terça-feira, 30 de agosto de 2022

CLF036.03 Fuga na noite frustrada por ladrões de cavalos


Murray correu para a porta, onde se deteve um instante, paralisado pelo que via, embora a primeira sensação de surpresa tivesse sido rapidamente substituída por repentina fúria.

Junto do arroio próximo, onde tinha estado bebendo água, «Giddy» debatia-se indómito, erguido nas patas traseiras, procurando contrabalançar a força do laço que rodeava o seu pescoço e pelo qual puxava fortemente um homem montado a cavalo, que pretendia dominar por meio da asfixia o encabritado animal.

E o cavalo montado pelo ladrão era precisamente o que lhe tinha sido roubado dias antes!

Tirou-o do seu momentâneo pasmo um disparo que roçou a sua cabeça, feito por um segundo foragido, que entrincheirado atrás de umas rochas, protegia a tarefa do seu companheiro.

Afortunadamente, o homem não dispunha de uma carabina e a distância resultava um pouco excessiva para o revólver, como se comprovou ao resultar inofensivo um segundo disparo feito por outro ladrão, também protegido pelas rochas e mato do outro lado do arroio.

Murray correu para a sua carabina como uma fera, tropeçando com Tony, que tinha encontrado os revólveres e os estava carregando febrilmente.

— Malditos desavergonhados! — rugiu o rancheiro, pálido de ira. — Pensarão que somos fornecedores de cavalos? Eu já vos digo, ladrões!

Mas então já estava na porta disparando, se bom que tinha de o fazer cuidadosamente e sem poder apontar com precisão, visto que as balas choviam sobre a cabana. Um momento depois, os dois «Colts» de Mills entravam em ação, unindo-se ao estrondoso e desafinado concerto.

O único ladrão montado devia ter ouvido zumbir alguma bala demasiado próxima para a sua tranquilidade, porque se atirou de cabeça ao solo, desaparecendo rapidamente atrás do mesmo parapeito que protegia os seus companheiros.

Então, «Giddy» galopou para a cabana, seguido pelo outro animal, que não opôs resistência alguma, causando com isso um sobressalto a Tony, que receou pelo seu corcel ao vê-lo interpor-se na linha de tiro.

— Nada receies pelos cavalos, rapaz — tranquilizou-o Murray, impedindo-o de se erguer. — São demasiado preciosos nestes lugares para que se arrisquem a feri-los.

— Mas, então...

— Creio que por hoje terminou a batalha.

— E resignam-se a perder os cavalos?

— De nenhuma maneira! A partir de agora teremos que andar com muito cuidado se não queremos cair nalguma armadilha mortal. Certamente que não voltarão a atacar-nos de frente, mas farão o possível por nos eliminarem.

Os ladrões, tornando efetivas as palavras de Murray, suspenderam o tiroteio.

— E vamos deixá-los escapar? — perguntou Mills, colérico. — Estão ali, e não podem sair, s não os deixarmos.

— Podemos sair a atacá-los — disse o barbudo, resmungão, erguendo-se protegido pelos cavalos, que se tinham detido em frente da porta, e aproximando-se do seu, que o recebeu com evidentes mostras de alegria, — expondo-nos a que nos crivem de balas, dos seus esconderijos.

Enquanto falava pôs-se a revolver uma espécie de toscos alforjes que o seu corcel levava sobre o lombo, presos por uma tira suja do que devia ter sido uma manta. Mas não continham nada de interesse e livrou o animal do antiestético equipamento.

— Tu és demasiado bom para montada de semelhantes tinhosos! — resmungou.

Deixou-o preso, junto com «Giddy», em frente da porta, voltando-se depois para Tony que, empunhando um dos seus longos e azulados «Colts», sentado à porta da cabana, perscrutava as margens do arroio.

— Tu, que fazes levantado? — perguntou-lhe ainda resmungão. Para a cama, amigo. Tens que te pôr bom depressa. Agora, temos de pensar noutro plano.

— Já estou bom — protestou o jovem.

— O diabo, é que estás! Estás pálido e nem sequer te podes ter em pé.

Aquilo era um pouco exagerado, mas de nada valeram os protestos de Tony e teve que regressar à cama.

— Assim está bem — murmurou Murray, satisfeito, uma vez que o seu jovem amigo estava deitado. — Depois discutiremos o novo plano, mas agora vamos comer, porque tantas emoções abriram-me o apetite.

— Esses tipos já se terão ido embora? — perguntou Mills, um pouco preocupado.

— Certamente. Não são mais que ratas asquerosas que não se atrevem a dar a cara. Descuida-te e receberás um tiro pelas costas, mas não há cuidado de que deem a cara.

— Pois já viste como pretenderam roubar-nos o «Giddy» em pleno dia... Devem tê-lo tentado durante todas estas noites. Todas elas o deixei atado à porta e chegou até a despertar-me três vezes na mesma noite, escarvando inquieto. Julguei que fosse algum lobo e, na primeira noite, cheguei a disparar uma vez contra um vulto que se arrastava junto ao arroio e que imediatamente desapareceu entre o mato.

— Não ouvi nada.

— Não... — sorriu Murray. — Dormias como um tronco. Mas não tenhas dúvidas de que foi isso o que os impediu de se acercarem. Por isso aproveitaram a ocasião em que «Giddy» esteve mais longe daqui e, devem ter esperado intimidar-me, convencidos de que tu estavas fora de combate. Já viste como se espantaram pronta mente, assim que lhes mandámos umas quanta pílulas.

Mais tarde, enquanto servia o almoço, o barbudo Michael Murray prosseguiu loquazmente

— A verdade é que não nos podemos queixar. Caldo e carne assada para ti; caldo também e carne cozida para mim. Como vês, temos muita variedade. Que te apetece para a noite?

Tony riu divertido.

— Tenho bastante fome para comer o quer que seja sem demasiadas exigências.

— Ah! Mas é que não devemos ser excessivamente transigentes, porque então os criados abusarão de tal maneira que isto acabará por ser insuportável. Bem sabes como está o serviço!

O jovem seguiu a brincadeira de bom humor

— No fim de contas, não temos que nos preocupar com isso. Assim que comece a ocorrer o que temes, mudamos de hotel e está tudo resolvido.

Agora, foi a vez de Mike rir alegremente.

— Vamos dar-nos muito bem, sabes, rapaz? Sempre fui muito sociável e passei uns meses infernais nesta solidão, sem poder falar mais que com o meu cavalo e comigo. Por isso agora tenho de me desforrar. Manda-me para o diabo quando estejas farto de conversa.

— Nada disso. Gostaria que me contasses os teus novos projetos.

Comeram silenciosamente durante algum tempo, Mike pensativo, parecendo preocupado com os seus planos.

— Dentro de seis dias estarás suficientemente refeito, poderemos dispor de alguma caça fumada e também ter preparados dois ou três odres para água, utilizando as peles da caça abatida.

— Se é isso o que te preocupa, podes partir muito antes. Já estou quase bom e amanhã mesmo estarei em condições de me arranjar só.

— É que já não há necessidade de que fiques aqui. Juntos, viajaremos com maior segurança até Caliente, e enquanto tu te ocupas de legalizar a nossa mina e preparas a expedição para a sua exploração, eu poderei seguir sem perda de tempo para Las Vegas em busca da minha família, com o qual ganharei sobradamente estes seis dias.

— Não quero amargar-te a festa, mas receio muito que as coisas não corram tão facilmente como julgas.

— Que queres dizer?

— Sabe-lo perfeitamente.

— Está bem. Mas, que podemos fazer? A partir de amanhã, irás sempre para um lugar elevado de onde possas proteger o meu trabalho, e quando estejas mais forte alternaremos. A carabina dá-nos uma grande vantagem e se se atrevem a mostrar o nariz, tanto pior para eles. Mas não o devem fazer. São umas cobardes ratas do deserto, das quais não há grande coisa a temer. Durante seis dias os dois amigos alternaram na caça e na lavagem do ouro com uma cuidadosa vigilância, e durante esse tempo não tiveram mais indícios da presença dos foragidos além de algum longínquo disparo.

— Amanhã partiremos — anunciou Murray, quando finalizaram aqueles trabalhos e já ceavam à escassa luz do dia que morria. — Esta noite faremos os preparativos para sair bem cedo.

— E porque não partir esta mesma noite? Podes ter a certeza de que esses homens nos vigiavam e não nos deixarão partir tranquilamente com o ouro e os cavalos. O caminho que dá saída para o vale é perigoso e demasiado estreito.

— Receias que nos possam preparar uma emboscada?

— Tenho a certeza de que o farão, se descobrem que partimos.

— Pode ser que tenhas razão e não estará demais tomar quantas precauções sejam possíveis.

— A lua sai tarde e procuremos que não nos surpreenda a sua luz até que estejamos suficientemente afastados.

— Parece-me bem.

— Não selaremos os cavalos enquanto não estiver bastante escuro e, se conseguirmos passar sem sermos descobertos, estaremos salvos. Uma vez no deserto, nada temos a temer.

— De acordo. Ficas nomeado general em chefe da operação.

— Vai para o diabo!

Mike riu alegremente, nada preocupado perante a perspetiva de um encontro com os foragidos.

A noite já tinha caído completamente quando foram selados os cavalos, e sobre cada um colocaram uns toscos alforjes confecionados com pele de cabra. Um grande, contendo víveres e munições, e outro pequeno, mas muito mais pesado, contendo o ouro.

Empreenderam a marcha conduzindo os animais pelas rédeas e procurando fazer o menor ruído possível. A escuridão não era tão completa como teriam desejado os dois homens.

A noite estava bela e cálida, duma extrema quietude, sem um sopro de ar, e apesar de que tinham tomado a precaução de envolver os cascos dos cavalos com peles, estes ressoavam lugubremente no mais completo silêncio, cinicamente interrompido de quando em quando pelo enervante uivar de algum coiote.

Muito separados, para evitar uma possível surpresa, foram deslizando como sombras pelo fundo do canhão, o ouvido atento para captar qualquer ruído suspeito, as pupilas contraídas pelo intenso esforço de aprofundar as trevas em que se encontravam envoltas as suas escarpadas paredes.

Com o ânimo dominado pela escuridão e pelo silêncio, avançavam com quanta rapidez lhes permitia o terreno cada vez mais escabroso, com a impressão de que o tempo se tinha detido.

Melhor conhecedor do caminho, Murray abria a marcha, mantendo-se a umas cinquenta jardas do seu companheiro.

O céu começou a clarear anunciando a próxima aparição da lua, e já iam confiando de que o perigo tinha desaparecido, quando o estrondo de uma descarga quebrou a noite, rasgando-a com deslumbrantes clarões.

Contendo uma rotunda praga e com o zumbido de uma bala junto ao ouvido, Tony atirou-se sobre o terreno sem perda de tempo.

Um momento que ao jovem pareceu eterno, embora fosse breve, decorreu até que a luz prateada da lua iluminou a parede do canhão, e com um «Colt» firmemente empunhado na mão direita, esquadrinhou-a vigilante, descobrindo urna sombra que deslizava sigilosa e lentamente.

A distância era escassa e o homem despenhou-se pesadamente, enquanto retumbava o estrondo do disparo e Mills rodava sobre si mesmo com a suficiente oportunidade para evitar que se cravassem nele as balas que com um leve estalido se perderam inofensivas no lugar onde ele tinha estado um momento antes.

Guiado pelo resplendor dos disparos, atirou novamente e, erguendo-se de um ágil salto correu a refugiar-se junto da base da parede enquanto a angústia pela sorte de Murray lhe apertava o peito, já que só o facto de ele estar gravemente ferido ou morto poderia explicar a sua inatividade.

De um salto longo e bem calculado atirou-se atrás das primeiras rochas. Apenas a rapidez da sua ação temerária o pôde salvar, e já caía dolorosamente sobre o duro solo de ardósia, quando estalaram novas detonações e, enquanto uma bala se perdia muito alta, outra fazia ricochete contra a rocha e perdia-se uivando já inofensiva.

Sem prestar atenção à dor que sentia nos seus joelhos e cotovelos feridos, Tony ergueu-se prestamente por detrás do seu refúgio, disparando sobre uma zona de mato que se movia, apesar de não soprar a mais ligeira brisa.

Um penetrante grito de dor precedeu em muito pouco tempo a aparição de uma negra silhueta que, com as mãos na cara, permaneceu erguida durante um momento, até que se despenhou, rolando entre pedras e terra.

A angústia pela sorte de Michael Murray tinha-se convertido em convicção da sua morte e acossou-o um furioso desejo de o vingar.

Deslizando como um índio, foi escalando a negra rocha da escarpada parede, iniciando a ascensão com toda a classe de precauções para não ser descoberto.

O mais ligeiro descuido custar-lhe-ia a vida, já que a tal distância não era possível errar o alvo, e naquele duelo de morte venceria o primeiro que descobrisse o seu contrário.

Pegado contra o terreno, despojou-se do seu chapéu, fazendo-o emergir um pouco, e quase no mesmo instante retumbou a voz potente de um revólver de grande calibre, demonstrando-lhe o orifício aberto pela bala na copa do seu «Stetson» que a sua manobra não tinha passado inadvertida.

A detonação chegou ao jovem muito mais à esquerda do que tinha esperado, fazendo-o ficar banhado num suor frio e peganhento. Um novo erro daquela natureza e tudo estaria terminado.

O seu erro impediu-o de aproveitar a oportunidade de replicar ao fogo inimigo e arriscando tudo numa jogada, saltou bruscamente do seu inadequado refúgio, e fê-lo com tanta rapidez que nem sequer dispararam sobre ele.

Orientado sobre a situação do bandido, um rápido olhar bastou-lhe para compreender que era muito mais vantajosa que a sua.

Aquele estava ao amparo de uma rocha que o ocultava completamente, e em posição mais elevada. Era, pois, necessário remediar aquilo.

Afastou-se para a esquerda trepando pela parede e sem afastar a vista do lugar onde se encontrava o seu inimigo, disposto a refugiar-se em qualquer acidente da empinada falésia assim que aquele aparecesse, já que a necessidade de empregar ambas as mãos para subir rapidamente o tinha obrigado a guardar o revólver no coldre e não o poderia utilizar com a celeridade que o caso requeria.

Mas depressa teve de recorrer a tal extremo e embora se tivesse ocultado com toda a presteza, esta apenas foi a suficiente para evitar que a bala que chegou zumbindo e se amachucou contra a parede, ter-lhe-ia atravessado o coração se tivesse tardado uns décimos de segundo.

Teve que se apertar contra a terra para não ser alcançado pela chuva de projéteis que, como o desprende de algumas pedras cujo ruído apenas era percetível entre o fragor das detonações, golpeavam a parede.

Com breves interrupções, o tiroteio continuou rapidíssimo, embora o adestrado ouvido do jovem não o enganasse e pudesse apreciar uma sensível mudança na posição do atirador que, segundo parecia, tentava a retirada.

Aguardou pacientemente que cessasse o tiroteio e, abandonando o seu refúgio trepou novamente, procurando uma posição de onde pudesse replicar ao bandido. Pela violência dos esforços realizados tinha-se ressentido dos seus ferimentos, ainda demasiado frescos para tais andanças, mas isso não o impediu de continuar a lenta e dificultosa ascensão, até que a voz do foragido o deteve.

— Basta já! Não dispare! — gritou o bandido com matizes do mais abjeto pânico. — Onde está você? Vou sair com as mãos no ar.

O jovem não queria prisioneiros e sim vingar a morte do seu amigo, mas também não era capaz de disparar sobre um homem indefeso; pelo que irrefletidamente se ergueu de um salto, ficando banhado pelo luar, oferecendo-se como tentador alvo para atrair o fogo do cobarde que não queria lutar.

— Saia com as mãos bem altas — gritou roucamente, embora não fosse aquilo que esperava.

Sem dúvida orientado pela sua voz, o homem apareceu, não com as mãos erguidas, mas sim empunhando um revólver e apontando-o para o rapaz.

As armas rugiram como cegadores golpes de morte e, embora já demasiado tarde, o foragido soube que tinha enfrentado o melhor atirador que tinha conhecido na sua vida.

Anthony permaneceu imóvel por um momento, vendo despenhar-se a sua vítima, mas refazendo--se com um forte estremecimento, iniciou a descida, dirigindo-se rapidamente para o lugar onde se encontrava Michael Murray.

Inclinou-se sobre ele com angustiosa ansiedade, apoiando o ouvido no seu peito e não pôde evitar um suspiro de alívio. O coração batia. Muito debilmente, mas latejava.

Espargiu a cara do ferido com um pouco de água do seu cantil e sentiu-o estremecer.

— Escapámos, amigo — disse alegremente, procurando reanimá-lo, enquanto apalpava o seu corpo em busca do ferimento.

Ao movê-lo, o rosto do seu amigo ficou iluminado pela pálida luz da Lua e o otimismo de Tony desapareceu imediatamente ao ver as feições contraídas de Murray.

Com os olhos cerrados, parecia um cadáver.

— Mike, amigo — murmurou angustiado, —coragem, rapaz! Pensa que temos de sair daqui. Não podes morrer porque fazes muita falta aos teus.

Deteve-se ao compreender a inutilidade dos seus esforços, olhando desesperadamente os arredores áridos e inóspitos...

— Aqui não podemos ficar, amigo. Vamos para a cabana.

Febrilmente, despojou o ferido da sua camisa. comprovando que tinha sido alcançado no peito por uma bala que não apresentava orifício de saída.

Como Deus lhe deu a entender, ligou o ferimento para evitar no possível a perda de sangue o, erguendo-o, colocou-o sobre a sela de «Giddy», empreendendo seguidamente o regresso à cabana.

As horas seguintes foram um verdadeiro pesadelo para o jovem, que sabia perfeitamente que as escassas possibilidades de salvação com que contava o homem a quem devia a vida, se condensavam na imediata extração da bala alojada no seu peito. Mas, como fazê-lo, se não tinha a menor noção de cirurgia?

Onde se encontrava a bala? Como tirá-la sem cortar veias, atingir os pulmões ou o próprio coração?

Todas aquelas ideias atormentavam Mills antes mesmo de colocar o ferido sobre a sua cama e, totalmente indeciso, sem saber que fazer, acendeu o lume e pôs água a ferver, enquanto despontava a alba.

À tétrica luz da lamparina de gordura, que deitava muito mais fumo que luz, Tony olhava desesperadamente para o seu amigo, sem saber o que fazer, consciente de que estava perdendo um tempo precioso.

Duas vezes empunhou resolutamente a sua afiada faca de mato, decidido a tudo, mas outras tantas a abandonou para refletir, embora não chegasse a qualquer conclusão.

Por um lado, era seguro que Mike morreria se não lhe extraíssem a bala e, indubitavelmente tinha a obrigação de fazer tudo quanto estivesse ao seu alcance para o salvar. Mas, apunhalar às cegas o ferido seria salvar-lhe a vida? E que outra coisa podia fazer ele, se não tinha a mais ligeira ideia onde se encontrava incrustada a bala, nem como abrir o ferimento para a procurar, nem que veias devia evitar ou a maneira de as ligar em caso de corte?

Com a testa coberta de suores frios, que o angustiavam, Tony retorcia as mãos, indo de um lado para o outro da tosca cabana, como uma fera enjaulada e sem chegar a uma conclusão. E era inevitável, que se decidisse por uma coisa ou outra sem perda de tempo. Anthony Mills deixou-se cair pesadamente sobre o tosco banco e ocultou o rosto entre as mãos, perfeitamente consciente da sua impotência.

— Meu Deus — murmurou — ajudai-me! E assim o surpreendeu o dia.

 

 

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