terça-feira, 7 de julho de 2015

PAS496. O homem para quem morrer era um bálsamo

Alex engatilhou o revólver enquanto caminhava... e parou com a arma encostada ao corpo do homem que sorria tranquilo, sem que lhe tremesse um único músculo.
— Não tem medo de morrer, Edison?— matraqueou as palavras, irritado.
— Não. Talvez um pouco por causa deles. Mas, aos meus filhos ninguém ensinará a viver odiando. Eles não procurarão, amanhã, aquele que matou seu pai. Têm uma mãe que sabe o que vai acontecer... e, todavia, foi-se embora, para me deixar expiar as minhas culpas. Ela compreendeu, melhor que ninguém, a minha tortura. Soube que só terminando hoje serei, finalmente, livre. A sua vingança, Brampton, é para mim um bálsamo. E saiba uma coisa: seu irmão era um bom rapaz. Faltou-lhe experiência para adivinhar a traição de Marsh e Clipton, mas teve um belo gesto ao fazer-lhes frente e jogar tudo por tudo. Foi pena que não vencesse.
Brampton dispôs-se a premir o gatilho e disparar sobre o homem que não se defendia. Viu-o, de pé, na, sua frente, sorrindo com serenidade. Como nenhum dos outros que matara. Sinclair Edison, o último do seu «poker» .
 «Parecia arrependido», tinha dito Sheylander a seu respeito. «Rezarei por ti... para que voltes a encontrar a razão e afastes as sombras negras do teu coração», dissera-lhe, depois, uma mulher de olhos cor-de-âmbar, os quais vira à luz das estrelas da Califórnia...
A sua mão direita largou o revólver, que caiu por terra, pesado e barulhento. Com um, ar estupeficado fixou os seus olhos azuis em Sinclair Edison, que continuava a sorrir, ainda que um pouco surpreendido.
— Não sei porquê.... — ciciou Alex. — Não sei como aconteceu, mas... não posso... não posso matá-lo, Edison. Nem mesmo que tratasse de se defender... Não consigo apertar o gatilho...
Invadiu-o uma sensação de bem-estar. Sentiu um alívio intenso, que ia do coração à cabeça, que adoçou o olhar das suas pupilas cor-do-céu. Era como que uma libertação, o quebrar de pesadas cadeias.
— Brampton... porquê? -- perguntou-lhe Edison. — Não pedi clemência, não a espero, nem, tão-pouco, a desejo.
— Já o sei. Você é o único verdadeiro homem que encontrei até agora. Quem sabe, se nos tivéssemos encontrado antes, se não teria impedido a minha vingança. Ou talvez não... Não sei...
— Brampton, você renuncia a...
— Sim — a sua mão tirou, do bolso da camisa, um ás de espadas. A carta da morte. Lançou-a por terra. — No fim de contas, fiz «poker». Afastou a morte de mim., Edison... Um dia poderá dizer a seus filhos que se livrou de morrer quando tinha já um pé no vale das sombras. Adeus, Edison... e queime esse dinheiro ou dê-o para obras de caridade. Garry ficará satisfeito.

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