sexta-feira, 12 de julho de 2019

COL025.11 A chefe da expedição é desmascarada

Estava amanhecendo. Harry Coley golpeou com a ponta da bota o traseiro de Joe.
— Levanta-te, chefe, é a hora de partir.
Joe levantou-se ao mesmo tempo que Virgínia Pulver também despertava. Coley tinha acendido uma fogueira.
— Aqueci um pouco de café — disse. — Venham cá.
Enquanto bebiam o café, Virgínia perguntou:
—Quantos dias faltam para chegar?
— Chegaremos amanhã — respondeu Joe.
Virgínia afastou a marmita dos lábios, fazendo uni gesto de surpresa.
— Não posso acreditar.
— Não quis dizer-lhes nada, mas depois da morte de
Butchery, tomei outro caminho e ganhámos meia centena de milhas. Esta é a parte que Butchery costumava frequentar e ao princípio não me pareceu bem cruzar por aqui.
Harry Coley voltou a cara para o caminho que tinham de seguir
— O ouro está ali — murmurou como se falasse consigo mesmo.
Joe enrugou a cara observando Coley. Não lhe agradou o tom em que este falava ao referir-se ao ouro e pensou naquelas outras palavras suas em que teria muita prata para ser um importante cidadão numa grande cidade.
— Correremos muito, Joe—disse Virgínia.


Pouco depois puseram-se outra vez a caminho. Cavalgaram a bom passo todo o dia e quando o sol se estava pondo chegaram ao último poço que deviam encontrar no caminho.
— Porque nos detemos aqui? —disse Virgínia. — Proponho que enchemos os cantis de água e que sigamos para diante.
— Não pode ser, Virgínia — respondeu Brand. — Esta é a parte mais fria do Deserto Pintado. Não poderíamos adiantar mais de duas milhas. Esta ribanceira nos defenderá do vento gelado que começará a soprar dum momento para o outro. Antes que saia outra vez o sol, empreenderemos a última etapa e ao meio-dia chegaremos a Supay.
A ruiva fez um gesto de contrariedade, mas finalmente acedeu:
—Está bem, Joe.
Joe dirigiu-se a Coley.
— Ocupa-te da fogueira, rapaz. E que seja boa porque vamos necessitar bem dela.
Pouco depois, tal como tinha previsto Joe, o vento frio do deserto começou a soprar enquanto a escuridão aumentava pouco a pouco sobre a terra. Os três expedicionários puseram-se ao lado da fogueira cobrindo os ombros com cobertores.
Coley fritou uns bocados de toucinho que ele e Joe despacharam porque Virgínia não quis provar nada. Depois, Joe aproximou-se do seu cavalo e tirou uma garrafa de whisky e ele e Harry beberam grandes bocados.
— Vou dormir —disse Virgínia.
—Não o recomendo —respondeu Joe. — Ficará gelada antes que se dê conta. Ê melhor que esteja movendo os braços e as pernas e seria também bom que bebesse um pouco de whisky. Não se conhece outra qualidade de aquecimento para este frio do deserto.
Limpou o gargalo da garrafa e estendeu-lha. Virgínia bebeu um gole, fechando os olhos. De repente, ouviram um ruído da direita. Harry e Joe empunharam os revólveres voltando a cabeça para esse lado.
— Deve ser algum arbusto que arrasta com o vento —disse Harry.
— Não — respondeu Joe. —Ê um cavalo. Espera-me aqui. Não te afastes dela, Harry.
Joe deixou cair a manta em terra, e apertando firmemente a culatra do revólver, subiu a ribanceira. Só ouviu o murmúrio do vento. Os seus olhos, acostumados à escuridão, viram um vulto negro a umas dez jardas.
Então fez um círculo para ficar atrás da figura. Inspirou profundamente e saltou sobre ela. O seu corpo chocou contra outro corpo e um grito feminino rasgou a atmosfera. Assombrado, Joe encontrou-se junto de Dolores.
— Maldito esfarrapado! Solta-me! Estás-me causando dano!
Joe afastou-se dela.
— Que fazes aqui? Porque nos seguiste? Tornaste-te louca?
—São muitas perguntas, não é verdade, Joe?
— Penso ter-te ouvido dizer que ias esquecer a minha existência.
Dolores mordeu fortemente o lábio inferior.
— Isso é o que devia ter feito com um mal-agradecido como tu, esquecer-me também que estavas no mundo.
— Isso soa muito bonito, mas tu estás aqui e não me vais dizer que, de repente, sentiste desejos de viajar pelo Deserto Pintado.
—Não o fiz por meu gosto, Joe.
—Questionaste, por acaso, com Salb e ele despediu-te?
— Não — disse ela, agarrando-lhe um braço.
— Então, qual é o motivo?
A jovem bateu os dentes.
— Tenho frio, Joe.
— Claro que sim, tens frio, e eu deveria pregar-te uma sova para aquecer-te.
— Ela está contigo?
— Se ela é a menina Pulver, está comigo.
— A menina Pulver — repetiu Dolores, com ironia. — Tenho muitas ganas de vê-la.
—Vieste à procura duma luta? Se é esse o motivo porque percorreste tantas milhas?
— Talvez sim, Joe. É possível que deseje lutar com a menina Pulver.
— Pois, então, perdeste o teu tempo, rapariga.
— Porque não vais deixar, Joe?
—Não, temo que não possa fazer isso. Mas vais-te comportar como uma pessoa sensata.
—Muito bem, Joe. Serei a rapariga mais sensata do mundo.
Joe voltou a cabeça sem deixar de observar a mexicana.
— Não me agrada a forma como deixaste o teu cavalo.
Dolores pôs os dedos nos lábios e pegou um assobio ouvindo-se em seguida um trote que se foi aproximando. Harry Coley gritou desde a ribanceira.
— Que se passa, chefe?
— Tudo vai bem, Harry — respondeu Brand. — Só temos uma convidada a mais.
Dolores agarrou as rédeas do seu cavalo e começou a andar para a ribanceira, seguida de Joe. Virgínia e Harry ficaram perplexos ao ver a mexicana.
—Boas noites — disse Dolores.
E seguidamente pôs-se de cócoras junto da fogueira. Virgínia, Joe e Harry estavam de pé olhando a recém--chegada. Coley soltou uma risada.
— Que lhe fazes, chefe? Infernos, se eu tivesse uma rapariga que viajasse por mim tantas milhas, seria capaz de me tornar louco por ela.
Dolores levantou os seus grandes olhos, dizendo:
— Obrigado, senhor Coley, mas os lagartos não são seres humanos.
— Cala o bico, rapariga — resmungou Joe.
Dolores riu com ironia.
—Suponho que à menina Pulver não terias dito nunca essas palavras, não é verdade, Joe? A ela não lhe terias dito nunca que calasse o bico. Ela é uma dama, uma mulher a quem se trata com delicadeza, com educação.
—Já te disse antes que não quero luta, Dolores—gritou Brand.
— Deixe-a, Joe — murmurou a ruiva. --Ela não me molesta com as suas palavras.
— Claro que não, menina Pulver — respondeu Dolores, voltando bruscamente a cabeça para ela. — Eu não posso ferir com as minhas palavras porque a sua pele é um pouco mais dura.
— Dolores! —exclamou Joe, com voz irritada.
Mas a mexicana continuava olhando a outra mulher.
— Porque os enganou, menina Jackson?
— Não sei do que me fala, Dolores — disse Virgínia.
Fez-se um silêncio e depois Joe declarou:
— A viagem transtornou-te, Dolores. Será melhor que recuperes um pouco antes de dizeres outra palavra. A menina chama-se Virgínia Pulver.
— Isso é o nome que ela te deu e o que ela deu a Harry Coley, mas não se chama Virgínia Pulver, mas sim Olga Jackson. Este é o seu verdadeiro nome.
Fez-se outra pausa. Os dois homens desviaram os olhos de Dolores para detê-los no rosto da ruiva. A mexicana pôs-se também em pé.
— Ande, negue, menina Jackson.
Olga engoliu saliva, mas os seus lábios não se despegaram.
— Que se passa? Porque não responde? — prosseguiu Dolores, com ar desafiador. — Porque não repete a sua história sobre o ouro que procura em Supay? Você jogou bem as suas vasas, menina Jackson. Disse-lhes que ia em procura dum filão de ouro. Não podia dizer-lhes o que ia fazer: era contrário à lei. Pagou-lhes bem e dessa forma eles morderam o anzol.
Joe estendeu a mão e agarrou o braço de Dolores.
— Onde soubeste tudo isso? Quem é que to disse? Não acredito numa só palavra!
—Claro que não, tu não acreditas, Joe Brand. Continuarás admitindo tudo o que ela te disse. Entre ela e eu é fácil a escolha. Mas, inteira-te duma vez, ainda que ela seja uma dama, é ela que mente. Não vai a Supay à procura de nenhuma mina de ouro. Olga Jackson tem um irmão que se chama Teddy. Ele estava cumprindo uma pena por assassinato na prisão de Tucson. Fugiu com outros homens, mas só quatro deles, Teddy Jackson e outros três, conseguiram escapar. Teddy estava ferido gravemente e teve de fazer um alto no caminho. Então escreveu a sua irmã a pedir-lhe dinheiro para poder chegar ao México. Estás a entender, grande idiota? Tu e Harry Coley estão ajudando Olga Jackson a chegar junto de seu irmão e dos outros três fugitivos da justiça.
Fez-se um silêncio. Joe Brand e Harry Coley voltaram a olhar a jovem que lhes tinha dito chamar-se Virgínia Pulver. O seu rosto estava mortalmente pálido. Harry disse:
— As coisas parecem encaixar-se. Ela não quis que apresentasse a denúncia acerca dos ladrões índios. Depois, em Forte Diabo, quando viu Dolores com aquele vestido, identifiquei-o como pertencente a Virgínia e levei-a à presença do comandante. Naturalmente, McSeween chamou à sua presença Virgínia. Ela não quis levar a acusação para diante quando tu te apresentaste ali, Joe. Convém-lhe bem que não estivesse entre ladrões para que o assunto não tivesse seguimento. Joe sorriu com amargura, observando a ruiva.
— Assim, pois, toda a história é certa. Você é Olga Jackson e não vai a Supay em procura de nenhum filão de ouro. Só pretende ajudar uns quantos delinquentes.
A jovem enterrou o queixo no peito, soluçando.
—Ê meu irmão! Ê meu irmão!
De repente, uma voz chegou-lhes detrás.
— Falam de nós, companheiros?
Joe e Harry voltaram-se levando as mãos ao revólver, mas de repente ficaram imóveis ao descobrir que a umas cinco jardas, do outro lado do poço, estavam três homens. E todos eles tinham uma arma na mão.

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