— Essa mulher salvou-te a vida, Ken, tal como eu te fiz na prisão...
— Agora, Dinah, não me fales nisso.
— Não, Ken. Não me posso calar. Ela e eu, de certo modo, estamos em paz. Deves o mesmo a ambas, mas o gesto dela tem mais mérito.
-- Quando deixarás de te torturar com essas ideias absurdas?
— Não posso. Ela acreditou em ti, sabendo que eras um fugitivo. Acreditou nas tuas palavras; eu não. Eu pensei sempre que roubarias o dinheiro e acreditei que o tinhas roubado. Ajudei-te a fugir, sabendo quem eras e o que podia esperar de ti. Porque acreditará ela que podes ser diferente, que podes viver como um homem honrado?
— Confiou em mim, simplesmente. Acreditou quando todos não acreditavam. Assim são as mulhe-res. E quando me receberam como um herói, ela, pelo contrário, sentiu aversão por mim. Nunca se pode entender as mulheres, Dinah...
Estavam ali, na pequena lomba nas cercanias das Tumbas. Umas rochas formavam uma defesa natural, ocultando-os de possíveis curiosos. Meteram o cavalo num pequeno vale, acocorando-se eles nas sombras, suportando o frio da madrugada.
— Oh Ken, tenho medo de te perder -- ciciou ela, aconchegando-se a ele, — Essa rapariga é bonita... e ama-te.
---- Não digas tolices. O nosso mundo é diferente. Tu e eu, em troca, pertencemos ao mesmo.
— Sim, Ken, e é o que me assusta. Que comeces a deixar esse nosso mundo...
Millard não respondeu. Fingiu adormecer e ela respeitou o seu silêncio. Pouco depois, dormiam ambos. A luz do amanhecer despertou Millard, bem como um rumor próximo.
Nervosamente, afastou Dinah que acordou sobressaltada. Indicou-lhe silêncio com um gesto brusco e pegou no negro revólver, agachou-se entre as rochas, olhando para baixo, no sopé da pequena lomba.
Viu surgir uni cavaleiro, solitário, receoso, com uma «Winchester» segura sob o braço direito e de selim pediam dois objetos bem conhecidos de Ken Millard: duas sacas postais, com a cercadura dos correios, que oscilavam ao compasso do trote lento do animal,
O cavaleiro era Clifton Roderick.
Ken apertou os lábios. Não esperava ter tanta sorte. Se escolheu aquela elevação foi por ser num local deserto e uma boa torre de vigia, de boa estratégia, para fugir dos perseguidores e ao mesmo tempo para iniciar a caçada aos ladrões do dinheiro.
Fora este também o local escolhido pelos Roderick para ocultarem as sacas, precisamente por ser uma área deserta. Não era pois só casual este encontro, mas principalmente afortunado, milagroso.
— Não te mexas, Dinah — disse, baixo. E logo, inesperadamente, ergueu-se de um salto, surgindo a sua alta figura por cima das rochas. Assestou o revólver sobre Clifton Roderick, — Alto aí, Roderick! Um só passo e mato-te!
Clifton estremeceu dos pés à cabeça. O seu assombro foi enorme. Olhou para cima e ao reconhecer Ken pensou em empunhar a arma, mas reconheceu que estava em inferioridade e ergueu os braços.
— Tinha de ser o mesmo diabo a dar comigo -- resmungou irritado.
— O diabo é quem te fez vir aqui, Roderick - -riu-se Ken. — Nem começara ainda a procurar-te. A vida tem destas coisas... e....
— Cuidado, Ken! — gritou Dinah, de repente, aparecendo entre as rochas. -- Olha, ali!...
Apontava à direita. Millard virou lépido o rosto para esse ponto e viu um segundo cavaleiro, compreendendo o seu grande erro. Clifton não ia só, mas com Chris Shentall, que empunhava agora um revólver. Ouviu-se um tiro que não atingiu Ken mas sim Dinah que estava de permeio.
— Adeus, Ken!... — disse ela, já quando o corpo rolava pela ladeira em mortal queda.
Millard apertou os dentes sem desfitar Shentall. Não fez caso do rácegar de uma bala pelo ombro esquerdo, projectada pela arma de Clipton. Estremeceu ao sentir o projétil ardente, mas a sua mão e revólver não vacilaram, apontados para Shentall.
O traidor e cúmplice secreto dos Roderick nas Tumbas, gritou antes de receber a mensagem mortífera de Ken, que o fez largar a arma, levar as mãos à cabeça ensanguentada e tombar no chão, caído do cavalo,
Ken sentiu a aproximação da morte quando o segundo tiro de Clifton lhe roçou os cabelos. Um movimento do cavalo e talvez também o seu próprio movimento para atirar a Shentall o seu mortal golpe vingativo, evitaram a perfuração do seu crânio. Ken previu a ineficácia da arma de Clifton, pela inexperiência, desde que ele, Ken, lhe inutilizasse, o braço direito.
Voltou-se Clifton Roderick. O filho mais velho de Abbe Roderick pôde ainda disparar terceira vez, mas já muito lívido, com os nervos arrasados, consciente de que ia fracassar, E fracassou.
O fabuloso lutador Ken Millard dominou os seus inimigos por méritos próprios. Talvez Clifton o pudesse ter vencido, mas o seu último tiro foi precipitado, errado, distante do ex-comissário. E este não o deixou fazer outro.
O seu revólver negro, que fora de. Pete Bartok, fez fogo novamente como numa vingança póstuma da morte do seu verdadeiro nome, contra os que planearam o seu fim antes de entrar nas Tumbas.
A bala de chumbo atingiu Clifton Roderick em pleno peito. Foi um prodígio de pontaria. Oscilou no selim, esforçando-se por se manter em pé, lutando pela vida, quando esta já o abandonava velozmente.
Quando caiu por terra, já o seu cúmplice Shentall jazia de bruços a pouca distância, com a cabeça convertida numa massa informe.
Ken Millard respirou profundamente. Tinha apanhado os culpados, recuperara as sacas que pro-variam a sua inocência perante o povo das Tumbas.
Um alto preço porém fora pago por tudo aquilo: Dinah Cole. A infeliz rapariga jazia também entre os assassinos. Como tributo amargo e inevitável, em troca da verdade e da justiça.
Olhou muito para o seu revólver que ditara a sentença. E executara-a sumariamente. Mas Dinah Cole ficou no caminho.
Por ela só pôde fazer uma coisa, quando desceu lentamente da lomba, trazendo-a nos seus braços: rezar uma breve oração, e abrir uma cova onde a enterrou, colocando sobre ela urna tosca cruz de madeira.
— Obrigado, Dinah — disse com emoção, antes de retirar-se daquele local. — Obrigado por tudo. Foste fiel e abnegada até ao fim. Não te esquecerei mais, minha amiga...
Arrancou umas flores campestres e depositou-as sobre a campa, e fez um gesto de despedida para a inditosa jovem que ali ficava para sempre.
Subiu para o cavalo com as sacas do correio, diante dos corpos inertes de Clifton Roderick e de Chris Shentall, e foi-se embora calmamente.
Ia regressar às Tumbas deixando ali urna mulher que tudo fizera por ele. Ela tinha amado um proscrito, um Ken Millard. E agora, quando o homem à margem da lei podia atravessar a fronteira, fugir para longe com aquele dinheiro, ia regressar para o devolver, para se subordinar ao seu destino... e pagar as suas culpas.
— Perdoa-me, Dinah — disse com voz velada e pondo os olhos no infinito. — Mas tenho de o fazer. Do Ken Millard que conheceste nada resta. E é melhor assim. Compreenderás isso, agora, onde estás, não é verdade, Dinah?
O Sol brilhando no horizonte, foi como que uma muda resposta chegada do infinito. Sim. Dinah compreenderia o seu pensamento.
— Agora, Dinah, não me fales nisso.
— Não, Ken. Não me posso calar. Ela e eu, de certo modo, estamos em paz. Deves o mesmo a ambas, mas o gesto dela tem mais mérito.
-- Quando deixarás de te torturar com essas ideias absurdas?
— Não posso. Ela acreditou em ti, sabendo que eras um fugitivo. Acreditou nas tuas palavras; eu não. Eu pensei sempre que roubarias o dinheiro e acreditei que o tinhas roubado. Ajudei-te a fugir, sabendo quem eras e o que podia esperar de ti. Porque acreditará ela que podes ser diferente, que podes viver como um homem honrado?
— Confiou em mim, simplesmente. Acreditou quando todos não acreditavam. Assim são as mulhe-res. E quando me receberam como um herói, ela, pelo contrário, sentiu aversão por mim. Nunca se pode entender as mulheres, Dinah...
Estavam ali, na pequena lomba nas cercanias das Tumbas. Umas rochas formavam uma defesa natural, ocultando-os de possíveis curiosos. Meteram o cavalo num pequeno vale, acocorando-se eles nas sombras, suportando o frio da madrugada.
— Oh Ken, tenho medo de te perder -- ciciou ela, aconchegando-se a ele, — Essa rapariga é bonita... e ama-te.
---- Não digas tolices. O nosso mundo é diferente. Tu e eu, em troca, pertencemos ao mesmo.
— Sim, Ken, e é o que me assusta. Que comeces a deixar esse nosso mundo...
Millard não respondeu. Fingiu adormecer e ela respeitou o seu silêncio. Pouco depois, dormiam ambos. A luz do amanhecer despertou Millard, bem como um rumor próximo.
Nervosamente, afastou Dinah que acordou sobressaltada. Indicou-lhe silêncio com um gesto brusco e pegou no negro revólver, agachou-se entre as rochas, olhando para baixo, no sopé da pequena lomba.
Viu surgir uni cavaleiro, solitário, receoso, com uma «Winchester» segura sob o braço direito e de selim pediam dois objetos bem conhecidos de Ken Millard: duas sacas postais, com a cercadura dos correios, que oscilavam ao compasso do trote lento do animal,
O cavaleiro era Clifton Roderick.
Ken apertou os lábios. Não esperava ter tanta sorte. Se escolheu aquela elevação foi por ser num local deserto e uma boa torre de vigia, de boa estratégia, para fugir dos perseguidores e ao mesmo tempo para iniciar a caçada aos ladrões do dinheiro.
Fora este também o local escolhido pelos Roderick para ocultarem as sacas, precisamente por ser uma área deserta. Não era pois só casual este encontro, mas principalmente afortunado, milagroso.
— Não te mexas, Dinah — disse, baixo. E logo, inesperadamente, ergueu-se de um salto, surgindo a sua alta figura por cima das rochas. Assestou o revólver sobre Clifton Roderick, — Alto aí, Roderick! Um só passo e mato-te!
Clifton estremeceu dos pés à cabeça. O seu assombro foi enorme. Olhou para cima e ao reconhecer Ken pensou em empunhar a arma, mas reconheceu que estava em inferioridade e ergueu os braços.
— Tinha de ser o mesmo diabo a dar comigo -- resmungou irritado.
— O diabo é quem te fez vir aqui, Roderick - -riu-se Ken. — Nem começara ainda a procurar-te. A vida tem destas coisas... e....
— Cuidado, Ken! — gritou Dinah, de repente, aparecendo entre as rochas. -- Olha, ali!...
Apontava à direita. Millard virou lépido o rosto para esse ponto e viu um segundo cavaleiro, compreendendo o seu grande erro. Clifton não ia só, mas com Chris Shentall, que empunhava agora um revólver. Ouviu-se um tiro que não atingiu Ken mas sim Dinah que estava de permeio.
— Adeus, Ken!... — disse ela, já quando o corpo rolava pela ladeira em mortal queda.
Millard apertou os dentes sem desfitar Shentall. Não fez caso do rácegar de uma bala pelo ombro esquerdo, projectada pela arma de Clipton. Estremeceu ao sentir o projétil ardente, mas a sua mão e revólver não vacilaram, apontados para Shentall.
O traidor e cúmplice secreto dos Roderick nas Tumbas, gritou antes de receber a mensagem mortífera de Ken, que o fez largar a arma, levar as mãos à cabeça ensanguentada e tombar no chão, caído do cavalo,
Ken sentiu a aproximação da morte quando o segundo tiro de Clifton lhe roçou os cabelos. Um movimento do cavalo e talvez também o seu próprio movimento para atirar a Shentall o seu mortal golpe vingativo, evitaram a perfuração do seu crânio. Ken previu a ineficácia da arma de Clifton, pela inexperiência, desde que ele, Ken, lhe inutilizasse, o braço direito.
Voltou-se Clifton Roderick. O filho mais velho de Abbe Roderick pôde ainda disparar terceira vez, mas já muito lívido, com os nervos arrasados, consciente de que ia fracassar, E fracassou.
O fabuloso lutador Ken Millard dominou os seus inimigos por méritos próprios. Talvez Clifton o pudesse ter vencido, mas o seu último tiro foi precipitado, errado, distante do ex-comissário. E este não o deixou fazer outro.
O seu revólver negro, que fora de. Pete Bartok, fez fogo novamente como numa vingança póstuma da morte do seu verdadeiro nome, contra os que planearam o seu fim antes de entrar nas Tumbas.
A bala de chumbo atingiu Clifton Roderick em pleno peito. Foi um prodígio de pontaria. Oscilou no selim, esforçando-se por se manter em pé, lutando pela vida, quando esta já o abandonava velozmente.
Quando caiu por terra, já o seu cúmplice Shentall jazia de bruços a pouca distância, com a cabeça convertida numa massa informe.
Ken Millard respirou profundamente. Tinha apanhado os culpados, recuperara as sacas que pro-variam a sua inocência perante o povo das Tumbas.
Um alto preço porém fora pago por tudo aquilo: Dinah Cole. A infeliz rapariga jazia também entre os assassinos. Como tributo amargo e inevitável, em troca da verdade e da justiça.
Olhou muito para o seu revólver que ditara a sentença. E executara-a sumariamente. Mas Dinah Cole ficou no caminho.
Por ela só pôde fazer uma coisa, quando desceu lentamente da lomba, trazendo-a nos seus braços: rezar uma breve oração, e abrir uma cova onde a enterrou, colocando sobre ela urna tosca cruz de madeira.
— Obrigado, Dinah — disse com emoção, antes de retirar-se daquele local. — Obrigado por tudo. Foste fiel e abnegada até ao fim. Não te esquecerei mais, minha amiga...
Arrancou umas flores campestres e depositou-as sobre a campa, e fez um gesto de despedida para a inditosa jovem que ali ficava para sempre.
Subiu para o cavalo com as sacas do correio, diante dos corpos inertes de Clifton Roderick e de Chris Shentall, e foi-se embora calmamente.
Ia regressar às Tumbas deixando ali urna mulher que tudo fizera por ele. Ela tinha amado um proscrito, um Ken Millard. E agora, quando o homem à margem da lei podia atravessar a fronteira, fugir para longe com aquele dinheiro, ia regressar para o devolver, para se subordinar ao seu destino... e pagar as suas culpas.
— Perdoa-me, Dinah — disse com voz velada e pondo os olhos no infinito. — Mas tenho de o fazer. Do Ken Millard que conheceste nada resta. E é melhor assim. Compreenderás isso, agora, onde estás, não é verdade, Dinah?
O Sol brilhando no horizonte, foi como que uma muda resposta chegada do infinito. Sim. Dinah compreenderia o seu pensamento.
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