Por entre os vidros da janela, Elisa Rawson viu aproximar-se um cavaleiro. Depois de o reconhecer, deu um toque nos cabelos e desceu a escada que levava ao vestíbulo. Embora os seus olhos estivessem circundados por traços ligeiramente violáceos e o rosto apresentasse sinais de fadiga, aquela mulher continuava extraordinariamente bela, pois toda a sua beleza quase era constituída pela majestade do seu porte.
- Sê bem-vindo, Dan! – saudou-o com um sorriso cordial. – Já principiava a duvidar qua ainda conhecesses o caminho para esta casa.
- Tenho andado muito atarefado e, por essa razão, foi-me totalmente impossível procurar-te há mais tempo. No entanto, não quis deixar que o tempo passasse sem que eu tivesse o prazer de te ver.
Dan Karpis apertou suavemente as mãos que a mulher lhe estendia.
- Continuas simplesmente deliciosa, Elisa…
- És muito amável, Dan.
- Como se encontra James?
- Felizmente, bem. Foi dar um passeio. Adivinhei que virias hoje e quis esperar-te… sozinha.
Entraram em casa com as mãos apertadas. Dan sentia-se feliz, por ela lhe ter permitido que continuasse a segurar-lhe as mãos.
- Não sabes quanto agradeço a tua visita, Dan… Têm acontecido certas coisas que me despedaçam os nervos… O desaparecimento de Eva… todas essas mortes absurdas e a deserção de toda a minha equipa de trabalhadores. O gado já não sai para o pasto há quase uma semana.
- Isso não pode ser… Quando regressar a casa, mandar-te-ei alguns homens do meu rancho para te fazerem o serviço até que recrutes mais pessoal.
- És muito amável, Dan… Algum dia, espero, te devolverei todos estes favores…
- Para isso, não tens mais que pronunciar uma palavra. Com ela ficarei suficientemente recompensado… Diz-me, Elisa, queres casar comigo? Não para o mês que vem, nem daqui a uma semana, mas hoje, agora mesmo. Cada dia que passa sinto que te amo mais e receio, de um momento para o outro, comportar-me ridiculamente… Que me respondes, Elisa?
A mulher sorriu como só ela o sabia fazer… tornou mais forte a pressão sobre a mão dele que apertava entre as suas. A verdade é que Elisa Rawson amava aquele homem e não o tinha desposado pelo simples facto de o filho não querer que ela voltasse a casar, pelo menos, enquanto a sua situação com Eva não estivesse devidamente concretizada.
- Que queres que te diga, se, na verdade, é isso mesmo que eu desejo. Claro que James…
- James é um homem para ter necessidade de andar atrás da mãe.
- Estamos agora metidos num pequeno problema, mas, quanto tudo estiver arrumado,…
- Poderemos casar?
- Sim… Eu já não sou jovem e sinto que te amo… quase desesperadamente.
- É assim que pessoas da nossa idade amam, a menos que não sejamos demasiado idosos.
Elisa estendeu o rosto, num desejo evidente de ser beijada. Os seus lábios, húmidos de prazer, entreabriram-se na sua direção. Dan Karpis não pôde furtar-se ao desejo de a beijar. E a sua boca colou-se àquela que se lhe oferecia com tal descaramento.
Durante vários instantes, estiveram assim, estreitamente unidos e sem desejos de se separarem, até que um sexto sentido os avisou de uma presença estranha. Ergueram a cabeça e viram, sob o umbral da porta, que haviam deixado aberta, a enorme figura de Manuel «Cuco» Olivares.
O mexicano não lhes permitiu reagir. Empunhou velozmente o revólver e descarregou sobre eles todo o conteúdo do tambor. Elisa Rawson e Dan Karpis não tiveram tempo de fazer o mais ligeiro movimento defensivo. Ainda abraçados, ainda com o sabor do seu primeiro e último beijo de amor, caíram no solo mortos.
Então, «Cuco», sem se poder conter, avanço para eles e cuspiu-lhes em cima.
- Porca! – exclamou. – Desavergonhada!
(Coleção Búfalo, nº 70)
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