A face de Gene Morrow tornou-se lívida.
— Irving Dooleyl — exclamou roucamente.— Que lhe aconteceu?
Ninguém respondeu. E vendo bem, nem era preciso. Do que Dooley se podia ter lembrado, era demasiado evidente para que fosse preciso referi-lo em palavras.
Ali estava o próprio Dooley, perguntando-o em silêncio. Estava só, rígido, inanimado, sem vida. Várias balas tinham-lhe perfurado o peito e todas tinham entrado pelas costas.
Os homens que o fizeram deixaram-no cair sobre uma mesa. O seu corpo inanimado ressoou sobre as tábuas mal unidas. Alguém suspirou naquele silêncio, de forma a ser ouvido.
— Mataram-no -- disse friamente Shentall, avançando uns passos. Outra vítima dos nossos inimigos!
— Cuidado! — avisou outro. -- Não há provas contra o autor disto. Dooley apareceu morto nas suas fazendas. O seu rancho ardeu e as reses foram dispersas. Isto são os factos. Mas ninguém pode apontar um culpado.
— Eu aponto! — rugiu Morrow, fora de si, e avançando. Todos sabemos que ultimamente, Irving Dooley se revoltou contra a tirania dos Roderick! Sabemos pois todos quem moveu a arma homicida!
— Um momento, senhores, -- disse alguém dum extremo da sala. — Não estarão a precipitar-se temerariamente em seus juízos?
Gene Morrow, Shentall e os demais fazendeiros presentes no salão de Jack, fizeram um movimento simultâneo de expectação para aquele que falara.
Viram na sua frente três homens com armas nos cinturões e de expressões pouco amistosas, parados na entrada de um gabinete reservado.
O que falara era Mitch Dudgeon, o capataz de Roderick. Os outros dois, Wilson e Lestrange dois empregados que o acompanhavam sempre.
— Não me precipito replicou com decisão, Morrow, ostentando toda a sua valentia, perante o mutismo dos seus amigos. — Acuso os culpados, simplesmente. Sei quem são, não me interessam provas.
— A si não, senhor — disse Dudgeon — mas ao juiz, sim. Não se pode acusar ninguém sem provas. Dooley era vizinho do patrão, não nos fazia dano algum. Para que movermos um dedo contra ele?
-- Sabem-no de sobra. Era um inimigo vosso. Constituía um perigo, pelo que, foi eliminado.
— O que diz é um insulto, senhor Morrow. Convido-o a retirar essas palavras ou será pior...
Os demais, cobardemente, começaram a mover-se.
Afastavam-se da linha de tiro, deixando no centro Gene Morrow, resoluto, valente, mas só. Na sua frente a potência evidente de Dudgeon e dos companheiros. O trio aguardava um pretexto leve, para banir o antagonista.
Morrow refletiu, mantendo-se na posição erguida, tenso, trémulo de ira.
— E se as não retirar?
— São um insulto para o patrão e para nós. Ver-nos-emos obrigados a defender a nossa honra e você a sua vida...
— Compreendo... — Morrow respirou dificultosamente. Estava pálido mas sereno. Estendeu os braços em eloquente gesto. — Não tenho arma. Não será uma pugna muito desigual?
— Morrow. Não pode manter a sua acusação! -- disse um fazendeiro. — Matá-lo-ão!
— Não sou tão cobarde como vocês — riu-se o solitário orador. Vale mais morrer com dignidade do que viver arrastado como os répteis. Oiça, Dudgeon. Eu acuso o seu patrão do assassinato de Dooley. E a vocês, seus esbirros, de cúmplices dele, assassinos a soldo, sem consciência nem dignidade. Se este povo tem um mínimo de valentia e honorabilidade, enforcá-los-á na primeira árvore, sem esperar por nenhum julgamento!
O sorriso de Dudgeon converteu-se numa careta. Acusou o insulto, mas a verdade é que com ele teve a desculpa que andava procurando. Instintivamente os seus braços arquearam-se.
— Bem, Morrow, você fala demais. Ofendeu-me e bem. Tome uma arma, se é homem. Se não é, desapareça. Não gosto de atacar cobardes e animais indefesos.
Gene Morrow rangeu os dentes. Pensou em Felícia. Arrependeu-se vagamente de ter dado conversa àquele bandido. Era o que Dudgeon estivera desejando. E ele, estúpido, caíra no logro. Já não havia saída. Era melhor cair pela pólvora assassina qtte viver sem dignidade.
— Vamos com o seu novo crime, assassino — disse sereno. — Sabe que a seu lado sou um parvo com o revólver. Mas dei-lhe o ensejo... Fui eu o tolo. No entanto, chegará um vingador. Eu sei. Pete Bartok fá-los-á morder o pó, em breve.
Dudgeon sorriu entredentes. Não pareceu preocupado com a ameaça de Morrow. E a sua voz pareceu cortar toda a esperança ao valoroso acusador:
— Não sonhe, meu caro. Pete Bartok nunca cá chegará, porque foi morto.
Morrow ia a responder, mas algo de estranho viu no olhar do pistoleiro de Roderick, que o deteve. Pressentiu a trágica realidade. Os inimigos sabiam que eles haviam chamado «Big» Bartok. E sabiam qualquer coisa mais. Qualquer coisa que ele mesmo ignorava: pareciam ter a certeza absoluta de que Bartok estava morto. Porquê?
A resposta era intuitiva.
— Bem, vai defender a sua vida ou prefere que lhe cuspa na cara e lhe chame cobarde? — disse-lhe Dudgeon, empertigando-se para o homem subitamente vexado, deprimido. — Estou à esperal...
Gene podia então optar por uma solução cómoda, que era a da humilhação, se continuasse a viver.
No entanto não era desses. Optou pelo pior. Mas, ao mesmo tempo, o seu espírito de lutador inato incitava-o.
---- Vamos nisso, Dudgeon — replicou asperamente, erguendo a fronte de especto feroz, consciente da sua incapacidade. — Gene Morrow não é um cobarde como tu e teus patrões.
Saltou para junto desse homem postado junto do balcão. Velozmente a sua mão pegou no revólver desse tipo e logo se afastou dele para não o prejudicar. Apontou a arma para Dudgeon.
Era porém uma bala perdida antes até de ser disparada, e Morrow sabia bem isso. Dudgeon limitou-se a tirar a sua arma com rapidez vertiginosa, iniciando a façanha segundos depois de Morrow. Mesmo assim, levou vantagem aí dum segundo. Muito mais do que era preciso para o matar com a maior facilidade.
O pai de Felícia ainda estava a erguer a arma que parecia pesar como uma pedra, enquanto o pesado «Colt» de Dudgeon subia com facilidade pasmosa, e era assestado para vomitar a morte no segundo imediato.
Sob a débil luz de petróleo do local, crepitaram as armas. Foram dois tiros simultâneos. Mas a arma de Morrow não se ouvira ainda, quando isto se deu.
O tiro de Dudgeon falhou. Incompreensivelmente, a princípio, a bala foi alta, quebrou um vidro, após o que se ouviu um grito rouco, inumano do capataz do «Doble R».
Atónitos, fitaram-no. Entre eles, o próprio Morrow, que parecia petrificado, incapaz de premir o gatilho agora, que tinha todas as vantagens a seu favor. A mão armada de Dudgeon já não continha a arma. Um revólver caía no pavimento e dos seus dedos jorrava sangue em abundância. Os olhos de Morrow, como o de todos os outros, viraram-se para a porta.
Ali, brilhava um revólver, negro, com incrustações brancas, seguro com firmeza pela mão de um desconhecido, homem alto, fato cinzento, cabelo aloirado.
— Boa noite — saudou ele friamente. -- Passa-se aqui alguma coisa?
Os amigos de Dudgeon disseram-lhe que sim e demonstraram-no de maneira rápida e inesperada. Wilson e Lestrange colocaram-se atrás, moveram a cintura com agilidade, e nas suas experimentadas mãos apareceram, como que por magia, revólveres prontos para entrar em ação.
Todos aguardaram uns segundos que as armas explodissem e a queda mortal do recém-chegado, Sucedeu quase que isso: o estampido das balas. Duas, três detonações rápidas, ensurdeceram os tímpanos e fizeram vibrar os vidros dos copos, garrafas e candeeiros.
Eram porém Wilson e Lestrange os que cambaleavam, por incrível que parecesse. O primeiro disparou duas vezes para o chão. Fê-lo porém, quando já tinha uma bala alojada no ventre e no rosto uma expressão de agonia.
Lestrange, entretanto, recuava como que empurrado por um maciço brutal. Fora a consequência de duas onças de metal ardente que se alojaram no coração, provindas duma arma preta, precisa, infalível.
— Oh, céus! — rugiu Jack entredentes, acocorando-se atrás do seu balcão de vendas. — Este forasteiro matou Wilson e Lestrange, sem lhes dar tempo a que fizessem um só tiro! E desarmou Dudgeon sem lhe destroçar a mão!
Ninguém mais falou. Gene Morrow, admirado como todos os outros, não era capaz de despegar os lábios. O que sucedera em tão poucos segundos parecia incrível. Ninguém nas Tumbas, tinha sido capaz de se defrontar com Dudgeon e companheiros, e muito menos com probabilidades de êxito.
E aquele forasteiro... aquele desconhecido do revólver preto...
— Eu conheço-o! — disse alguém quando os dois corpos caíram para sempre, marcando o fim de Wilson e Lestrange. Um dos presentes ergueu a mão frenética, trémula, apontando o dedo para o desconhecido. Sei quem é esse homem!
— Quem é? — indagou Morrow com voz nervosa.
— Só há um homem no Oeste que tem revólver preto, com ornamentos de osso! Peçam-lhe que o mostre e verão as letras: P. B.!
— Pete Bartok! — gritou Morrow assombrado.
Ken Millard ia a responder, dizendo que não era quem imaginavam, que não se chamava Pete Bartok, que não estava ali para «pacificar» as Tumbas. Que o autêntico Pete Bartok morrera e que ele... ele ia unicamente desvalorizar-lhes o Banco dos Ganadeiros, continuando depois o seu caminho, a sua eterna vida de proscrito.
Mas emudeceu. Não chegou a pronunciar palavra. Apercebeu-se da dificuldade da sua melindrosa situação. Podiam supor que tivesse assassinado Bartok. Podiam ver nele um inimigo, mesmo depois do que há momentos sucedera... e ele tinha de aguardar a chegada de Dinah. Tinha ainda de esperar também o momento propício para esvaziar os cofres do Banco local.
Não. Não podia negar nada. Mas também não iria afirmar nada. Repugnava-lhe usurpar a personalidade alheia e muito mais a personalidade de um morto. De resto, aquela gente parecia confiar muito em Pete Bartok. Lembrou-se do telegrama que lera, o telegrama manchado de sangue. As Tumbas precisavam de Pete Bartok. Não os podia iludir nesse ponto.
— Irving Dooleyl — exclamou roucamente.— Que lhe aconteceu?
Ninguém respondeu. E vendo bem, nem era preciso. Do que Dooley se podia ter lembrado, era demasiado evidente para que fosse preciso referi-lo em palavras.
Ali estava o próprio Dooley, perguntando-o em silêncio. Estava só, rígido, inanimado, sem vida. Várias balas tinham-lhe perfurado o peito e todas tinham entrado pelas costas.
Os homens que o fizeram deixaram-no cair sobre uma mesa. O seu corpo inanimado ressoou sobre as tábuas mal unidas. Alguém suspirou naquele silêncio, de forma a ser ouvido.
— Mataram-no -- disse friamente Shentall, avançando uns passos. Outra vítima dos nossos inimigos!
— Cuidado! — avisou outro. -- Não há provas contra o autor disto. Dooley apareceu morto nas suas fazendas. O seu rancho ardeu e as reses foram dispersas. Isto são os factos. Mas ninguém pode apontar um culpado.
— Eu aponto! — rugiu Morrow, fora de si, e avançando. Todos sabemos que ultimamente, Irving Dooley se revoltou contra a tirania dos Roderick! Sabemos pois todos quem moveu a arma homicida!
— Um momento, senhores, -- disse alguém dum extremo da sala. — Não estarão a precipitar-se temerariamente em seus juízos?
Gene Morrow, Shentall e os demais fazendeiros presentes no salão de Jack, fizeram um movimento simultâneo de expectação para aquele que falara.
Viram na sua frente três homens com armas nos cinturões e de expressões pouco amistosas, parados na entrada de um gabinete reservado.
O que falara era Mitch Dudgeon, o capataz de Roderick. Os outros dois, Wilson e Lestrange dois empregados que o acompanhavam sempre.
— Não me precipito replicou com decisão, Morrow, ostentando toda a sua valentia, perante o mutismo dos seus amigos. — Acuso os culpados, simplesmente. Sei quem são, não me interessam provas.
— A si não, senhor — disse Dudgeon — mas ao juiz, sim. Não se pode acusar ninguém sem provas. Dooley era vizinho do patrão, não nos fazia dano algum. Para que movermos um dedo contra ele?
-- Sabem-no de sobra. Era um inimigo vosso. Constituía um perigo, pelo que, foi eliminado.
— O que diz é um insulto, senhor Morrow. Convido-o a retirar essas palavras ou será pior...
Os demais, cobardemente, começaram a mover-se.
Afastavam-se da linha de tiro, deixando no centro Gene Morrow, resoluto, valente, mas só. Na sua frente a potência evidente de Dudgeon e dos companheiros. O trio aguardava um pretexto leve, para banir o antagonista.
Morrow refletiu, mantendo-se na posição erguida, tenso, trémulo de ira.
— E se as não retirar?
— São um insulto para o patrão e para nós. Ver-nos-emos obrigados a defender a nossa honra e você a sua vida...
— Compreendo... — Morrow respirou dificultosamente. Estava pálido mas sereno. Estendeu os braços em eloquente gesto. — Não tenho arma. Não será uma pugna muito desigual?
— Morrow. Não pode manter a sua acusação! -- disse um fazendeiro. — Matá-lo-ão!
— Não sou tão cobarde como vocês — riu-se o solitário orador. Vale mais morrer com dignidade do que viver arrastado como os répteis. Oiça, Dudgeon. Eu acuso o seu patrão do assassinato de Dooley. E a vocês, seus esbirros, de cúmplices dele, assassinos a soldo, sem consciência nem dignidade. Se este povo tem um mínimo de valentia e honorabilidade, enforcá-los-á na primeira árvore, sem esperar por nenhum julgamento!
O sorriso de Dudgeon converteu-se numa careta. Acusou o insulto, mas a verdade é que com ele teve a desculpa que andava procurando. Instintivamente os seus braços arquearam-se.
— Bem, Morrow, você fala demais. Ofendeu-me e bem. Tome uma arma, se é homem. Se não é, desapareça. Não gosto de atacar cobardes e animais indefesos.
Gene Morrow rangeu os dentes. Pensou em Felícia. Arrependeu-se vagamente de ter dado conversa àquele bandido. Era o que Dudgeon estivera desejando. E ele, estúpido, caíra no logro. Já não havia saída. Era melhor cair pela pólvora assassina qtte viver sem dignidade.
— Vamos com o seu novo crime, assassino — disse sereno. — Sabe que a seu lado sou um parvo com o revólver. Mas dei-lhe o ensejo... Fui eu o tolo. No entanto, chegará um vingador. Eu sei. Pete Bartok fá-los-á morder o pó, em breve.
Dudgeon sorriu entredentes. Não pareceu preocupado com a ameaça de Morrow. E a sua voz pareceu cortar toda a esperança ao valoroso acusador:
— Não sonhe, meu caro. Pete Bartok nunca cá chegará, porque foi morto.
Morrow ia a responder, mas algo de estranho viu no olhar do pistoleiro de Roderick, que o deteve. Pressentiu a trágica realidade. Os inimigos sabiam que eles haviam chamado «Big» Bartok. E sabiam qualquer coisa mais. Qualquer coisa que ele mesmo ignorava: pareciam ter a certeza absoluta de que Bartok estava morto. Porquê?
A resposta era intuitiva.
— Bem, vai defender a sua vida ou prefere que lhe cuspa na cara e lhe chame cobarde? — disse-lhe Dudgeon, empertigando-se para o homem subitamente vexado, deprimido. — Estou à esperal...
Gene podia então optar por uma solução cómoda, que era a da humilhação, se continuasse a viver.
No entanto não era desses. Optou pelo pior. Mas, ao mesmo tempo, o seu espírito de lutador inato incitava-o.
---- Vamos nisso, Dudgeon — replicou asperamente, erguendo a fronte de especto feroz, consciente da sua incapacidade. — Gene Morrow não é um cobarde como tu e teus patrões.
Saltou para junto desse homem postado junto do balcão. Velozmente a sua mão pegou no revólver desse tipo e logo se afastou dele para não o prejudicar. Apontou a arma para Dudgeon.
Era porém uma bala perdida antes até de ser disparada, e Morrow sabia bem isso. Dudgeon limitou-se a tirar a sua arma com rapidez vertiginosa, iniciando a façanha segundos depois de Morrow. Mesmo assim, levou vantagem aí dum segundo. Muito mais do que era preciso para o matar com a maior facilidade.
O pai de Felícia ainda estava a erguer a arma que parecia pesar como uma pedra, enquanto o pesado «Colt» de Dudgeon subia com facilidade pasmosa, e era assestado para vomitar a morte no segundo imediato.
Sob a débil luz de petróleo do local, crepitaram as armas. Foram dois tiros simultâneos. Mas a arma de Morrow não se ouvira ainda, quando isto se deu.
O tiro de Dudgeon falhou. Incompreensivelmente, a princípio, a bala foi alta, quebrou um vidro, após o que se ouviu um grito rouco, inumano do capataz do «Doble R».
Atónitos, fitaram-no. Entre eles, o próprio Morrow, que parecia petrificado, incapaz de premir o gatilho agora, que tinha todas as vantagens a seu favor. A mão armada de Dudgeon já não continha a arma. Um revólver caía no pavimento e dos seus dedos jorrava sangue em abundância. Os olhos de Morrow, como o de todos os outros, viraram-se para a porta.
Ali, brilhava um revólver, negro, com incrustações brancas, seguro com firmeza pela mão de um desconhecido, homem alto, fato cinzento, cabelo aloirado.
— Boa noite — saudou ele friamente. -- Passa-se aqui alguma coisa?
Os amigos de Dudgeon disseram-lhe que sim e demonstraram-no de maneira rápida e inesperada. Wilson e Lestrange colocaram-se atrás, moveram a cintura com agilidade, e nas suas experimentadas mãos apareceram, como que por magia, revólveres prontos para entrar em ação.
Todos aguardaram uns segundos que as armas explodissem e a queda mortal do recém-chegado, Sucedeu quase que isso: o estampido das balas. Duas, três detonações rápidas, ensurdeceram os tímpanos e fizeram vibrar os vidros dos copos, garrafas e candeeiros.
Eram porém Wilson e Lestrange os que cambaleavam, por incrível que parecesse. O primeiro disparou duas vezes para o chão. Fê-lo porém, quando já tinha uma bala alojada no ventre e no rosto uma expressão de agonia.
Lestrange, entretanto, recuava como que empurrado por um maciço brutal. Fora a consequência de duas onças de metal ardente que se alojaram no coração, provindas duma arma preta, precisa, infalível.
— Oh, céus! — rugiu Jack entredentes, acocorando-se atrás do seu balcão de vendas. — Este forasteiro matou Wilson e Lestrange, sem lhes dar tempo a que fizessem um só tiro! E desarmou Dudgeon sem lhe destroçar a mão!
Ninguém mais falou. Gene Morrow, admirado como todos os outros, não era capaz de despegar os lábios. O que sucedera em tão poucos segundos parecia incrível. Ninguém nas Tumbas, tinha sido capaz de se defrontar com Dudgeon e companheiros, e muito menos com probabilidades de êxito.
E aquele forasteiro... aquele desconhecido do revólver preto...
— Eu conheço-o! — disse alguém quando os dois corpos caíram para sempre, marcando o fim de Wilson e Lestrange. Um dos presentes ergueu a mão frenética, trémula, apontando o dedo para o desconhecido. Sei quem é esse homem!
— Quem é? — indagou Morrow com voz nervosa.
— Só há um homem no Oeste que tem revólver preto, com ornamentos de osso! Peçam-lhe que o mostre e verão as letras: P. B.!
— Pete Bartok! — gritou Morrow assombrado.
Ken Millard ia a responder, dizendo que não era quem imaginavam, que não se chamava Pete Bartok, que não estava ali para «pacificar» as Tumbas. Que o autêntico Pete Bartok morrera e que ele... ele ia unicamente desvalorizar-lhes o Banco dos Ganadeiros, continuando depois o seu caminho, a sua eterna vida de proscrito.
Mas emudeceu. Não chegou a pronunciar palavra. Apercebeu-se da dificuldade da sua melindrosa situação. Podiam supor que tivesse assassinado Bartok. Podiam ver nele um inimigo, mesmo depois do que há momentos sucedera... e ele tinha de aguardar a chegada de Dinah. Tinha ainda de esperar também o momento propício para esvaziar os cofres do Banco local.
Não. Não podia negar nada. Mas também não iria afirmar nada. Repugnava-lhe usurpar a personalidade alheia e muito mais a personalidade de um morto. De resto, aquela gente parecia confiar muito em Pete Bartok. Lembrou-se do telegrama que lera, o telegrama manchado de sangue. As Tumbas precisavam de Pete Bartok. Não os podia iludir nesse ponto.
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