domingo, 14 de agosto de 2022

CLF002.04 Las Vegas, cidade em festa com um xerife nomeado por chalaça


Quando Nora terminou o relato, o inspetor Burwell exclamou:

— É curioso!

Nesse momento, Leo apareceu à porta:

— Que alegria, inspetor!

— Olá, Leo! Então, novidades?

— Nenhuma, inspetor... Quero dizer: suponho que Nora já lhe terá contado. Apresentaram-se uns homens aqui, dizendo que eram Federais...

— O senhor conhecia esse... «inspetor» — cortou Burwell — Pelo menos, foi o que disse o rapaz que suspeitou a verdade. Não é isso?

— Sim... quer dizer... Julguei que eram realmente Federais.

— És mentiroso e traidor — replicou Pete, que estava a um canto do balcão, inclinado sobre o mesmo, e que Leo não tinha visto, quando entrara.

— Está bem, rapaz 1 — disse o inspetor.

— E ofereceu cem dólares, para me matarem —acrescentou Pete.

— Peço-te que esqueças isso por umas horas, meu rapaz! Devemos agradecer-te por teres castigado esses homens, que fizeram tanto mal... Eram alguns dos que acompanhavam Preston Madison... Com esses distintivos, apresentavam-se às diligências, afirmando que tinham ordem de escoltá-las. E a verdade é que não ficava ninguém para contar o que se passava.

Leo aproximou-se mais do inspetor.

— Mas Leo não viu que se tratava de uns farsantes? — perguntou um dos federais que acompanhavam o inspetor.

— Muito bem — respondeu Pete — E estava de acordo com eles e com o chefe dos mesmos, que estava na pedreira e que depois fugiu com medo.

— Isso não é verdade! — gritou Leo — Eu julguei que eram deveras Federais.

— Esclareceremos tudo isso — exclamou o inspetor — Você tem de vir connosco, Leo.

Este empalideceu.

— Não vai prender-me, pois não, Inspetor?!

— Não! É apenas para responder a umas perguntas que têm de fazer-lhe em Trona...

— Mas eu não posso abandonar a pedreira... Deve compreender... Asseguro-lhe que não podem assacar-me nada de mau...

— Está bem... Depois passarei pelo seu escritório para falarmos...

Leo saiu para tomar a direção do escritório. O inspetor e os seus agentes ficaram no «bar», conversando durante algum tempo com Pete.

— Só mataste os sete? — perguntou Burwell.

— Só. Foi uma sorte! — respondeu Pete.

O inspetor examinava-o com um interesse e uma atenção que lhe causavam nervoso.

— Parece-me que te vi uma vez... Já estiveste na Califórnia?

— Vim de S. Francisco... e ia para Las Vegas.

— Conheces alguém em Las Vegas?

— Procuro um amigo que tem um rancho: Mat Stickney.

— Stickney! — exclamaram os dois agentes, ao mesmo tempo.

Pete olhou-os, surpreendido.

— Conhecem-no?

— É uma pessoa muito importante!… — exclamou o inspetor — Verás o seu retrato em muitas partes e uma quantia por baixo.

— Não é possível!...

— O que o inspetor diz é certo — corroborou um dos agentes — Preston Madison era amigo dele também.

— Não o compreendo! Mas de que o acusam?!... Posso sabê-lo?!

— De tudo quanto um homem possa imaginar de mau...

— Não é possível!... Eu conheço bem Mat... É incapaz de praticar uma má ação — disse Pete. — Deve haver equívoco.

— Há dezenas de pasquins que relatam as suas proezas.

— Se os que apareceram aqui, como Federais, dessem o nome dos senhores e do inspetor, não há dúvida de que, perante o mundo, os senhores seriam os maus, não é assim? Porque não acontecerá o mesmo com Mat?

O inspetor ficou pensativo uns segundos.

— Podia ser, sim!... É a segunda vez que me falam bem de Mat Stickney... E não é a primeira vez que se usurpa o nome de outro, mas tem sido sempre de pessoas famosas como criminosos ou «pistoleiros».

— Então, não o encontrarei no rancho, não é verdade?

— É o mais certo. Os pasquins fazem-se, quando não há meio de encontrar a pessoa neles referida — explicou o inspetor. — Há muito que conhece esse amigo?

— Estivemos ambos na guerra. Passámos dois anos juntos, e essa intimidade fez-nos amigos. Quando acabou a guerra, estivemos dois anos sem saber um do outro. Havíamos trocado as nossas direções para nos correspondermos. No Forte Huachuca encontrei um major que estivera connosco, ainda como capitão. Disse-me que Mat se encontrava no Estado do Arizona. Encarregou-se de averiguar o seu paradeiro oficial. Há dois meses recebi uma carta do major Faulikton dizendo-me que Mat tinha um rancho no Grande Canhão. Foi por isso que eu ia vê-lo!...

— Há quanto tempo o major lhe prometeu averiguar o paradeiro de Mat?

— Há pouco mais dum ano. Vi-o em Tombstone.

— É estranho!... Há mais de dois meses que se fala dele como de um foragido perigoso. O major não saberia nada disto?

— perguntou o inspetor.

— Seja o que for, não acredito que Mat tenha feito alguma coisa que justifique esses pasquins... — disse Pete.

— Mas existem e será muito conveniente que não apareça em Las Vegas a perguntar por ele e dizendo que é amigo dele... Parece que tem um grupo que é o pesadelo em determinados sectores.

— Penso em ir a Las Vegas — insistiu Pete — e tratarei de procurar Mat. Se me disserem alguma coisa, por ser seu amigo, sentirei por quem o fizer.

— Investiga primeiro o que haja de concreto, sem dizer que és um amigo — aconselhou Burwell — Nós vamos até lá... Podes vir connosco.

Pete ficou indeciso. Por fim, disse:

— Acompanho-os.

O inspetor olhou para Nora.

— Então, não me dizes nada? Tiveste sorte?

— Ainda não.

— N ao devias esperar... Porque não trespassas isto? Estou certo de que haverá mais de um comprador.

— Era isto que este rapaz estava a dizer-me, quando os senhores chegaram. Mas não me atrevo a partir.

— Bristol e James Ipswich são escorregadios... Não se tornou a saber nada deles. Deviam ter mudado de nome.

— Mas não podiam ter mudado de pessoa.

O inspetor encolheu os ombros.

— Vou falar com Leo! — disse, saindo do «bar». E acrescentou, voltando-se para os seus homens: — Esperem aqui, por mim.

Mas não se demorou em voltar.

— Fugiu! Teve medo!

— Teve mais medo deste rapaz do que dos senhores — afirmou Nora.

Descansaram umas horas, passando a noite em casa de Nora. À última hora, a rapariga acercou-se de Pete e disse-lhe:

— Tem cuidado com o inspetor. Ele sabe que o amigo de Stickney tinha uma sela índia cinzelada... Eu ouvi ele dizer isso, quando viu a tua.

— Tudo isto é muito estranho! — observou Pete — Não compreendo palavra. Fizeram de mim e de Mat dois indesejáveis, sem termos feito nada...

— Tu és Preston Madison, amigo de Stickney, não é verdade? Não te inquietes, nem te assustes... Foi Hal quem mo disse. Deves ser sincero com o inspetor.

— Não me acreditaria...

Mas quando Pete foi deitar-se, ela foi bater à porta do quarto do inspetor e esteve a falar com ele durante muito tempo.

Na manhã seguinte, Pete disse que esperaria uns dias para partir. O inspetor fitou-o e, sorrindo, disse-lhe:

— Asseguro-te que não acredito em nada do que dizem de ti e de Mat... Dou-te a minha palavra de honra.

Pete olhou para Nora, que sorriu com agrado, dizendo:

— Falei ontem à noite com o inspetor. Podes confiar nele. É certo que não acreditam nada do que se diz nesses pasquins, acerca de vocês... Tens de averiguar porque fazem isso e quem é o culpado.

— E pelo que ontem tu disseste — interveio o inspetor — há-de ser alguém que esteve com vocês na guerra e sabe que foram amigos...

Pete ficou pensativo.

— Não adivinho quem possa ser...

— Há uma pista que te levará a descobrir essa pessoa acrescentou o inspetor. Há muito tempo que te ofereceram a sela?

— Há pouco mais de dois anos... Deram-ma por salvar um jovem índio.

— Deves deixá-la aqui e não levá-la contigo. E agora pensa qual dos teus companheiros, na guerra, conheceu este facto... Tem de ser algum que viste, depois dessa oferta, porque há pasquins referentes a Mat, em que se fala de ti e da circunstância da sela índia...

— Não consigo lembrar-me...

— Pois é o que tens de fazer... — acrescentou o inspetor. — Deves continuar sendo Pete Mason, até que consigas averiguar alguma coisa, acerca de Mat... E podes vir connosco, sem receio.

— O que eu não atinjo é o que se propõem, querendo eliminar-nos, a mim e a Mat. Que podem ganhar com isso?

— É o que tens de averiguar. Se posso ajudar-te nalguma coisa, conta comigo.

— Obrigado, inspetor.

— Tens família?

— Tenho. Mas saí de casa, por causa de uma tolice. muito longe daqui.

— Os cavalos estão preparados, inspetor! — disseram.

— Vem? — perguntou o inspetor.

— Vai com eles — disse Nora. Pete acabou por aceitar.

Quando já iam a meia milha de caminho, Burwell disse:

— Tenho medo por causa da rapariga... Se os que ela procura aparecerem e dão conta de quem ela é, nunca mais a encontrarei quando for visitar a pedreira.

— Ela não quis dizer-me quem procura, nem os motivos.

— Não quis que tu ficasses para ajudá-la. Quer ser ela só a matar os dois. Conseguiu uma precisão enorme com o «Colt». «Há poucos que a ganhem e ainda pratica muito. «Tem uma vontade de ferro!

Pete não quis perguntar mais nada. Mas o inspetor concluiu:

— E há-de ter um motivo forte, que não revela, e pelo qual supõe que passarão por ali. Por isso, espera pacientemente.

Entraram em Las Vegas. O inspetor e os agentes eram ali conhecidos. Enquanto eles cumprimentavam as autoridades da localidade, Pete entrou no «bar». Havia muitos cow-boys. Acercando-se do balcão, pediu de beber.

— Tu também vens às festas? — perguntou-lhe um vizinho do lado.

Pete fitou-o. Devia ser um pouco mais alto do que ele, e possivelmente da mesma idade.

—Não sabia que houvesse festas aqui...

— São das mais importantes do Sudoeste — disse o outro. — Chamo-me Chester Morrison. Sou sobrinho do xerife. E como tu, vim de longe...

Pete achou graça à sua maneira de falar. Supôs que tivesse bebido demais... Sorrindo-se. guardou silêncio, sem deixar de examinar o seu vizinho. Pouco depois, este saía, mas ao chegar à porta, voltou-se.

— Ia-me embora, sem me dizeres como te chamas... Ou já não me recordo?...

— Chamo-me Pete Mason.

— Ver-nos-emos apuí...

— É possível... — disse Pete.

Minutos depois, o que estava ao balcão falava acerca do xerife.

—O velho Selby surpreendeu todos. Fizeram-no xerife, supondo que ele ia ser um joguete, por andar sempre embriagado e, afinal, não voltou a provar «whisky» desde que se viu com a placa.

— Pregou-lhes uma boa partida!

Pete lembrou-se do jovem que saíra momentos antes. E como se tudo isto servisse para chamar o xerife, este entrou, olhando em todas as direções.

— Viram o meu sobrinho?

— Saiu há pouco.

— Selby! — chamou um elegante, que estava sentado a uma mesa junto do balcão. — Vai um copo?

— Obrigado. Não bebo! — disse o xerife, embora ao dizer isto, passasse a língua pelos lábios.

O barman fitou o elegante e disse-lhe:

— Não há quem o faça beber agora... Tomou o seu cargo a sério.

Pete notou que os dois riam.

— Não durará muito tempo — acrescentou o elegante — Todos que se habituam à bebida, não podem prescindir dela, durante muito tempo.

— Pois parece-me que com o xerife não se dará o mesmo.

O elegante, que Pete supôs que fosse o dono da casa, encolheu os ombros e levantou-se para dar uma volta ao estabelecimento. Curioso, Pete perguntou ao barman:

—O xerife bebia muito dantes?

— Muito?! Andava sempre bêbado... Mas desde que o fizeram xerife...

— Foi eleito?

— Nada disso. Como mataram o outro, o alcaide lembrou-se corno chalaça, nomear Selby, o velho ébrio. Os amigos do alcaide e os comerciantes apoiaram-no, julgando que ele seria um fantoche nas suas mãos. Mas no dia seguinte de ser nomeado, apareceu aqui, mas não quis beber, nem uma pinga. Foi uma surpresa para todos. Como compreendeu que queriam rir-se dele, disse que tinha grande responsabilidade, por causa do cargo. Agora, os outros estão pesarosos, porque ele mandou vir um sobrinho, que chegou precisamente hoje. Se as suas condições morais são conforme as físicas, parece-me que, vão dar guerra aos que quiserem zombar do velho Selby.

Pete riu, a bom rir.

— Devem estar desesperados!

— Se estão! E muito mais porque diz que há-de descobrir quem matou o outro xerife, que era boa pessoa.

— Que fazia antes esse velho?

— Trabalhava como «cow-boy» em casa de Hosmer. Tratava dos cavalos e das cavalariças.

— Pois não parece tão velho — observou Pete.

— Está envelhecido pelo álcool. — disse o barman — Por isso parece mais velho, do que deve ser, na realidade.

— O seu sobrinho é daqui?

— Não. Devia ter vindo de muito longe, porque ele já o esperava há dias.

— Há quanto tempo é ele xerife?

— Um pouco mais de dois meses... Há pouco mataram um forasteiro e ele atreveu-se a querer prender quem o matou, que é uma das pessoas mais temidas...

— Não o prendeu?

— As testemunhas afirmam que não houve traição, embora ele afirme que é uma mentira dos que têm medo do brigão... Sempre julgámos que George mataria o xerife, mas não se atreveu. Seria um caso sério. É que todos os cow-boys gostam imenso do xerife.

Como o barman teve de atender alguns clientes, a conversa foi interrompida. Pete, que não queria beber mais, levantou-se e foi até à porta, para ver o movimento dos forasteiros. Poucos minutos depois, os Federais juntaram-se a ele.

— Sabem? — disse Pete — Estiveram a falar-me do xerife. É um caso muito curioso.

— É um grande homem e vai dar um desgosto àqueles que o nomearam, só para se riem dele.

— Não averiguou nada, acerca de Mat, inspetor?

— Creio que aparecerá nestas festas para saber o que se passa. É que, durante elas, não pode haver qualquer reclamação legal...

— Então, fico... — disse Pete.

— Tem muito cuidado. — advertiu o inspetor — Não creio que tenhas alguma coisa a recear do xerife. Quem me preocupa é o juiz. É um tipo que nunca me agradou. Demasiado untuoso e elegante.

Os Federais despediram-se, pois tinham de terminar o percurso que lhes estava determinado. E Pete procurou onde alojar-se, o que era difícil, dada a afluência de forasteiros.

Sem comentários:

Enviar um comentário