sexta-feira, 19 de agosto de 2022

CLF002.09 Um cerco que se aperta


Era já noite quando três vaqueiros irromperam no escritório do xerife. Peter e Chester encontravam-se com ele.

— Xerife! Há pouco fomos assaltados por uns bandidos para se apoderarem das reses que trazíamos para esta cidade. Temos dois feridos e precisamos do doutor. Vimos pedir-lhe para nos acompanhar a casa dele!

— Os assaltantes eram muitos? — perguntou Chester.

— Não, senhor. Uns oito ou nove... Nós vínhamos descuidados. O que vale é que não puderam levar as reses. O que nos preocupa são os feridos!

— Não temos médico. Há dias que esperamos um.

—Porque não trouxeram os feridos com vocês?

— Tivemos medo; talvez seja um perigo movê-los — respondeu um.

— Tenho algumas coisas para certos casos de emergência — disse Chester. — Eu irei vê-los.

— Vêm de longe?

— Vimos, sim.

— Donde? — perguntou Pete. — De Moape.

— Trabalham ali?

— Sim... com Frank Skimer — respondeu um.

— Arnold Weiss continua muito gordo? — perguntou Pete. — Cada vez mais gordo.

— E sua filha Rosa, a ruiva? Eu disse-lhe uma vez que nunca seria bonita.

— E não te enganaste! — disse outro.

— Mãos ao ar, cobardes! — intimou-os Pete — Com que então Arnold Weiss continua gordo e a filha Rosa, feia?!... Prepara três cordas, Chester. Vamos pendurá-los já, para que os seus companheiros, quando vierem procurá-los, os encontrem já sem vida.

— Mas isto é um atropelo...

O xerife ria.

— Fizeste-os cair, com facilidade. Vou já buscar as cordas... Chester desarmou-os. Os três homens estavam certos de que seriam enforcados. Começaram, então, a falar.

— É tudo mentira. Mandaram-nos aqui, para que fossem ver esses doentes. Mas não sabemos mais nada...

— É possível que te lembres depois do resto, quando a corda esticar...

— É uma tolice não falarem... Nada conseguirão com o silêncio...

— É melhor que confessemos a verdade. Mandaram-nos aqui, para os fazer cair numa armadilha.

— Quem? — perguntou o xerife — Milnor?

— Não, Linton.

— Linton? É possível? Não é esse com quem tu trabalhavas? — perguntou.

— É, sim. Custa-me a crer.

— Pois foi ele — disse outro — Eu trabalho no rancho, mas estou na parte da montanha. Por isso, não me conhecem.

— Que surpresa para mim! Mas esclarece-me muitas coisas. Como fui parvo! Por isso, me propuseram para xerife! Julgando-os descuidados, os três meliantes lançaram-se contra Chester e Pete, mas caíram logo varados.

— Agora, vamos buscar esse cobarde — disse Chester.

— Devem ter paciência e ser astutos com eles —disse o xerife. — Façamos de conta que não sabemos de nada...

— É melhor enterrá-los durante a noite, para não os encontrarem e julguem que fugiram com medo... de nós.

No dia seguinte, ninguém falava da desaparição dos três vaqueiros. Os cavalos ficaram na cavalariça de Selby. Hank Linton cumprimentou Selby afavelmente.

— Segundo sei, já se acabaram as complicações. Sabes que tens ali trabalho. Deixa-te de complicações. Já não tens idade para isso.

— Meu filho quer que eu vá para o Texas com meu irmão, para o rancho que lá tem. Tu vais e deixa essa placa. Foste sempre um homem tranquilo. Há dias que não vais visitar-nos.

— Irei amanhã ver os rapazes — prometeu o xerife, sorrindo.

Selby saiu tranquilamente. Havia conseguido enganá-lo com a maior naturalidade. Contou a Pete e a seu sobrinho o que se passara.

— Veio saber se sabias alguma coisa que comprometesse.

— E convenceu-se de que nada sei.

Entretanto, Hank Linton fora para o Saloon de Fairmont, reunindo-se com este e com o pai de Joan.

— Disseram-me que Bowler voltou ao «bar» de Fairmont — contou o xerife a seu sobrinho.

— Então, vou dar-lhe uma boa surpresa.

— Irei contigo.

— Não me convém que o xerife oiça o que eu quero dizer.

— Eu irei com ele — sugeriu Pete. — Pode estar tranquilo. Teremos os olhos muito abertos. «Já vimos que se encontra lá todo o Estado-Maior com os meliantes de Las Vegas. Mas quero perguntar-lhe uma coisa. O senhor conheceu Stickner?

O xerife olhou-o com estranheza.

— Conheci-o, sim. Um bom rapaz. Mas há muito tempo que não o vejo.

— O que aconteceu com o seu rancho?

— Creio que as autoridades de «Grande Canhão» tomaram posse dele, como indemnização pelo mal que ele tinha feito.

— Há quanto tempo não o vê?

— Há meses. E acho estranho. O seu temperamento não era permanecer silencioso depois do que se disse dele. Porque ninguém acreditou aqui nisso de assaltar diligências.

— Mas todos o afirmaram — disse Chester.

— Eu não acredito. Há meses, um vaqueiro que esteve com ele, disse-me que haviam encontrado ouro no Grande Canhão. «Ora, se é assim, ele não se dedicaria a assaltar diligências, para roubar, tendo ali uma riqueza.

— Está certo disso? — perguntou Pete.

— Pelo menos, esse vaqueiro assim disse. Não o vi mais, porque nessa noite, debaixo da embriaguez, envolveu-se numa desordem e mataram-no. Soube no dia seguinte. Tinha fugido do Grande Canhão.

— Não se lembra de quem lutou com ele?

— Não lhe perguntei.

— Gostaria de saber.

— Há bastante tempo que isso foi. Mas talvez Olímpia se lembre, pois foi no Saloon que a desordem se deu. Não falaram Mais no assunto.

Os dois jovens encaminharam-se para o Saloon. O primeiro a entrar foi Chester. Olívia acercou-se dele para lhe dizer:

— Pagas-me alguma coisa? — E em voz baixa, acrescentou: — Cuidado com a mesa de jogo! Estavam à tua espera.

— Porque não te hei-de pagar? — retorquiu em voz alta, a rir. — Suponho que não quererás beber champanhe a estas horas?

— Não. Conformo-me com um «whisky».

Os dois encaminharam-se para o balcão. Minutos depois, entrava Pete, que se aproximou deles.

— Podias ter-me dito que vinhas beber.

Chester disse-lhe em voz baixa o aviso de Olívia.

— Está tranquilo! Eu vigiarei a mesa! — retorquiu Pete, também em voz baixa.

Distraído como parecia estar, Fairmont não deu conta do que eles falavam.

— Olívia! Vem servir-nos!

— Deixa, ao menos, que ela beba o «whisky».

A rapariga afastou-se dos dois rapazes e Fairmont ficou tranquilo. Pete estava atento à mesa onde jogavam o «poker».

De súbito, dois dos jogadores começaram a discutir e puseram-se em pé. Pete e Chester sorriram. Conheciam o ardil.

Um dos que discutiam, disse que não tinha ido ali para lutar, mas o outro seguiu-o.

Quando estavam junto dos dois companheiros a luta azedou-se, procurando Fairmont intervir. Ambos tentaram puxar pelas suas armas. Mas Chester e Peter foram mais rápidos. Os dois desordeiros caíram redondamente no chão.

— Foi muito mal ensaiado! — disse Chester, apontando a sua arma para Fairmont — Um garoto de dois anos teria compreendido o truque. Porque vieram a discutir até aqui?

— Vamos enforcá-lo já!

As pernas de Fairmont tremiam.

— Mas eu não lhes fiz nada. Não deviam ter dado ouvidos a Olivia.

— Não falamos dela — disse Pete — Falamos de ti. Esses dois eram teus empregados. Ordenaste-lhes essa comédia. E agora, acabou tudo para ti.

— Não o mates, Pete — disse Chester —É melhor que se lembrem de que...

— Sinto muito, comissário. Eu disse que vou enforcá-lo e enforcá-lo-ei. Pois não vês que até se atreve a culpar esta rapariga de ter-nos avisado. Ora se nos avisou, indica que é verdade o que disseste. Se não nos avisou, é porque, sendo verdade, receou que o fizesse e, por isso, fê-la afastar daqui. Não pode ser mais claro!

— Não julguem que estou só nesta casa. Não será tão fácil fazer o que indicas.

— Ninguém se atreverá a intervir — disse Pete —Porque não ganham nada em defender quem fica com o benefício, em proveito próprio, enquanto eles se expõem a ser linchados por uns cêntimos.

Fairmont via nos rostos dos seus empregados um sorriso malicioso.

— Mas eu não lhes fiz nada! — exclamou Fairmont — Até estou a suar. E com a maior naturalidade, meteu a mão ao bolso, como se fosse procurar um lenço.

Mas quando sacou o «Colt», que tinha oculto, as armas de Pete vomitaram fogo. Os dois braços de Fairmont ficaram pendentes.

— És muito antiquado, Fairmont — disse Pete — Só conheces truques velhos.

O rosto de Fairmont estava pálido, como o dum morto. Voltando-se para os outros, berrou furioso:

— Vão deixar que me enforquem, cobardes?! Tenho-lhes pago bem e deixam que me matem? Dez mil dólares a 'quem os matar!

A quantia foi tentadora. Mas as armas de Pete e de Chester cortaram logo essas ambições. Ao ver os seis cadáveres na sua frente, Fairmont compreendeu que tinha perdido a partida. Já não lhe restava uma só esperança.

O xerife apareceu de arma em punho.

— Nada receie! — disse-lhe Pete — Foi uma limpeza.

O pai de Joan e Linton haviam desaparecido quando se iniciou a discussão dos jogadores. Tinham procurado distrair os dois rapazes, com a sua saída. Mas estes não fizeram caso. Não se atreveram a voltar, ao ouvirem os primeiros tiros. Mas Linton insistiu e foi espreitar. Ao ver os dois amigos ainda de pé, pôs-se a correr, seguido do outro.

— São dois demónios! — exclamou o pai de Joan, saltando para o cavalo e, partindo a galope.

Não se atrevendo a ficar na cidade, seguiram para o rancho. Fairmont não dizia nada. Contemplava os mortos. Alguns deles tinham sido famosos, longe dali.

— Já vês que não há salvação para ti. Vou enforcar-te. Mas há uma coisa que ainda pode salvar-te de seres pendurado, embora o deseje de toda a minha alma. Conheces Nora?

Pete lembrava-se de que Hal lhe falara de um tal Fairmont, que ela procurava, que era quem podia dar-lhe certos informes. Ao pensar nisso, pôs-se a rir.

— Como fui parvo — disse em voz alta — Tinha-os na minha frente e não dava por isso. Um morreu, mas o outro não. Enforca este cobarde, Chester. Tenho de ver outro personagem.

—Foi Ipsurich quem matou o irmão de Nora! — disse Fairmont—Foi ele quem... abusou da mais pequena. Mas agora já não há remédio!

E pôs-se a rir.

— Monstros! — exclamou Pete, fora de si. E enlouquecido pelo riso e pelas palavras de Fayr-mont, disparou várias vezes, saindo depois a correr.

Ao chegar a casa de Milnor bateu à porta. Mas ninguém lhe respondeu. Depressa se convenceu de que deviam ter ido para o rancho. Precisava de ir essa mesma noite e por caminhos onde não pudessem surpreendê-lo. Procurou então Joan, em casa da amiga.

A rapariga levantou-se assustada, supondo que iam dar-lhe conta de terem matado Chester, de quem estava enamorada. Pete tranquilizou-a, contando-lhe o que se passara no Saloon de Fairmont e o que acontecera, anos antes, com a família de Nora.

— E agora preciso de ir ao teu rancho, para que Ipsurich não consiga escapar-me.

Ela olhava-o com atenção.

— É justo o castigo desse monstro. Eu ajudar-te-ei. Irei contigo ao rancho para ver se ele ainda lá está. Direi a meu pai que resolvi voltar para casa.

— Não faças tal! — disse Pete — Embora me custe dizer-to, teu pai também será enforcado. É outro assassino como esse que procuro. O passado de teu pai é espantoso. Chester conhece-o bem. E se não o matou, foi por tua causa.

Joan tapou o rosto e chorou em silêncio.

— Estou convencida de que é o pior que se pode ser. Mas é meu pai!... Avisá-lo-ei, para que fuja. É possível que mude, por minha causa.

Pete não se atrevia a dizer-lhe que não acreditava no seu arrependimento. Os dois cavalgaram, em direção ao rancho, mas por caminhos desviados. Quando chegaram perto, Joan disse:

— Deves esperar-me escondido entre aquelas árvores. Tem muito cuidado! Não te fies em teu pai!

— Não temas. Não creio que se atreva a disparar sobre mim.

— Julgo-o capaz de tudo — confessou Pete.

Ao entrar em casa, ainda levava estas palavras nos ouvidos. E surpreendeu-se ao encontrar todos levantados, na sala de jantar.

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