sábado, 19 de abril de 2014

PAS292. Um perfume de Paris para o «cow-boy»

As reses caminhavam morosamente, levantando nuvens de pó quando as patas encontravam terra ressequida.
Os mugidos, o entrechocar dos cornos e o cheiro que flutuava na atmosfera marcavam a passagem da carne movediça para Noroeste.
Um jovem de uns vinte e cinco anos, de rosto simpático e de olhar impregnado de vivacidade, acercou-se de João.
- Novo, hem? – comentou em voz alta.
Era preciso gritar para que as palavras não se perdessem entre os ruídos produzidos pelo grande rebanho.
- Chamo-me Frank Winters – continuou. – Já sei que és Fleming. A senhorinha Appleton falou-me de ti, após a questão com o bando de Palmer…
- Muito prazer em conhecer-te, Frank…
- É bonito, não é? – ponderou o jovem, abarcando com a mão as reses que se estendiam pela planície.
- É qualquer coisa de impressionante! – exclamou João.
- Nas cidades não sabem o que é isto. Não compreendem que um homem possa dedicar a sua vida a cuidar de gado. Mas eu não me troco por nenhum desses peralvilhos que se perfumam antes de ir para a rua. Sabes o que me sucedeu uma vez?
- Que foi?
- Liquidámos um rebanho em Wichita. Pagaram-nos os salários e o prémio e lembrei-me de comprar um fato novo e um frasco desses que se dizem de Paris. Despejei meio frasco no corpo e entrei num local de diversões. Armou-se um grande sarilho. As mukheres julgaram que eu vinha de Boston e que estava forrado de notas. Abandonaram os pares e fugiram para o pé de mim, como se elas fossem moscas e eu um favo de mel. Tudo iria bem se os rapazes se conformassem. Mas não sucedeu assim. Combinaram dar-me uma ensinadela. Quatro deles agarraram-me e levaram-me em bolandas para um estábulo. E sabes que me fizeram? Atiraram-me para o lugar mais sujo e deram-me voltas como se fosse um cilindro. Quando saí de lá, ninguém podia estar ao pé de mim e toda a gente fugia como se eu tivesse escarlatina…
(Coleção Búfalo, nº 12)

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