«Faro» Robinson meteu os revólveres nos coldres e reparou de súbito que o sangue lhe corria pelo braço esquerdo e lhe chegava aos dedos. Apalpou o lugar da ferida e pôde comprovar que não era grave, embora se tornasse necessário estancar a hemorragia o mais cedo possível. Voltar ao «saloon» era-lhe totalmente impossível, pois William O'Brien tinha a certeza, já deveria ter fechado a porta dos fundos e estaria agora no seu gabinete para fingir que não havia tomado parte cativa na contenda.
Ocorreu-lhe outra solução e um sorriso distendeu os seus lábios. Acabava de pensar em Eleonor.
Desde que a conhecera, o jovem foragido sentia urna certa inclinação amorosa pela filha do seu amigo O'Brien. Por casualidade, encontrara-a um dia na rua, falara um momento com ela e já não a pudera esquecer.
Quis vê-la outras vezes, falar-lhe do seu louco amor, mas a rapariga, amavelmente, fizera-lhe ver a distância moral que os separava.
No entanto, «Faro» Robinson sabia que tinha ali dentro uma aliada incondicional: Martha, a mulher de rosto e lábios murchos. Lembrava-se muito bem que esta o havia incitado sempre e que lhe havia servido de intermediária e testemunha das poucas entrevistas que Eleonor lhe concedera.
Deslizou silenciosamente para uma das janelas traseiras do edifício e tentou a sorte. Estava fechada. Ia a afastar-se para repetir a tentativa com outra janela quando a porta se abriu na escuridão, sem fazer outro ruído que não fosse o de um leve chiar de gonzos.
— Entra, Robinson — disse-lhe uma voz ligeiramente abafada e trémula. — Tenho acompanhado o desenrolar da luta e por momentos temi que te matassem.
— Ainda não se fundiu a bala que há-de acabar comigo.
— Apesar de isso estás ferido... Vem, eu tratarei de ti...
Havia certa ternura nas palavras da mulher. «Faro» Robinson entrou e agarrou a mão que ela lhe estendia.
— Prefiro ser tratado por... Você já sabe por quem... — sugeriu — Essa rapariga pôs-me louco e sou capaz de tudo para me fazer amar por ela.
Martha guiou-o na escuridão até umas escadas e fê-lo subir por elas, sem lhe soltar a mão. Introduziu-o num aposento e só então acendeu o candeeiro.
— Estás muito pálido, filho... Dói-te muito?
— Faça-a vir cá... Preciso de a ver de novo... Os seus desdéns doem-me mais...
-- Deita-te nesse divã... Tê-la-ás aqui em seguida...
-- Encontra-se levantada?
— Os disparos despertaram-na. Receia por... por Maloney...
A mulher saiu e regressou ao fim de algum tempo acompanhada de Eleonor O'Brien.
A filha do dono da casa era uma beleza em toda a extensão da palavra. Alta, esbelta, loira como o trigo, tinha uns olhos grandes e sinceros que, juntamente com os lábios e o nariz davam um encanto singular ao seu rosto. As pernas eram compridas e perfeitamente torneadas; e o admirável conjunto terminava com uma cintura estreita e elegante e um busto de deusa grega.
Ao vê-la, o jovem foragido sentiu que o sangue se lhe inflamava.
— Acertaram-lhe, hem? — disse ela, por todo o cumprimento. — Algum dia apontarão melhor e a sua vida acabará. Quando vai deixar tranquilos os demais para que os demais o deixem tranquilo a si?
— Uma só palavra sua teria bastado para fazer mudar a minha maneira de ser. Você tem-se negado obstinadamente a pronunciá-la.
— Vamos lá a ver esse braço... Tentaremos estancar a hemorragia... Depois, você partirá pela mesma porta que utilizou para entrar. Não quero que me acusem de cumplicidade nos seus negócios escuros.
— Richard Maloney perdoar-lhe-á tudo...
— Você sabe perfeitamente que eu amo o sargento e que ele me ama também; mas por nada do mundo Richard deixaria de cumprir o seu dever.
— Isso é uma tolice!
— Para você, sim... Para nós, não. Os que seguem uma determinada linha de conduta são obrigados a não se desviar dela. A maledicência é demasiado poderosa.
— Bah! Lá vem você com os sermões. Também lhe fala assim?
Eleonor não se dignou responder. Ligou o braço de Robinson o melhor que pôde e soube e em seguida indicou-lhe a porta.
— Desapareça... — Como posso fazê-lo deste modo, rapariga? — Deixemo-lo descansar um pouco, filha — interveio Martha. — Ainda não está totalmente recomposto.
— Sim, deixe-me descansar e... e... mostre-se mais condescendente... Sabe que estou louco por si... e que comigo não se pode brincar.
Eleonor O'Brien não havia previsto o ataque do jovem. Este agarrou-a pela cintura e fê-la cair no divã, junto dele.
Em seguida, inclinou a cabeça e tentou beijá-la na boca. A rapariga defendeu-se desesperadamente, quase com lágrimas nos olhos, sob o olhar quase satisfeito de Martha.
— Largue-me animal! — arquejou. — Selvagem! Tia Martha, afaste de mim este bruto!
A mulher seguiu impassível a luta entre os dois jovens. O homem era forte, mas o ferimento do braço tirava-lhe faculdades. Resistindo, Eleonor alcançou a coronha do revólver do foragido, empunhou-o e encostou--lhe a boca do cano ao ventre.
— Deixe-me ou dou-lhe um tiro!
«Faro» Robinson compreendeu que a ameaça era a sério. Martha também assim o entendeu e empalideceu intensamente. Só então se decidiu a intervir.
— Basta, «Faro»! Isso não são modos...
— Perdoe-me, Martha, mas você sabe...
Eleonor, presa de um ataque de histerismo, levantou-se e correu a refugiar-se nos braços de sua tia.
— Oh, pequena! Não foi nada ... olha... «Faro» Robinson já se vai embora... Está a pedir-te desculpa... Foi um arrebatamento, mas já passou... Vamos, vamos, queridinha... Não chores mais...
Enquanto falava, a mulher fez um sinal ao bandido para que saísse. Este sorriu e transpôs o umbral. No vestíbulo, ainda continuou a escutar os soluços entrecortados da jovem. Depois, após uns instantes de hesitação, enterrou o chapéu e saiu para o exterior.
A luta continuava, mas ele não tinha o menor desejo de voltar a intervir nela. Aproximou-se do seu cavalo e montou-o. Em seguida, dirigiu-se para o refúgio que tinha na montanha. Embora não fosse grave, o ferimento incomodava-o e tinha a sensação de que os primeiros arrepios de febre lhe começavam a percorrer o corpo. Sentia calafrios e tinha a boca seca e pastosa.
Pensou no resto dos seus homens e disse para consigo mesmo que estes saberiam sair sozinhos do atoleiro em que se achavam; e o que não fosse suficientemente esperto para sair com vida daquele transe, o mal seria dele...
Ocorreu-lhe outra solução e um sorriso distendeu os seus lábios. Acabava de pensar em Eleonor.
Desde que a conhecera, o jovem foragido sentia urna certa inclinação amorosa pela filha do seu amigo O'Brien. Por casualidade, encontrara-a um dia na rua, falara um momento com ela e já não a pudera esquecer.
Quis vê-la outras vezes, falar-lhe do seu louco amor, mas a rapariga, amavelmente, fizera-lhe ver a distância moral que os separava.
No entanto, «Faro» Robinson sabia que tinha ali dentro uma aliada incondicional: Martha, a mulher de rosto e lábios murchos. Lembrava-se muito bem que esta o havia incitado sempre e que lhe havia servido de intermediária e testemunha das poucas entrevistas que Eleonor lhe concedera.
Deslizou silenciosamente para uma das janelas traseiras do edifício e tentou a sorte. Estava fechada. Ia a afastar-se para repetir a tentativa com outra janela quando a porta se abriu na escuridão, sem fazer outro ruído que não fosse o de um leve chiar de gonzos.
— Entra, Robinson — disse-lhe uma voz ligeiramente abafada e trémula. — Tenho acompanhado o desenrolar da luta e por momentos temi que te matassem.
— Ainda não se fundiu a bala que há-de acabar comigo.
— Apesar de isso estás ferido... Vem, eu tratarei de ti...
Havia certa ternura nas palavras da mulher. «Faro» Robinson entrou e agarrou a mão que ela lhe estendia.
— Prefiro ser tratado por... Você já sabe por quem... — sugeriu — Essa rapariga pôs-me louco e sou capaz de tudo para me fazer amar por ela.
Martha guiou-o na escuridão até umas escadas e fê-lo subir por elas, sem lhe soltar a mão. Introduziu-o num aposento e só então acendeu o candeeiro.
— Estás muito pálido, filho... Dói-te muito?
— Faça-a vir cá... Preciso de a ver de novo... Os seus desdéns doem-me mais...
-- Deita-te nesse divã... Tê-la-ás aqui em seguida...
-- Encontra-se levantada?
— Os disparos despertaram-na. Receia por... por Maloney...
A mulher saiu e regressou ao fim de algum tempo acompanhada de Eleonor O'Brien.
A filha do dono da casa era uma beleza em toda a extensão da palavra. Alta, esbelta, loira como o trigo, tinha uns olhos grandes e sinceros que, juntamente com os lábios e o nariz davam um encanto singular ao seu rosto. As pernas eram compridas e perfeitamente torneadas; e o admirável conjunto terminava com uma cintura estreita e elegante e um busto de deusa grega.
Ao vê-la, o jovem foragido sentiu que o sangue se lhe inflamava.
— Acertaram-lhe, hem? — disse ela, por todo o cumprimento. — Algum dia apontarão melhor e a sua vida acabará. Quando vai deixar tranquilos os demais para que os demais o deixem tranquilo a si?
— Uma só palavra sua teria bastado para fazer mudar a minha maneira de ser. Você tem-se negado obstinadamente a pronunciá-la.
— Vamos lá a ver esse braço... Tentaremos estancar a hemorragia... Depois, você partirá pela mesma porta que utilizou para entrar. Não quero que me acusem de cumplicidade nos seus negócios escuros.
— Richard Maloney perdoar-lhe-á tudo...
— Você sabe perfeitamente que eu amo o sargento e que ele me ama também; mas por nada do mundo Richard deixaria de cumprir o seu dever.
— Isso é uma tolice!
— Para você, sim... Para nós, não. Os que seguem uma determinada linha de conduta são obrigados a não se desviar dela. A maledicência é demasiado poderosa.
— Bah! Lá vem você com os sermões. Também lhe fala assim?
Eleonor não se dignou responder. Ligou o braço de Robinson o melhor que pôde e soube e em seguida indicou-lhe a porta.
— Desapareça... — Como posso fazê-lo deste modo, rapariga? — Deixemo-lo descansar um pouco, filha — interveio Martha. — Ainda não está totalmente recomposto.
— Sim, deixe-me descansar e... e... mostre-se mais condescendente... Sabe que estou louco por si... e que comigo não se pode brincar.
Eleonor O'Brien não havia previsto o ataque do jovem. Este agarrou-a pela cintura e fê-la cair no divã, junto dele.
Em seguida, inclinou a cabeça e tentou beijá-la na boca. A rapariga defendeu-se desesperadamente, quase com lágrimas nos olhos, sob o olhar quase satisfeito de Martha.
— Largue-me animal! — arquejou. — Selvagem! Tia Martha, afaste de mim este bruto!
A mulher seguiu impassível a luta entre os dois jovens. O homem era forte, mas o ferimento do braço tirava-lhe faculdades. Resistindo, Eleonor alcançou a coronha do revólver do foragido, empunhou-o e encostou--lhe a boca do cano ao ventre.
— Deixe-me ou dou-lhe um tiro!
«Faro» Robinson compreendeu que a ameaça era a sério. Martha também assim o entendeu e empalideceu intensamente. Só então se decidiu a intervir.
— Basta, «Faro»! Isso não são modos...
— Perdoe-me, Martha, mas você sabe...
Eleonor, presa de um ataque de histerismo, levantou-se e correu a refugiar-se nos braços de sua tia.
— Oh, pequena! Não foi nada ... olha... «Faro» Robinson já se vai embora... Está a pedir-te desculpa... Foi um arrebatamento, mas já passou... Vamos, vamos, queridinha... Não chores mais...
Enquanto falava, a mulher fez um sinal ao bandido para que saísse. Este sorriu e transpôs o umbral. No vestíbulo, ainda continuou a escutar os soluços entrecortados da jovem. Depois, após uns instantes de hesitação, enterrou o chapéu e saiu para o exterior.
A luta continuava, mas ele não tinha o menor desejo de voltar a intervir nela. Aproximou-se do seu cavalo e montou-o. Em seguida, dirigiu-se para o refúgio que tinha na montanha. Embora não fosse grave, o ferimento incomodava-o e tinha a sensação de que os primeiros arrepios de febre lhe começavam a percorrer o corpo. Sentia calafrios e tinha a boca seca e pastosa.
Pensou no resto dos seus homens e disse para consigo mesmo que estes saberiam sair sozinhos do atoleiro em que se achavam; e o que não fosse suficientemente esperto para sair com vida daquele transe, o mal seria dele...
Sem comentários:
Enviar um comentário