sábado, 23 de janeiro de 2016

PAS570. Uma vingança implacável

Mal se viu na rua, «Faro» Robinson correu para o estábulo publico, montou num dos cavalos e obrigou-o com as esporas a galopar rapidamente, dirigindo-se com desespero para os Termos.
A ideia do jovem foragido era a de apanhar o oiro que guardava no refúgio e sair precipitadamente para outro Estado. Ali, em Dakota, a vida no futuro ser-lhe-ia impossível.
Já, não se lembrava da bela Eleonor, nem de Martha, nem do homem da cara de furão, o ultimo que havia caído as mãos da Lei. Um grande pânico espicaçava-o e só desejava pôr a maior quantidade possível de terreno entre ele e Rapid City.
Chegado ao refúgio, começou a disparar contra as aves de rapina que enchiam as galerias; mas quando conseguiu chegar ao sítio onde havia escondido todo o produto das inúmeras pilhagens, carregar com ele e sair de novo para o exterior descobriu, aos primeiros alvores do dia, um cavaleiro que, decidido, avançava na sua direção. Semicerrou as pupilas amareladas, langou uma maldição ao reconhecer Tony Mitchell no cavaleiro, empunhou os revólveres quase maquinalmente e meteu-se numa das cavernas para esperar o seu inimigo e disparar sobre ele à traição.
Grande foi a satisfação de Tony Mitchell ao descobrir um cavalo selado ao pé da enorme mole granítica que formava o sope dos Termos. Ato contínuo, adivinhou que se tratava da montada usada pelo assassino de «Pecos» Burt e lamentou não haver trazido a sua «Winchester». Mas nem por isso se sentiu desanimado.
Apeou-se de um salto, deu uma palmada no flanco do seu cavalo para que pastasse a vontade, certo de que não fugiria, e meteu pelo ingreme trilho que conduzia ao cume e que não se encontraria agora sob a vigilância de qualquer sentinela. Se «Faro» Robinson o aguardasse no fim do trilho o encontro acabaria por se dar mais cedo do que calculava. E desta feita com a morte de um ou de outro...
Demorou vários minutos a chegar. Caminhou passo a passo, com o olhar fixo nas dobras do terreno e o ouvido alerta. Na mão direita, o revólver, de um preto azulado, estava pronto a cuspir chumbo ao menor sinal de perigo.
A entrada para as cavernas encontrava-se deserta. Apesar de isso, Tony Mitchell intuiu que ali dentro, no húmido labirinto, o espreitava a morte.
Não se sentiu atemorizado. Havia-a visto tantas vezes cara a cara, que já não a temia. Avançou diretamente para lá. De súbito, um disparo iluminou de modo fugaz o corredor da esquerda.
A bala mordeu raivosamente a jaqueta de pele do jovem caçador e levou com ela uma das franjas, que esmagou contra um penhasco.
Tony Mitchel esboçou um sorriso triste. Ali estava o assassino de Burt! Uns passos mais, poucos, e o momento decisivo teria chegado.
— Sai dai, cobarde! — vociferou o jovem caçador. Aparece e luta frente a frente, como os homens!
O silêncio foi a resposta.
Tony Mitchell ignorava que o foragido se encontrava dominado por um pânico enorme e que se havia disparado o primeiro tiro fora precisamente por causa do nervosismo que o invadia. Não era a mesma coisa lutar sozinho contra um homem e assaltar com as costas bem protegidas pobres caravaneiros mais habituados ao arado do que a carabina.
Tony Mitchell avançou e entrou um par de metros na caverna. O seu gesto era simultaneamente de desafio e de desespero. Soou outro tiro e dessa vez, ao resplendor do fogacho, Ode distinguir «Faro» Robinson.
Levantou o braço armado e apertou o gatilho. Um grito de dor foi a confirmação de que a bala de Tony Mitchell não se havia perdido. Mas, por sua vez, sentiu um ardor agudo no peito.
Apesar de tudo, o caçador continuou a avançar para o seu inimigo. Este, de joelhos, com uma mão sobre o ventre, disparou uma vez mais sobre Mitchell. Tony sentiu a mordedura da bala num ombro e apertou os dentes para não gritar. Depois, de repente, lançou-se ferozmente sobre o assassino.
Com um esforço sobre-humano agarrou o bandido pelos sovacos e levantou-o ate o endireitar contra a parede rochosa. A dor, a ira e o desejo de desforra cegaram--no. Começou a desferir murros e pontapés no corpo do miserável e derrubou-o. Agarrou-o então pelo colarinho da camisa e arrastou-o para o exterior, tropeçando a perda de sangue.
Já no exterior, os raios do sol deram em cheio nas amareladas pupilas de «Faro» Robinson, mas as pálpebras deste não se moveram. Tony Mitchell deu-se conta de que tinha a seus pés um cadáver.
O tempo que Tony levou a descer o ingreme e ziguezagueante trilho, quase a arrastar-se para não rolar pela encosta abaixo, nunca o soube. Nem tão-pouco soube o tremendo esforço que teve de realizar ate chegar ao cavalo e poder colocar-se na sela do cavalo.
 
*
 
Tony Mitchell abriu os olhos lentamente e descobriu, entre brumas, um rosto quase colado ao seu que fazia esforços para lhe sorrir. Notou a seguir que, das pupilas que o fitavam, se desprendiam mansas e silenciosas Iágrimas. Por detrás desta figura conseguiu divisar um rosto moreno e triste, rodeado de um penacho de vistosas penas de aguia.
Ouviu também uma voz conhecida que pronunciava o seu nome.
— Tony! Oh, Tony!
Então, conseguiu distinguir melhor a rapariga. Era Minetake. Atras dela, os olhos de «Urso Prateado» olhavam-no anelantes, afetuosos...
— Como to sentes, Mitchell? — perguntou-lhe com doçura Minetake.
— Bern, bastante bem... Obrigado.
Mitchell recebeu a visita de Eleonor e de Maloney, e por eles soube que havia estado oito dias entre a vida e a morte. Minetake completou o relato, fazendo-lhe saber que o seu cavalo o havia levado para o pequeno acampamento índio, onde, graças a decisão e a destreza de «Alce Corredor» puderam extrair-lhe os dois projéteis e saIvar-lhe a vida.
Dias mais tarde, Tony Mitchell pôde abandonar a tenda do chefe índio, pelo braço de Minetake e passear pelos arredores do acampamento. Recuperava rapidamente as forças e «Urso Prateado» e «Alce Corredor» desfaziam-se em atenções para com ele.
Já completamente restabelecido Tony Mitchell, os dois pares casaram-se numa esplendorosa manhã, levando como escolta de honra seis robustos guerreiros «comanches».
Richard Maloney, que gozava uma bem merecida licença, partiu com Eleonor O'Brien em viagem de núpcias.
Minetake, mais romântica, rogou a seu marido que passassem a lua-de-mel na cabana que o «rural» lhes oferecera.

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