Depois de ter dormido durante quatro horas, Joe estava-se a lavar quando de repente bateram com força à porta. Enquanto estendia a mão para recolher uma toalha, perguntou:
— Quem é? Sou eu — respondeu a voz de Salb. — Abre, Joe, tenho pressa.
— Pegaram fogo à casa?
— Deixa-te de brincadeiras e abre.
—Está bem. Vou já —disse Joe.
E enquanto se enxugava, estendeu a mão e correu o fecho. Salb penetrou no quarto com muito mistério e fechou a porta nas costas. Os seus olhos olharam perscrutadoramente a cara de Brand.
— Que fizeste por aí, Joe?
—Referes-te aos dias em que estive fora?
—Pois claro.
— O mesmo de sempre. Cacei lagartos. Foi-me muito bem ao princípio e cheguei a Los Alamos para vender uma dúzia de peles. Gastei o dinheiro em provisões e num pouco de whisky, mas depois chegou-me a má sorte. O vento do Norte soprou forte e os lagartos desapareceram da planície. Em todo o trajeto desde Los Alamos até cá não pude agarrar um só animalejo.
—E é tudo?
— Ouve, que demónios se passa?
— Está lá em baixo o sargento Carruth e dois soldados. Vieram à tua procura.
Joe ficou em silêncio.
— Por mim?
— Não te chamas tu Joe Brand?
—Sim.
— Pois és tu o tipo que querem levar ao forte.
—Não te disseram porquê?
—Perguntei-o ao sargento e não mo quis dizer.
Joe sorriu atirando a toalha sobre o peito de Keller.
— Não te preocupes, Salb. Não tenho nada que esconder.
— Já o sei, rapaz, mas às vezes passam-se coisas que ninguém pode imaginar o que lhe pode acontecer.
— Minha vida é como um curso de água límpida e cristalina, Salb. Tu o sabes. Vai e diz ao sargento que vou imediatamente. A propósito, está cá Dolores?
— Enviei-a a comprar tabaco e ainda não voltou.
Salb saiu do quarto e Joe gastou uns minutos a vestir-se. Depois, desceu pela escada. Os soldados estavam junto do balcão com o sargento, um tipo de grossos bigodes que lhe cobriam totalmente a boca. Olhou para a mesa de jogo. Randall não estava ali, mas sim os seus três companheiros de partida.
— Olá, Joe — saudou o sargento.
— Que tal vai, Carruth?
— Tem de vir connosco ao forte.
— Porquê?
—Não me disseram a razão e já sabe que se o soubesse lho diria.
— Não tenho nenhuma dúvida, Carruth. Pode-se saber quem lhe deu a ordem?
— O comandante McSeween.
Joe ficou uns instantes perplexo.
—Está bem, sargento. Vamos. Eu também sinto curiosidade por saber o que é que se passa.
— De repente interrompeu-se, olhando outra vez para Salb. — Ouve, e Randall? Não terá sido ele que...?
— Não, Joe. Randall subiu para o seu quarto. Tinha um pouco de febre e meteu-se na cama.
— Não saiu depois de eu ter subido para o meu quarto?
— Estive a vigiá-lo. Não saiu para parte alguma.
Quinze minutos mais tarde Joe e os seus acompanhantes desmontaram no interior do Forte do Diabo. O sargento Carruth fez um sinal a Joe e ambos se dirigiram ao escritório do comandante Mc Seween. Antes de chegarem ouviram umas vozes e Joe identificou a de Dolores.
—Tem de acreditar-me, comandante! Foi esse esfarrapado de Joe Brand! Eu não sei nada disto.
Carruth bateu à porta e uma voz grave deu a autorização para entrar. Joe observou que o comandante McSeween e Dolores não estavam sós.
Havia outras duas pessoas no escritório, mas, de repente, só se fixou numa delas porque era uma mulher como ele nunca tinha visto outra antes. Possuía um cabelo arruivado como se o seu belo rosto estivesse rodeado de chamas e os olhos eram muito grandes, de um profundo azul, o nariz recto e os lábios sensuais, muito vermelhos. O seu peito era firme e pujante, a figura estreita e as ancas como deviam ser. O seu olhar cruzou-se com o dela e Joe viu brilhar nos seus olhos um raio de ira.
O comandante McSeween tinha perto de cinquenta e cinco anos e era um homem de cabelos brancos. O seu rosto estava quase permanentemente em movimento porque tinha um tique nervoso que o obrigava a fechar e a abrir o olho esquerdo. A outra pessoa que estava no escritório era um homem que permanecia ao lado da ruiva, um tipo loiro de testa larga, olhos parados, nariz fino, pómulos salientes e faces um pouco cavadas. A sua boca torcia-se um pouco olhando para Joe Brand e este esteve disposto a jurar que naqueles lábios havia um sorriso sádico. Foi a formosa desconhecida quem interrompeu a larga pausa.
—E este o homem, comandante McSeween?
—Sim, senhorita Pulver. Este é Joe Brand, o caçador de lagartos de que estivemos a falar. Não o reconhece?
—Não sei. Tudo sucedeu muito rápido. Sinceramente não saberia dizê-lo.
— Eu estou seguro de que é ele — interveio o homem loiro, sacudindo a cabeça. — Não tenho nenhuma dúvida, comandante McSewveen.
Joe Brand enrugou as sobrancelhas, olhando para McSeween.
— Pode saber-se de que se trata, comandante? McSeween piscou duas vezes o olho, antes de dizer: —Está a ser acusado de ladrão, Brand.
— Eu um ladrão? — Joe sorriu. — Isso sim, é que tem graça.
O loiro falou outra vez. Eu chamá-lo-ia doutro modo, comandante.
Este tipo é um vulgar salteador, e, como todos os salteadores, um assassino. Joe voltou rapidamente a cabeça.
—Oiça, compadre, não sei quem é você, mas vou-lhe dar um conselho que pode interessar muito à sua saúde. Meça as palavras.
O comandante bateu com o punho na mesa.
— Silêncio, senhores!
-- 25
— Quem é? Sou eu — respondeu a voz de Salb. — Abre, Joe, tenho pressa.
— Pegaram fogo à casa?
— Deixa-te de brincadeiras e abre.
—Está bem. Vou já —disse Joe.
E enquanto se enxugava, estendeu a mão e correu o fecho. Salb penetrou no quarto com muito mistério e fechou a porta nas costas. Os seus olhos olharam perscrutadoramente a cara de Brand.
— Que fizeste por aí, Joe?
—Referes-te aos dias em que estive fora?
—Pois claro.
— O mesmo de sempre. Cacei lagartos. Foi-me muito bem ao princípio e cheguei a Los Alamos para vender uma dúzia de peles. Gastei o dinheiro em provisões e num pouco de whisky, mas depois chegou-me a má sorte. O vento do Norte soprou forte e os lagartos desapareceram da planície. Em todo o trajeto desde Los Alamos até cá não pude agarrar um só animalejo.
—E é tudo?
— Ouve, que demónios se passa?
— Está lá em baixo o sargento Carruth e dois soldados. Vieram à tua procura.
Joe ficou em silêncio.
— Por mim?
— Não te chamas tu Joe Brand?
—Sim.
— Pois és tu o tipo que querem levar ao forte.
—Não te disseram porquê?
—Perguntei-o ao sargento e não mo quis dizer.
Joe sorriu atirando a toalha sobre o peito de Keller.
— Não te preocupes, Salb. Não tenho nada que esconder.
— Já o sei, rapaz, mas às vezes passam-se coisas que ninguém pode imaginar o que lhe pode acontecer.
— Minha vida é como um curso de água límpida e cristalina, Salb. Tu o sabes. Vai e diz ao sargento que vou imediatamente. A propósito, está cá Dolores?
— Enviei-a a comprar tabaco e ainda não voltou.
Salb saiu do quarto e Joe gastou uns minutos a vestir-se. Depois, desceu pela escada. Os soldados estavam junto do balcão com o sargento, um tipo de grossos bigodes que lhe cobriam totalmente a boca. Olhou para a mesa de jogo. Randall não estava ali, mas sim os seus três companheiros de partida.
— Olá, Joe — saudou o sargento.
— Que tal vai, Carruth?
— Tem de vir connosco ao forte.
— Porquê?
—Não me disseram a razão e já sabe que se o soubesse lho diria.
— Não tenho nenhuma dúvida, Carruth. Pode-se saber quem lhe deu a ordem?
— O comandante McSeween.
Joe ficou uns instantes perplexo.
—Está bem, sargento. Vamos. Eu também sinto curiosidade por saber o que é que se passa.
— De repente interrompeu-se, olhando outra vez para Salb. — Ouve, e Randall? Não terá sido ele que...?
— Não, Joe. Randall subiu para o seu quarto. Tinha um pouco de febre e meteu-se na cama.
— Não saiu depois de eu ter subido para o meu quarto?
— Estive a vigiá-lo. Não saiu para parte alguma.
Quinze minutos mais tarde Joe e os seus acompanhantes desmontaram no interior do Forte do Diabo. O sargento Carruth fez um sinal a Joe e ambos se dirigiram ao escritório do comandante Mc Seween. Antes de chegarem ouviram umas vozes e Joe identificou a de Dolores.
—Tem de acreditar-me, comandante! Foi esse esfarrapado de Joe Brand! Eu não sei nada disto.
Carruth bateu à porta e uma voz grave deu a autorização para entrar. Joe observou que o comandante McSeween e Dolores não estavam sós.
Havia outras duas pessoas no escritório, mas, de repente, só se fixou numa delas porque era uma mulher como ele nunca tinha visto outra antes. Possuía um cabelo arruivado como se o seu belo rosto estivesse rodeado de chamas e os olhos eram muito grandes, de um profundo azul, o nariz recto e os lábios sensuais, muito vermelhos. O seu peito era firme e pujante, a figura estreita e as ancas como deviam ser. O seu olhar cruzou-se com o dela e Joe viu brilhar nos seus olhos um raio de ira.
O comandante McSeween tinha perto de cinquenta e cinco anos e era um homem de cabelos brancos. O seu rosto estava quase permanentemente em movimento porque tinha um tique nervoso que o obrigava a fechar e a abrir o olho esquerdo. A outra pessoa que estava no escritório era um homem que permanecia ao lado da ruiva, um tipo loiro de testa larga, olhos parados, nariz fino, pómulos salientes e faces um pouco cavadas. A sua boca torcia-se um pouco olhando para Joe Brand e este esteve disposto a jurar que naqueles lábios havia um sorriso sádico. Foi a formosa desconhecida quem interrompeu a larga pausa.
—E este o homem, comandante McSeween?
—Sim, senhorita Pulver. Este é Joe Brand, o caçador de lagartos de que estivemos a falar. Não o reconhece?
—Não sei. Tudo sucedeu muito rápido. Sinceramente não saberia dizê-lo.
— Eu estou seguro de que é ele — interveio o homem loiro, sacudindo a cabeça. — Não tenho nenhuma dúvida, comandante McSewveen.
Joe Brand enrugou as sobrancelhas, olhando para McSeween.
— Pode saber-se de que se trata, comandante? McSeween piscou duas vezes o olho, antes de dizer: —Está a ser acusado de ladrão, Brand.
— Eu um ladrão? — Joe sorriu. — Isso sim, é que tem graça.
O loiro falou outra vez. Eu chamá-lo-ia doutro modo, comandante.
Este tipo é um vulgar salteador, e, como todos os salteadores, um assassino. Joe voltou rapidamente a cabeça.
—Oiça, compadre, não sei quem é você, mas vou-lhe dar um conselho que pode interessar muito à sua saúde. Meça as palavras.
O comandante bateu com o punho na mesa.
— Silêncio, senhores!
-- 25
Ninguém disse nada, e depois McSeween disse suavemente:
— Porque fez isto?
—O quê, comandante? O que é que eu fiz?
— Ao que parece, segundo a acusação que me acaba de formalizar, você, capitaneando um grupo de índios, assaltou estes dois viajantes, a menina Pulver e o senhor Coley.
Joe fez uma careta.
— De que está falando, comandante? Como pode supor isso? Conhece-me suficientemente bem para saber que eu sou incapaz de fazer uma coisa como essa.
—Ë a ideia que eu tenho, Brand. Sabia que apesar de tudo você é um homem honrado, mas já acabei de ouvir o senhor Coley. Identificou-o como um dos que acompanhavam esses índios.
— Este homem equivoca-se.
Coley soltou uma risada.
— Por fortuna, comandante, o senhor tem a prova de que eu digo a verdade.
— A que prova se refere? -- quis saber Joe, ainda que já tivesse suposto qual era a prova.
O comandante assinalou Dolores.
— Você deu-lhe este vestido, Brand?
— Sim.
—E também é verdade que lhe ofereceu igualmente outro vestido verde?
— Sim, senhor.
Coley apoiou as palmas das mãos na mesa e disse enquanto os seus lábios continuavam sorrindo:
— Bem, comandante. Suponho que agora não terá nenhuma dúvida. O próprio Brand acaba de confessar, Ele
26 --
estava com os índios que nos assaltaram, e já ouviu dizer à menina Pulver que viu um dos indígenas roubar os vestidos que tinha no interior duma mala.
— Um pouco mais devagar — compadre — disse Joe. —Admito que ofereci os vestidos a Dolores, mas não que tomasse parte do grupo que vos atacou.
Coley olhou Brand com as sobrancelhas enrugadas.
—Naturalmente, você terá agora de dizer outra coisa. Felizmente todos ouvimos a sua confissão.
— Penso que você me vai ser muito simpático, Coley — disse Joe.
— Obrigado. Penso o mesmo.
Joe voltou-se para McSeween.
— Escute agora a minha história, comandante.
Em seguida, o caçador de lagartos contou tudo o que lhe tinha sucedido no deserto a partir do momento em que esteve quase a ser morto por Opiwi e António. Quando terminou, Coley começou a rir.
— Admito que possui uma boa imaginação, Brand. Já me tinham dito que passa a vida só e não há nada como a solidão para avivar a fantasia.
— Já lhe fiz uma advertência, Coley — respondeu Joe com uma voz rouca. — Não me faça perder a paciência. As coisas sucederam como eu disse.
— Por favor, senhores --interveio o comandante. — Ou vou ter de lhes recordar o lugar em que se encontram?
Fez uma transição e depois McSeween dirigiu-se à ruiva.
— A senhora é a parte prejudicada, menina Pulver, e, portanto, tem de decidir acerca deste assunto. Naturalmente, se insiste em acusar Joe Brand, ordenarei que o detenham e que se formalize o oportuno expediente.
Coley sacudiu a cabeça.
— Tudo está demasiado claro, comandante, e a menina Pulver exige que este homem seja castigado como merece.
—Um momento, Harry —disse a ruiva.
Todos os que se encontravam no quarto, olharam a menina Pulver, que, depois de humedecer o lábio inferior com a língua, declarou olhando McSeween:
—Já lhe disse antes que não estou certa que este homem fosse um dos que eu vi entre os nossos atacantes. Assim considero que seria injusto manter a minha acusação contra ele.
— Então, menina Pulver? — inquiriu o comandante.
— Deixe-o livre.
Harry Coley apertou com força os lábios.
—Não pensa que é demasiado generosa, menina Pulver? Então já não se recorda de que forma tive de defendê-la matando três índios para evitar que eles nos liquidassem? —Estendeu a mão, assinalando Brand. —Ele é um daqueles tipos!
— Cale-se, Harry — disse a menina Pulver, levantando o queixo. — Não estou certa, nem você tão-pouco. Aquele homem que vimos esconder-se entre as rochas estava demasiado longe.
— Muito bem, Menina Pulver — disse Coley, com voz carregada de ira. Assunto concluído.
A menina Pulver olhou para Dolores.
— Podes ficar com os dois vestidos, rapariga. Eu ofereço-tos.
— Você oferece-mos a mim? —exclamou a mexicana, apontando o peito com o dedo indicador. — Não os queria nem que estivessem cosidos com fio de ouro! E não tiro aqui o que levo vestido porque não quero dar espetáculo. Mas muito depressa terá a sua roupa, menina Pulver. Juro-lho! — Dolores dirigiu-se para a porta, mas ao passar diante de Joe Brand, deteve-se. —Tinhas-me gravada no teu pensamento! Tinhas comprado os vestidos. Já podes estar orgulhoso! Mas ao fim e ao cabo, que se pode esperar dum lagarto do deserto?
Depois a jovem saiu, fechando a porta com força. Joe Brand afastou o olhar do chão. De repente, ouviu a voz de Harry Coley.
— É deveras muito gracioso isso de que para conquistá-la tenha de mentir, Brand.
Joe lançou a direita contra a cara de Coley. Soou um barulho e o loiro cambaleou, mas não chegou a cair porque conseguiu ferrar a mão na mesa. Os seus olhos aumentaram e na sua boca apareceu uma careta selvagem. McSeween levantou-se dum salto da secretária.
— Que é que pensam vocês? Vão converter o meu escritório num saloon?
O loiro tinha começado a mover a mão para o revólver, mas ficou imóvel ao ouvir a voz do comandante. Joe Brand também tinha a mão aberta, os dedos curvos sobre o «Colt» 45, que gravitava junto da anca. A ruiva olhava fixamente Joe Brand e agora disse:
—Por favor, comandante. Não tome isto em conta. Na realidade, eu sinto-me culpada porque realmente fui eu que dei lugar a este incidente.
Houve outra pausa e McSeween ordenou:
— Vá-se embora, Joe!
Brand recobrou a mobilidade. Os seus olhos observaram a menina Pulver e depois outra vez Coley. Por último, os seus lábios disseram algo muito baixo que resultou ininteligível e saiu do escritório.
— Porque fez isto?
—O quê, comandante? O que é que eu fiz?
— Ao que parece, segundo a acusação que me acaba de formalizar, você, capitaneando um grupo de índios, assaltou estes dois viajantes, a menina Pulver e o senhor Coley.
Joe fez uma careta.
— De que está falando, comandante? Como pode supor isso? Conhece-me suficientemente bem para saber que eu sou incapaz de fazer uma coisa como essa.
—Ë a ideia que eu tenho, Brand. Sabia que apesar de tudo você é um homem honrado, mas já acabei de ouvir o senhor Coley. Identificou-o como um dos que acompanhavam esses índios.
— Este homem equivoca-se.
Coley soltou uma risada.
— Por fortuna, comandante, o senhor tem a prova de que eu digo a verdade.
— A que prova se refere? -- quis saber Joe, ainda que já tivesse suposto qual era a prova.
O comandante assinalou Dolores.
— Você deu-lhe este vestido, Brand?
— Sim.
—E também é verdade que lhe ofereceu igualmente outro vestido verde?
— Sim, senhor.
Coley apoiou as palmas das mãos na mesa e disse enquanto os seus lábios continuavam sorrindo:
— Bem, comandante. Suponho que agora não terá nenhuma dúvida. O próprio Brand acaba de confessar, Ele
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estava com os índios que nos assaltaram, e já ouviu dizer à menina Pulver que viu um dos indígenas roubar os vestidos que tinha no interior duma mala.
— Um pouco mais devagar — compadre — disse Joe. —Admito que ofereci os vestidos a Dolores, mas não que tomasse parte do grupo que vos atacou.
Coley olhou Brand com as sobrancelhas enrugadas.
—Naturalmente, você terá agora de dizer outra coisa. Felizmente todos ouvimos a sua confissão.
— Penso que você me vai ser muito simpático, Coley — disse Joe.
— Obrigado. Penso o mesmo.
Joe voltou-se para McSeween.
— Escute agora a minha história, comandante.
Em seguida, o caçador de lagartos contou tudo o que lhe tinha sucedido no deserto a partir do momento em que esteve quase a ser morto por Opiwi e António. Quando terminou, Coley começou a rir.
— Admito que possui uma boa imaginação, Brand. Já me tinham dito que passa a vida só e não há nada como a solidão para avivar a fantasia.
— Já lhe fiz uma advertência, Coley — respondeu Joe com uma voz rouca. — Não me faça perder a paciência. As coisas sucederam como eu disse.
— Por favor, senhores --interveio o comandante. — Ou vou ter de lhes recordar o lugar em que se encontram?
Fez uma transição e depois McSeween dirigiu-se à ruiva.
— A senhora é a parte prejudicada, menina Pulver, e, portanto, tem de decidir acerca deste assunto. Naturalmente, se insiste em acusar Joe Brand, ordenarei que o detenham e que se formalize o oportuno expediente.
Coley sacudiu a cabeça.
— Tudo está demasiado claro, comandante, e a menina Pulver exige que este homem seja castigado como merece.
—Um momento, Harry —disse a ruiva.
Todos os que se encontravam no quarto, olharam a menina Pulver, que, depois de humedecer o lábio inferior com a língua, declarou olhando McSeween:
—Já lhe disse antes que não estou certa que este homem fosse um dos que eu vi entre os nossos atacantes. Assim considero que seria injusto manter a minha acusação contra ele.
— Então, menina Pulver? — inquiriu o comandante.
— Deixe-o livre.
Harry Coley apertou com força os lábios.
—Não pensa que é demasiado generosa, menina Pulver? Então já não se recorda de que forma tive de defendê-la matando três índios para evitar que eles nos liquidassem? —Estendeu a mão, assinalando Brand. —Ele é um daqueles tipos!
— Cale-se, Harry — disse a menina Pulver, levantando o queixo. — Não estou certa, nem você tão-pouco. Aquele homem que vimos esconder-se entre as rochas estava demasiado longe.
— Muito bem, Menina Pulver — disse Coley, com voz carregada de ira. Assunto concluído.
A menina Pulver olhou para Dolores.
— Podes ficar com os dois vestidos, rapariga. Eu ofereço-tos.
— Você oferece-mos a mim? —exclamou a mexicana, apontando o peito com o dedo indicador. — Não os queria nem que estivessem cosidos com fio de ouro! E não tiro aqui o que levo vestido porque não quero dar espetáculo. Mas muito depressa terá a sua roupa, menina Pulver. Juro-lho! — Dolores dirigiu-se para a porta, mas ao passar diante de Joe Brand, deteve-se. —Tinhas-me gravada no teu pensamento! Tinhas comprado os vestidos. Já podes estar orgulhoso! Mas ao fim e ao cabo, que se pode esperar dum lagarto do deserto?
Depois a jovem saiu, fechando a porta com força. Joe Brand afastou o olhar do chão. De repente, ouviu a voz de Harry Coley.
— É deveras muito gracioso isso de que para conquistá-la tenha de mentir, Brand.
Joe lançou a direita contra a cara de Coley. Soou um barulho e o loiro cambaleou, mas não chegou a cair porque conseguiu ferrar a mão na mesa. Os seus olhos aumentaram e na sua boca apareceu uma careta selvagem. McSeween levantou-se dum salto da secretária.
— Que é que pensam vocês? Vão converter o meu escritório num saloon?
O loiro tinha começado a mover a mão para o revólver, mas ficou imóvel ao ouvir a voz do comandante. Joe Brand também tinha a mão aberta, os dedos curvos sobre o «Colt» 45, que gravitava junto da anca. A ruiva olhava fixamente Joe Brand e agora disse:
—Por favor, comandante. Não tome isto em conta. Na realidade, eu sinto-me culpada porque realmente fui eu que dei lugar a este incidente.
Houve outra pausa e McSeween ordenou:
— Vá-se embora, Joe!
Brand recobrou a mobilidade. Os seus olhos observaram a menina Pulver e depois outra vez Coley. Por último, os seus lábios disseram algo muito baixo que resultou ininteligível e saiu do escritório.
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