segunda-feira, 20 de julho de 2015

PAS508. O agente implacável

Um homem, um desconhecido, apoiava-se na sela do seu cavalo. Observava-a, intrigado, percorrendo o se olhar até pelos mais insignificantes pormenores da sua indumentária. Empunhava um revólver, mas não apontava para ela; talvez lhe repugnasse apontar a uma pessoa indefesa sendo, para mais, uma mulher.
— Interessa-lhe o que acaba de ler? — perguntou com voz fria, embora fosse evidente que tentava ser cortês.
— Parei..., parei para saber quem era esta pessoa — Sally tentou sorrir, ao mesmo tempo que apontaa o corpo do foragido pendurado da árvore.
— Esse foi Jed Kissey — confirmou o desconhecido — Um sujeito que não podia acabar senão, num local como este. Mas por baixo, há outro escrito que se refere a outras pessoas. Leu-o?
Sally confirmou, fazendo um esforço para se dominar. Pensava em Chuck o qual, de onde estava, não podia ver o homem que lhe falava. Mas assim que saíssem das árvores, daria conta de que ela não estava só. Então...
— Sabe alguma coisa dos irmãos Alston? — perguntou-lhe aquele homem.
Sally negou, mas tinha a certeza de que a sua perturbação a denunciava.
— É possível que um deles não ande longe. Esteve em Boswell e lá comprou umas peças de roupa de mulher. Umas peças... muito parecidas com as que você tem.
Sally compreendeu que tinha de se entender com uma pessoa astuta e que conhecia sobejamente a sua identidade.
— O meu marido esteve em Boswell e comprou esta roupa para mim — disse com calma. — Mas ele não se chama Alston.
— É uma estranha coincidência — sorriu o desconhecido. — Como é o facto de você e a menina Foster se parecerem extraordinariamente.
— Não sei quem é essa mulher.
 — É possível -- admitiu aquele homem; mas necessito de me convencer de que o seu... seu marido — repetiu maliciosamente — não é, na verdade, um dos Alston. Onde se encontra, neste momento?
Sally olhou para as montanhas.
— Do outro lado do caminho — disse, procurando que a sua mentira não fosse descoberta. Saí para dar uma volta e aproximei-me daqui, atraída por este espectáculo.
— Nesse caso, peço-lhe que tenha a gentileza de me levar até junto dele. Agradar-me-á saber que o seu marido não tem nada que ver com o cartaz que acaba de ler nesse poste.
Pegou na rédea do cavalo e aproximou-se da rapariga.
— Suba para aí.
Sally não se fez rogar. Não se podia opor às pretensões do desconhecido, porque seria inútil. Por outro lado, pretendia não despertar os seus receios e obedeceu para facilitar a Chuck salvar tão melindrosa situação.
Conduzindo sempre à rédea o cavalo, o homem foi até um sítio, entre as árvores, onde estava a sua montada. Saltou para a sela e, com um gesto, indicou a Sally que fosse à frente.
— Espero que não dará ocasião a que suceda qualquer coisa desagradável — avisou-a, não obstante.
Saíram da espessura das árvores e atravessaram espaço descoberto que os separava das montanhas. Sally estava certa de que Chuck já a teria visto e que estaria a adoptar as necessárias medidas para resolver a situará em que se via envolvida.
Sem hesitar, dirigiu o cavalo para o caminho. Sentiu fixos, nas suas costas, os olhos do desconhecido que, nem por momentos, tinha voltado a guardar o revólver no coldre.
Desta forma, chegaram ao pé da montanha. Sally dirigiu o seu cavalo para a abertura que deixavam entre si as duas elevações.
— Não se esqueça de que, para minha segurança, tenho de apontar as suas costas com o meu revólver — recordou-lhe o homem. — Não queria ter de o fazer, mas não tenho outro remédio.
Sally nem se voltou. Tinha a certeza de que, em qualquer ponto daquela espessura, Chuck estaria aguardando como uma pantera à espreita.
Tudo aconteceu muito antes do que esperava. Ouviu um ruído atrás de si e, ao voltar-se viu que dois corpos rolavam no chão. O revólver que o seu apreensor empunhava disparou-se, mas a bala perdeu-se, silvando entre os ramos que se entrelaçavam sobre a sua cabeça.
Chuck tinha surgido de entre uns arbustos e acabava de saltar sobre a sua presa, surpreendendo-a desprevenido. O primeiro objectivo do ruivo Alston tinha sido alcançado, ao desarmar o seu adversário. Agora tornava-se necessário subjugá-lo.
Sally bem depressa se apercebeu de que Johnnie também estava ao facto do que se passava. Surgiu do lado oposto e dirigiu-se para ela, com o fim de a afastar do campo da luta.
— Temo pelo que possa acontecer a Chuck — balbuciou, assustada.
— Não conheces o meu irmão — Johnnie sorriu. — Podia ter-se livrado desse homem em poucos segundos, mas Chuck gosta de brincar conto faria um gato com um ratinho.
Mas não tardou a convencer-se de que o adversário do seu irmão estava muito longe de ser o inocente ratinho que imaginara. Numa das alternativas da luta, viu-o ficar por baixo do ágil e musculoso corpo da misteriosa personagem. Foi de tal forma, que Johnnie começou a pensar seriamente se não teria chegado o momento de intervir em auxílio de Chuck. Mas, com um poderoso esforço, este livrou-se do seu adversário, lançando-o por cima da sua cabeça e fazendo-o cair de costas.
Chuck refez-se rapidamente e Johnnie foi em seu auxílio. Os dois revólveres apontaram o corpo do homem que tinha caído e que, aturdido pela pancada se esforçava por se levantar, apoiando-se numa árvore
Então, puderam ver que, debaixo do colete, brilhava uma estrela de prata com o distintivo dos Guarda Rurais.
O que haviam receado acabava de suceder. A lei, seguindo os seus passos por mil caminhos diferentes e invisíveis, tinha chegado até eles para os avisar de que não podiam mover-se, sem denunciar a sua presença a, todos os que tinham um enorme empenho em os prender.
— Que vieste fazer aqui? — perguntou-lhe Chuck com voz agressiva.
O homem olhou para um e outro, alternadamente acabando por esboçar um sorriso. irónico.
— Não me enganava, certamente— disse. -- Os dois Alston, em carne e osso, e o seu fiel e abnegado cúmplice, a menina Foster.
— É isto tudo que tens para dizer? — continuou Chuck, impassível.
— Nada mais posso dizer. Estou desarmado e pode dar-me um tiro, quando lhes apetecer. Na nossa profissão, morre-se de qualquer maneira e nos lugares que menos se pode imaginar. Por vezes, perde-nos uma pequena frase, um erro insignificante. E o meu foi acreditar que uma mulher dizia a verdade.
Ele envolveu Sally num olhar expressivo que fez corar a jovem..
— Quem te mandou seguir-nos? — perguntou Johnnie.
— Isso importa muito, porventura? Enviarão outros e, tarde ou cedo, acabar-se-ão as vossas fugas.
— Nós não somos pistoleiros nem criminosos de profissão.
— Não duvido. Antes de matarem Sterling, eu tinha interesse em evitar o irremediável. Reconheço que a razão estava do vosso lado. Mas Sterling não devia entrar nos vossos planos de vingança.
— Tive de disparar para impedir que ele o fizesse sobre nós.
— Era seu dever.
— E o nosso consistia em evitar que se culpasse uma mulher inocente. Na altura, ninguém acreditou nisso e não acreditaram nela, porque necessitavam que alguém respondesse pela morte de Donally. Se a Justiça se preocupasse em proteger o homem honrado e em castigar o delinquente, tanto Jansen como Donally e Growell estariam, há muito tempo, a apodrecer atrás das grades de qualquer penitenciária. E, em vez disso, que se passa? Desfrutam ilegalmente os seus roubos, enquanto as pessoas honradas são perseguidas para evitar que o seu ódio as alcance. É essa a espécie de Justiça que tanto te empenhas em fazer resplandecer?
— O polícia não respondeu. Havia um brilho no seu olhar que, certamente, não refletia animosidade nem ódio por aqueles que procurava.
— Eu não julgo os homens — respondeu. — Limito-me a dar-lhes caça, quando me ordenam isso.
— Não duvido — redarguiu Johnie. — Mas, desta vez coube-te a sorte de perder. Aceitarias renunciar seguir-nos se te deixássemos ir em paz?
— É uma proposta estúpida, Alston — respondeu.
— Já pensaste que estás nas nossas mãos e que podemos matar-te e cavar aqui mesmo a tua fossa? No teu expediente poriam uma simples anotação: «Desapareceu sem deixar rasto».
— Ninguém desaparece sem deixar rasto — o agente sorriu. — E ainda que assim fosse, outros seguiriam as minhas peugadas. Tarde ou cedo, dariam com os dois. Além disso....
— Além disso... o quê?
— Os Alston não são assassinos.
Chuck começou a rir.
— Estás a pretender tocar a nossa corda sensível.
— Não — negou o Rural. — Sei o que os impulsionou a matar Jansen e Donally. Eu, no vosso lugar, talvez tivesse feito o mesmo. Inclusivamente, fiquei aborrecido por me designarem para vos perseguir. Pensei apenas que vos poderia ajudar, impedindo que derramassem mais sangue numa vingança cuja justificação não discutirei. Mas, em Tucson, compreendi que tinha chegado tarde. Talvez... talvez haja uma possibilidade de atenuar a morte de Sterling, alegando que foi defesa própria.
— Nunca cairei nessa cilada, amigo — Chuck sorriu, movendo a cabeça. — Todavia, não tenho o praze de saber quem decidiu amargurar-nos a existência.
— O meu nome é Falker. Sargento Falker da Divisão 16.

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