— Olá, Bart. Crê que lamentei bastante o que sucedeu em Albany.
Fechando a porta do camarim, Bart Taylor deitou o chapéu para trás, enquanto examinava aquela que diante do espelho ia tirando o excesso de vermelhão dos lábios, o «rouge» das faces e o «Khol» das pestanas e das sobrancelhas. Tinha, porém, ainda o vestido de luto da comediante, com gazes sabiamente repartidas com sedas e rendas.
— Temos de terminar o «nosso»... — começou ele, com voz rouca.
— Já terminou, Bart — interrompeu-o Olímpia. — Nós não seríamos felizes, porque tu tens génio de mais e atormentam-te suspeitas infundadas. Eu disse-te constantemente que quando tivesses um emprego sólido e me demonstrasses firmeza de propósitos, então...
— Tens de abandonar esta profissão...
— Conheceste-me nela, Bart, e além disso tenho de viver.
— Deixa de te olhares ao espelho! Ninguém brinca comigo e eu não sou nenhum boneco de palha.
— Lá voltas tu a exasperar-te... Eu não tenho culpa de que te despedissem do lugar de fator dos caminhos de ferro de Oklahoma, por brigão...
Depois de dizer isto, ela demonstrou possuir serenidade e um rápido reflexo quando, ao ver Taylor avançar, deu um salto e correu para o outro extremo do camarim, encostando-se ao tabique, ao mesmo tempo que lhe apontava uma pequena pistola que até então tivera oculta debaixo de um lenço, sobre o «toilette».
— Dispararei sem remorsos, Bart, porque não estou disposta a submeter-me a ameaças, nem a tua perseguição me assustará.
Bart Taylor baixou lentamente as mãos crispadas. Nos seus lábios esboçou-se um ricto amargo, enquanto retrocedia, respondendo:
— Tens razão e eu sou um estúpido que não sabe dominar a sua má têmpera. Mas que queres... minha linda? Eu nasci assim. Quem me provoca tem de ater-se às consequências, seja homem ou mulher. Não é preciso que voltes a argumentar... parece assistir-te toda a razão. Conhecemo-nos em Oklahoma, amámo-nos... Pensaste que eu seria o teu homem e depois pareceu-te que eu era um brigão e um velhaco. Podes tirar o dedo do gatilho... Eu não quero morrer assim.
E Bart Taylor, metendo os mãos nos bolsos do jaquetão azul, sorriu para Olímpia, mas pelos seus olhos negros passou um brilho estranho.
— Prefiro-te risonho, Bart. E deixa-me dizer-te que, andando nessa vida errante, não encontrarás um trabalho decente, o que me custa bastante, podes crer, porque tu tens capacidade para triunfar naquilo que te propuseres.
— Acreditas nisso? No entanto tu és um vivo e eloquente exemplo de que eu sou um fracassado. Amaste-me, mas acabou-se!... dizes tu. Talvez outro homem se conformasse, mas eu é que não sei nem posso resignar-me a perder-te. Se dei um passo em falso, já o paguei bem.
Continuando a apontar-lhe a arma, ela replicou amavelmente:
— Volta a perguntar-me se podemos reatar, como dantes, um carinhoso sentimento, que ainda existe em mim, mas que sei dominar, porque não quero ser uma desgraçada... pergunta-me se posso tornar a querer-te, mas quando fores um homem decente e não um vadio e um brigão... Estão batendo à porta, Bart. Será melhor que comeces agora mesmo a demonstrar-me que podes dominar o teu génio.
Como repetissem as pancadas com mais força, Bart abriu a porta. No umbral, um oriental corpulento perguntou:
— Deseja alguma coisa, minha senhora? O carro está à espera... — Obrigada., Joe. Vou já. Boas noites, Bart.
— Seria grotesco que este chinês pretendesse pôr-me daqui para foral...
— Joe e outros dois empregados têm a obrigação de vigiar os camarins dos artistas. Eu tinha-lhes dito que, se tu pedisses para me falar, te deixassem entrar, mas que ao cabo de cinco minutos viessem chamar-me. Tenho de acabar de arranjar-me, Bart.
— Há um biombo e eu não sou nenhum bêbado nem mendigo...
Joe Brown, naturalizado em Seattle, nativo de Xangai, era, como os seus dois acólitos Jim Smith e Jack Adams, da colónia oriental bastante numerosa na cidade, e que servia para todos os misteres, nos locais de diversão.
A especialidade de Joe, Jim e Jack era a designada como «velador» da ordem, a soldo da empresa. Os três haviam adquirido grande prática, exercitando-se com marinheiros amantes de uma boa peleja, na qual todos os recursos eram válidos. Joe Brown, impassível o rosto largo e chato, deu um passo atrás e, em cada lado do umbral cia porta, da parte de fora, esperavam pacientemente Jim Smith e Jack Adams.
Quando: se tratava de um só importuno, não era preciso empregar a matraca «bladkjack», uma meia recheada de areia. Os nós das suas mãos e os seus punhos tinham já a dureza profissional. E Joe Brown convidou o intruso:
— Deixe esta senhora, cavalheiro.
Antes de se pegarem, todos eram cavalheiros delicados para os três ferrabrases do «Cristal Palace». Olímpia insistiu:
— Bart! Primeiro dize a este gorila que desapareça e eu ir-me-ei embora, quando puder despedir-me de ti, às boas, e não assim...
Joe adiantou uma mão e tocou no ombro de Taylor para retirá-la logo, rapidamente. Depois, dando dois passos atrás, convidou-o prudentemente:
— Vamos, cavalheiro. Lá para fora.
Bart Taylor deu meia volta, lentamente, e teve uma atitude, ao abandonar o camarim, que justificava a acusação de pouco paciente. Puxou a porta para si, fechando-a ruidosamente com as costas, mas projetou-se sobre Joe, valendo-se do mesmo impulso com que fechara a porta do camarim.
Ele não ignorava, por anteriores experiências, como ator ou espectador, que indivíduos, com o difícil emprego d e Joe Brown não o exerciam sozinhos. E, na brusca saída, evitou o primeiro embate com Jack Adams, que o esperava.
Não chegou a assentar os punhos em Joe, que também o aguardava, pois que, dando uma volta sobre si mesmo, saltou, com as mãos estendidas, sobre Jim Smith. Por instantes, apoiou as mãos no antebraço de Smith, puxando-o para si, ao mesmo tempo que, elevando os joelhos, num salto, lhe dava no estômago tremenda pancada.
Depois, Bart largou-lhe os antebraços, fechou os punhos e, numa fração de segundo, agrediu o adversário com dois socos. Neste momento, porém, Bart recebeu nas mandíbulas, com um ruído surdo, o direto com que Smith ripostou. Recuou sob a violência do certeiro golpe e ergueu o cotovelo, no qual aparou um novo soco.
O súbito véu que, momentaneamente, lhe obscurecera o cérebro, desfez-se no momento preciso em que Joe o atacava e em que Jack, que em relação a este ocupava no local uma posição oposta, começava, por sua vez, a manobrar.
A matraca zumbiu próximo da orelha de Taylor que se projetou, agachado, para o estômago de Jack, alçando o seu braço direito numa violenta bofetada. Mas a palma da mão chocou com a parte inferior do queixo de Jack, obrigando-o a endireitar-se e a tornar a dobrar-se, ao choque da cabeça de Bart contra o seu. estômago.
A matraca desceu, mas apanhou as costas de Jack transformado num momento em parapeito, de sob o qual Taylor se levantou rapidamente, enlaçando por trás as pernas e o pescoço da sua carga humana. Começou, então, a fazer girar o corpo do adversário em volta da sua cabeça, e Joe teve de saltar para trás para não ser alcançado pelas pernas de Jack, que se debatia semi-inconsciente, sentindo ranger a sua espinha dorsal, por causa da brutal pressão que Taylor exercia. Ao iniciar a sexta volta, Taylor soltou-o e Jack Adams, embatendo na parede, caiu flacidamente no solo, no mesmo instante em que, reanimado, Jim Smith, de joelhos, tentava agarrar as pernas do torvelinho devastador em que Bart se tinha transformado.
O gosto de Bart Taylor pela luta aumentava pela indignação de ter sido corrido do camarim como um vulgar desordeiro.
Sim, ele não era um brigão vulgar que procurava armar uma briga. Desde que, na sua adolescência, o seu génio combativo encontrou ambiente entre homens rudes e combativos, parecia que o Destino lhe proporcionava, de vez em quando, contendas e rixas. O bestial pontapé com que ele repeliu o intento de Jim Smith deixou este a fazer companhia a Jack.
Mas a máquina de calcular a distribuição de golpes, que era Bart Taylor, falhou um curtíssimo instante. Ele havia dado tempo a Joe Brown, também «perito calculador», e o «gancho» demolidor que devia deter o embate de Joe encontrou, apenas, o vácuo. Em contrapartida, o «bladkjack» bateu, certeiramente, atrás, no crânio de Taylor, que ficou aturdido com a força da pancada. No entanto, os seus punhos, num reflexo dos sentidos, moveram--se ainda numa cerrada defesa. Joe Brown encaixou, sem retroceder, para poder assentar-lhe novo golpe, desta vez na fronte. O sangue espirrou da brecha e Bart Taylor, prestes a estender-se no solo, não caiu, porque agarrou entre as suas mãos o punho direito de Brown, imobilizando a matraca.
Encaixou uma «esquerda» no estômago, e encheu com o próprio sangue o rosto de Joe, ao dar-lhe uma cabeçada. Mas esse foi o seu último gesto de combatividade. Então, resvalando, caiu aos pés de Joe Brown, que, soprando furiosamente, se dispunha já a dar-lhe uma série de pontapés para acabar com ele. Joe, porém, ficou imobilizado, quase petrificado, ao sentir nas costas uma súbita pressão, que identificou imediatamente como sendo causada pela boca de uma pequena pistola, cujos projéteis, embora de calibre pequeno, 'matavam infalivelmente a menos de dez passos.
— Não quero que o convertas num entrevado, Joe. Vai avisar a pessoa a quem isto compete, para que levem este homem.
Joe Brown passou a palma da mão esquerda pela cara, para limpar o suor e o sangue; depois, passou por cima do corpo inanimado de Taylor. Entretanto, Olímpia ajoelhou-se e apoiou no seu regaço aquela cabeça ensanguentada. Enquanto vários criados atendiam Jack e Jim, nada disse. Porém, quando viu o dono do «Cristal Palace» aproximar-se, acompanhado de Joe, advertiu-o:
— Denunciá-los-ei se este homem aparecer morto a flutuar no mar ou o seu cadáver for encontrado nos arredores da cidade. Ele precisa de um médico imediatamente.
— Há um de prevenção no posto de piquete. Ocupar-se-ão ali do seu protegido, Olímpia. Eu bem avisei Joe de que espécie era a besta do admirador da senhora...
— Se quiserem, contentem-se em enviá-lo para a «gaiola», mas não pensem em «liquidá-lo».
E ela mesma presenciou como Bart Taylor era levado por dois guardas para o carro da vigilância que, no geral, costumava recolher de madrugada os ébrios amodorrados e malferidos, ou os mortos, sempre longe do lugar de origem da bebedeira ou do combate.
Fechando a porta do camarim, Bart Taylor deitou o chapéu para trás, enquanto examinava aquela que diante do espelho ia tirando o excesso de vermelhão dos lábios, o «rouge» das faces e o «Khol» das pestanas e das sobrancelhas. Tinha, porém, ainda o vestido de luto da comediante, com gazes sabiamente repartidas com sedas e rendas.
— Temos de terminar o «nosso»... — começou ele, com voz rouca.
— Já terminou, Bart — interrompeu-o Olímpia. — Nós não seríamos felizes, porque tu tens génio de mais e atormentam-te suspeitas infundadas. Eu disse-te constantemente que quando tivesses um emprego sólido e me demonstrasses firmeza de propósitos, então...
— Tens de abandonar esta profissão...
— Conheceste-me nela, Bart, e além disso tenho de viver.
— Deixa de te olhares ao espelho! Ninguém brinca comigo e eu não sou nenhum boneco de palha.
— Lá voltas tu a exasperar-te... Eu não tenho culpa de que te despedissem do lugar de fator dos caminhos de ferro de Oklahoma, por brigão...
Depois de dizer isto, ela demonstrou possuir serenidade e um rápido reflexo quando, ao ver Taylor avançar, deu um salto e correu para o outro extremo do camarim, encostando-se ao tabique, ao mesmo tempo que lhe apontava uma pequena pistola que até então tivera oculta debaixo de um lenço, sobre o «toilette».
— Dispararei sem remorsos, Bart, porque não estou disposta a submeter-me a ameaças, nem a tua perseguição me assustará.
Bart Taylor baixou lentamente as mãos crispadas. Nos seus lábios esboçou-se um ricto amargo, enquanto retrocedia, respondendo:
— Tens razão e eu sou um estúpido que não sabe dominar a sua má têmpera. Mas que queres... minha linda? Eu nasci assim. Quem me provoca tem de ater-se às consequências, seja homem ou mulher. Não é preciso que voltes a argumentar... parece assistir-te toda a razão. Conhecemo-nos em Oklahoma, amámo-nos... Pensaste que eu seria o teu homem e depois pareceu-te que eu era um brigão e um velhaco. Podes tirar o dedo do gatilho... Eu não quero morrer assim.
E Bart Taylor, metendo os mãos nos bolsos do jaquetão azul, sorriu para Olímpia, mas pelos seus olhos negros passou um brilho estranho.
— Prefiro-te risonho, Bart. E deixa-me dizer-te que, andando nessa vida errante, não encontrarás um trabalho decente, o que me custa bastante, podes crer, porque tu tens capacidade para triunfar naquilo que te propuseres.
— Acreditas nisso? No entanto tu és um vivo e eloquente exemplo de que eu sou um fracassado. Amaste-me, mas acabou-se!... dizes tu. Talvez outro homem se conformasse, mas eu é que não sei nem posso resignar-me a perder-te. Se dei um passo em falso, já o paguei bem.
Continuando a apontar-lhe a arma, ela replicou amavelmente:
— Volta a perguntar-me se podemos reatar, como dantes, um carinhoso sentimento, que ainda existe em mim, mas que sei dominar, porque não quero ser uma desgraçada... pergunta-me se posso tornar a querer-te, mas quando fores um homem decente e não um vadio e um brigão... Estão batendo à porta, Bart. Será melhor que comeces agora mesmo a demonstrar-me que podes dominar o teu génio.
Como repetissem as pancadas com mais força, Bart abriu a porta. No umbral, um oriental corpulento perguntou:
— Deseja alguma coisa, minha senhora? O carro está à espera... — Obrigada., Joe. Vou já. Boas noites, Bart.
— Seria grotesco que este chinês pretendesse pôr-me daqui para foral...
— Joe e outros dois empregados têm a obrigação de vigiar os camarins dos artistas. Eu tinha-lhes dito que, se tu pedisses para me falar, te deixassem entrar, mas que ao cabo de cinco minutos viessem chamar-me. Tenho de acabar de arranjar-me, Bart.
— Há um biombo e eu não sou nenhum bêbado nem mendigo...
Joe Brown, naturalizado em Seattle, nativo de Xangai, era, como os seus dois acólitos Jim Smith e Jack Adams, da colónia oriental bastante numerosa na cidade, e que servia para todos os misteres, nos locais de diversão.
A especialidade de Joe, Jim e Jack era a designada como «velador» da ordem, a soldo da empresa. Os três haviam adquirido grande prática, exercitando-se com marinheiros amantes de uma boa peleja, na qual todos os recursos eram válidos. Joe Brown, impassível o rosto largo e chato, deu um passo atrás e, em cada lado do umbral cia porta, da parte de fora, esperavam pacientemente Jim Smith e Jack Adams.
Quando: se tratava de um só importuno, não era preciso empregar a matraca «bladkjack», uma meia recheada de areia. Os nós das suas mãos e os seus punhos tinham já a dureza profissional. E Joe Brown convidou o intruso:
— Deixe esta senhora, cavalheiro.
Antes de se pegarem, todos eram cavalheiros delicados para os três ferrabrases do «Cristal Palace». Olímpia insistiu:
— Bart! Primeiro dize a este gorila que desapareça e eu ir-me-ei embora, quando puder despedir-me de ti, às boas, e não assim...
Joe adiantou uma mão e tocou no ombro de Taylor para retirá-la logo, rapidamente. Depois, dando dois passos atrás, convidou-o prudentemente:
— Vamos, cavalheiro. Lá para fora.
Bart Taylor deu meia volta, lentamente, e teve uma atitude, ao abandonar o camarim, que justificava a acusação de pouco paciente. Puxou a porta para si, fechando-a ruidosamente com as costas, mas projetou-se sobre Joe, valendo-se do mesmo impulso com que fechara a porta do camarim.
Ele não ignorava, por anteriores experiências, como ator ou espectador, que indivíduos, com o difícil emprego d e Joe Brown não o exerciam sozinhos. E, na brusca saída, evitou o primeiro embate com Jack Adams, que o esperava.
Não chegou a assentar os punhos em Joe, que também o aguardava, pois que, dando uma volta sobre si mesmo, saltou, com as mãos estendidas, sobre Jim Smith. Por instantes, apoiou as mãos no antebraço de Smith, puxando-o para si, ao mesmo tempo que, elevando os joelhos, num salto, lhe dava no estômago tremenda pancada.
Depois, Bart largou-lhe os antebraços, fechou os punhos e, numa fração de segundo, agrediu o adversário com dois socos. Neste momento, porém, Bart recebeu nas mandíbulas, com um ruído surdo, o direto com que Smith ripostou. Recuou sob a violência do certeiro golpe e ergueu o cotovelo, no qual aparou um novo soco.
O súbito véu que, momentaneamente, lhe obscurecera o cérebro, desfez-se no momento preciso em que Joe o atacava e em que Jack, que em relação a este ocupava no local uma posição oposta, começava, por sua vez, a manobrar.
A matraca zumbiu próximo da orelha de Taylor que se projetou, agachado, para o estômago de Jack, alçando o seu braço direito numa violenta bofetada. Mas a palma da mão chocou com a parte inferior do queixo de Jack, obrigando-o a endireitar-se e a tornar a dobrar-se, ao choque da cabeça de Bart contra o seu. estômago.
A matraca desceu, mas apanhou as costas de Jack transformado num momento em parapeito, de sob o qual Taylor se levantou rapidamente, enlaçando por trás as pernas e o pescoço da sua carga humana. Começou, então, a fazer girar o corpo do adversário em volta da sua cabeça, e Joe teve de saltar para trás para não ser alcançado pelas pernas de Jack, que se debatia semi-inconsciente, sentindo ranger a sua espinha dorsal, por causa da brutal pressão que Taylor exercia. Ao iniciar a sexta volta, Taylor soltou-o e Jack Adams, embatendo na parede, caiu flacidamente no solo, no mesmo instante em que, reanimado, Jim Smith, de joelhos, tentava agarrar as pernas do torvelinho devastador em que Bart se tinha transformado.
O gosto de Bart Taylor pela luta aumentava pela indignação de ter sido corrido do camarim como um vulgar desordeiro.
Sim, ele não era um brigão vulgar que procurava armar uma briga. Desde que, na sua adolescência, o seu génio combativo encontrou ambiente entre homens rudes e combativos, parecia que o Destino lhe proporcionava, de vez em quando, contendas e rixas. O bestial pontapé com que ele repeliu o intento de Jim Smith deixou este a fazer companhia a Jack.
Mas a máquina de calcular a distribuição de golpes, que era Bart Taylor, falhou um curtíssimo instante. Ele havia dado tempo a Joe Brown, também «perito calculador», e o «gancho» demolidor que devia deter o embate de Joe encontrou, apenas, o vácuo. Em contrapartida, o «bladkjack» bateu, certeiramente, atrás, no crânio de Taylor, que ficou aturdido com a força da pancada. No entanto, os seus punhos, num reflexo dos sentidos, moveram--se ainda numa cerrada defesa. Joe Brown encaixou, sem retroceder, para poder assentar-lhe novo golpe, desta vez na fronte. O sangue espirrou da brecha e Bart Taylor, prestes a estender-se no solo, não caiu, porque agarrou entre as suas mãos o punho direito de Brown, imobilizando a matraca.
Encaixou uma «esquerda» no estômago, e encheu com o próprio sangue o rosto de Joe, ao dar-lhe uma cabeçada. Mas esse foi o seu último gesto de combatividade. Então, resvalando, caiu aos pés de Joe Brown, que, soprando furiosamente, se dispunha já a dar-lhe uma série de pontapés para acabar com ele. Joe, porém, ficou imobilizado, quase petrificado, ao sentir nas costas uma súbita pressão, que identificou imediatamente como sendo causada pela boca de uma pequena pistola, cujos projéteis, embora de calibre pequeno, 'matavam infalivelmente a menos de dez passos.
— Não quero que o convertas num entrevado, Joe. Vai avisar a pessoa a quem isto compete, para que levem este homem.
Joe Brown passou a palma da mão esquerda pela cara, para limpar o suor e o sangue; depois, passou por cima do corpo inanimado de Taylor. Entretanto, Olímpia ajoelhou-se e apoiou no seu regaço aquela cabeça ensanguentada. Enquanto vários criados atendiam Jack e Jim, nada disse. Porém, quando viu o dono do «Cristal Palace» aproximar-se, acompanhado de Joe, advertiu-o:
— Denunciá-los-ei se este homem aparecer morto a flutuar no mar ou o seu cadáver for encontrado nos arredores da cidade. Ele precisa de um médico imediatamente.
— Há um de prevenção no posto de piquete. Ocupar-se-ão ali do seu protegido, Olímpia. Eu bem avisei Joe de que espécie era a besta do admirador da senhora...
— Se quiserem, contentem-se em enviá-lo para a «gaiola», mas não pensem em «liquidá-lo».
E ela mesma presenciou como Bart Taylor era levado por dois guardas para o carro da vigilância que, no geral, costumava recolher de madrugada os ébrios amodorrados e malferidos, ou os mortos, sempre longe do lugar de origem da bebedeira ou do combate.
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