sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

PAS562. O pacificador desmascarado parte em busca do assassino

Tudo se havia perdido. Num só instante o castelo de cartas desmoronava-se. Tinha de acontecer mais dia menos dia. E acontecera precisamente agora, na sua noite decisiva, quando Ken Millard conseguiu vencer a tentação e iniciar o caminho da sua reabilitação...
Subitamente, a sua mão direita apareceu armada do temível «Colt» negro. No silêncio da cela a arma produziu um ruído estranho ao cair.
— Abram caminho! — rugiu Ken Millard. — Abram caminho, senhores, ou disparo sem piedade!
— Bartok! — Exclamou Morrow, atónito, olhando-o com deceção.
— Não sou Bartok, já o ouviram! Sou Ken Millard, um fugitivo da Lei, um desertor do presídio onde cumpria pena por ter vivido sem honra nem dignidade! Agora quando dominei o meu instinto, quando começava a ser decente é quando ninguém me acredita e me atiram de novo para o cárcere! Pois seja, já que assim o querem! Ken Millard, devolve--lhes a sua estrela de comissário de opereta! -- E arrancando-a do peito com violência, atirou-a ao chão. — Dêem-me passagem ou abri-la-ei a tiro!
— Deitar-lhe-emos a mão, Millard, vá para onde for — silabou Morrow muito pálido. — Vigarizou--nos a todos. Ainda não compreendo como me pude enganar. Mas não nos escapará.
— Quando isso se der, Morrow, já eu terei apanhado o Shentall, o assassino. E os seus filhos, Roderick. — Olhou para o velho Abbe de tal maneira, que este retrocedeu, assustado. — Então, será o meu «Colt» que ditará a sentença! Vamos, abram caminho!
Puseram-se todos a um lado. Um rapazito tentou empunhar o seu próprio revólver. Ken disparou, fazendo voar-lhe a arma dos dedos sem o ferir. Um terror intenso apoderou-se de todos. O preso riu entre dentes, mofando da situação.
— Tenham cuidado amigos avisou brincando. -- Ken Millard é qualquer coisa de sério com uma arma na mão! E reparem que falo por experiência própria...
Não encontrou obstáculos até à porta. Dinah Cole esperava-o ali, trémula.
— Ken, conseguiste! — Exclamou cheia de júbilo. Voltas a ser aquele que eu amo, aquele que eu admiro!...
— Não, Dinah — replicou enérgico o jovem. — Não sou o que tu conheceste! Não fiz nada, mas esta gente empenha-se atirar sobre mim toda a responsabilidade, talvez merecidamente! Mas não roubei esse dinheiro. Nem o teria roubado. Nem teria fugido Dinah senão tivessem descoberto tudo. Estou farto da vida que levava... e tudo se apraz para que eu volte à mesma.
— Ken... Não podes pensar assim... — Mas penso! Vamos, segue-me! Temos de sair das Tumbas quanto antes...
Deitou a correr. Dinah com ele. Ken chegou ao escritório, atravessou-o rapidamente e saiu para a rua. Os que estacionavam no passeio, olharam-no, sem suspeitar de nada. Ken vacilou. Selar um cavalo, nesta altura, era uma demora prejudicial.
Mas, de súbito...
— Tome! monte neste que está aparelhado! Corra, antes que o alcancem!
Apesar dos estranhos acontecimentos ocorridos naquela noite, nada tão incrível se dera como isto. Ken, estupefacto, contemplou Felícia Morrow que se acercou dele com um cavalo arreiado, pronto a ser montado.
— Menina Morrow! — exclamou — faz isto por mim?...
— Não perca tempo! — gritou ela. -- Não demorarão em persegui-lo. Fuja, Bartok ou como quer que se chame. E fique sabendo que eu, pelo menos, confio em si! Acredito que esteja inocente, e que disse a verdade. Sorte, meu amigo!
Ken montou o cavalo, sem perceber bem o que se passava. Olhava para Felícia, atónito. Pegou em Dinah, pô-la no cavalo, embora ela parecesse contrariada, olhando com olhas penetrantes para Felícia.
A jovem filha de Morrow sorriu-lhe, em desafio, e agitou a mão para Ken. 
— Adeus! Se não nos voltarmos a ver... lembre-se de que uma mulher o ajudou a fugir das Tumbas por ter confiança em si... e porque o ama, comissário!
Ken esporeou a montada. Os homens saíram do escritório à frente de um Gene Morrow lívido, passado. A sua indiferença e pasmo foram enormes ao ver-se diante da serena e sorridente Felícia que se interpunha entre eles e o caminho seguido por Ken, impedindo-os de disparar.
— Felícia, afasta-te! — pediu Morrow. Ele vai a fugir! 
— Foge sim, e num cavalo que eu própria lhe aparelhei, pai.
— Tu própria? — o seu assombro foi sem limites, — Felícia!
— Pode ser um fugitivo, mas ao ouvi-lo, acreditei que só dizia a verdade. Nunca gostei do Shentall. Tenho a certeza de que é ele o culpado e não Bartok.
— Não se chama Bartok. É Ken Millard, um homem à margem da lei.
— Ken Millard é um bonito nome — sorriu ela. — Sim, pai. Creio que Millard foi sincero pela pri-meira vez na sua vida. Deve ter-se modificado desde que chegou às Tumbas. Penso até que regressará para vos mostrar quão ruins e vis sois todos...
Afastou-se, altiva. O pai olhou para ela, desalentado.
Os outros homens, sem perda de tempo, começaram a agrupar-se, a arreiar os cavalos, para se lançarem em perseguição do fugitivo, que já se havia perdido de vista, nas sombras da noite.

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