sexta-feira, 30 de julho de 2021

BIS245.11 Os Quintana a caminho de Corrales

Matias Quintana não estava nada satisfeito. Tinha julgado o seu sobrinho Luís com maior coragem que a demonstrada na véspera à noite para vingar definitivamente a morte do pai na pessoa de Martin Palácios.

Por trás da janela do seu aposento em El Robledal, viu chegar Marcos Alcântara com dois homens. Marcos, sim, esse era decidido e forte. Em poucos anos tornara-se praticamente o senhor, o mandante na fazenda dos Quintanas. O seu casamento com Beatriz tinha em grande parte contribuído para satisfazer a sua ambição. Mas naquele momento a sua chegada não parecia de modo nenhum a entrada triunfal de um vencedor. Onde estariam Marklyn e Bolton? E Luís? Onde teriam ficado os outros três homens que os acompanharam quando saíram dali, nesse mesmo dia, umas horas antes?

Levado por funestos presságios, Matias Quintana abandonou o seu posto de observação e desceu ao pórtico. Ao encarar em Marcos e nos dois outros homens, percebeu que as suas máscaras faciais ocultavam qualquer coisa.

E essa qualquer coisa não devia ser agradável.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

BIS245.10 A fúria dos Palácios

Enrique Palácios chegou à fazenda em cima de um cavalo derreado, exausto por um dia de quase contínuos esforços, rematado por um furioso galope, durante o qual as esporas do cavaleiro o tinham castigado ferozmente como nunca o fizera, como não era capaz de o fazer em contingências diferentes, em condições normais.

Apeou-se com um salto ágil, quando o cavalo ainda não parara, e subiu a dois e dois os degraus da escadaria. Pouco faltou para esbarrar com a mãe, que aguardava inquieta o regresso dos três filhos.

— Onde estão os teus irmãos? — perguntou nervosamente a senhora, pressentindo urna desgraça.

— Martin no cárcere, e Jorge nunca mais voltará, mãe. Assassinaram-no — foi a brutal resposta do filho, sem medir as consequências que poderia acarretar uma dupla má novidade expressa daquele modo.

quarta-feira, 28 de julho de 2021

BIS245.09 Estala a violência

O doutor Ezequiel Martinez tratou de Luís Quintana cuidadosamente. Sabendo do poder dessa família em Corrales, esmerou-se quanto pôde em tratar a perna do ferido, de tal modo que as fraturas, uma vez extintas, não deixassem qualquer sinal.

Por seu turno, Luís Quintana foi-se inteirando dos pormenores que se conheciam da morte de Jorge Palácios. Como Martin, não tardou a concluir que alguém se esforçava por lançar uma contra a outra as duas famílias mais importantes da região. Isto levou-o à convicção — tardia, mas segura — da inocência de Martin Palácios no bárbaro caso da injustificada morte do cabeça de casal dos Quintanas.

— Ouça, Adams — murmurou Luís quando ambos saíram da casa do médico — já ouviu o que eu disse há momentos: não matei Jorge Palácios.

—Ouvi. Aonde quer chegar com isso agora? — perguntou o comissário.

terça-feira, 27 de julho de 2021

BIS245.08 Trégua quebrada

Havia pouco tempo que os últimos raios do sol tinham deixado de iluminar a terra, quando chegaram a Corrales. Eram numerosos os grupos de pessoas nas ruas da povoação. Todos os contemplaram, verdadeiramente boquiabertos.

Dos portais pareciam saltar olhos para os verem. O facto provocava curiosidade e assombro.

Luís Quintana e Martin Palácios, juntos, montados num mesmo cavalo! A notícia correu com uma rapidez que seria invejável para o cansado e trémulo cavalo. Pararam em frente da casa do único médico existente em Corrales e desmontaram: Martin com facilidade, Luís Quintana a muito custo.

Palácios amarrou o animal a uma coluna da entrada. A serva índia que lhes abriu a porta disse que o doutor Martinez saíra com o xerife, Craig Larson, havia cerca de uma hora. Ignorava se tardaria muito a regressar.

segunda-feira, 26 de julho de 2021

BIS245.07 Outra vítima: desta vez, um Palácios

Jorge Palácios conhecia muito bem a mulher que guiava aquele carro. O que não conseguia compreender de modo nenhum era o que ela pretenderia fazer seguindo por um caminho que ia dar a uma cabana abandonada existente no sopé das lombas a que se atribula popularmente o nome de «Colinas Pardas». E dispôs-se a averiguá-lo, mordido por compreensível curiosidade.

Finalmente, o carro parou diante da porta da cabana e esta abriu-se para dar saída a um homem de cinquenta anos e rosto de expressão cruel. Dois negros revólveres pendiam-lhe da cintura, um a cada lado, quase a confundirem-se com o negrume da roupa.

Jorge Palácios compreendeu que se tratava de um pistoleiro, mas, por mais que se esforçasse, não se recordava de o ter visto alguma vez em Corrales, ou sequer nas suas vizinhanças.

Ajudada por ele, a mulher apeou-se do carro e entrou na cabana. Palácios prendeu o cavalo nuns arbustos que o ocultavam da vista dos que se encontravam dentro do casebre e, escondendo-se ele próprio o melhor que podia, foi-se aproximando da velha edificação.

domingo, 25 de julho de 2021

BIS245.06 O regresso da violência

— Bravo! — disse uma voz, à retaguarda de Martin Palácios. — Foi uma linda cena de amor. Ao senhor Alcântara talvez lhe interesse, a partir de hoje, conhecer os passeios da esposa.

Martin Palácios mudou de cor, ao mesmo tempo que sentiu como um vácuo no estômago. Voltou-se devagar e viu diante de si Pete Marklyn e um outro pistoleiro, que o contemplavam com expressão irónica.

A sua rapidez em puxar do revólver não podia comparar-se com a daqueles profissionais. Mas compreendeu que a reputação de Beatriz correria sério e grave perigo, bem como a sua felicidade, se os dois pistoleiros saíssem vivos dali. Mas como agir contra ambos, se até empunhavam cada qual uma arma?

— Julguei que os pistoleiros ao serviço dos Quintana fossem homens com algum brio da profissão. Nunca pensei que se portassem como reles assassinos, prontos a servirem-se da vantagem traiçoeiramente adquirida.

Slim Burrell, o companheiro de Marklyn, olhou interrogativamente para este.

sábado, 24 de julho de 2021

BIS245.05 Os amores de Martin Palácios

O rancho dos Palácios era uma bela construção de estilo californiano, com reminiscências espanholas: paredes branquíssimas, de estuque, enormes terraços, muitos vasos com flores debaixo de alpendres, negros varões de ferro, artisticamente forjado, em janelas, portas e varandas.

No pórtico de lajes marmóreas, brancas e pretas, procurando ver através da escuridão, de olhos fitos na possível distância, encontrava-se Elena Marquez de Palácios, silenciosa, tensa, expectante, como leoa aguardando o regresso dos seus filhos.

Por fim, os seus lábios distenderam-se num sorriso. Aproximavam-se três cavaleiros, galopando. Voltavam à casa dos Palácios os três filhos, o seu orgulho, a sua alegria. Riu nervosamente, uma vez afastado o receio.

Pouco depois desmontavam, já dentro da cavalariça. Mais um segundo e ouvir-lhes-ia o tilintar das esporas no solo do pátio, nos degraus da escada que subia para...

sexta-feira, 23 de julho de 2021

BIS245.04 Frente a frente: Palácios e Quintana

Já passava das onze e meia da noite. Reinava espessa escuridão. A rua maior de Corrales estava quase deserta, mas pairava nela a vida que emanava dos ruídos provenientes, em diversa escala de tons, das suas tabernas e dos seus saloons.

Martin Palácios e o xerife estavam à porta do Saloon Império, sob um dos balouçantes candeeiros de petróleo.

— Porque não vais já para o rancho, Martin? — perguntou Larson, numa tentativa para o afastar de Corrales e da ameaça proferida por Luís Quintana. — Os teus estarão inquietos, com certeza.

— Espero os meus irmãos. Disse-lhes que chegaria hoje à noite. Sei que virão buscar-me.

— Diabo! Porque se empenham vocês todos em perturbar a paz de Corrales?

— Que paz tem havido, há dezenas de anos, entre os Palácios e os Quintana? — perguntou o ex-presidiário.

quinta-feira, 22 de julho de 2021

BIS245.03 O ódio dos Quintana

Já não estava longe o anoitecer. Havia pedaço que o Sol escondera o seu rosto de fogo.

Luís Quintana acelerou o passo, em direção ao passeio contrário, onde deixara o cavalo amarrado a um poste. As esporas, de grandes rodas, tilintavam devido às rápidas passadas. Levava os punhos crispados com a raiva. Só os abriu para desatar as rédeas do animal.

Dispunha-se a montar, quando uma voz familiar o deteve. Voltou-se bruscamente e os seus olhos encontraram-se com os de um homem vigoroso, embora cheio de cabelos brancos. Aparentava uns cinquenta anos, mas Luis sabia que tinha mais dez. Era o tio, Matias Quintana. Do coldre que lhe pendia do lado direito, assomava uma bela coronha de marfim, que punha uma discordante nota, com aquela brancura, no negrume do vestuário.

— Não te vejo nada contente, sobrinho. Viste Martin Palácios?

Luís Quintana mastigou uma praga e respondeu, com a cabeça, afirmativamente.

quarta-feira, 21 de julho de 2021

BIS245.02 O regresso do passado

O passado acorria à mente de Martin Palácios, com recordações agónicas. Beatriz Quintana, a filha do homem de cuja morte o acusaram. Tinha dela uma formosa recordação. Via-a na mente: cabelos louros, longos e sedosos; olhos pardos, perturbantes; pele de brancura inexcedível; corpo esbelto, delicado.

Apesar do muito que lhe quisera, de pouco mais se recordava. Dez anos eram insuficientes para apagar uma lembrança espiritual, mas o bastante para diluir uma presença física nos seus pormenores. Não o deu a entender perante Craig Larson — ou, pelo menos, assim o julgava — mas certo era que a resposta do xerife tinha sido para ele um rude golpe, o chamado «golpe de misericórdia» nos seus recalcados sonhos.

Beatriz... Ao evocar o seu nome afluíam ao cérebro de Martin Palácios longínquas recordações, com o ímpeto de torvelinhos. E, como remate de todas, as daquela noite que jamais poderia esquecer.

terça-feira, 20 de julho de 2021

BIS245.01 Martin Palácios voltou

Tinha sido Corrales uma cidadezinha quase selvagem. Agora, dominava-a, com o brilho da sua estrela de prata, luzindo ao peito, um homem chamado Craig Larson.

As violências sucederam-se sem trégua nas suas ruas, provocadas pelo ódio que fazia enfrentar duas famílias e outras pessoas que alimentavam esse fogo de morte. Corrales ficava perto da fronteira com o Novo México e era constante refúgio de pistoleiros profissionais.

Só um homem com a garra de Craig Larson poderia ter tido a coragem e o valor para realizar o milagre. Não conhecia o medo, ou, pelo menos, sabia não o exteriorizar. A rapidez do cérebro correspondia a rapidez das mãos, principalmente da mão direita.

Agora, a paz reinava em Corrales. Mas tinha sucedido qualquer coisa que poderia quebrá-la. O homem que vinha correndo no passeio tentava precisamente evitar esse mal, dando a conhecer a sua causa.

Lloyd Cormon, ofegando, entrou de rompante na barbearia.

— Trago uma notícia, Larson! É muito importante... muito importante!

— Vai para o diabo, tu e as tuas malditas notícias! Sempre escolhes o momento menos apropriado para as dar. Não estás a ver? Ainda tenho sabão na cara. Compreendes? Sabes o que é fazer a barba? Deixa-me em paz! Rua! Espera que eu acabe e depois cospe essa notícia!

Lloyd Cormon sorriu compassivamente, abanando a cabeça. Larson iria mudar de opinião dentro de pouquíssimos segundos. Era tão certo isso como dois e dois serem quatro ou...

— Voltou Martin Palácios — foi só o que disse, quase em murmúrio. E rodou nos calcanhares para ir embora, ou simulando-o.

Larson deu um salto. Arrancou a toalha que tinha ao pescoço e limpou o sabão do rosto, ao mesmo tempo que lançava uma série de palavrões capazes de provocarem assombro num condutor de carros do Vale da Morte.

— Maldito idiota! — exclamou por fim, uma vez esgotado o seu vocabulário pornográfico. — Isso não é apenas uma notícia importante, com mil raios! É má, é péssima, é... sei lá quê! Tens esse hábito, mafarrico! Um dia, sofres um desgosto, Lloyd! Juro-to! És a parte feia da minha sombra.

Lloyd Cormon sorriu abertamente. Mais que habituado estava ele àquelas explosões de Craig Larson! E, longe de se aborrecer com os insultos, até achava graça a despertar o mau génio do xerife, que sempre se traduzia num chorrilho de obscenidades e frases contundentes, refinadas de vez para vez.

Em duas passadas, o xerife alcançou o cabide. Encasquetou na cabeça o stetson cinzento de abas largas. Olhou-se ao espelho e, com o punho da manga, varreu da cara os últimos vestígios de sabão.

— Volto mais logo! — anunciou, como trovejando, a relancear os olhos para o barbeiro. — Tu, vem comigo, pedaço de asno! — Dirigia-se a Cormon. — Se te deixo para aí sozinho, arranjas-me sarilhos dos mil demónios!

Lloyd Cormon sorriu de tal modo que pôs bem à mostra os feios dentes enegrecidos pelo tabaco.

— Sua excelência manda! — Curvou-se em cómica e irónica mesura.

Larson fingiu não reparar nisso, nem no estilo da frase.

— Onde viste esse louco? — perguntou, dando um piparote na estrela, como a limpá-la de imaginário pó.

— No Saloon Império.

O Saloon Império era o nome elegante sob o qual se ocultava um tugúrio que já seria honradíssimo com o de taberna. Apesar disso, era o melhor dos cinco existentes em Corrales. E era o mais frequentado, talvez porque o seu uísque tivesse pouco do que devia ter e muito mais de álcool. Daí, uma das causas do seu enevoado ambiente. Quem sofresse dos pulmões morreria só por entrar lá. Sim, porque a mau uísque corresponde, em geral, abundante e mau tabaco.

Larson, o xerife cinquentão, varou com o olhar vivaz a densa névoa do fumo de cigarros, e não tardou a descobrir, encostado ao balcão, um vulto conhecido — o que procurava.

Martin Palácios, aparentemente, não mudara, naqueles dez anos. Só uma diferença mais sensível: o rosto— que se refletia no espelho da frente, acima de poeirentas garrafas e no meio de escuras manchas fabricadas por moscas — era mais escuro, queimado por sóis.

— Olá, Martin! — saudou-o.

Martin Palácios ergueu os olhos para o espelho. Depois, foi-se voltando lentamente. Deparou-se-lhe o brilho de uma estrela e depois uns olhos coruscantes: os de Craig Larson. Não, Larson não tinha mudado, no decurso daqueles anos. O mesmo já pensara de Corrales e do asqueroso uísque vendido por «Blackie» Marqués.

— Olá, Craig! Muito depressa voam as notícias, em Corrales. Chegas a tempo de eu te convidar. A minha intenção é boa. O uísque não, como dantes. Olá, Cormon! — acrescentou, ao ver a «sombra» do xerife.

— Que tal vai isso? — correspondeu Lloyd.

— Para que voltaste, Martin? — atacou imediatamente Craig Larson.

Palácios não respondeu. Olhava para mais longe, como para além da própria garrafeira, da parede, de tudo. «Blackie» Marqués, um homem obeso, com aspeto mais de pistoleiro do que de dono de uma taberna, apresentou um copo a Larson, em silêncio, e retirou-se para o outro extremo do comprido balcão, embora não deixasse de observar de revés os dois homens que se enfrentaram.

— Bebe, Craig. É mau e custa caro. Talvez isto o faça parecer melhor. Um copo destes equivale a dias de prisão. Muitos...

— Para que voltaste, Martin? — repetiu o xerife. —Tudo mudou, no tempo em que estiveste fora, e...

— Há coisas que, mesmo em dez anos, não mudam.... e não podem esquecer-se — atalhou Martin Palácios. —Eu não matei Rodrigo Quintana. Mas paguei a conta do assassino. É isso o que eu procuro agora em Corrales: um nome. Nem mais, nem menos. Dez anos são demasiados para serem esquecidos. Dantes, aspirava o aroma das flores, até o pó da rua! Como achei falta de tudo isso!... Olhava para o sol que me queimava... Mas tudo me parecia negro como a pior das noites, por trás daqueles varões de ferro. Larson, eu tinha de voltar, à procura do passado, de um passado que, para mim, era o presente e o próprio futuro que me roubaram. Farei pagar esse crime a quem o praticou, ou, pelo menos, morrerei de cabeça erguida, com a hombridade de o haver tentado.

— Sim, Martin, compreendo-te. E, mesmo que não acredites, admiro-te. Nunca te julguei culpado. Mas, hoje, não aprovo o teu intuito. E uma loucura que ninguém sabe até aonde pode levar-te. Em devido tempo, como sabes, eu procurei os rastos...

— E todos vinham ter a mim, Craig. Todos. Mas não fui eu.

Larson, como dez anos antes, leu a sinceridade nos olhos do homem que tinha diante de si.

— Depois, tive tempo de sobra para pensar —prosseguiu Palácios. — Mais do que tu, mais do que ninguém. E agora vejo claras muitas coisas que dantes me pareceram obscuras, incompreensíveis.

— Tem cuidado, Martin Palácios. Não te esqueças de que no peito de um amigo, talvez o único que ainda conserves aqui, há um pedaço de metal... — Os seus dedos roçaram a prateada estrela. — Não a atraiçoarei por nada deste mundo. Nem deixarei de fazer o que ela me ordene. Agi, então, daquele modo, porque tudo te acusava. Mas, enfim, procurarei ajudar-te nessa tua loucura, desde que não saias das marcas, do equilíbrio. Quando ao copo que me oferecias, deixa ser eu a envenenar-te. Se por acaso me matasse, pagando-o tu, ficarias em maus lençóis, inclusive porque não ganharias nada com isso.

Riram ambos, com riso amarelo, do que, se excedesse a brincadeira, seria um dito de mau gosto.

— Não, Craig. Encontrar um bom amigo, ao fim de dez anos, permite-nos incorrer num perigo desses, mesmo a pensar no que ele custa. Desculpa, mas pago eu.

Larson deu uma palmada nas costas de Palácios e bebeu uns quantos goles da beberagem.

— E Beatriz? — perguntou, de súbito, Martin Palácios, num murmúrio.

Larson tivera, desde os primeiros momentos, o receio de que Palácios lhe fizesse aquela pergunta e ainda mais o de lhe responder. Agora, chegara esse momento indesejado, mas fatal. Mastigou em seco e, tão baixo que mal se ouviu a sua voz, respondeu:

— Pois... casou, Martin.

Palácios aspirou o ar como se o não fizesse havia muito. As narinas agitaram-se repetidas vezes. Ficou longos segundos sem poder falar. Quando o fez, as palavras fluíram quase naturalmente de entre os lábios. Mas no seu íntimo abrira-se uma funda e dolorosa brecha:

— Marcos Alcântara, não é verdade? — perguntou, sussurrando.

Larson disse que sim, com a cabeça. Nem ousava abrir a boca. Fez-se, entre ambos, longo silêncio. O passado acorria à mente de Martins Palácios, com recordações agónicas.

segunda-feira, 19 de julho de 2021

BIS245.00 "Voltou Martin Palácios" - Prólogo

O presídio de Yuma era um dos mais desumanos de toda a União. Nele tratavam os presos com crueldade que muito se aproximava de vergonhoso sadismo. Assassinos e criminosos de toda a natureza expiavam os seus delitos, no mais amplo sentido do verbo, por trás dos altos e grossos muros de Yuma, calcinados pelo ardente sol.

Só homens excecionalmente fortes fisicamente conseguiam resistir aos trabalhos forçados, nus da cintura para cima, desbravando pedreiras, debaixo de um sol abrasador, vigiados atentamente por guardas que, na sua maioria, apenas tinham de humano a configuração exterior.

Martin Palácios tinha sido um desses cativos, durante dez anos, dez longos anos, que pareciam pretender igualar a eternidade. Agora, faltavam escassos minutos para alcançar a liberdade definitiva. Olhou a nesga de céu compreendida entre os varões da cela e julgou-o, naquele momento, de um azul mais límpido, mais puro. Depois, com a sensação oposta, olhou, enojado, para as sórdidas paredes do calabouço.

domingo, 18 de julho de 2021

BIS245.00 Ainda o regresso de Martin Palácios

Depois de ter cumprido dez anos de prisão com comportamento exemplar, Martin Palácios voltou a Corrales com o objetivo de provar a sua inocência. Mas o seu regresso ainda acicatou mais o ódio que separava a sua família da dos Quintana no seio da qual estava a mulher que amava e que, entretanto, casara com outro, a qual era filha do homem por cuja morte Martin fora acusado.

A novela desenvolve-se de uma forma dramática a que, a todo o momento, o ódio entre as duas famílias parece ir juntar uma refrega sangrenta no campo de batalha. Mas a verdade é que na base de todo este drama estava uma relação escondida de uma governanta com um familiar do homem assassinado, a qual aspirava a ter um papel mais nobre no seio da família.

Confesso que, ao longo da leitura, desconfiei que o irmão do morto teria sido o verdadeiro assassino, mas o meu julgamento terá sido injusto para Dom Matias Quintana, apesar da pessoa com a qual mantinha uma relação estar implicada.

Martin acaba por contribuir para o esclarecimento da verdade, mas, no último momento, uma bala carregada de ódio fez com que ele encontrasse a verdade, mas também a morte.

Eis uma novela deliciosa que nos faz sentir a doçura das paisagens californianas e onde o sabor mexicano parece sempre presente, uma novela que vamos seguir nos próximos posts neste espaço…

 

sábado, 17 de julho de 2021

BIS088.15 Finalmente... com a querida prima nos braços

Perdiam-se ao longe os ruídos característicos do correr dos cavalos. Algumas vozes alteradas, trotar de corcéis em sentido contrário, indicaram a McCoy que as gentes da quadrilha de Wells estavam próximas. Sem se deter, o pistoleiro correu um pouco para a direita, afastando-se do facho de luz que brotava através da janela aberta da cabana e da imita escancarada. Os cinco sentidos estavam em ordem de combate. O dedo indicador apoiado fortemente contra o gatilho, o olhar fixo na vereda Sinuosa, apenas esperava o impulso muscular para fazer brotar a bala mortífera.

Os cavalos pararam, não muito longe. Alguns homens semiocultos pela espessura da vegetação apareceram à claridade da luz da lua. McCoy pôde contar oito. Avançavam cautelosamente e era notório que traziam na mão o revólver de «seis tiros», dispostos a vomitas fogo.

Mentalmente contou os segundos. Situado num lugar estratégico, Bob compreendeu que, se fosse rápido, se soubesse atacar no momento oportuno, mais de metade daqueles malvados cairia crivada pelas suas balas, antes que os tiros dos seus «45» sibilassem contra ele. Tinham chegado a um extremo em que o cavalheirismo da luta tinha desaparecido, em que a apregoada lei da fronteira era apenas um mito ao qual não poderia dar-se um valor específico que, noutras circunstâncias, teria despertado nos protagonistas daquele feito. Agora era a surpresa, a insídia, que prevalecia naquele momento.

sexta-feira, 16 de julho de 2021

BIS088.14 Uma mulher de coragem nas mãos de bandidos

As reses roubadas do gado de Nancy foram estacionar a uma milha mais para lá do acampamento dos bandidos. A comitiva formada pelos dois Wells, a jovem e o resto dos homens alcançaram igualmente o ponto de destino.

Nancy observou cuidadosamente aqueles bandidos. Incomodavam-na os olhares de Jim, os seus sorrisos significativos e até a sua aparente amabilidade. Receava daquele bandido muito mais do que de todos os bandidos que compunham a quadrilha de Buck Wells. Mas tinha a esperança de que Buck a defendesse contra qualquer cilada do irmão.

Drolet, com um outro componente do bando, levou-a para uma cabana situada a um quarto de milha mais para lá do local onde o gado estacionava. Drolet ficou de sentinela à porta. Nancy, ao ver-se ali não sentiu medo algum. Tinha liberdade de movimentos e tinha aprendido a defender-se só contra todos os perigos de que o Oeste era fértil.

quinta-feira, 15 de julho de 2021

BIS088.13 Fogo no rancho

Durante muitas horas, o pistoleiro caminhou em silêncio, absorto numa infinidade de pensamentos. Lutava interiormente com a ideia de se afastar para sempre daquela região, de ir procurar, noutra sítio mais longínquo, a tranquilidade que tanto desejava. Mas uma voz interior parecia dizer-lhe que ficasse.

Atraía-o poderosamente a terra que pisava e a missão que o havia levado a Nevada, o resultado de um trabalho, o mais importante da sua vida, em defesa dos interesses de uma mulher só e sem possibilidades de se opor aos seus inimigos. Detinha-o também a lembrança de Bradley. Nunca o capataz dos McCoy teria voltado as costas a um caso daquela importância, quando nele defendia a liberdade, mesmo a vida, de uma mulher. E ele era um parente desta rapariga.

Era certo também que ela, tanto como o pai, se tinham portado com ele de uma maneira ingrata; era certo que ela o odiava, não pela sua pessoa, mas sim pela sua maneira de viver naqueles últimos anos passados. Tinha fama de um brigão, de pistoleiro assalariado, de assassino. Acaso não lho tinha deixado transparecer muitas vezes, falando-lhe de uma maneira depreciativa? Mas, acima de tudo isso, estavam os seus inimigos.

quarta-feira, 14 de julho de 2021

BIS088.12 Sozinha perante um grupo de bandidos

O grupo de cavaleiros deteve-se. O sol, depois do seu longo percurso, afundava-se lentamente no ocaso, tingindo de tonalidades purpúreas o céu e as pequenas nuvens.

Buck Wells olhou para os seus sequazes. À direita, Jim, com a espingarda colocada sobre a sela, sorria um pouco. Por detrás dele estavam os seus favoritos do bando que tinha dirigido no Arizona: Sharp e Drolet.

— Seis de vocês — disse — seguem com essas cabeças de gado para o rio. Comanda-os tu, Drolet. Devem conduzi-las através dos «canyons» (*) para o acampamento de Lyon Peak. Alguma pergunta, rapazes?

— Quando regressam? — perguntou Drolet. — Talvez amanhã. Gregory deve ir connosco, porque conhece melhor o terreno. Espero que desta vez McCoy não nos escape. Avante!

terça-feira, 13 de julho de 2021

BIS088.11 Um pistoleiro que parte, uma mulher sozinha

Quando o pistoleiro descobriu ao longe o rancho de Nancy McCoy, o sol estava bastante alto. Cavalgava com os pés fora dos estribos, apoiado com força ao espigão da sela, quase sem se poder manter erguido sobre o cavalo. Também o animal mostrava o seu cansaço com um forte resfolegar e ambos estavam materialmente cobertos de pó e de suor.

A vista da distante construção pareceu trazer ao ânimo de Bob McCoy novas forças. Roçou o ventre do cavalo com as pontas das esporas e fê-lo caminhar lento, mas em linha recta, para o termo ido destino. Tudo quanto o rodeava se mostrava solitário. Apenas lá ao longe, como pontos negros e cor de chocolate se notavam algumas cabeças de gado que ainda restavam aos McCoy. Esta descoberta fê-lo respirar um tanto aliviado. Os bandidos não tinham voltado desde a noite em que matara vários deles, pondo em fuga os restantes. Mas era provável que a sua presença não se fizesse esperar por muito tempo, segundo tinha podido avaliar pelas palavras de Gregory Croak.

segunda-feira, 12 de julho de 2021

BIS088.10 Um bandido para a forca

Gregory Croak não teve sequer ideia de deitar a mão ao revólver, perante a formidável impressão que lhe tolheu as reações. A violência do salto de Bob contra Jack e o empurrão que este lhe deu desequilibraram Croak na direção do talude do caminho, o qual dando alguns passos cambaleantes foi despenhar-se pela íngreme encosta, levantando à sua passagem uma cortina de pó.

McCoy parecia uma fera sedenta de sangue. Batia terrivelmente no seu inimigo em todas as partes do corpo e Jack não podia de modo algum evitá-lo. Perto deles permanecia o revólver, quase enterrado no pó do caminho, sem que nenhuma mão se estendesse para o agarrar.

Jack, não obstante, conseguiu levantar-se, mas com isso não pôde evitar que o seu inimigo o dominasse e que uma e outra vez os seus punhos, duros como massas de ferro, se abatessem contra ele, arrojando-o para muito próximo do local onde se encontravam os cavalos. Foi um momento apenas, o suficiente para que Bob soltasse o laço da sela do cavalo de Jack e o lançasse no pescoço do seu inimigo. Depois puxou com força e arrastou-o alguns passos, quase o sufocando. As mãos de Jack aferraram-se com toda a energia à corda que lhe cortava a respiração, e que o matava lentamente.

domingo, 11 de julho de 2021

BIS088.09 O velho capataz como isco

Os passos de um homem no corredor puseram em guarda o pistoleiro que, instintivamente, levou a mão ao seu «seis tiros».

O quarto estava completamente envolto na escuridão. Notou que os passos se detinham. diante da porta e que a mão da pessoa que ali tinha chegado a empurrava para penetrar no interior do aposenta. Depois acendeu-se um fósforo e o candeeiro de petróleo inundou de luz o aposento.

— Olá, Jules! — exclamou o foragido, saudando-o.

O taberneiro voltou-se surpreendido, mas no mesmo momento as suas feições suavizaram-se e avançou para o cadeirão que era ocupado por Bob McCoy e estendeu--lhe a mão dizendo:

— Estimo muito ver-te, Bob. Por onde entraste?

— Por acaso não tem o teu estabelecimento outra porta nas traseiras?

-- Poucas vezes fica aberta. Devo ter-me descuidado. Que fazes aqui? Procuram-te por toda a parte, sabes?

sábado, 10 de julho de 2021

BIS088.08 Do entendimento impossível

Pelas cinco horas da tarde, McCoy descobriu outro cavaleiro. Este vinha da parte do vale e embora não pudesse distingui-lo perfeitamente, compreendeu de quem se tratava. Aquela visita inesperada preocupou-o. Mas não abandonou a espessura do bosque até que o teve a menos de quinhentas jardas de distância. Desceu então a vertente e ficou-se parado perto do tortuoso caminho.

Viu o cabelo loiro da rapariga, ao vento, o seu airoso movimento sobre a sela do cavalo que montava. Ela devia tê-lo visto, uma vez que refreou um pouco a marcha do animal para o centro do vale e virou o seu rápido galope para o sítio onde o pistoleiro se encontrava. Bob avançou então em direção à prima e esta deteve-se a poucos metros de distância. Os olhos da rapariga contemplaram a dura expressão do homem. Bob, por único cumprimento, perguntou:

—Que aconteceu?

sexta-feira, 9 de julho de 2021

BIS088.07 Duelo na noite

Bob McCoy começou a compreender bem aquilo que já não se recordava. Antigamente, durante a sua permanência no rancho do seu tio, tinha percorrido aquelas vastas terras na companhia do capataz Bradley, muitos anos mais novo e em toda a sua pujança como cavaleiro. Agora, naquela semana de árduo trabalho, umas vezes explorando o terreno, outras reunindo cabe-ças de gado transviadas para oeste do vale, McCoy foi apreciando o verdadeiro valor do rancho da sua prima.

Falava pouco a este respeito com o capataz da fazenda, mas compreendia o que em breves anos chegaria a ser o rancho se fosse dirigido por mão experiente. Pode ser que esta azáfama diária influísse bastante na mudança de opinião do pistoleiro. Aquela nova vida que levava servia-lhe para se esquecer um pouco dos seus encarniçados inimigos. Sentia-se satisfeito, livre, na posse de todas as suas faculdades físicas e capaz de fazer aquilo que mais lhe conviesse.

quinta-feira, 8 de julho de 2021

BIS088.06 Negócio com a querida prima

Bradley devia ter influído no ânimo da rapariga, visto que o pistoleiro a achou mais disposta a chegar a um acordo, a transigir. Sentaram-se no átrio. Nancy permanecia silenciosa como se esperasse que fossem os homens quem iniciasse a conversação. Por fim, o capataz disse, olhando para McCoy:

— Nancy oferece-te, no fim do trabalho, 10.000 dólares, Bob. Parece-me que é um bom preço e que hás de aceitar. É verdade que sim?

Desta vez os olhos dela elevaram-se para olhar, um pouco ansiosamente, para o pistoleiro. Bob limitou-se a sorrir com ar trocista, a humedecer os lábios com a língua e a pigarrear, respondendo:

— Por 10.000 dólares não saem os meus revólveres dos coldres, Bradley. Oferecem uma importância semelhante pela cabeça de Buck Wells. Aí tê-los-ia sem necessidade de ter de trabalhar para a minha prima.

-- Qual é então o teu preço?

quarta-feira, 7 de julho de 2021

BIS088.05 Frente a frente com a querida prima

Montaram a cavalo. Silencioso e entregue aos seus pensamentos, o velho -- pensando maduramente na desforra o rapaz, caminharam durante algumas milhas.

Bradley guiava o caminho. Bob examinava aquelas paragens que lhe traziam à mente recordações amargas de outros tempos. Ele podia ter sido um homem honrado, se o velho e a rapariga o tivessem ajudado como deviam. Mas não souberam atalhar as Suas más inclinações, não tiveram a delicadeza, mesmo o próprio Bradley, de o chamar ao bom caminho, protegê-lo, guiá-lo em suma. Por que razão, havia de ter condescendência com Nancy McCoy? Que obrigações tinha para com ela? Acaso o seu rancho não significava uma fortuna? Pois se tinha que defender o seu valor, justo seria que uma boa parte dela caísse nas suas mãos.

Sorriu a esta ideia. Estava quite com Bradley, embora ele tivesse naquele dia feito muito mais que o velho durante todo o tempo que permaneceu no rancho do seu tio. Agora lutaria, procurando inclinar a balança para os seus interesses e fixar-se naquela terra da qual tinha tido de sair expulso como um vulgar vagabundo.

terça-feira, 6 de julho de 2021

BIS088.04 Duelo de morte na chegada ao destino

Bob McCoy, descaradamente, piscou um olho ao dono do estabelecimento de bebidas, que sorriu satisfeito. Diante dele, sobre a mesa de pano verde, amontoavam-se agora os dólares de prata e as notas de Banco que ia ganhando naquela partida de «poker».

Jules Perkins tinha tido a gentileza, correspondendo a uma amizade já antiga, de lhe ceder algum dinheiro para jogar. McCoy era um excelente jogador talvez na posse de alguns dos segredos que tornavam temíveis, em todos os caminhos do Oeste, os jogadores dos jogos de azar.

A mesa diante da qual estavam sentados os quatro homens encontrava-se muito próxima de uma extremidade de balcão e em algumas ocasiões a voz de biles, Perkins o tinha animado. Agora possuía mais do que o dinheiro suficiente para comprar um bom equipamento de vaqueiro e para devolver ao altruísta dono da casa de jogo «A Pérola» o empréstimo recebido.

segunda-feira, 5 de julho de 2021

BIS088.03 Regeneração anunciada numa carta com letra de mulher

McCoy refletiu sobre a Vida de um pistoleiro, de qualquer um, mesmo que os seus conhecimentos sobre armas não fossem muito completos. Era difícil voltar para trás, viver como um lobo solitário, até que uma bala, de frente ou pelas costas, acabasse com ele. Parecia sentir no coração desejos de regressar, de esquecer tudo o que até ali tinha sido, de empreender uma nova vida, honesta e honrada. Mas isso era tão difícil como querer agarrar a lua com as mãos.

O seu nome era bastante conhecido na fronteira de muitos territórios da União e a sua presença sempre se via perturbada pela chegada de um fanfarrão, conhecedor da sua fama, ansioso por matá-lo para poder engrandecer-se à sombra daquela façanha prodigiosa. E assim se viu forçado a matar para continuar a viver. A prova estava latente atrás de si, naquela povoação de Glendale, onde alguns meses da sua vida se tinham passado. Teve de matar para viver, porque nem sequer a fuga lhe era permitida antes de lutar e vencer.

domingo, 4 de julho de 2021

BIS088.02 Combate entre pistoleiros: um contra todos

O homem caminhava lentamente. Os seus olhos claros fixavam a silhueta daqueles dois que, caminhando pausadamente sobre o pavimento térreo da calçada, avançavam com certa segurança, a segurança que o manejo perfeito das armas lhes proporcionava.

A ampla rua de Glendale City (Arizona) apresentava-se deserta. Por vezes, um ou outro curioso assomava e contemplava a cena, com a certeza de que, de um momento para o outro, o estampido das armas de fogo romperia a quietude aparente da povoação.

Das portas de alguns locais de bebidas, os habitantes, dominados por uma terrível tensão nervosa, espiavam. Todos eles concordavam numa só coisa: que o homem que sozinho enfrentava dois dos irmãos Wells era um suicida, um louco desmedido, um sujeito no qual o senso comum primava pela ausência.

Era certo que Bob McCoy era rápido, felino, com uma visão perfeita do perigo. E até os mais ousados compreendiam que algo de estranho e terrível devia ter acontecido entre McCoy e os Wells, para que a amizade que sempre os unira se rompesse, para que de um dia para o outro chegassem a converter-se em inimigos mortais.

sábado, 3 de julho de 2021

BIS088.01 Como resistir ao famigerado bandido

Ninguém sabia dizer exatamente de onde procedia aquele homem nem quando tinha chegado. Para todos os habitantes das extensas regiões de Dayton, Rawhide e Flawthorne, a presença de Buck Wells era um mistério. Ninguém o viu chegar seguindo uma caravana de imigrantes, nem sequer como simples mineiro ou pesquisador de oiro ou ainda como um pistoleiro vulgar dos muitos existentes no extenso território dos desertos.

Foi de um dia para o outro que Buck Wells adquiriu o apodo de «assassino de Nevada». Em Dayton conheciam-no muito melhor que em qualquer outro ponto da região, porque em Dayton costumava ele deter-se mais frequentemente e à frente dos seus homens, quadrilha de salteadores, de díscolos com tão pouca consciência como o rufião que os comandava, tão ansiosos como Buck Wells de fazer fortuna rápida e unicamente à custa do sofrimento dos seus semelhantes.

sexta-feira, 2 de julho de 2021

BIS088.00 Regresso ao «Assassino de Nevada»

Joe Sheridan tem aqui uma novela onde explana o seu pendor pelo conhecimento geográfico, procurando dar a localização perfeita das diversas ações e onde explora o comportamento de um foragido, seguindo-o psicologicamente e na ação. Esta traduz-se na ajuda a uma familiar que em tempos o tinha humilhado.

Bob McCoy, um fora-da-lei que abandona e abate alguns dos antigos companheiros, reencontra a sua prima, a mesma mulher que tudo fizera para ele ser expulso do lugar onde nascera e desencadeia um conjunto de ações onde tenta eliminar os malvados que a atormentam dos quais o mais importante era o «Assassino de Nevada», Buck Wells. O seu combate é apoiado pelo velho capataz Bradley que, infelizmente, pagou com a vida a sua ação solidária.

Mas a capacidade de Bob era inesgotável, venceu o seu combate contra os bandidos e regenerou-se a tempo de iniciar uma nova vida no local de onde tinha sido expulso.