domingo, 20 de abril de 2014

PAS293. A vida sacrificada dos filhos da planície

A Lua escondia-se atrás das nuvens, deixando às trevas o senhorio da Terra.
O gado dormia imerso em silêncio.
Enrolou um cigarro e, enquanto fumava, entreteve-se a recordar os acontecimentos desde que Teresa Jurado lhe surgira na sua vida. Até então, a sorte estivera do seu lado. A pista da harmónica levara-o, inexoravelmente, até aos homens que, de uma forma ou de outra, a tinham possuído. Aquela cadeia tinha um fim e perguntava a si mesmo se já estaria ante o último elo ou se teria de continuar ainda à procura dele. Inclinava-se para a primeira hipótese, visto que se devia ter em conta o factor tempo e, partindo do princípio de que os assassínios se cometeram um ano antes, era muito improvável que a harmónica houvesse saído das mãos do homem que a roubara.
Um ruído de passos interrompeu as suas cogitações.
- Quem vem lá? – perguntou, levando a mão ao «Colt».
- Sou eu, senhor Fleming.
Era a voz de Lyn Appleton, que continuou a andar até que o seu rosto foi visível à pálida luz da lua, coada nesse momento através de uma nuvem que se afastava.
- Julgava-a já deitada. Hoje cavalgámos muito.
- E amanhã a jornada também será dura, por causa do acidentado do terreno. Mas não tenho sono…
- Tem de acostumar-se a dormir quando o pode fazer. O pior ainda não chegou.
- Parece um autêntico «cow-boy»! – e Lyn riu-se.
- Falo apenas pelas referências que tenho.
Lyn mirou-o na face e depois desviou os olhos para o horizonte escuro. Uma brisa ligeira agitou-lhe os cabelos.
- Como isto é maravilhoso! – murmurou.
- Sim. É.
- O senhor talvez não compreenda isto… Não nasceu nesta terra…
- Mas entra nos meus cálculos vir um dia viver apra aqui…
- E os seus filhos pertencerão à planície?
Fleming pigarreou e disse:
- Não havia ainda pensado nisso.
Ela fitou-o novamente e replicou:
- Estou certa de que será um bom marido.
O «detetive» bendisse que a obscuridade da noite impedisse de ver o seu embaraço.
- Então, pensa em regressar connosco? – perguntou Lyn.
- Não é isso precisamente. Economizei algum dinheiro e estou disposto a aplica-lo na aquisição de um rancho.
- Oh! Um competidor!
- Há lugar para todos. O Texas é grande.
- Falou-lhe, por acaso, o meu pai em vender o nosso rancho?
- Não me disse uma só palavra acerca de tal intenção. Mas pensa vendê-lo?
- Como caiu enfermo, diz que não será bom negócio agora para nós continuar na criação de gado. Crê que para isso se torna necessária a mão forte de um homem.
- É possível que tenha razão. Lyn não pode andar sempre a correr de um lado para o outro, vigiando o trabalho dos vaqueiros.
- Não posso? Porquê?
- Ora, porque… Ao fim e ao cabo, é uma mulher!
- E o senhor entende, como meu pai, que a mulher deve dedicar-se a varrer a casa, fazer a comida, cozer a roupa…
- Eu não dizia tanto, mas há coisas que são mais próprias dos homens.
A voz de Lyn subira de Tom. Era fácil perceber nela certa hostilidade.
- Muito bem, senhor Fleming. Aconselhe-me, pois, o que devo fazer. Meu pai fundou o rancho pensando em que um dia ou outro eu seria sua herdeira. Agora, quando adoeceu, os seus sonhos foram por água abaixo. Devemos vender, não é? Ou será mais sensato que me case com Nathan Goldstein?
- Goldstein? – repetiu Fleming.
(Coleção Búfalo, nº 12)

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