sexta-feira, 10 de julho de 2015

PAS500. Uma garrafa para ajudar à resistência

— Acomoda-te onde quiseres. E você também, King.
— Obrigado — disse o pistoleiro. — Obrigado, doutor. É a primeira vez que em Yegua City não me consideram um leproso. Até agora, só havia colhido desprezo.
— Talvez aconteça que o amigo Thompson comece a conhecer-te — acrescentou Jess.
— Talvez — admitiu o veterinário. E logo, alcançando a garrafa posta de parte, propôs: — Acabemo-la. Deve dar à justa para nós os três.
Concordaram e beberam cm franca harmonia. Porém, enquanto o forte «whisky» oferecido por Stattun Wolkan ia desaparecendo da garrafa, outra vez a fatídica palavra «realidade» tomou forma no espírito de um dos três bebedores. Agora, tocava a vez a Budy King, o «homem mau» desprezado por todos em Yegua City.
Olhava Jess pelo canto do olho e pensava. Sim. O pequeno pistoleiro ia dando forma no seu desperto cérebro a uma loucura que tinha muito de sublime. Ele, só ele, podia cancelar a dívida contraída com a sociedade e pagar com o seu sacrifício as bondades recebidas do seu patrão. A ideia satisfê-lo e decidiu estudá-la quando se deitasse a descansar.

***
Ainda era noite, mas não tardaria em amanhecer, porque para Oriente pintava-se um rubor que anunciava o nascimento do novo dia. Outro dia... e mais cadáveres para encher o cemitério de Yegua City, o povoado que fora tranquilo e agora vivia dilacerado pelas garras do terror.
Nisto voltava a pensar Budy King, apesar de que não tinha quase deixado de o fazer desde que se acomodara junto da mesa., enquanto, no maior silêncio, começava a levantar-se, felina e sossegadamente. Não produzia o menor ruído, porque o seu mirrado corpo parecia mais o de uma cobra-cascavel que, estranhamente, tivesse tomado a forma humana.
Jess Sylvan, deitado de lado, dormia com uma calma capaz de deixar maravilhado quem estivesse ao corrente dos seus temerários propósitos. Thompson estava quase estendido na cadeira, mas a intranquilidade que o dominava impedira-o de pregar olho durante a interminável noite. Foi ele, tão suave como o próprio Budy, quem se interpôs no seu caminho, impedindo-lhe a passagem.
— Aonde vai, King? — murmurou.

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