sábado, 3 de julho de 2021

BIS088.01 Como resistir ao famigerado bandido

Ninguém sabia dizer exatamente de onde procedia aquele homem nem quando tinha chegado. Para todos os habitantes das extensas regiões de Dayton, Rawhide e Flawthorne, a presença de Buck Wells era um mistério. Ninguém o viu chegar seguindo uma caravana de imigrantes, nem sequer como simples mineiro ou pesquisador de oiro ou ainda como um pistoleiro vulgar dos muitos existentes no extenso território dos desertos.

Foi de um dia para o outro que Buck Wells adquiriu o apodo de «assassino de Nevada». Em Dayton conheciam-no muito melhor que em qualquer outro ponto da região, porque em Dayton costumava ele deter-se mais frequentemente e à frente dos seus homens, quadrilha de salteadores, de díscolos com tão pouca consciência como o rufião que os comandava, tão ansiosos como Buck Wells de fazer fortuna rápida e unicamente à custa do sofrimento dos seus semelhantes.

Buck não se detinha perante coisa alguma. Para ele, para os seus sequazes, não havia obstáculo que lhes tolhesse o passo. E assim, de uma maneira objetiva, os fazendeiros compreenderam quanto era difícil criar gado nas suas pastagens, para que depois Wells lho levasse com a maior facilidade.

Eles careciam da força moral suficiente para se unirem, para enfrentarem em massa aquele diabólico sujeito. E como essa união não existisse, muitos deles optaram por partir em busca de outro local mais afastado, onde tivessem a tranquilidade de espírito necessária para trabalhar e prosperar.

Quem tinha contemplado de perto o pistoleiro assegurava que Buck não passava ainda dos quarenta anos, que era forte e musculoso, e que a sua estatura era gigantesca. Trazia dois revólveres à cintura e vestia o colete habitual do vaqueiro. Um «Stetson» empoeirado e malcuidado completava a sua indumentária.

Uma semana depois da sua aparição, o xerife Duncan pediu a demissão do seu cargo, em Dayton, cargo que ninguém se atreveu a ocupar. Desde então, tudo foram dissabores para a população. Voltaram as antigas lutas nas ruas, os tumultos nas tabernas, a morte dos homens que não tinham esse dom privilegiado de «atirar» numa fração de segundo. Os de Rawhide e de Hawthorne nem apresentaram a demissão por vergonha; partiram sem deixar rastro. Eram cobardes? Receavam enfrentar Buck e os seus sequazes? Simplesmente estimavam a vida, sujeita, debaixo do emblema de uma estrela de comando, a desaparecer por causa das balas daquela sinistra personagem.

Em Dayton aumentou o número das casas de jogo e das tabernas. Diminuiu a população honrada, receosa das represálias de Wells e da sua quadrilha, mas, em contrapartida, aumentou com a chegada de pistoleiros, ladrões e jogadores de batota. Até os vaqueiros de passagem ficavam por largo tempo esperando, talvez, ver em que ficavam as coisas.

Mas nem todos os criadores de gado partiram. Havia ainda daqueles, homens de alto a baixo, enérgicos, antigos combatentes das lutas contra os índios, e importantes esteios da colonização do país, que não recuaram no seu empenho de defender a terra que lhes pertencia.

De todos eles, em número bastante escasso, Clark McCoy era o símbolo desta resistência. O seu grupo de vaqueiros tinha ido diminuindo gradualmente, sob o receio das ameaças constantes daqueles indesejáveis. Tinha a seu lado o velho capataz Bradley e a filha, Nancy, uma rapariga que não se poupava a animar o criador de gado, incutindo-lhe a ideia de resistir até à morte e não. se render jamais aos seus inimigos. No entanto, esta resistência heroica não impedia que Wells e os seus homens liquidassem metodicamente o gado do valoroso McCoy.

Diversas cabeças de gado tinham atravessado as montanhas sem que ninguém impedisse o roubo descarado, sem que urna pessoa com valor suficiente ousasse enfrentá-los. Mas, ainda mesmo que todo o seu gado desaparecesse do vale, McCoy não abandonaria a terra. Enquanto permanecesse apegado a ela, o rancho seria seu e, quem sabe, talvez os tempos mudassem e aqueles assassinos fossem expulsos da região. Era esta a sua crença e a ela permaneceu aferrado mesmo que, com o decurso do tempo, a sua grande esperança fosse esfriando.

Bradley não se atrevia a tomar decisões por sua conta. Estava ao lado do velho McCoy desde o tempo em que ambos tinham chegado àquelas paragens e haviam enfrentado os índios para as colonizarem. Era tão valente como poderia sê-lo o seu patrão e camarada, mas os anos não passavam em vão.

Assim, os dois homens e uma mulher resistiam heroicamente aos bandidos, do mesmo. modo que outros fazendeiros tão desafortunados como eles. Quando a oportunidade se apresentava, McCoy não encolhia a língua para se calar. Dizia o pior possível daqueles foragidos, desafiava-os publicamente. Chamava cobardes a quantos homens, jovens, valentes noutra época, voltavam as costas e se perdiam pelos caminhos em busca de territórios mais longínquos, deixando o campo livre aos bandidos.

Um dia, como consequência de tudo isto, Bradley encontrou morto o seu velho camarada. Tinham-no atravessado com uma bala de espingarda no caminho, e isto complicou demasiado as coisas. Bradley esperava que a filha de McCoy iniciasse a retirada. Mas encontrou pela frente uma resolução firme e inabalável de continuar a defender o que seu pai lhe deixava. E Bradley não teve coragem para a abandonar.

—O meu pai — costumava dizer a jovem — morreu em defesa do que era seu. Conhecíamos demasiadamente a firmeza, o seu valor indómito e o amor à liberdade. Não queria impor-se a ninguém, mas não admitia que os outros se lhe impusessem à má fé. O meu dever é continuar aqui, deixar-me estar neste rancho, até que algum dia ocorra o milagre que faça desaparecer os bandidos da mesma forma por que chegaram.

—O teu pai — respondia Bradley — disse-me muitas vezes que ainda tinha família em qualquer parte. Falou-me repetidas vezes de um tal Bob McCoy a quem pensava chamar para seu lado.

—Bob é meu primo e eu tirei-lhe da cabeça que fizesse isso.

—Não vejo por que motivo, pequena. Segundo Clark, Bob poderia fazer muito em nosso benefício.

—É um pistoleiro. Há já bastantes anos que não temos notícias dele e é até possível que já tenha morrido. Trazer para aqui um canalha como os que nos atacam seria aumentar o número dos nossos inimigos.

— Convenho em que ele seja, conforme teu pai dizia, um homem de pistolas, mas o meu velho amigo nunca me disse que ele fosse um assassino ou um ladrão.

— Um pistoleiro não tarda a cair nesses delitos, Bradley, e você bem o sabe.

— Apesar disso sou da opinião do teu pai. Deveríamos chamá-lo.

A jovem sorria com ar trocista e esta conversa repetiu-se por muitas vezes, até que um dia, quando Bradley, milagrosamente, escapou de uma emboscada, Nancy consentiu. E de Dayton saíram várias cartas, cada uma com destino diferente. Procurava-se Bob McCoy, um pistoleiro ou talvez mesmo, um criminoso ou um ladrão, para que viesse tirar de dificuldades a sua família, talvez a única pessoa que dela restava.

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