quarta-feira, 9 de abril de 2014

PAS282. De como a formosa bailarina pôs três meliantes em sentido


Mildred contemplava, em silêncio, a chama da fogueira que ardia na noite.
Bastante separada dos restantes, permanecia em silêncio, olhando obcecada para o lume onde se preparava uma ceia simples.
O seu aspeto mudara completamente. Mas a beleza não diminuía com as roupas de homem.
Vestia uma camisa de quadrados, com as mangas arregaçadas, o que mostrava os braços bem torneados. Tinha umas calças dobradas sobre as botas de montar.
Percebia que os homens a fixavam com interesse e que falavam entre eles, maravilhados e subjugados com a sua beleza.
Sentia-se aborrecida e inquieta. Embora dispusesse de um cavalo e viajasse bem separada dos outros, não tinha outro remédio senão compartilhar a expedição com aqueles estranhos companheiros.
Havia muitas coisas que justificavam a sua inquietação e preocupação. Se não fosse a ideia de se reunir co  Digby, nunca se decidiria a acompanhar os três cavaleiros.
A morte dos dois homens tinha-a horrorizado, embora pos odiasse por terem prendido Digby Owens. No entanto, excluira sempre a hipótese de um assassínio.
John Bentley aproximou-se dela e sentou-se a seu lado. Sorria:
- Que tens? Estás muito calada…
Mildred encolheu os ombros.
- Tenho pouco que dizer… Mas gostaria de saber onde está Digby.
- No norte…. Nos campos de minas – respondeu John sem a olhar. – Está lá À nossa espera…
A rapariga excitou-se.
- Então, partamos quanto antes!
John fazia um cigarro, com grande lentidão. Depois de o acender, respondeu:
- Os cavalos estão cansados e não há motivo para pressas. Ninguém nos perseguirá.
A rapariga mostrou-se surpreendida.
- Porque dizes isso?
- Liquidámos os dois polícias da cidade. Até que nomeiem outro, passará muito tempo. Ninguém entretanto quererá vir atrás de nós.
Ela moveu a cabeça.
- Esquece-se de Clay Pearson? Ele estava quase a regressar a Abigania…
Bentley pareceu regozijar-se.
- Clay Pearson? Então estamos salvos. Não poderão preocupar-se connosco. Imenso trabalho vão ter, ao procurarem defender-se desse selvagem.
A rapariga olhava-o, sem compreender. Bentley, sem conter a hilariedade, chamou os dois companheiros:
- Rapazes… Podemos estar tranquilos… Ninguém, por agora, nos virá perseguir.
- Que aconteceu? – quis saber Parker.
- Acontece que Clay Pearson está em Abigania… ou melhor… deve chegar dum momento para o outro.
Parker começou a rir, descarregando palmadas no ombro dos companheiros.
- É uma magnífica notícia! A única preocupação deles será salvar a pele.
Mildred estava estupefata com os risos e a alegria dos companheiros.
Por fim conseguiu pronunciar.
- Mas… não sabem?
Os outros calaram-se de repente. Bentley franziu a testa.
- O quê?
Mildred sorriu, com ironia.
- Claro… não podiam saber. Tudo aconteceu enquanto estavam presos.
Fez uma pausa e continuou:
- Conhecem Clay Pearson como um foragido, um fora da lei. Mas ele já não é um proscrito.
Os três bandidos olharam-se entre si. Um deles indagou:
- Que queres dizer com isso?
Mildred continuou, explicando pausadamente:
- Clay Pearson já não é um fora da Lei. Cometeu alguns desmandos nos arredores de Abigania e o xerife Thomas prendeu-o.
Todos estavam suspensos das palavras da rapariga.
- Então Thomas e Calamy, que vocês mataram, pediram ao juiz que lhes entregasse o rapaz e regeneraram-no. Presentemente já não é um inimigo da Lei.
Os três homens abriam a boca, assombrados.
- Agora, pelo contrário, defende a Lei com os seus revólveres… É o ajudante de xerife.
Os outros ficaram mudos de assombro.
John exclamou, pálido:
- Porque não nos disseste isso mais cedo?
A rapariga voltou a encolher os ombros.
- Julguei que já sabiam.
Fergus não queria acreditar.
- Mas porque não apareceu na noite do ataque?
- Saíra em perseguição dum pistoleiro. Mas não tardará a voltar…
Dusty enervou-se. Havia quase terror na sua voz.
- Fujamos, quanto antes! Clay é capaz de vir na nossa pista.
Mildred observava as reações dos companheiros, com surpresa. Não sabia em que acreditar.
- Como é possível que receiem tanto um homem?
Fez um esgar de desprezo.
- Converteu-se num polícia. Prefere viver tranquilo com umas moedas que lhe paga a Câmara que procurar conquistar o Oeste com a voz do revólver.
Correu-os com um olhar irónico.
- Como podem ter receio?
Parker mordeu os lábios. Depois falou com raiva:
- Muito poucos homens são capazes de enfrentar Pearson. Ele não tem medo de nada. Não lhe importa morrer.
Os outros moviam a cabeça num cadenciado abanar afirmativo.
- Foi sempre leal com os amigos e nunca perdoa aos inimigos. Se tinha alguma dívida de gratidão para com Thomas e Calamy não descansará enquanto não nos encontrar.
Dusty confirmou.
- Quererá pendurar-nos numa árvore…
(Coleção Búfalo, nº 67)

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