sábado, 18 de julho de 2015

PAS506. Um pouco de luz para almas atribuladas

Chuck colocou a mão sabre os olhos, à maneira de pala, para contemplar a gentil figura de Sally que subia já a encosta, com uma vasilha de água.
— Pensando bem, eu não seria um mau partido para Sally — comentou, como se falasse sõzinho. — Sou tão elegante como tu, talvez não tão atractivo, mas sou mais inteligente e não me assusta o facto de me encontrar junto de uma mulher. Será questão de pensar no caso, devagar, e decidir-me.
Calou-se, porque Sally já estava perto. A rapariga dirigia-se para eles e o próprio Chuck saiu ao seu encontro para lhe pegar na vasilha que trazia.
— Envergonho-me de a deixar trabalhar tanto, enquanto nós ficamos a olhar para si —disse-lhe, como se reprovasse o que ela estava a fazer. — Johnnie é forte e necessita de gastar as suas energias. Deve pedir-lhe que a ajude.
— Como pode dizer semelhante coisa, Chuck? — Sally ficou corada. — Não pretenderá que viva à vossa custa, sem fazer alguma coisa para os ajudar.
— Cuide de Johnnie, enquanto eu vou à procura de algumas provisões à aldeia que vimos lá em baixo.
— Pensas ir lá? — perguntou-lhe o irmão, estranhando a sua decisão.
— Só temos tabaco. E também gostaria de ter qualquer coisa para molhar a garganta e que seja um pouco mais suave do que a água.
— Abre bem os olhos — recomendou-lhe Johnnie.
Sally aproximou-se dele e apertou-lhe o braço.
— Confio que será cauteloso.
— Sê-lo-ei — Chuck sorriu com simpatia. — Você pede as coisas de uma maneira tão diferente de Johnnie, que não saberia negar.
Sally riu-se. Era a primeira vez que a via rir e Chuck sentiu-se feliz por poder levar um pouco de luz à sua alma atribulada.
Montou a cavalo e afastou-se, embora dando urna volta para entrar na aldeia pela parte norte. Os dois jovens permaneceram silenciosos uns minutos, vendo-o partir. Quando Sally se voltou, reparou que Johnnie a estava a observar com expressão preocupada.
— Teme pelo seu irmão? — triste sorriso.
--Não — negou Johnnie. — Chuck sabe livrar-se bem de qualquer perigo. Temo
—Por mim?
—Sim; pergunto a mim próprio constantemente, se a nossa chegada a Tucson não terá servido senão para lhe criar complicações.
Sally moveu a cabeça, negando', enquanto se deixava cair ao pé da árvore em que Johnnie se apoiava.
—Teria sido pior — disse. —Sem o apoio do seu irmão, ter-me-ia visto à mercê de Donally e da sua pandilha de velhacos. Creio que a Providência vos enviou no momento preciso.
— Espero que na Califórnia seja mais feliz do que foi em Tucson.
— Deseja isso, na verdade, Johnnie? — perguntou ela, olhando-o fixamente.
— Dar-se-á o caso de duvidar?
Sally sorriu e voltou a negar.
— Porque não abandonam essa vida perigosa e escolhem outros caminhos para dirigir os vossos passos?
— Resta ainda bastante para fazer.
— É assim tão importante para vocês que esse Growell continue ou não a viver?
Johnnie não respondeu durante os primeiros momentos. Inclinou a cabeça e, durante uns segundos, ficou pensativo.
— Não poderíamos ter um momento de calma, sabendo que esse miserável continua a maquinar contra muitos inocentes. A sua morte é tão necessária como a das feras que entram nos currais e aniquilam o gado.
— Compreendo-o, Johnnie — insistiu Sally, levantando os olhos para ele. — Mas existe um perigo muito grande para os dois. E pode acontecer que não seja Growell o mais prejudicado.
— Não importa — respondeu, secamente. — A sorte de Growell já está decidida. Parecer-me-ia ver, a cada momento, o espectro do meu pai apontando-me com o dedo, por não ter sabido fazer justiça aos muitos crimes desse homem,
— E se eu lhe pedisse que renunciasse a essa vingança, Johnnie? Atrever-se-ia a fazê-lo... só por mim?
Ele olhou-a, com assombro.
— Assusta-me pensar que lhe possa suceder qualquer coisa má, Johnnie — continuou Sally com voz de súplica. — Sinto por si... pelos dois, um verdadeiro afecto. Creio que não poderia separar-me e deixá-los na incerteza de que algum mal lhes viesse a acontecer.
Johnnie atirou para um lado a machada que tinha na mão e sentou-se no chão, junto da rapariga que tanto desejo tinha de o convencer.
— Não volte a falar-me assim, Sally — disse com voz alterada. — Ando a manter comigo próprio uma dura luta e pressinta que as forças me começam a faltar. Não posso atraiçoar o meu irmão nem a memória do meu pai.
Sally levantou-se e encaminhou-se para onde tinha ficado, o balde da água. Pegou-lhe para se dirigir ao local onde estavam as brasas da fogueira meio consumida. Mas antes de lá chegar, Johnnie alcançou-a e pegou-lhe por um braço.
— Sei que é inútil negá-lo — disse apressadamente. — Você fez de mim um joguete, ao seu capricho. Será porventura isto o que pretende?
Salily olhou para ele e os seus lábios entreabriram--se para negar a acusação do rapaz.
— Não; juro-lhe que não foi essa a minha intenção.
— Que é, pois, o que pretende?
— Nada — balbuciou' com voz (trémula.
Johnnie apertava-a com força. Tinha o rosto dela tão perto, que um ardente desejo o envolvia, desvanecendo do seu espírito a força de que tentava rodear-se.
E, de repente, atraiu a rapariga com força e uniu a sua boca à dela, numa ânsia infinita de acalmar aquele desejo que o devorava.
Sally ensaiou uma tímida resistência que, no mesmo instante, abandonou. As suas mãos levantaram-se numa tentativa de o recusar, mas acabaram por subir até aos ombros do rapaz e enlaçar o seu pescoço, num abraço cheio de amor.

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