sábado, 13 de agosto de 2022

CLF002.03 A longa espera de Nora


 — Restam-me cinco balas, Leo. Espero que faças o movimento que desejas...

Leo recuou assustado.

— Não tenhas medo — acrescentou Pete. — Há muito tempo que conheces aquele inspetor, não é verdade?

— A verdade é que só o vi agora... Não sei porque disse aquilo...

— Mas digo-to eu... Porque és um embusteiro e um cobarde.

— Não deves tomar em consideração o que eu disse. Eu procurava adular o inspetor — acrescentou Leo, sem deixar de recuar.

— Estás a provar a todos estes que és um cobarde. Porque mentiste? Quando entraste aqui com ele, vinham muito amigos. Que procuravam eles?

— Ele disse-me que conhecia Preston e que era um bom rapaz, mas que as circunstâncias o tinham envolvido em assuntos, em que interveio... Mas eu julgava firmemente que se tratava de Federais...

— Não creio que sejas tão tolo, como procuras demonstrar — acrescentou Pete — Mas trata-se agora do que disseste antes. Ameaçaste-me com o número de inimigos. Agora, não terás esse remorso. Estamos em frente um do outro.

— Eu não te fiz nada!

— Está bem! Se tens assim tanto medo, podes marchar. Mas não esqueças que se cometes outra tolice, matar-te-ei...

Uma vez na rua, Leo deteve-se para limpar o suor que corria pela testa e pelas faces. Perto do «bar» havia muitos trabalhadores que, ao ouvirem os tiros, esperavam que saísse alguém para saber o que se havia passado. Um deles, ao ver Leo, perguntou-lhe:

— Que aconteceu? Contra quem os Federais dispararam?

Leo fitou-o assombrado.

— Então, não sabes?! Foram os Federais que caíram, às mãos desse tal Pete!...

Ao ouvirem isto, todos se precipitaram para o «bar». Olharam para os cadáveres e, depois, para Pete.

— Foste só tu quem os matou? — inquiriu um.

— Não pude evitar!... Não eram Federais... Eram uns meliantes que queriam assassinar-me, à traição, no deserto, de acordo com um cobarde que diz chamar-se Preston.

Entretanto, Leo encontrou-se com este, próximo do escritório.

— Que se passou? Os Federais ainda estão no «bar»?...

— Esse endiabrado Pete deu conta de que eram os teus homens!...

— Que tolice!... Então, não viste os distintivos. É um inspetor e Seis agentes...

— Não creio que convenças Pete. Queriam roubar--lhe a sela e um deles caiu numa armadilha que ele lhe estendeu e disse que tinham falado contigo, atrás da casa...

— Estúpido!... exclamou Preston — E não o prenderam? Disseram-me, que eles iam fazer isso... Parece que a sela era de um inspetor.

— Não ouviste os tiros?

— Então, mataram-no?... — perguntou Preston, sorrindo. — Agora, vou pedir-lhes a sela.

— Se era de um inspetor, como dizes, não poderão dar-ta...

— Comprá-la-ei! — Não ouviste já esse rapaz dizer que não quer vender-ta por dinheiro nenhum?!... Não me parece fácil que ele se deixe convencer... Mas tenta-o!...

— Não disseste que houve tiros? — retorquiu Preston, com estranheza.

— Houve, sim. Mas foram os sete Federais que morreram às mãos dele... Creio que está à tua espera...

— Não!... Não é possível... Eram sete homens e...

— Sim, sim. Também eu estava convencido de que não eram Federais...

— E ele matou-os?

— Matou-os, sim. E estava em desvantagem...

— Parece incrível! — exclamou Prestou.

— Mas não é. E tudo por causa duma sela...

— Custa-me a crer...

— Então, vai ao «bar» e convencer-te-ás... Mas se não és superior a ele com um «Colt», e não creio que haja na União quem se lhe aproxime, não vás... Matar-se-á também!

Preston deu meia-volta. Foi buscar o seu cavalo e saiu do Vale da Morte sem esperar por mais nada. Depois do que acabava de ouvir, não podia esperar que se encontrasse com Pete e que este o matasse.

Entretanto, no «bar», depois do ocorrido, Pete disse:

— Bom! Tratemos de revistar estes cobardes...

Depois de fazer isto, comentou:

— Vamos lá!... Para ganharem tão pouco como Federais, fizeram boas economias...

E mostrou um monte de notas do Banco, das grandes.

— Isto certamente é uma parte do que roubaram da diligência... Vinham entregar á Preston o bolo que lhe correspondeu... O chefe é que não tinha nada com ele, para o caso de o apanharem e revistarem!

Guardou todo o dinheiro, sem o contar.

— Agora já tenho para comprar um cavalo... E para isso deve haver sete ali, à porta...

Nora fitava-o com um ar triste.

— Sinto que vás tão depressa...

— Ainda não parto. Esperarei uns dias. Vou descansar. Passarei algumas horas aqui, no «bar», contigo...

Os olhos de Nora brilharam de alegria.

— Porque não vendes isto e te vais daqui? — sugeriu Pete depois.

— É um bom negócio e eu sou ainda nova para me retirar dele.

— Podes montar outro numa cidade mais alegre. E estou certo de que hás-de encontrar quem te compre isto, por bom preço...

Hal, que estava a seu lado, disse:

— Nora está aqui, porque veio à procura de alguém. Não porque ela me tenha confessado qualquer coisa, mas eu sei...

A rapariga guardou silêncio.

— Isso é verdade? — perguntou-lhe Pete — Porque não o dizes? Se for possível, ajudar-te-emos.

— Não faças caso de Hal... Anda há tempo com essa ideia metida na cabeça...

— E não me engano — acrescentou Hal — Sempre que via chegar alguém, pela primeira vez, ou sabia que estava para chegar, andava impaciente e olhava-o, com um interesse pouco vulgar... Não creias que sou tolo. Foi o mesmo que aconteceu com esses que se faziam passar por Federais.

— Preston foi-se embora — disse um trabalhador que entrava — Vai galopando para Este... Se continua assim, não chegará muito longe: rebentará o cavalo.

Como todos os que estavam no «bar» olhassem para Pete, este disse:

— Fez ele muito bem!... É o único meio de salvar a pele. Quando o visse na minha frente, matá-lo-ia.

Nora aproximou-se de Pete, para lhe dizer:

— Com quem deves ter muito cuidado, é com Leo... Se te descuidas, dar-te-á algum desgosto...

— Procurarei estar alerta... Por isso, não quero continuar a trabalhar ali, na pedreira... É no corte que podem surpreender um homem...

Leo esteve três dias sem aparecer no «bar». Ele sabia que Pete se encontrava ali, e não queria que houvesse qualquer discussão entre ambos. Tomara-lhe bastante medo.

Mas os amigos de Leo estavam desejando oferecer--lhe a sua ajuda. Não lhe tinham dito abertamente que podia contar com eles para infligir a Pete um castigo exemplar?...

— O caso de Pete foi uma surpresa — disse um deles. — Mas não creio que, se souber combatê-lo, ele seja assim tão perigoso, como afirmam.

— Eu sou uma das testemunhas do que se passou —afirmou Leo. — Só vendo, se pode conceber isso... não há ninguém que possa igualá-lo. É preciso pensar que foram sete homem que ele matou, sem lhes dar tempo a dispararem...

— É porque estavam distraídos. De contrário, não há ninguém que possa fazer uma coisa dessas...

— Digo-te eu, que estava lá... E não te direi que os outros foram antes dele, às armas... Foram ao mesmo tempo. Mas a grande diferença que havia entre eles e Pete, tornou possível que só ele disparasse...

— Agradar-me-ia ter uma boa oportunidade para te demonstrar que não é como dizes...

Leo não respondeu. Mas o seu sorriso de dúvida fez aborrecer o outro.

— Dás-me cem dólares, se eu o matar?

— Não tenho interesse nisso... — disse Leo.

— Nada receies. Não lhe vou dizer nada. De acordo? Cem dólares, se eu o matar.

Leo encolheu os ombros.

— Virei em breve, buscá-los.

Ao dizer isto, saiu. Leo viu-o partir e pensou que era a última vez que falava com ele.

Como Pete não saía do «bar», senão à noite, para passear com Nora, aquele que pensava em matá-lo sabia que não era difícil encontrá-lo. Apesar disso, ao entrar no estabelecimento olhou em todas as direções. Pete não estava ali. Só viu Nora, a quem perguntou:

— Procuras alguém?

— Procuro, sim.

— Quem?

— Estou admirado de não ver aqui esse que se converteu em aio da companhia, o teu menino bonito...

— Foi Leo que te mandou? Já me admirava que tardasses tanto!

— Ninguém me mandou, sabes? Não digas tolices.

— Não saberias enganar nem um menino de mama!... Ele não está, mas não há-de tardar. Podes esperá-lo. Disseste a Leo que és capaz de fazer aquilo a que ele não se atreve a tentar?...

— Já te disse que não falei com ele, acerca desse rapaz. Mas já que veio a propósito, dir-te-ei que não acredito que, sem vantagem, ele tenha podido matar sete Federais.

— Não me importa que acredites ou não... Havia testemunhas e Leo foi uma delas...

— Sim... Ele afirmou que não houve vantagem, mas...

— Então, não disseste que não tinhas falado com Leo a esse respeito? — observou Nora, rindo.

— Ouvi-o, há dois dias, comentar esse facto.

— Não sabes mentir... É melhor que te vás embora, antes de que Pete dê conta que vêm ou querem provocá-lo...

— Nunca me agradaram os «pistoleiros» ...

— E quem te disse que Pete o seja? Foi Leo?

—Já te afirmei que não falei com ele.

— Está bem! Se queres morrer tão novo, que havemos de fazer?

E Nora desinteressou-se dele.

— Parece que todos estão convencidos de que não há possibilidades de vencer esse rapaz... E afinal, o que ele fez foi surpreender um grupo de confiados, devido ao seu número.

Nora não fez mais caso dele. Mas quando, daí a pouco, viu aparecer Pete, indicou-lhe por sinais aquele que o estava esperando, para que estivesse alerta.

Pete compreendeu imediatamente o que ela queria dizer-lhe, porque o tipo indicado era um amigo de Leo. Por tal motivo, entrou com os sentidos bem despertos e vigilante.

— Até que enfim, apareceste!

— Esperavas-me?

— Estava a falar com Nora, a teu respeito...

— Foi Leo, com certeza, quem o mandou — disse a rapariga — Estava a dizer-me que devias ter apanhado esses homens desprevenidos para que os matasses...

— Falas deles, como se se não tratasse de pessoas... Cometeste a loucura de surpreender uns Federais e estes nunca perdoam. Passe o tempo que passar, eles sabem castigar quem lhes faz mal.

— Não te preocupes com os meus assuntos e trata dos teus... Leo ofereceu-te muito dinheiro ou contentas-te com umas moedas e mais nada? Porque o que tem mais valor para ti é demonstrar que és mais veloz do que eu. Não é isso?

— Que sou mais rápido do que tu, não tenhas dúvida! Estou certo disso.

— Alegro-me bastante... Estás conforme?

— Admites isso?

— Vejo que não tenho outro remédio senão admiti--lo — disse Pete, sorrindo.

— O que acontece é que já compreendeste que eu vinha disposto a tudo e não queres que eu demonstre a verdade...

— Pelo que vejo, estás com vontade que eu te mate. É pena que não fosse Leo quem tivesse vindo.

— Ele não tem nada a ver com isto. Apenas pôs em dúvida que eu possa vencer-te e eu disse-lhe que terá de dar-me cem dólares, quando se convencer de que estava equivocado.

— Tão pouco dinheiro! — observou Pete — Arriscas então a vida por cem dólares? Se precisas deles para alguma coisa, posso dar-tos e vives mais uns anos...

— Na tua frente, não estou em perigo... Já vês... Chamo-te «vantajista», o que indica que não tenho medo.

— O que achas que devo fazer com ele, Nora?

— Acho que terás de matá-lo, porque se não o fizeres, fá-lo-á ele, ainda que seja pelas costas, quando se convencer' de que não lhe é possível fazê-lo de frente e com nobreza — respondeu a rapariga.

— Já sabes... — acrescentou Pete.

O provocador tentou inutilmente matá-lo. Quando caiu morto, Pete voltou-se para os assistentes e disse-lhes:

— Agora, devem ir dizer a Leo que foi ele quem matou este rapaz.

Com efeito, não tardou muito que um dos que presenciaram o caso corresse ao escritório, para dizer a Leo:

— É uma tolice mandares emissários para matar Pete.

— Que estás para aí a dizer? Digo-te que ele matou o John, afirmando depois que tu é que és o culpado da sua morte.

— Eu não mandei ninguém. Pois todos nós ouvimo-lo dizer, antes de cair morto, que tu lhe darias cem dólares se ele matasse Pete. Parece que o que mais o aborreceu é que tu lhe tenhas oferecido tão pouco dinheiro. Creio que se não te pões a mexer, ele matar-te-á!

Leo tinha medo. Estava certo de que, se se defrontasse com Pete, este seria o primeiro a disparar.

— Asseguro-te que não mandei ninguém.

— Pete não acreditará... Parte o mais depressa possível.

— Somos muitos na pedreira e não é possível que ele sozinho consiga impor o terror e fazer o que tiver na vontade — disse Leo. — Eu não disse a ninguém para ir ter com ele. Mas vou dar ordem para que se acabe, de uma vez para sempre, com este pesadelo.

Entretanto, Nora julgou conveniente advertir Pete do perigo que sorria:

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— Deves partir!... Leo está assustado... e nessas condições pode reunir todos os homens que lhe obedecerão...

— Sim... Eu não pensava estar mais tempo aqui... Eu ia para outro lado, quando me obrigaram a fugir por um caminho desconhecido... Tenho de regressar para me dirigir ao ponto que desejo. Mas não me agrada deixar-te entregue a estes cobardes... Vão-se vingar em ti, de tudo que desejariam fazer contra mim...

— Em que direção vais?

— Na do Grande Canhão. Vou procurar um amigo, Mat, que tem ali um rancho. Informar-me-ei do lugar exato, em Las Vegas... Mas, dize-me Nora: procuras alguém?

A rapariga tardou a responder. Os seus olhos, como que desvairados, pareciam fitar o interior de uma vida que Pete desconhecia.

Por fim, respondeu:

— É verdade!...

Como um menino a quem se contraria um capricho, Pete ficou aborrecido, embezerrado, embora não dissesse nada que pudesse revelar o seu enfado.

— Há quatro anos que procuro duas pessoas... —acrescentou a rapariga.

— Porque... precisamente aqui?... Isto está muito afastado de um mundo, onde a vida se desenrola com normalidade. Este lugar não tem nada de normal.

— Por isso, espero aqui... É o refúgio de muitos meliantes, de muitos bandidos...

— Na União há lugares como este... Mesmo melhores para se estar escondido, sem que pareça que se está... Aqui, em troca, a estadia é sempre suspeita. Sabes, porventura, que hão-de vir aqui?

— É a esperança que me tem mantido.

— Não me agrada ser indiscreto, mas gostaria de saber se os procuras para vingar alguma coisa ou pelo desejo de encontrá-los!...

— Antes de empreender a busca, aprendi a manejar o «Colt» ...

— Compreendo... Mas creio que isso não é missão de uma mulher. «Depois desta visita a Mat é possível que possa ajudar-te. Voltarei por aqui e se ainda te encontrar, o que duvido, procuraremos juntos esses personagens que são um pesadelo para ti...

Nora sorria com tristeza...

— Os Federais... Vem aí o inspetor Burwell! —disseram alguns que entraram no «bar».

Os olhos de Nora alegraram-se. E saindo do balcão, correu à porta para receber os visitantes. Três cavaleiros avançavam lentamente, olhando com atenção em todas as direções. Quando chegaram próximo do «bar», os três sorriram para Nora, que os cumprimentara com a mão.

— Alegra-me muito vê-los de novo aqui — disse Nora. — Haviam dito que o tinham transferido para outra região, senhor inspetor... Mas os que disseram isso, não deviam saber... E confesso que receei que os distintivos que traziam, tivessem pertencido aos senhores.

O inspetor fitou Nora com curiosidade.

— Mas o que se passou?

— Já lhes explicarei, enquanto bebem um bom «whisky». Os três cavaleiros entraram no «bar».

 

 

(1) Neologismo muito empregado em novelas do Oeste americano, que significa gabarola; o que se jacta de superior, como atirador — (N, do T,).

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