Uma semana depois, Nora perguntou a Leo:
— E o rapaz? Que tal?
— Trabalha bem. Creio que passará da quantidade estipulada. Não há dúvida de que se trata de um rapaz valente.
— É bom bebedor?
— Só um «whisky» por dia. É metódico... Não passa daí!
— Agrada-me isso... embora para ti, não seja um bom cliente.
— Pois a mim, encanta-me... É agradável e sabe tratar-me com um respeito a que não estou habituada...
— Não gosto disso! Bem sabes que tu és... coisa minha. Tens de casar comigo!...
— Não me agradas, Leo... Sabes muito bem... Tenho--te dito mil vezes.
— Mudarás. É questão de tempo!
— Enganas-te...
— Isso quer dizer que te enamoraste desse rapaz?!
— Não quer dizer nada. Tu é que não me agradas...
— Todas as mulheres são tolas. Desprezam muitas vezes o ouro pelo cobre.
— As vezes, o cobre costuma ser mais útil — disse ela, a rir.
Leo estava de mau-humor por dizer tudo isto na frente dos que se encontravam no «bar». Estava certo de que todos se alegravam por ouvir Nora falar daquela forma. Isso enfurecia-o.
Nesse momento, entraram Hal e Pete. Os dois olharam para Leo e cumprimentaram Nora.
— Estava falando a teu respeito, com Nora.
— Posso saber o que diziam? — perguntou Pete.
— Ela quis saber se eu estava contente contigo e eu respondi que sim.
— Obrigado a ambos!
E voltou as costas, para falar com Hal.
— Ouve, rapaz! Quando eu falo com um dos meus subordinados, não quero que ele me volte as costas, sem saber se eu tenho mais alguma coisa a dizer-lhe.
— Nas horas de trabalho, acato todas as ordens que me derem, se forem sensatas. Mas quando largo o serviço, sou senhor dos meus actos. Agora vim beber e cumprimentar Nora.
— E sabes que Nora é coisa minha?
— Em que sentido?
— Vai casar comigo!
— Ah, sim? Os meus parabéns. Creio que é unia mulher capaz de fazer qualquer homem feliz.
— Pois eu acabo de dizer, diante de todos, que não me interessa, nem me agrada — disse Nora. — Isto quer dizer que não é verdade o que acabas de ouvir. Eu não pertenço à Empresa, para que me deem ordens como aos trabalhadores.
— Não deves incomodar-te. Os outros já sabem como penso a esse respeito. Queria fazê-lo saber também a este.
16 —
— É ela que tem de decidir e se diz que não lhe agrada, é uma desgraça para si, amigo. A mim, não me importa absolutamente nada.
— Parece-me que tenho de mudar um pouco o conceito que fazia a teu respeito — observou Leo.
— Lamento se, pelo que acabo de dizer, o senhor muda o seu modo de pensar, a meu respeito. Mas repito que fora do trabalho não me agrada que se metam nos meus assuntos.
Leo saiu do «bar». Ia bastante aborrecido. Vendo isso, Hal disse para Pete:
— Tem cuidado com ele. Fizeste aborrecê-lo deveras. E ele tem sempre «pistoleiros» que estão a seu lado.
— É preciso teres muito cuidado! — advertiu Nora.
— Serves-me de beber? — perguntou Pete — Pagarei quando receber...
A rapariga compreendeu que ele não queria continuar a falar no assunto. Minutos depois, entraram uns trabalhadores.
— Então, já sabem? Chegaram mais uns pasquins. Um deles refere-se ao Preston Madison. Parece que o governador do Arizona sente um carinho acentuado por ele — disse um dos recém-chegados.
— Estamos na Califórnia, não é isso? — disse outro. — Pode guardar todas as suas reclamações para o território de que ele é Governador.
— Onde estão esses pasquins? — inquiriu Hal.
— Leo guardou-os. Ele não faz caso dessas coisas.
Pete escutava em silêncio. Ainda não tinha visto o homem que usava o seu nome. Era esse o motivo principal porque ia ao «bar» todos os dias. Mas ia também conversar um pouco com Nora, que achava agradável e lhe parecia ser boa rapariga, apesar de viver naquele ambiente.
— Olha! — disse outro — Aí vem Preston Madison.
Pete examinou-o com um golpe de vista.
— Falavam, então, de mim?
— Parece que chegou um pasquim — disse um — que se refere a ti...
— Não me importa. São muitos os que têm sido colocados nos «bares» e ruas do Oeste. E esse não dirá nada de novo, certamente. Que sou o melhor «pistoleiro» da União e outras coisas neste estilo.
— Ao que parece, agora acusam-te de teres assaltado a diligência de Phoenix para Tucson.
Pete viu que os olhos daquele que se fazia chamar Preston Madison brilhavam de satisfação.
— Não devem fazer caso do que o Governador diz ou disser. A verdade é que não tenho nem um cêntimo, e se fosse verdade isso do assalto eu deveria ter dinheiro, visto que levavam na diligência trinta mil dólares...
— Já viste esse pasquim? — perguntou Nora.
— Não!
— Como sabes a quantia de que fala?
Pete sorria.
— É que sempre que falam de mim, citam essa quantia! — comentou Preston.
— Os Federais não vêm por aqui? — perguntou Pete.
— Vêm, mas não encontram nenhum dos que procuram — disse Hal — Costumam passar de visita e conversam com Leo, sobre os trabalhos da pedreira. Entretanto, os que acompanham o chefe percorrem os trabalhos de corte, examinando os trabalhadores. Mas tudo inútil. Aqui não queremos curiosos dessa catadura!
Preston fitou atentamente Pete e inquiriu:
— Há muito tempo que estás aqui?
— Há uma semana.
— És, porventura, o dono dessa bonita sela que Nora tem guardada?
— Sou.
— Vendes-ma? As letras coincidem com as minhas.
— É uma casualidade curiosa. Mas não a vendo. Pagar-te-ei bem. — Há pouco disseste que não tinhas um cêntimo!... Recordas-te? — observou Pete, a sorrir.
— Deixa-te de tolices e dize quanto queres por ela.
— Nada... Não a vendo... E se a vendesse, não poderias pagar-ma nem com todo o dinheiro do assalto.
Preston pôs-se a rir.
— Já disse que não fiz isso...
— Não te chamas Preston Madison?
— Sim.
— Pois é esse nome que figura no pasquim.
— É que eu tenho má fama... E todos mo atribuem.
— Viveste no Arizona? — perguntou Pete.
Preston replicou:
— Aqui, é costume não perguntar nada a ninguém. Estávamos a falar na tua sela. É uma verdadeira obra de arte. Compro-ta.
— Podemos mudar de assunto. Já disse a última palavra.
— Como te chamas?... Tens as mesmas iniciais do que eu...
— Pete Mason — disse Hal, com rapidez.
— É uma coincidência que me agrada. Dou-te trezentos dólares por ela.
Os presentes olharam-se assombrados.
— Não vendo I
— És teimoso! Advirto-te de que há-de ser minha. Se não ma venderes, de todos os modos, ficarei com ela.
— Pois eu tenho a certeza de que não será assim.
— Leo também me perguntou se querias vendê-la — interveio Nora
— Já me esquecia de dizer-te... Já ouviste o que penso a tal respeito — disse Pete, à rapariga.
— Espero que mudes de opinião. Quatrocentos dólares — insistiu Prestou.
— Nem mil. Já disse que não a vendo.
— Vejo que és um rapaz muito cabeçudo.
— Cuidado, rapazes! — avisou um da porta. — Temos visitas.
— Quem são?
— Aproxima-se um grupo de cavaleiros. Devem ser Federais...
Houve uma debandada geral. Só ficaram Hal, Pete e Preston encostados ao balcão.
— Não receias que te conheçam? — perguntou Pete a Preston.
— Nada têm contra mim — respondeu.
— Para eles não há Arizona, Califórnia ou Nevada — acrescentou Pete.
Preston andou para a porta. Foi espreitar para ver os cavaleiros, que avançavam lentamente pela rua principal. Quando voltou para junto do balcão, Pete viu-lhe um sorriso no rosto. Nora olhou para Pete e disse-lhe em voz baixa:
— Podes entrar para a minha habitação.
— Não te preocupes. Não tenho a recear nada deles. — respondeu Pete.
Hal fitou-o surpreendido. Quando os cavaleiros entraram, Nora examinou-os. Traziam o distintivo dos Federais. O chefe ao entrar, cumprimentou todos.
— O inspetor Burweel não veio? — perguntou Nora.
— Não pôde vir! — respondeu o interpelado — Foi transferido para outra zona.
— Que linda mulher, inspetor! — exclamou um dos homens.
— É bonita deveras! — retorquiu o inspetor.
— Querem beber alguma coisa?
— Pois, claro! Passámos um calor terrível!
— «Whisky»?
— E bastante! — disse — Há tempos que não bebemos.
O inspetor fitou-o, com um olhar de censura. Depois perguntou:
— Não está por aqui o encarregado?
— Está no escritório — respondeu Preston.
— É muto longe?
— São todos novos — observou Nora.
— Cada inspetor escolhe os seus homens — explicou um.
Beberam em silêncio. O inspetor saiu depois, para ir falar com Leo. Não tardou muito que os dois aparecessem, também para beber «whisky».
Enquanto eles falavam, alguns dos Federais saíram. Preston saiu também. Pete e Hal continuaram no seu sítio. Nora atendia a todos.
— Vamos? — sugeriu Pete.
— Estamos melhor aqui do que na rua! — disse Hal. — Faz muito calor.
— Talvez tenhas razão.
Dois homens, dos que tinham saído, tornaram a entrar. Pete não lhes ligou importância.
— Que linda sela que ali está! Repare, inspetor... Não lhe recorda nada?...
Pete escutou com atenção. O inspetor acercou-se do homem que lhe falara. Pete notou que eles falavam em voz baixa.
— Pois, claro!... É a mesma! — disse o inspetor.
E olhando para Nora, perguntou:
— De quem é essa sela?
— É minha! — respondeu Pete — Mas não a vendo, se é que quer comprá-la.
— Quem falou em comprá-la? Eu vou, mas é levá-la, juntamente contigo. Essa sela pertencia a um inspetor nosso que foi morto há umas duas semanas...
— Está certo disso? — perguntou Pete sorrindo. —A sela é minha. Foi um presente de um dos chefes «Navajos». Podem lá ir e perguntar!...
-- Bonita história! Porque não contas outra? —replicou o primeiro que a descobriu.
— E posso acrescentar que foi Preston quem te pediu para a levares, porque eu não quis vender-lha... e que vocês não são Federais, nem coisa que se pareça com isso... São companheiros deles nos assaltos que fazem. Há algum em perspetiva? Que desajeitados e inábeis que são!
Leo fitava interessado Pete. Hal sentia um medo terrível. Nora preparava o «Colt», que tinha entre as garrafas.
— Por isso Nora não conhece nenhum de vocês —acrescentou Pete — E não pensem em levar-me detido para me deixarem no meio do deserto, com uma carga de chumbo metido nas costas. Leo também é vosso conhecido?
— Conheço o inspetor há anos — disse Leo.
— Deveras? Que bela surpresa, então, por se terem encontrado assim!
— Esta sela era, com efeito, de um inspetor nosso — insistiu um dos cavaleiros. — Vi-a muitas vezes. Chamava-se Patrick Morton...
— Não há dúvida de que tens imaginação. Para Preston Madison também servia, como sendo sua. Vi-o falando com estes dois. Nem deram conta de que estavam em frente da porta...
— Que embusteiro! Falámos atrás desta... é mentira o que dizes!...
— Descobri-te, amigo... — disse Pete. — Caíste na armadilha. Falaste com Prestou, atrás desta casa. Ele ofereceu-te muito para me roubares a sela? Mas o caso é que eu não estou disposto a que ma levem!...
— Já te disse que a levarei e a ti também para que respondas pelo que fizeste ao inspetor.
— Não continues... Por agora, não penso sair daqui. Não sabem fazer as coisas... O que me surpreende é a atitude de Leo. Segundo afirmou, conhece há tempo este inspetor, donde se conclui que vieram aqui por alguma coisa que interessa a todos. Podem levar a pedreira e todo o bórax, se querem, mas a sela é que não. É minha e matarei todo aquele que dela se aproxima.
— Parece não dares conta de que somos sete.
— Isso não me assusta! — replicou Pete.
— Representamos a autoridade.
— Vocês não representam nada. São uns assassinos, porque esses distintivos pertenceram sem dúvida a Federais autênticos e agora estão nas mãos dos seus matadores...
— Continuo a mudar o meu modo de pensar a teu respeito — disse Leo.
— Que pena! Acontece o mesmo comigo, a teu respeito. Agora vejo mais claro do que antes.
— Não dás conta do que dizes nem da situação em que te encontras — observou Leo. — Olha que é perigoso defrontar os Federais.
— Deves escutar isto, meu rapaz. É verdade que estás numa situação muito delicada. Se deixares que te levemos detido, é possível que demonstres que estou enganado. Podias muito bem ter comprado esta sela, sem saber que pertencia a um inspetor... Mas se resistes a que cumpramos com o nosso dever, então obrigar-nos-ás a empregar outro procedimento.
— Não me assustas; já te disse que estou resolvido a que não me deixem estendido no deserto, com uma carga excessiva de chumbo, ministrada à traição pelas costas, pois de frente é muito difícil que possam fazê-lo. O vosso amigo ou vosso chefe já devia ter pensado que é loucura perder a vida por causa de uma sela de couro cinzelado, por muito que lhe tenha agradado.
— Creio que perde o tempo, inspetor — exclamou Leo.
— Até que, enfim! Alguma vez havíamos estar de acordo — disse Pete. — Onde conheceu o Inspetor? Creio que a Companhia do Bórax não conhece bem o seu capataz geral.
— Não deves aumentar o número dos teus inimigos — replicou Leo, sorrindo. — Não achas estes bastantes?...
— Um mais não tem importância. São doze as balas de que disponho. Mas se retificam e confessam que se enganaram com o caso da sela, não me importa que se façam passar por Federais, sem o serem. «O que não quero é que me roubem e muito menos que me matem...
— Estás a aborrecer-me rapaz! Até agora, tenho levado a rir o que tens dito..., mas estás a tornar-te pesado — disse o inspetor. — Não me agrada nada, ter de recorrer às armas. E o facto de prender-te não quer dizer que vás morrer...
Alguns trabalhadores, ignorando a visita dos que se diziam Federais, tinham entrado no «bar». E escutavam aquilo com atenção e surpresa. Viam Pete, a quem não haviam ligado importância, ao princípio, de cabeça erguida, enfrentando tantos homens. E isso assombrava-os.
Nora não deixava de vigiar todos, atentamente, empunhando o «Colt», disposta a fazer uso dele, se fosse necessário. Ela estava tão convencida, como Pete, de que aqueles homens eram uns impostores e uns criminosos, de acordo com o falso Preston Madison.
— Lamento muito que te aborreças, mas mete isto na cabeça: não irei preso, para sítio algum.
— Parece-me que o deixaste falar mais do que o suficiente, não concordas? — perguntou um dos homens, ao seu chefe.
— Isto é engraçado! — observou Pete.
— O quê?
— Que estes Federais tenham tão pouco respeito e disciplina com o seu chefe... Até o tratam por tu!... Não sabem desempenhar o seu papel como é devido...
— Eu cansei-me de...
Um deles tinha movido as mãos. Foi o bastante. As suas intenções não tinham sido boas. E tudo se passou num ápice. Nora olhava assombrada para Pete. Leo tinha os olhos fora das órbitas. Sete cadáveres estavam caídos na sua frente.
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