segunda-feira, 12 de setembro de 2016

PAS674. O homem que morreu de medo depois de matar o próprio filho


No momento em que Zale se perdia na distância, quatro cavaleiros vestidos de negro chegavam silenciosamente às imediações do rancho. Três deles encaminharam-se para a casa e o quarto ficou, como sempre fazia, de guarda aos cavalos. Aquela era uma precaução que o «Escorpião» e os seus companheiros nunca se esqueciam de tomar. Abrigando-se com todos os acidentes do terreno, conseguiram aproximar-se do edifício principal.
O silêncio era absoluto, quase pavoroso. Na casa, mergulhada na mais completa escuridão, parecia não haver um único alento de vida. E assim era, realmente. Naquele momento «La Cortada» apenas era habitada pela morte.
O «Escorpião» avançou uns passos e lançou um brado. Descobrira, junto da cerca, o corpo de Ernest Zale. Aproximou-se e, num relance, adivinhou o que se tinha passado. Estudou as marcas das patas do cavalo em que Kermit fugira, e chamou os companheiros.
— Nada há a fazer aqui. Zale fugiu. Voltem para Abilene, amigos, e deixem-me concluir esta tarefa.
As ordens do «Escorpião» nunca eram discutidas. Enquanto os seus amigos passavam uma rápida busca ao rancho, para se certificarem de que nenhum dos vaqueiros vivia ainda, ele voltou para o ponto onde tinham ficado os cavalos e, montando o seu, lançou-se a galope através da pradaria.
Durante cerca de uma hora galopou sob a luz do luar, sem avistar o cavaleiro a quem perseguia. Para que lhe fosse mais fácil descobri-lo, o homem de negro procurava subir a cada elevação de terreno' que encoro trava no caminho, observando a distância.
Até que, ao cabo de mais meia hora de galope, avistou quase inesperadamente o fugitivo, perto do sopé da montanha. A ondulação do terreno, acidentado naquele ponto, tinha-o impedido de vê-lo antes. Mas Kermit avistou-o quase ao mesmo tempo e, ao compreender que o seu destino ia cumprir-se, deixou escapar um brado de angústia. De nada lhe tinha servido fugir, matando o próprio filho.
O vingador ganhava terreno rapidamente. Não podia salvar-se. O desespero levou-o a deter o cavalo e a empunhar a espingarda, começando a disparar furiosamente. O mascarado ocultou-se com uns penhascos, desmontando também. Zale preparou-se para montar de novo, e tinha já um pé no estribo quando uma sombra caiu sobre ele, num salto de jaguar. Em menos de dois segundos Zale ficou desarmado e à mercê do seu perseguidor. Lentamente, o mascarado recuou dois passos, levando as mãos aos coldres. Kermit Zale bradou, num soluço:
— Não, Burney, não me mates!
A voz dele, como a de todos os cobardes quando veem a morte aproximar-se, tinha um som estridente e trémulo.
— Como me reconheceste, Zale?
— Só esta noite... compreendi a verdade... Tiveste--me ao alcance das tuas armas... e não disparaste. Porque não o fizeste... poupando-me esta agonia?
— Eu avisei-te, Zale. Depois do que fizeste a Ana Maria, tinhas de morrer devagar, vendo chegar a morte. E agora a morte está diante de ti.
— Não, Alan, não!... Tenho muito dinheiro... dar-te-ei o que quiseres... mas não me mates!
O «Escorpião» empunhou vagarosamente as duas armas e engatilhou-as. Um grito desesperado e rouco saiu da garganta contraída de Zale. Caiu de bruços sobre uma pedra, balbuciando palavras sem nexo. Depois, de súbito, rolou de costas e ficou imóvel, de olhos muito abertos. Alan Burney deixou cair os «Colts» nos seus coldres. A vingança do «Escorpião» tinha sido cumprida. Inclinou-se sobre Kermit Zale e verificou que o miserável tinha morrido da mais vergonhosa de todas as mortes — tinha morrido de medo!...

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