Acabou de vestir-se, cingiu de novo o cinturão e desceu. Àquela hora da manhã, o «Stanzer's» encontrava-se vazio. As mesas e as cadeiras estavam amontoadas junto das paredes e dois criados pretos varriam a sala. Harold saiu para a rua. A luminosidade do sol deslumbrou-o por instantes.
Quando se preparava para atravessar a rua, viu aproximar-se, a toda a velocidade, um trem puxado por uma parelha de belos cavalos. Mal teve tempo de dar um passo atrás. O carro passou-lhe rente ao corpo e parou mais adiante. Conduzia dois homens e uma mulher. Um dos homens era um vaqueiro de Martin Stanzer. Bertie e Carol Stanzer acompanhavam-no.
—Olá — saudou Harold, acercando-se do veículo.
Bertie endireitou o corpo franzino e os seus olhos faiscaram.
— Pois então... — Harold sorriu para a rapariga, mas esta pareceu ignorá-lo. Olhava em frente, com fixidez.
— Vim sem dizer nada ao patrão — informou Bertie — e não estou disposto a falar no meio da rua, como costumam fazer os cães. Quero falar... Queremos falar contigo, em particular.
— Há um bosque de álamos perto de Milles Creek — disse Harold, sentindo que vários olhos o espiavam por detrás das cortinas das janelas.
Dois vaqueiros, embriagados desde a véspera, passaram aos ziguezagues e miraram, com um ar de aprovação alcoólica, a esplêndida figura de Carol Stanzer.
— Poderemos conversar lá, à vontade — disse Rodney.
— Vamos esperar por ti — retorquiu Bertie, com frieza. — Oxalá não nos estejas a enganar... Não te conviria — acrescentou, em tom ameaçador.
E o carro dirigiu-se para a saída da povoação.
Harold ergueu o olhar e viu um rosto de mulher numa das janelas do hotel. Sorriu para ela e, depois, continuou o seu caminho. Meia hora mais tarde achava-se já no lugar do encontro. Chegara ali a cavalo e tinha a sensação de que fora seguido, embora não houvesse avistado ninguém. Numa clareira, deparou-se-lhe o carro e os seus ocupantes. Estes, com exceção do vaqueiro, tinham-se apeado.
— Aqui estou — disse Harold, inclinando-se sobre o arção da sela. Pareceu, todavia, reconsiderar e desceu da montada.
— Nem eu nem a menina queremos perder o nosso tempo — preveniu Bertie com dureza. — Ontem, cinco vaqueiros, cinco trabalhadores do nosso rancho estiveram a jogar nesta maldita povoação. Quero que isso acabe. Se o exemplo se propaga... — meditou um pouco nas consequências que poderiam advir caso a hipótese viesse a verificar-se, mas não encontrou termos para as descrever. — Não quero que os rapazes voltem a jogar nas vossas imundas baiucas.
— E porque é que não dizes isso a eles? — perguntou Harold com brandura.
Carol Stanzer deu um passo em frente.
— Se ainda lhe resta um pouco de... um pouco de carácter — acrescentou num tom de desafio — impeça que os homens de meu pai deixem o dinheiro nas vossas casas de jogo. — A voz tremia-lhe. — Nem eu nem Bertie lhe pedimos nada para nós. Fazemo-lo por meu pai que é o homem mais bondoso do mundo. Creio que até você teve ocasião de avaliá-lo.
Harold manteve-se silencioso durante uns instantes. A sensação de que o haviam seguido tornava-se mais forte agora.
— Se os homens do seu pai quiserem divertir-se um pouco, aos sábados, não posso impedi-los disso —explicou. — Lamento muito. Encarregaram-me de fazer respeitar a lei e a ordem em Stanzerville — disse, apontando a sua estrela de prata. — Se esses indivíduos provocarem distúrbios, expulsá-los-ei. De contrário, nada poderei fazer.
— Recusa-se? — perguntou ela. Já não se mostrava altiva. Era agora uma pobre rapariga que quase suplicava.
— Lamento. Não posso fazer nada.
Bertie avançou para se colocar entre os dois.
— Nunca pensei que pudesses ser um canalha —gritou com um ódio quase palpável.
E cuspiu no chão. Harold empalideceu.
—É melhor não continuares assim, Bertie — avisou calmamente, apesar da provocação.
Mas Bertie voltou a assumir a mesma atitude, não obstante a rapariga o haver segurado por um braço.
— E... se não passasses de um porco, «sacarias» agora mesmo o revólver — prosseguiu como se não tivesse ouvido a advertência — e veríamos quem é que disparava primeiro.
— Desaparece, Bertie.
Mas o outro estava tão transtornado que não o escutou. Apenas ouvia as suas próprias palavras.
— Não tencionas empunhar a arma, cobarde? —gritou. Nem o vaqueiro nem à rapariga podiam dominá-lo.
— Não — respondeu Harold. Pois então, maldita víbora, eu... — e levou a mão ao revólver. Viram a arma brilhar-lhe na mão antes que Rodney esboçasse o menor movimento. Nesse instante Harold «sacou» o revólver e fez fogo sem hesitar. Bertie caiu para trás, levando ao ombro esquerdo, a mão direita.
— Assassino! — gritou Carol, ao mesmo tempo que empalidecia terrivelmente.
Rodney montou a cavalo, enquanto a jovem e o vaqueiro se debruçavam sobre o ferido. Este franzira os sobrolhos.
—Sente-se mal? — perguntou ela numa voz entrecortada. Bertie abanou a cabeça.
— Fez-me, apenas, um arranhão no ombro — murmurou, entre dentes. — Mas, por Cristo se eu não o teria liquidado, caso pudesse atirar primeiro! Que grande raposa!
E logo a seguir, mostrando-se preocupado, acrescentou, enquanto Carol e o vaqueiro o ajudavam a subir para o carro:
— Porque seria que não quis matar-me?
Quando se preparava para atravessar a rua, viu aproximar-se, a toda a velocidade, um trem puxado por uma parelha de belos cavalos. Mal teve tempo de dar um passo atrás. O carro passou-lhe rente ao corpo e parou mais adiante. Conduzia dois homens e uma mulher. Um dos homens era um vaqueiro de Martin Stanzer. Bertie e Carol Stanzer acompanhavam-no.
—Olá — saudou Harold, acercando-se do veículo.
Bertie endireitou o corpo franzino e os seus olhos faiscaram.
— Pois então... — Harold sorriu para a rapariga, mas esta pareceu ignorá-lo. Olhava em frente, com fixidez.
— Vim sem dizer nada ao patrão — informou Bertie — e não estou disposto a falar no meio da rua, como costumam fazer os cães. Quero falar... Queremos falar contigo, em particular.
— Há um bosque de álamos perto de Milles Creek — disse Harold, sentindo que vários olhos o espiavam por detrás das cortinas das janelas.
Dois vaqueiros, embriagados desde a véspera, passaram aos ziguezagues e miraram, com um ar de aprovação alcoólica, a esplêndida figura de Carol Stanzer.
— Poderemos conversar lá, à vontade — disse Rodney.
— Vamos esperar por ti — retorquiu Bertie, com frieza. — Oxalá não nos estejas a enganar... Não te conviria — acrescentou, em tom ameaçador.
E o carro dirigiu-se para a saída da povoação.
Harold ergueu o olhar e viu um rosto de mulher numa das janelas do hotel. Sorriu para ela e, depois, continuou o seu caminho. Meia hora mais tarde achava-se já no lugar do encontro. Chegara ali a cavalo e tinha a sensação de que fora seguido, embora não houvesse avistado ninguém. Numa clareira, deparou-se-lhe o carro e os seus ocupantes. Estes, com exceção do vaqueiro, tinham-se apeado.
— Aqui estou — disse Harold, inclinando-se sobre o arção da sela. Pareceu, todavia, reconsiderar e desceu da montada.
— Nem eu nem a menina queremos perder o nosso tempo — preveniu Bertie com dureza. — Ontem, cinco vaqueiros, cinco trabalhadores do nosso rancho estiveram a jogar nesta maldita povoação. Quero que isso acabe. Se o exemplo se propaga... — meditou um pouco nas consequências que poderiam advir caso a hipótese viesse a verificar-se, mas não encontrou termos para as descrever. — Não quero que os rapazes voltem a jogar nas vossas imundas baiucas.
— E porque é que não dizes isso a eles? — perguntou Harold com brandura.
Carol Stanzer deu um passo em frente.
— Se ainda lhe resta um pouco de... um pouco de carácter — acrescentou num tom de desafio — impeça que os homens de meu pai deixem o dinheiro nas vossas casas de jogo. — A voz tremia-lhe. — Nem eu nem Bertie lhe pedimos nada para nós. Fazemo-lo por meu pai que é o homem mais bondoso do mundo. Creio que até você teve ocasião de avaliá-lo.
Harold manteve-se silencioso durante uns instantes. A sensação de que o haviam seguido tornava-se mais forte agora.
— Se os homens do seu pai quiserem divertir-se um pouco, aos sábados, não posso impedi-los disso —explicou. — Lamento muito. Encarregaram-me de fazer respeitar a lei e a ordem em Stanzerville — disse, apontando a sua estrela de prata. — Se esses indivíduos provocarem distúrbios, expulsá-los-ei. De contrário, nada poderei fazer.
— Recusa-se? — perguntou ela. Já não se mostrava altiva. Era agora uma pobre rapariga que quase suplicava.
— Lamento. Não posso fazer nada.
Bertie avançou para se colocar entre os dois.
— Nunca pensei que pudesses ser um canalha —gritou com um ódio quase palpável.
E cuspiu no chão. Harold empalideceu.
—É melhor não continuares assim, Bertie — avisou calmamente, apesar da provocação.
Mas Bertie voltou a assumir a mesma atitude, não obstante a rapariga o haver segurado por um braço.
— E... se não passasses de um porco, «sacarias» agora mesmo o revólver — prosseguiu como se não tivesse ouvido a advertência — e veríamos quem é que disparava primeiro.
— Desaparece, Bertie.
Mas o outro estava tão transtornado que não o escutou. Apenas ouvia as suas próprias palavras.
— Não tencionas empunhar a arma, cobarde? —gritou. Nem o vaqueiro nem à rapariga podiam dominá-lo.
— Não — respondeu Harold. Pois então, maldita víbora, eu... — e levou a mão ao revólver. Viram a arma brilhar-lhe na mão antes que Rodney esboçasse o menor movimento. Nesse instante Harold «sacou» o revólver e fez fogo sem hesitar. Bertie caiu para trás, levando ao ombro esquerdo, a mão direita.
— Assassino! — gritou Carol, ao mesmo tempo que empalidecia terrivelmente.
Rodney montou a cavalo, enquanto a jovem e o vaqueiro se debruçavam sobre o ferido. Este franzira os sobrolhos.
—Sente-se mal? — perguntou ela numa voz entrecortada. Bertie abanou a cabeça.
— Fez-me, apenas, um arranhão no ombro — murmurou, entre dentes. — Mas, por Cristo se eu não o teria liquidado, caso pudesse atirar primeiro! Que grande raposa!
E logo a seguir, mostrando-se preocupado, acrescentou, enquanto Carol e o vaqueiro o ajudavam a subir para o carro:
— Porque seria que não quis matar-me?
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