sábado, 30 de janeiro de 2016

PAS574. Um passado pouco recomendável

Nelson Montgomery viera ao mundo vinte e sei anos antes. Precisamente naquele dia, fizera o seu vigésimo sexto aniversário. Nascera numa aldeola dos confins de Nevada e era filho de um casal de trabalhadores rurais, pobres mas honrados.
A sua infância fora, na sua quase totalidade, passada entre gente pobre e os seus companheiros andavam tão andrajosos como ele. Cedo, começara a conhecer a dureza da vida, poi o trabalho de seus pais e os seus ganhos para pouco mais davam que para comer e por vezes bastante mal.
Assim, para ajudar o sustento dos seus, começo a fazer recados, pelos quais ia recebendo algumas gorjetas que entregava integralmente a sua mãe que via obrigada a aceitá-las.
As más companhias, no entanto, perderam-no. O mal foi terem levado a cabo o primeiro roubo do qual se saíram airosamente.
Ao primeiro sucedeu o segundo, depois o terceiro e por aí fora numa rápida sucessão, até que pela primeira vez, um dos que estavam a ser assaltados reagiu travando-se uma luta violenta entre os quadrilheiro nessa altura espigadotes, o mais novo dos quais tinha quinze anos, e um grupo de honrados cidadãos que acorrera aos gritos de socorro.
Dessa contenda resultou uma morte.
Um dos companheiros de Nelson agredira com uma barra de ferro um dos cidadãos, esmagando-lhe a cabeça. Foram todos presos, menos Montgomery, que conseguira evadir-se.

Os companheiros, para se defenderem, acusaram-no de ser ele o assassino, pelo que andou a monte e só com muita astúcia se livrou, por diversas vezes, de ser preso e enforcado na primeira árvore.
Nunca mais vira seus pais. Andou muitos dias sem eira nem beira. Para comer, teve de assaltar diversos ranchos, durante as noites. Nunca matara ninguém. Por absurdo que parecesse nem sequer um revólver levava ã cintura, por não saber sequer manejá-lo.
Um dia, no seu caminho sem destino, encontrou um enforcado. O que mais o impressionou, foi a língua que lhe saía mais de um palmo fora da boca. Caritativamente resolveu-se a dar sepultura cristã àquele desgraçado. Trepou à árvore e com um rápido golpe de liava cortou u corda que o pendurava. O cadáver despenhou-se com um som cavo e ficou rígido no chão.
Só então, o rapaz reparou no magnífico par de revólveres, calibre 38, que pendiam nos coldres, de um bem trabalhado cinturão que possuía duas fileiras repletas de balas.
Lentamente desceu da árvore e passados momentos os revólveres tinham mudado de dono, bem como as cartucheiras e o cinturão.
Depois, resolveu-se a fazer uma limpeza geral aos bolsos do cadáver. Já que lhe tinham deixado as arma e as balas era possível que o não tivessem revistado e, se assim fosse, talvez encontrasse algum dinheiro
Com efeito tudo saiu certo.
Juntamente com papéis que identificavam o morto como sendo James Nask, um perigoso bandoleiro, encontrou também um volumoso maço de notas de Banco. Guardou as notas e devolveu ao defunto os papéis.
A partir daquele dia, a sua vida mudara totalmente Passara-se para outro Estado, onde não era procurado e durante muito tempo exercitou-se no manejo de armas que deixaram de constituir segredo para ele.
Com o dinheiro adquirido, comprara grandes quantidades de munições que gastava em constantes exercícios.
Travara relações com um batoteiro exímio e aprendera a manejar as cartas tão bem como as armas.
Assim, passou a ser bastante conhecido. Os maiores batoteiros de diversos Estados foram completamente depenados em poucas horas e nunca ninguém conseguira descobrir qualquer manigância da sua parte. El limitava-se a deixá-los ganhar de princípio para o engodar. Depois em meia dúzia de jogadas fortes, na só recuperava o perdido, corno também os 'deixava se nada.
Tivera inúmeros conflitos, depois de noites inteira de batota.
Por diversas vezes, o sinistro ladrar dos revólveres do enforcado fizera-se ouvir.
Nunca nenhum dos seus adversários soubera d que ou como morrera. Mas todos aqueles que assistiram aos frequentes duelos, foram unânimes em afirmar que o rapaz deixava sempre os adversários sacar, e só depois o fazia.
Nunca matara à traição, mas sempre cara a cara, dando vantagem ao adversário.
Apesar disso, as autoridades das terras por onde passara pediram-lhe para partir, ao que ele obedecia, pana evitar que se aprofundasse muito no seu passado.
Numa das cidades por que passara, travara conhecimento com Bill Wright.
Esta personagem vivia de expedientes e por casualidade conhecera Nelson depois de este ter eliminado mais um adversário.
O rapaz tivera um descuido que lhe ia custando a vida. Dera vantagem a mais ao batoteiro e ambos dispararam quase ao, mesmo tempo. O outro morrera cum um buraco na testa e Nelson perdera os sentidos depois de ser atingido por uma bala que o varou de lado a lado, passando a um escasso centímetro do coração.
Os assistentes não lhe ligaram importância pois pensaram-no morto, comentando o facto de terem morrido ambos os intervenientes do duelo.
Apenas Wright verificara que o rapaz somente desmaiara. Carregando com ele às costas, levou-o a casa do médico da cidade.
Este, depois de uma rápida mas consciente observação verificara que o doente estava gravemente ferido, mas tinha esperanças de o salvar.
Com efeito, o seu organismo reagira- e Nelson passados dias entrou em franca convalescença.
Todos os dias era visitado por Bill e ambos passavam horas seguidas em franca camaradagem, gerando-se entre ambos profunda amizade.
Nelson contou a sua vida inteira ao amigo e foi assim que soube que Bill levava vida idêntica. Isso mais os aproximou e dentro em pouco começavam a fazer projetos para o futuro.
Um dia, já Nelson se encontrava quase completamente restabelecido, entrou o amigo no quarto, proferindo:
— Nelson, temos agora uma grande oportunidade de sermos ricos e deixarmos para sempre esta vida.
E esfregava as mãos de contente.
— Milhares de dólares, Nelson. Milhares de dólares, à nossa disposição.
— Um momento, Bill — pediu o rapaz. — Ainda não disseste de que modo descobriste essa mina. Vá, tem calma e explica-te, vamos.
— Pois já vais saber. De hoje a oito dias chega cá uma diligência que traz cinquenta mil dólares para a West Company, uma companhia mineira. Somente eu sei, porque encontrei na rua este papel — e abanava um papel branco todo sujo de lama.
Nelson arrancou-lho das mãos e verificou que era; o rascunho de um pedido de cinquenta mil dólares; que a companhia mineira West Company fazia par a sua sede, a fim de efetuar o pagamento de salário
Nesse pedido vinha mencionado o dia em que dinheiro teria de chegar.
Algum imprudente empregado deixara voar o rascunho e não se preocupara em o recolher e inutilizar.
Dessa forma, era bem provável que os mineiros tivessem de esperar mais algum tempo para receber os meus salários...
O rapaz olhou para o amigo que aguardava, e perguntou:
— O pior é se a diligência vem escoltada. Que dizes?
— Nem penses nisso. Estou nesta cidade há bastante tempo e nunca chegou cá uma diligência com escolta. E no entanto o dinheiro tem vindo pois os mineiros não trabalham de borla. Pensei diversas vezes nisto e nunca me atrevi a nada por não saber qual seria a diligência. E compreendes que não podia pôr-me a assaltá-las todas. Portanto, meu amigo, a chave está neste papel. De hoje a oito dias, aí a teremos c com ela, cinquenta mil dólares. Vê bem, cinquenta mil dólares. Vinte e cinco mil para cada um. Até podemos fazer uma sociedade. Wright & Montgomery, Ltd. Até soa bem, caramba.
E dizendo isto Bill dava pulos e esfregava as mãos de contente. Depois levantou-se e correu para Nelson a quem abraçou.
— Calma, Bill — avisou o rapaz. — Ainda não sabemos se tudo nos vai correr como pretendemos. Primeiro que tudo temos de estudar o ponto do assalto.
— De acordo, homem. Vamos já hoje.
— Qual nada! Isto tem de ser feito com muita calma, para não deixarmos ir tudo por água abaixo. Temos sete dias para estudar bem o plano.
— OK, Monty.
Nos dias que, se seguiram, os dois amigos estudaram o assalto em todos os pormenores.
Num ponto em que a estrada formava um cotovelo apertado, prepararam a emboscada. Na berma amontoaram alguns calhaus, de dimensões razoáveis, que seriam deslocados para o meio dela, a fim de obrigar a diligência a parar.
E o dia chegou.
Bill foi colocar-se num ponto alto a fim de avisa o companheiro, quando a diligência estivesse à vista Nelson por seu lado fora colocar-se junto dos calhaus para os colocar nos locais devidos.
Já o sol baixava no horizonte, quando Bill aceno com o chapéu, conforme fora combinado.
Nelson não perdeu tempo e dentro de minuto tinha a via obstruída. Bill entretanto descera e tinha tomado a posição previamente combinada. Ambos escondiam os rostos debaixo de lenços escolhidos para o efeito.
Finalmente a diligência apareceu na curva do caminho.
Vinha em bom andamento e foi com grande esforço que o condutor conseguiu parar os animais, já a poucos metros dos calhaus.
Nesse momento, empunhando os revólveres, os dois assaltantes surgiram um de cada lado. Nelson ordenou em voz forte:
— Não queremos matar ninguém, mas nenhum dos, senhores deverá oferecer resistência. Apenas pretende-mos o dinheiro.
Bill entretanto aproximou-se da porta da diligência e abriu-a de repente.
Ouviu-se um tiro e o rapaz cambaleou, estatelando-se no chão e como se obedecesse a um sinal, o cocheiro sacara também o revólver e dispunha-se a disparar sobre Nelson, mas este, atento, desarmara-o com um tiro, ao mesmo tempo que saltava para o lado e se entrincheirava atrás de um grande calhau.
Do interior da diligência, partiu nutrida fuzilaria.
Agora compreendia. Realmente a diligência em que vinha o dinheiro não costumava trazer a escolta, mas em vez de passageiros, trazia guardas armados, vestidos civilmente.
Dessa forma só lhe restava fugir, já que o infeliz Bill não necessitava agora do seu auxílio.
Bem abrigado foi respondendo aos tiros dos defensores da diligência, sem intenção de matar.
Pretendia apenas não os deixar sair dela, até anoitecer, altura que aproveitaria para fugir para outro Estado.
Não podia continuar naquele, pois todos sabiam que ele e Bill eram amigos e facilmente o identificariam como o segundo assaltante.

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