sábado, 4 de julho de 2015

PAS492. Rosas para a formosa Sheila

— Rosas! Rosas de Paul Brighton! Oh! Dick, isto é horrível!
— Mas, querida Sheila, já viste o que diz o seu cartão? «Tenho o prazer de comunicar-lhe que a data de pagamento das suas dívidas foi prorrogada mais uma semana». Não é estupendo, Sheila?
— Estupendo? Porquê?
— Poderemos pagar-lhe os seus malditos cinquenta mil dólares — alegrou-se Dick Brice.
— Não penses em fantasias. Daqui a sete dias teremos as mesmas possibilidades de lhe pagar que hoje. E, quanto a esse adiamento, por certo que traz água no bico. Vi esse homem, Brighton, e sei do que pode ser capaz. É sinuoso, obscuro, de ideias sujas; olha para uma pessoa como poderia olhar para um objecto capaz de se comprar por baixo preço e gozá-lo toda a vida... Esse homem, Dick, mete-me medo e... repugnância.
— Brighton não é um anjo, — assentiu Dick. — Mas, deves reconhecer que é muito generoso em adiar o pagamento da nossa dívida. Acaso o abrandou a tua visita?
— Sim, talvez --lembrou-se do olhar de réptil do jogador e estremeceu. — Mas tenho medo, Dick. Oh! Deus! Por que te havias de meter, tão estupidamente, neste beco sem saída?
— Já te disse mil vezes, querida — protestou o jovem, com expressão aturdida, olhando para sua irmã. — Tinha bebido, via tudo confuso e convenci-me de que podia ganhar... Tive uns momentos de sorte, mas depois perdi muito... Esperei poder recuperar. O azar não dura toda a noite.
— O teu durou.
— Bem, não sei como pôde suceder, Mas encontrei-me, já dia claro, quando fechavam o casino, sem ter ganho uma única vaza de valor. Perdi cinquenta mil dólares a crédito, além do meu dinheiro. Não me deixaram sair sem assinar os vales. Por favor, Sheila, não me tortures mais, já to contei mil vezes.
— E ainda não cheguei a compreender como pudeste ser tão louco e estúpido, Dick — reprovou ela, severamente. — Sabes bem quais são as nossas posses, desde que o pai morreu. Apenas uma renda miserável, para viver decentemente na aparência e passar fome às vezes. Bem procuro um marido rico, mas não o encontro.
— Não digas isso. Tens uma centena de pretendentes ricos...
— Uni gordo, outro velho, outro feio e horrível; outro, ainda, falta-lhe a respiração; Nugent é jovem bem parecido, mas está bêbado a todas as horas do dia e, quanto a Forrester... Bem, esse é dum puritanismo e hipocrisia que me irritam...
-- Em suma, não gostas de nenhum. Mas isso não é razão, Sheila. Qualquer deles pode salvar-nos. Se prometeres a tua mão a um desses homens... dar-te-ão o dinheiro de que necessitamos.
— E com a minha felicidade e o meu coração destroçado pagarei o teu imprudente erro, não é assim?
Dick inclinou a cabeça sobre o peito. Não podia exigir tanto de sua irmã, mas ela sabia tão bem como ele que o contrário seria o caminho da cadeia.
— Está bem, Dick, vou, retirar-te desta embrulhada — disse Sheila, levantando a cabeça. — Direi que sim a Nugent. É o melhor de todos eles, ainda que beba como uma cuba.
— Oh! Sheila, obrigado. É tão generoso da tua parte sacrificares-te assim por mim...
Sheila olhou, friamente, o seu irmão, deu meia volta e saiu da sala sem sequer despegar os lábios. Dick, envergonhado de si mesmo, inclinou a cabeça, permanecendo enterrado nas suas reflexões.

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