos numerosos cava-los que se alinhavam ao longo deles. Um ladrão de cavalos ficaria rico numa só noite.
Saiu do escritório como chapéu deitado para a nuca, a ponta do cigarro nos lábios e as mãos no cinto; exatamente como fazia em Menard ... embora soubesse que se encontrava em Llano.
— Ouve! — exclamou um vaqueiro, em espanhol, para depois continuar, em inglês: — Quem matou o outro xerife?
Alguém o cumprimentou e ele inclinou a cabeça.
Começou a caminhar pela rua acima, para onde se alinhavam os feios edifícios destinados aos mineiros desafortunados. As coisas, pareciam não correr mal para Blake; embora de vez em quando se ouvisse algum disparo ou de uma porta saísse aos baldões um sujeito que ficava estendido no pó.
«Não te intrometas em zaragatas amigáveis, Dennis; só fazem mal a eles mesmos, compreendes?», dissera-lhe Conrad Simons.
O que não compreendia era para que estava ali. Ou então o normal era que acontecesse coisas piores.
Um bêbado foi catapultado de dentro de um «saloon». Caiu no chão; perdeu o chapéu e rebolou até aos pés dó xerife eventual. Ao vê-lo, sorriu constrangido e cumprimentou-o:
—Boas noites, xerife.
Passou por cima dele e seguiu o seu caminho. Pela outra extremidade da rua chegavam três cavaleiros a dispararem contra as nuvens. Uma maneira bastante vulgar já de anunciar a chegada, pois se todos faziam o mesmo nunca se sabia quem entrava na povoação.
Seguiu para ali caminhando lentamente, sem olhar para a direita nem para a esquerda. Para quê? Nunca saberia quando intervir.
— Bom xerife, sim, senhor! — gritou o bêbado atrás dele. E até o aplaudiu.
«Entras nos estabelecimentos,» dissera-lhe Simons, «dás uma vista de olhos, perguntas a quem estiver ao balcão se há alguma novidade e voltas a sair, compreendes»?
Era o mesmo que fazia em Menard, com a diferença de que lá não era preciso perguntar se havia alguma novidade, porque se adivinhava imediatamente.
Quando chegou ao outro extremo da rua, dispôs-se a mostrar-se à povoação.
«Se te virem, ficarão mais tranquilos, compreendes?»
O lugar escolhido foi um daqueles tugúrios de madeira de Caixote, que tinham pintado de branco, mas que já não tinha pintura. Era pequeno e de teto baixo, mas lá dentro estavam mais de quinze pessoas. Um comprido balcão em forma de U rodeava as três paredes e diante dele encontravam-se os tipos mais diversos.
As suas roupas eram tão heterogéneas como os seus físicos; só se assemelhavam no tipo de botas que calçavam, todas elas de cano alto, que chegava um pouco acima do joelho.
Entrou e aproximou-se do balcão. Servia as bebidas um tipo baixo e gordo, que suava copiosamente, tanto que poderia lavar os copos com o suor. Ajudava-o uma mulher mais pequena do que ele, de rosto enrugado e carrancudo, lábios' secos, gretados e pálidos, que murmuravam incessantemente, como se a incomodasse que os clientes pedissem mais álcool. Talvez temesse que o esgotassem.
— Boas noites — cumprimentou o xerife interino. Alguma novidade?
— Homem! E você o novo xerife?
— Vim ajudar o Simons.
— Homem! Um copo?
— Obrigado ... muito obrigado; estou a começar a ronda.
— Melhor! Beba!
Blake quis recusar pela segunda vez; à terceira ...
Mas viu que uns rostos o fitavam sinistramente, com olhos assassinos. Eram cinco mineiros, os cinco tinham deixado o que seguravam nas mãos e denunciavam nas suas expressões, na posição dos seus corpos, as suas intenções.
Não o deixaram recusar nem pela segunda vez. Um deles, de rosto terroso, avançou um punho fechado para ele e disse:
—Beba!
Blake fitou-o, intrigado. Juraria que aquilo fora preparado, que aquela gente estava à sua espera com a desagradável intenção de lhe dar cabo do físico. Doutro modo, não o podia compreender.
E como Blake era teimoso, respondeu:
— E se não beber?
Os cinco mineiros entreolharam-se, entre admirados e divertidos.
— Isso não pode ser. Se nós queremos que beba ...
Não havia dúvida. Tinha boa estreia. Perguntou a si mesmo se Conrad Simons se teria encontrado alguma vez naquela situação. Naturalmente, respondeu aos seus botões que não. Um só daqueles mineiros era capaz de esmagar o velho.
— Basta que vocês queiram para que eu recuse.
—Diz isso conscientemente?
O xerife sorriu, perante o pasmo de todos.
— Pois claro que digo. Não gosto de aceitar coisas à força.
— Despreza-nos — acusou-o um, avançando um passo. — Este xerife é daqueles que despreza os mineiros, que os considera ...
E, louco de furor, atirou-se ao xerife, disposto a agredi-lo.
Já anoitecera. Tinham-se acendido todos os candeeiros de petróleo e de vez em quando ouvia-se um galope de cavalo que se aproximava, entrava na povoação estrepitosamente e cessava de repente, enquanto as vozes dos cavaleiros substituíam o barulho dos cascos, gritando e rindo. E até, como se assim se fizessem ouvir melhor, disparavam para o ar.
«Deixa-os disparar para o ar», dissera-lhe o velho xerife. «Não fazem mal a ninguém e expandem-se. Compreendes?»
Os passeios ficavam ocultos atrás dos numerosos cava-los que se alinhavam ao longo deles. Um ladrão de cavalos ficaria rico numa só noite.
Saiu do escritório como chapéu deitado para a nuca, a ponta do cigarro nos lábios e as mãos no cinto; exatamente como fazia em Menard ... embora soubesse que se encontrava em Llano.
— Ouve! — exclamou um vaqueiro, em espanhol, para depois continuar, em inglês: — Quem matou o outro xerife?
Alguém o cumprimentou e ele inclinou a cabeça.
Começou a caminhar pela rua acima, para onde se alinhavam os feios edifícios destinados aos mineiros desafortunados. As coisas, pareciam não correr mal para Blake; embora de vez em quando se ouvisse algum disparo ou de uma porta saísse aos baldões um sujeito que ficava estendido no pó.
«Não te intrometas em zaragatas amigáveis, Dennis; só fazem mal a eles mesmos, compreendes?», dissera-lhe Conrad Simons.
O que não compreendia era para que estava ali. Ou então o normal era que acontecesse coisas piores.
Um bêbado foi catapultado de dentro de um «saloon». Caiu no chão; perdeu o chapéu e rebolou até aos pés dó xerife eventual. Ao vê-lo, sorriu constrangido e cumprimentou-o:
—Boas noites, xerife.
Passou por cima dele e seguiu o seu caminho. Pela outra extremidade da rua chegavam três cavaleiros a dispararem contra as nuvens. Uma maneira bastante vulgar já de anunciar a chegada, pois se todos faziam o mesmo nunca se sabia quem entrava na povoação.
Seguiu para ali caminhando lentamente, sem olhar para a direita nem para a esquerda. Para quê? Nunca saberia quando intervir.
— Bom xerife, sim, senhor! — gritou o bêbado atrás dele. E até o aplaudiu.
«Entras nos estabelecimentos,» dissera-lhe Simons, «dás uma vista de olhos, perguntas a quem estiver ao balcão se há alguma novidade e voltas a sair, compreendes»?
Era o mesmo que fazia em Menard, com a diferença de que lá não era preciso perguntar se havia alguma novidade, porque se adivinhava imediatamente.
Quando chegou ao outro extremo da rua, dispôs-se a mostrar-se à povoação.
«Se te virem, ficarão mais tranquilos, compreendes?»
O lugar escolhido foi um daqueles tugúrios de madeira de Caixote, que tinham pintado de branco, mas que já não tinha pintura. Era pequeno e de teto baixo, mas lá dentro estavam mais de quinze pessoas. Um comprido balcão em forma de U rodeava as três paredes e diante dele encontravam-se os tipos mais diversos.
As suas roupas eram tão heterogéneas como os seus físicos; só se assemelhavam no tipo de botas que calçavam, todas elas de cano alto, que chegava um pouco acima do joelho.
Entrou e aproximou-se do balcão. Servia as bebidas um tipo baixo e gordo, que suava copiosamente, tanto que poderia lavar os copos com o suor. Ajudava-o uma mulher mais pequena do que ele, de rosto enrugado e carrancudo, lábios' secos, gretados e pálidos, que murmuravam incessantemente, como se a incomodasse que os clientes pedissem mais álcool. Talvez temesse que o esgotassem.
— Boas noites — cumprimentou o xerife interino. Alguma novidade?
— Homem! E você o novo xerife?
— Vim ajudar o Simons.
— Homem! Um copo?
— Obrigado ... muito obrigado; estou a começar a ronda.
— Melhor! Beba!
Blake quis recusar pela segunda vez; à terceira ...
Mas viu que uns rostos o fitavam sinistramente, com olhos assassinos. Eram cinco mineiros, os cinco tinham deixado o que seguravam nas mãos e denunciavam nas suas expressões, na posição dos seus corpos, as suas intenções.
Não o deixaram recusar nem pela segunda vez. Um deles, de rosto terroso, avançou um punho fechado para ele e disse:
—Beba!
Blake fitou-o, intrigado. Juraria que aquilo fora preparado, que aquela gente estava à sua espera com a desagradável intenção de lhe dar cabo do físico. Doutro modo, não o podia compreender.
E como Blake era teimoso, respondeu:
— E se não beber?
Os cinco mineiros entreolharam-se, entre admirados e divertidos.
— Isso não pode ser. Se nós queremos que beba ...
Não havia dúvida. Tinha boa estreia. Perguntou a si mesmo se Conrad Simons se teria encontrado alguma vez naquela situação. Naturalmente, respondeu aos seus botões que não. Um só daqueles mineiros era capaz de esmagar o velho.
— Basta que vocês queiram para que eu recuse.
—Diz isso conscientemente?
O xerife sorriu, perante o pasmo de todos.
— Pois claro que digo. Não gosto de aceitar coisas à força.
— Despreza-nos — acusou-o um, avançando um passo. — Este xerife é daqueles que despreza os mineiros, que os considera ...
E, louco de furor, atirou-se ao xerife, disposto a agredi-lo.
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