quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

PAS559. Um homem e uma mulher combinam reencontro em Las Tumbas

— Assim, não iremos longe, Dinah.
— Porque não? Já fizemos muito, Ken. Fugiste da prisão, iludimos os teus perseguidores. Há horas que cavalgamos e não vemos o mais leve rasto deles. Já passámos a divisória do Condado. Que mais podes querer? Aonde quererás tu chegar?
Millard não respondeu logo. Sentado em pedras junto do riacho rumoroso, orlado de canaviais e juncos, atrás dos quais eles se protegiam de qualquer pessoa que andasse pelas cercanias, começou a mover a terra com a ponta da sua pesada bota e franziu o sobreolho.
Depois, ergueu os olhos, claros e duros, para ela, dizendo pausadamente:
— Isto ainda é o princípio, Dinah. Eu peço mais alguma coisa. Não quero gozar de liberdade três dias e voltar para aquela prisão por dez anos, pendurado numa árvore, em qualquer lugarejo onde eu venha a ser reconhecido, depois de decidirem fazer justiça por suas próprias mãos.
— Mas quem te vai reconhecer? Estamos noutro Condado. Nunca estiveste aqui...
— Esqueces-te disto? — e apontou para o seu fardamento. — É bem inconfundível este uniforme. Vê-se a um quilómetro o que eu sou, e porque o envergo. Tenho que me desfazer destas roupas.
— Alguma coisa se há-de encontrar, Ken. Isso não tem muita importância. Coisas mais difíceis se nos têm deparado.
— Mas, ainda há mais, Dinah. Não temos dinheiro, Nem um centavo. Disseste que gastaste tudo para obter os cavalos e as armas com que me ajudaste.
— E é certo, Ken. Não tinha muito.
— Eu sei, pequena — estendeu a sua forte mão e acariciou a face da rapariga. Sei quanto fizeste por mim. Por isso seria bem mais dolorosa uma separação.
— Separação? — Ela abriu muito os olhos. — Não, Ken!
— Escuta. Refiro-me a uma separação momentânea.
--- Não me quero separar de ti, Ken. Não podes prescindir de mim, agora!
— Quem fala nisso? Ouve, Dinah: há um invento chamado telégrafo, que corre muito mais que tu, eu ou os nossos perseguidores. Os fios levam as notícias longe e agora, em muitos lugares sabem já que um fugitivo da Prisão Territorial anda por esse mundo acompanhado por uma mulher, cúmplice da sua fuga. Sobre o primeiro homem que vejam acompanhado por uma mulher aqui, prendê-lo-ão sem vacilar ou então dispararão sobre ele. Mesmo depois de mudar de roupa e mesmo que nos transportemos sobre elefantes em vez de cavalos... continuamos sendo um homem e uma mulher. Separados, passaremos a ser um homem entre tantos e tu uma mulher entre tantas outras iguais a ti.
Dinah não respondeu. Ken tirou da sacola de Dinah um papel dobrado. Desdobrou-o. Era um bom mapa do Texas, Estendeu-o no chão e o seu indicador percorreu o mapa até ao ângulo inferior esquerdo, onde o fixou.
— Aqui é o Condado de Sutton, que acabamos de deixar. Agora estamos aqui, no Condado de Valverde. Este riacho vai ter a Devils River, afluente do rio Grande... — e o seu dedo seguiu uma rectal descendente até à fronteira do México. Suponha-mos que eu empreendo este caminho. Prender-me-ão em seguida, porque é o que creem que vou fazer. Se eu for por aqui, tenho mais probabilidades de escapar-lhes.
O seu indicador deslizava agora para o Oeste, no decurso do rio Pecos. Com a outra mão, traçou uma segunda linha imaginária para o Sul. De súbito, ao mover ambos os dedos, confluíram num ponto.
Ken parou, aproximando os dedos do lugar onde os dedos se juntaram.
— Seguindo tu essa outra trajetória Dinah, encontras-te comigo num sítio — disse lentamente. Ergueu os olhos pensativos para ela. — Estás a perceber?
— Sim. — Ela inclinou-se para ver o lugar e estremeceu. - As Tumbas?
— Isso mesmo. As Tumbas. Condado de Valverde, entre Pecos e Devils. Bom local.
— Não me agrada o nome,
— Não é otimista — riu-se Ken, entredentes. Mas, por aqui, as gentes batizam de forma estranha as povoações. Dizem ser coisas dos espanhóis que para aqui vieram há muitos anos. Para mim é indiferente que um local se chame isto ou aquilo.
— E quando nos encontraremos lá?
— Não sei. Depende da rapidez com que viajarmos, dos obstáculos com que depararmos. Quando lá chegares é provável que eu já lá esteja e até com dinheiro para ir para o México e para lá viver.
— Ken, onde vais arranjar tu dinheiro? — inquietou-se ela.
— Não aprendi muitas maneiras de o ganhar — sorriu Ken. — Podes pois calcular como.
— Por favor, Ken, tem cuidado — e pôs uma mão no seu ombro. — Não vou contra o facto de te apoderares do que é do alheio. Eu não sou de preconceitos, nem uma puritana. Mas tenho medo por ti. Nestes sítios, as pessoas que se sentem roubadas, não têm pejo em julgar o ladrão. O revólver ou o punhal ditam uma sentença rápida.
— Bem sei isso, pequena. Não me ensinas o que é a vida ou a morte nesta terra. Texas é sempre igual quer num condado quer noutro, seja no Sul, Norte, Este ou Oeste.
— Estou a ver que tens razão em querer que nos separemos. Reencontramo-nos nas Tumbas, se achares bem. Mas tem cuidado, não te descuides... e procede só quando vires que não há qualquer perigo.
— Está descansada. — Dobrou o mapa que repôs na bolsa da sela. Depois estendeu os musculosos braços e atraiu para si com rapidez a Dinah Cole. — Agora querida..., digamos adeus.
— Adeus, nunca, Ken... — estremeceu ela. -- Somente, «até breve»...
— Até breve — sorriu Ken, beijando-a nos lábios.
Ela abraçou-se a ele, devolvendo-lhe o beijo.
 

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