terça-feira, 2 de agosto de 2022

CLF048.11 O fim do inferno para Mac Gregor

Havia horas que Mac Gregor rondava próxima da cabana. As pegadas que tinha seguido conduziam-no até lá.

A primeira coisa que fez ao avistá-la foi desmontar e esconder o cavalo. Junto duns taludes, qual estátua de pedra, assim ficou imóvel «Thunder».

Feito isto, deu uma ampla volta alcançando a habitação pela parte de trás. Nenhuma pegada partia da cabana até ali. E no entanto, os homens que tinham levado o dinheiro e a rapariga encontravam-se lá dentro. Estaria esta também lá? E Kennedy? Admitiu que não, a não sei que se encontrasse entre os atacantes, coisa que não acreditava.

Então, sabedor de que «Thunder» se não moveria do lugar onde se encontrava, procurou um sítio onde pudesse esconder-se, sem perder de vista a habitação.

Conseguido isto, esperou o momento oportuno, que tinha de chegar quando as primeira sombras da noite caíssem sobre as cercanias.

Rapidamente, traçou um plano. Simples, mas arriscado. Procuraria aproximar-se da cabana e tomá-la de assalto, a tiro, contra os seus ocupantes contanto que não houvesse mais ninguém lá dentro. O fator surpresa seria seu aliado, visto que não o esperavam.

A Kennedy meter-lhe-ia uma bala numa perna ou dar-lhe-ia uma boa pancada na cabeça. Seria uma forma como qualquer outra de o pôr fora de combate e ao mesmo tempo ajustar umas contas pendentes. Depois, pô-lo-ia fora da fronteira, a pedir esmola.

Se os seus pensamentos se tivessem materializado em palavras, próximo de Marah Stivens, a rapariga ter-se-ia admirado ao verificar que estes corriam a par com os que formulara in mente Richard Kennedy no interior da cabana.

Por outro lado, havia a rapariga. No caso de se encontrar lá dentro, se o vissem, ela serviria de escudo aos foragidos e ele teria de entregar-se a uma morte certa. Aquilo não contava para nada nos seus planos de momento.

Sem se atrever a acender o cigarro, Mac Gregor esperou. Várias horas depois, e quando a lua iluminava com intensa claridade a paisagem, pôs-se em movimento. Rastejando no mais completo silêncio, foi-se aproximando com precaução, em linha recta, da cabana. Quinze jardas faltavam para chegar à construção quando se deteve pondo-se de pé, atrás do grosso tronco duma árvore.

Não desejando dar quartel esperou com as mãos firmemente agarradas às culatras dos «Colt». Depois rememorou um a um os rumores que tinha ouvido na noite no seu caminho em direção à ca-bana. Havia qualquer coisa que não parecia marchar bem.

A sua intuição de homem habituado em mil combates assim lho dizia. Tenso como uma estaca, não se atrevia a prosseguir. A cabana estava silenciosa. Encontrava-se precisamente na parte traseira e por isso não se via luz. Então, Mac Gregor, pensou que talvez fosse aquilo mesmo o que o mantinha em guarda. A absoluta quietude que se notava à sua volta.

Aquela falta de vigilância no lugar que ele sabia, de certeza absoluta, iria cobiçar pelo menos a três foragidas da quadrilha de Richard Kennedy. Estariam emboscados por entre as árvores ou por detrás das espessas matas de artemisa?

Franziu ainda mais a boca com aquela expressão característica e deixou de fazer conjeturas para olhar atentamente as cercanias procurando qualquer vestígio ou rumor que delatasse a presença de algum ser humano fora da cabana.

O silêncio continuava a ser absoluto.

Então, Mac Gregor, decidiu-se, embora empregasse infinitas precauções antes de sair detrás do grosso tronco. Porque não lhe entrava na cabeça que o não esperavam. Não acreditava que se tivessem deitado a dormir com absoluta tranquilidade sem pensar vos mortos que deixaram atrás de si, nem nos cento e cinquenta mil dólares.

Tateou o solo com o pé. Depois, apoiou-o, e acto contínuo deu um passo em frente fora já da proteção da árvore. Havia mais a escassa distância, donde se encontrava agora, entre ele e a casa. Alcançá-la dali seria coisa fácil.

Mac Gregor deu um passo em frente, depois outro. Ao quarto, um ramo estalou sob os seus pés, produzindo um seco ruído. No mesmo instante se imobilizou, embora não fosse por mais de um segundo. Depois saltou para a frente, procurando proteção entre os troncos, precisamente a tempo.

Uma chama vermelha surgiu à esquerda e a detonação ouviu-se seca e potente na quietude da noite. A bala mergulhou com um som surdo entre o seu rosto e a árvore fazendo-o deter-se repentinamente, para depois, num movimento relampejante, se voltar de frente para o local, enquanto as suas mãos se dirigiam rapidamente para as armas.

Dentro da cabana a detonação sobressaltou Richard Kennedy, que contraiu ainda mais as mãos sobre os «Colt» que empunhava. Fixava agora os olhos como brasas acesas no resquício que formava a porta entreaberta, apontando a arma para ali, como se antevisse o que se iria passar lá fora.

Marah sentiu que o coração lhe parava de angústia. Mac Gregor, «o seu Spencer», tinha vindo e ia morrer. Tentou levantar-se. No mesmo instante, a voz odienta de Kennedy fez-se ouvir:

— Mexe-te e mato-te, Marah Stivens!

A rapariga compreendeu pelo tom da sua voz que o faria. Assustada, ficou quieta, olhando com os olhos desmesuradamente abertos para a figura semi-encolhida do seu raptor. Uma nova e súbita detonação, fê-la saltar, sem dar por isso, sobre a esteira, e começou a soluçar entrecortadamente quando aos seus ouvidos chegou com toda a nitidez o agudo lamento de uma agonia.

Houve uma pequena pausa, talvez de segundos, até que subitamente começaram a soar mais disparos. Depois, uma extrema quietude.

O pranto da rapariga transformou-se em alegria quando ouviu aquela voz.

É que...

Mac Gregor, voltado já de frente, mas encolhido como um puma e os «Colt» prontos a lançar rajada de chumbo e destruição, não viu ninguém na sua frente. Retrocedeu de costas sem perder de vista o lugar. Próximo já da primeira árvore, uma sombra saiu, rápida como um relâmpago, da obscuridade à sua esquerda, passando de um tronco para o outro. De soslaio, viu o reluzir dos «Colt».

Então deu um quarto de volta sobre si próprio, enquanto se deixava cair no solo disparando ao mesmo tempo. Um longo lamento de agonia foi a resposta, enquanto na sua frente brotavam três línguas de fogo de forma simultânea, enquanto Curley rodava por entre as matas de artemisa pagando com a vida o intento de lhe cortar o caminho para a cabana.

Os raivosos projéteis passaram assobiando por cima da sua cabeça e perderam-se na noite completamente inofensivos.

Mac Gregor deu umas duas voltas pelo solo, depois imobilizou-se olhando para a espessas mata de artemisa que tinha na sua frente. Esconder-se-ia ali.

O silêncio à sua volta era sepulcral. Mac Gregor deixou passar uns minutos, e depois gritou:

— Puxa pela arma, ou mato-te!...

Rápido como o pensamento, mudou de posição dando umas duas voltas sobre si mesmo. Sucedeu o que esperava, visto que a réplica foi veloz e mortífera. De um ponto situado a umas três jardas à direita das matas de artemisa, surgiram três línguas de fogo, que pareceram uma só por tão rápidas que foram.

Mac Gregor sentiu o estalido seco dos projéteis quando se enterravam no tronco que tinha junto de seus pés, precisamente no local onde antes tivera a cabeça. Mas fê-lo já com o «Colt» direito levantado e disparando com a rapidez que caracterizava todos os seus actos. Atirou contra os fogachos com uma velocidade alucinante. Quase no mesmo instante, viu o homem levantar-se e cambalear sobre as suas pernas inseguras. Depois, mediante um esforço, reafirmar-se sobre elas e apontar-lhe depois os reluzentes canos dos revólveres. Mac Gregor tinha a arma direita descarregada. Levantou, portanto, rapidamente a esquerda e acto contínuo meteu duas balas na cabeça do homem, desfazendo-lhe o crânio. Este tombou de rosto para o sol como um manequim.

Mac Gregor continuou sem se mover do sítio onde se encontrava. Naquela postura voltou a carregar a arma com calma e depois esperou longo tempo em expectativa. Vendo que nenhum rumor partia dos arredores rastejou até ao tronco mais próximo. Depois pós-se de pé, cobrindo-se com ele, e olhando para a cabana e fazendo cálculos sobre as possibilidades que tinha de a alcançar antes que o terceiro foragido pudesse meter-lhe uma bala no corpo, aproveitando qualquer descuido seu.

Se bem o pensou melhor o fez.

Agachado, na atitude própria de um felino pronto a dar o bote, Mac Gregor correu até à cabana. Alcançou a parede de troncos, sem que nenhum disparo quebrasse a calma em que tinha caído a noite. Isto não significava para ela mais do que uma coisa: que o seu último inimigo era o mais perigoso.

Completamente colado com a cabana, Mac Gregor deu a volta a esta surpreendendo de costas Corberry quando este deslizava pelo outro extremo, ao que parecia com a mesma intenção. Isto é, de lhe sair ao encontro. A surpresa imobilizou-o por segundo. Mas depois, e incapaz de disparar pelas costas, gritou:

— Volta-te, canalha!

Corberry, dando uma clara prova do poder que tinha sobre os seus nervos, nem sequer hesitou um quinto de segundo sobre o que tinha a fazer. Como que impulsionado por uma potente mola, deu um salto para cima, ao mesmo tempo que rodava sobre si mesmo. E antes que os seus pés tocassem de novo o solo, já os seus «Colt» entravam em ação entoando a sua macabra cantilena.

Mac Gregor encolheu-se instintivamente quando dois dos projéteis se estilhaçaram na madeira a escassas polegadas da sua cabeça. Deixou-se cair então de joelhos no solo, disparando.

Falhou inexplicavelmente o seu primeiro tiro, enquanto Corberry rolava para fora do pequeno tablado que fazia de passeio em volta da cabana.

A sua intenção era clara para Mac Gregor. Queria alcançar o pesado banco que havia junto do pequeno bebedouro e proteger-se por detrás dele.

Corberry disparou novamente para se cobrir, precisamente no mesmo instante em que o jovem acionava os gatilhos.

Uma rajada de projéteis partiu dos longos canos negros, indo direitos ao seu destino. Depois, tudo voltou ao mais completo silêncio.

No pó, jazia a contorcida e ensanguentada figura do melhor atirador de Richard Kennedy. O jovem não se aproximou dele. Todo o seu interesse se concentrava na porta aberta da cabana, pela qual vinha a luz que projetava a lâmpada de petróleo.

Lentamente primeiro e mais depressa depois, foi-se aproximando.

A aterrorizada rapariga que era Marah Stivens, nada pôde fazer para o avisar. Os passos de Mac Gregor, juntamente com o som das suas esporas, soavam no seu cérebro como martelos, produzindo--lhe um inexplicável estrangulamento na garganta que a impedia de gritar como teria querido. Já se encontrava dentro de casa! Reparou como Kennedy se punha lentamente de pé. Como abria a porta. Tentou gritar novamente e... nada! As cordas vocais não obedeciam. Depois...

— Tinha-te avisado de que te mataria, Spencer!

Mac Gregor deteve-se precisamente no centro da dependência. O seu rosto não refletia a mais pequena emoção, embora lesse nos olhos de Kennedy o desejo de o matar. Apenas se acentuou ainda mais, talvez, o esgar da sua boca, enquanto pensava em Marah. A ela nada lhe aconteceria. Era um refém e com a sua morte obteria a liberdade.

— Tinha-te avisado, Spencer — repetiu Kennedy. E apertou o gatilho.

Mac Gregor fez um falso movimento instintivo de defesa. Recebeu o chumbo destinado aa peito na parte superior do ombro. Vítima de intensa dor, deu uma volta completa sobre si próprio. Depois. encarando novamente com Kennedy, olhou-o bem nos olhos. Teve muito tempo, o suficiente para descarregar ambas as armas sobre o peito do seu inimigo, antes que este disparasse de novo. Uma roseta vermelha apareceu no peito de Mac Gregor. O seu corpo musculoso estremeceu dos pés à cabeça. E coisa estranha Mac Gregor sorria!

— Obrigado... Ken... por seres tu..., quem acaba com este inferno...

E desmoronou-se. Marah conseguiu então gritar. O seu grito como o lamento de uma fera ferida de morte, pôs calafrios no corpo de Kennedy. Depois este interrompeu-se na sua nota mais aguda para terminar num afogado pranto de palavras entrecortadas.

Kennedy lançou um rápido olhar à dependência; depois deu uns dois passos em direção a Spencer. Com uma expressão selvagem estampada no seu belo rosto, que delatava o ódio que sentia, ergueu o «Colt» apontando-o à cabeça de Mac Gregor. O dedo tornou-se tenso sobre o gatilho. Então...

— Larga a arma canalha. Larga ou...

Kennedy agachou-se rapidamente voltando-se ao mesmo tempo que disparava. Parte do chumbo perdeu-se inofensivo, mas outra parte conseguiu alcançar o mexicano a meio do peito.

Pancho Suárez dobrou-se para a frente enquanto uma grande roseta de sangue lhe ensopava a camisa. Na queda perdeu uma das armas.

Kennedy apontou-lhe novamente, o «Colt», mas demasiadamente tarde para impedir a rajada de chumbo que partiu do mexicano, o qual, fazendo um poderoso esforço, no último momento da sua vida, levantou a arma, disparando contra ele seis vezes. A bala atingira Kennedy no centro do peito, atravessando-o, imobilizando-o em menos de dois segundos.

Rosetas vermelhas apareceram nele enquanto começava a hesitar indo de um lado para o outro como um ébrio. Os seus passos incertos levaram-no até junto de Mac Gregor. Cambaleou mais um instante olhando-o. Fez um esforço sobre-humano para falar, tentando reter em vão a vida que se lhe escapava aos borbotões pelas feridas. E conseguiu-o já com os lábios manchados de sangue.

— Perdoa..., Spen... Fui sempre...

E foi tudo.

Richard Kennedy caiu sobre as longas pernas de Mac Gregor. Marah Stivens jazia agora com o conhecimento totalmente perdido. Por isso, não pôde saber, mesmo muito tempo depois, da entrada impetuosa de Burton e Marty, e como estes se aproximavam primeiro de Mac Gregor e depois do mexicano que ainda vivia, nem das últimas palavras deste.

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