segunda-feira, 8 de julho de 2019

COL025.07 Luta interrompida por visitantes inesperados e pouco afáveis

Estava amanhecendo. Joe fazia a sua guarda enquanto Virgínia e Harry Coley dormiam de costas para a encosta. Brand tinha escolhido aquele lugar para acampar porque dessa forma só teria de vigiar a parte da planície.
Virgínia mexeu-se debaixo da manta e abriu os olhos. O seu olhar encontrou-se com o de Joe. Permaneceram um momento a observar-se. Depois ela levantou-se compondo a saia. Olhou para Harry Coley, que permanecia imóvel.
— Estou cheia de frio —disse. —Porque não acende uma fogueira, Joe?
— Delataria a nossa presença.
—Pensa que os temos tão próximo?
—É certo que estão tratando de aproximar-se mais ao nosso acampamento.
A jovem deitou os cabelos ruivos para trás.
— Estive a fazer a mim própria uma pergunta, Joe.
—Sim?
—Talvez a si lhe agrade esta vida solitária porque uma mulher o dececionou.
—Não, Virgínia. Não foi nada disso — respondeu Joe.
—Nunca se enamorou, Joe?
— Suponha que sim.
— Mas nunca se casou.
—Não, nunca. Pensei que, dado o meu carácter, não servia para manter-me atado toda a vida a uma mulher. Logicamente teria de permanecer num mesmo lugar.
—E Dolores?
—É uma boa amiga.
— Só isso?
—Não é mais nada.
De repente interromperam o diálogo porque Harry despertou fazendo um bocejo. Ao ver Virgínia e Joe muito próximo um do outro franziu as sobrancelhas.


— Por mim podem continuar — disse sarcástico.
A jovem retrocedeu um passo.
— Não tínhamos começado nada, Harry.
Coley endireitou-se passando as costas da mão pela barba crescida. Os seus olhos estavam fixos na cara de Joe Brand.
—Não me parece que perdes tempo, hem, Brand?
—Tira esse sujo pensamento da tua cabeça.
—Ninguém me pode obrigar a isso. E será melhor que comeces a dar-te conta duma coisa, Joe. As tuas ordens referem-se só à viagem, mas isso é tudo. E não penses que com ela tu és o primeiro — apontou com a cabeça para Virgínia.
A menina Pulver apertou os punhos cheia de indignação.
—Você é um embusteiro, Harry.
—Vai negar que me deu um beijo?
Virgínia sorriu para. Joe Brand.
— Sim, dei-lhe um beijo, mas foi como agradecimento depois de ter feito fugir aquele grupo de índios.
Harry começou a rir.
— As mulheres sabem dissimular bem. Palavra que sim, é verdade, Brand?... Ouviste-a? Deu-me um beijo, mas era só de agradecimento... Infernos, ela é uma brasa.
O punho direito de Joe golpeou com força no queixo de Coley que caiu pelo chão. Joe ficou com as pernas abertas em compasso, as mãos cerradas.
Virgínia Pulver respirava agitadamente, ébria de raiva pelo insulto que acabava de ouvir na boca de Harry. Coley levantou-se cheio de fúria. Um fio de sangue corria-lhe pelo canto da boca.
— Maldito sejas, Brand!... Vou-te moer os ossos!
—Haverá tempo para que tu e eu nos enfrentemos — disse Joe.
—Não, rapaz. Vai ser agora.
Joe olhou-o um momento e finalmente assentiu com a cabeça.
—Está bem, Harry. Talvez não seja má ideia.
Virgínia gritou:
— Será que se tornaram loucos os dois?
— Afaste-se, Virgínia — disse Joe.
Coley avançou sobre Brand pronto para iniciar a luta. Levantou o punho esquerdo, mas descarregou o direito. Joe recebeu o golpe na cara e girou como um peão sem chegar a cair. Harry lançou um grito de vitória e lançou-se sobre o seu inimigo a quem golpeou outra vez, agora no fígado. Joe juntou todas as suas energias no braço esquerdo e desferiu o punho no estômago de Coley.
6o —
Continuaram trocando golpes demolidores, mas os dois estavam bem assentes no chão e apenas retrocediam um passo. Nenhum deles se ocupava em defender-se dos murros do outro. Era uma luta selvagem, primitiva. Respiravam ofegantes e em poucos segundos as suas caras ficaram cheias de suor e sangue.
Harry Coley conseguiu colocar um golpe certeiro entre os dois olhos de Joe e este caiu no chão. Harry tinha ido atrás do seu inimigo, mas faltaram--lhe as forças e ele também se deixou cair no chão apoiando um joelho na terra.
Joe endireitou-se e esteve quase a cair, mas conseguiu manter o equilíbrio. Também Coley se pôs em pé. Os dois rivais observaram-se mutuamente.
— Cairás ao próximo murro —disse Coley com ironia.
—E possível que sejas tu quem fique estendido.
Coley tratou de sorrir, mas um dos seus lábios estava rachado e saiu-lhe uma careta. Começou a andar outra vez sobre Brand. Agora golpearam-se com menos força porque ambos estavam muito cansados.
De repente, os dois alcançaram-se na cara. Foram dois murros simultâneos. Joe tinha disparado a direita e Coley a esquerda. Os dois caíram no chão. Outra vez começaram a tentar pôr-se em pé, cuspindo saliva e sangue.
De repente, soou um estampido e a bala passou por cima das suas cabeças. Os dois voltaram-se levando a mão ao revólver. Mas nenhum deles chegou a agarrá-lo. Pelo lado direito da encosta tinham aparecido quatro ginetes.
Eram os Randall e os seus dois companheiros, e à exceção de Bob, os outros tinham uma espingarda na mão. Nick Randall sorriu.
— Diabos, vocês perdem dinheiro. Fizeram-me pagar em Abilene meio dólar para presenciar uma luta que acabou ao primeiro murro.
Bob Randall olhou a ruiva.
—Não to adverti, Nick? Acabariam por lutar... Uma mulher é sempre a causa.
Nick moveu a cabeça.
— O meu irmão é um pouco filósofo, sabem? E agora, amigos, levantem os braços. E não façam tolices.
Joe Brand e Harry Coley obedeceram. Mas as suas respirações eram entrecortadas como consequência da luta que tinham entabulado.
Os ginetes puseram-se em pé e Randall fez um sinal com a cabeça a um dos seus companheiros e este foi por detrás de Harry e Joe e desarmou-os, atirando as armas para umas quantas jardas de distância. Depois Nick Randall olhou para Virgínia.
— Bem, menina Pulver. Já sabe para o que vimos... Queremos o seu mapa.
— Não lho darei.
Bob Randall lançou uma gargalhada.
—Ê brava a fêmea — comentou.
Nick soltou uma cuspidela.
—Perdeu, menina Pulver. Contratou dois homens para que a defendessem e isso, como disse meu irmão, é sempre uma coisa má... Você é demasiado atraente para andar entre fulanos como nós. Você é estupenda. Sim, senhor. Confesso-o.
Virgínia levantou o queixo.
—Tenho mil e quinhentos dólares. São meus, senhor Randall. Pode-os repartir com os seus homens. Dessa forma a sua viagem não terá sido inútil.
— Não nos virão mal esses mil e quinhentos dólares, mas juntará um mapa ao donativo.
— Não vou fazer tal coisa.
Joe molhou os lábios com a língua.
— Entregue-lhes esse plano, menina Pulver. Eles ganharam a partida e é inútil que tentemos opor-nos aos seus desejos.
—Brand é um homem muito sensato — disse Nick Randall. — Faça o que ele diz, menina Pulver.
Virgínia titubeou uns instantes, mas finalmente disse:
—Está bem, dar-lho-ei.
Rapidamente começou a andar.
— Onde vai? — perguntou Randall.
Virgínia deteve-se.
—Tenho-o no meu cavalo. Está na bolsa.
— Está bem. Vá lá buscá-lo.
Virgínia aproximou-se do seu cavalo de costas para os homens e meteu a mão na bolsa. Joe disse naquele momento.
— Suponho que nos deixarão os cavalos para regressarmos a Forte Diabo.
— Isso o decidiremos depois — disse Nick Randall sorridente.
Virgínia voltou-se muito rapidamente com um revólver na mão e disparou sobre um dos companheiros de Randall, o tipo que tinha uma cicatriz na face, que recebeu o projétil no peito e caiu sem vida.
Joe saltou sobre Nick Randall e Coley apanhou o punho armado do outro fulano. Os dois pares caíram ao chão dando voltas. Bob Randall tirou a espingarda que tinha na sela, mas então chegou-lhe a voz de Virgínia.
— Não faça isso ou disparo também contra si!
Bob olhou a jovem com os dentes muito apertados.
— Maldita cabra! — enganou-nos.
— Pensa que lhes ia entregar o mapa tão facilmente? — sorriu a jovem inclinando o corpo para diante. — Agora vão ter o que merecem.
Joe golpeou furiosamente o queixo de Nick Randall e privou-o de conhecimento. Harry Coley tinha desarmado o seu inimigo e estava apertando-lhe o pescoço, afogando-o. Joe apanhou o revólver de Nick Randall e pôs-se em pé.
— Já chega, Harry. Deixa-o.
Mas Harry, com a cara desformada numa horrível careta de ódio, continuava apertando o pescoço que tinha entre as mãos.
— Solta-o já, Harry! — gritou Joe. — Ou juro-te que também haverá chumbo para ti!
Coley deixou livre a sua presa e olhou para Brand.
— Não os vamos carregar. Temos de meter-lhe algum chumbo ou de os afogar.
— Não vamos matar ninguém, Harry.
— Quem o diz? Estás brincando. Que pensas que eles iam fazer connosco? Ou achas que eles nos tinham deixado ir para Forte Diabo?
— Não me importa o que teriam feito, mas nunca matei a sangue-frio e não vou fazê-lo agora. E tão-pouco consentirei que tu o faças.
Harry agachou-se sobre o revólver que tinha pertencido ao homem que ele tinha estado quase a estrangular.
— Não toques nisso, Harry! — exclamou Joe. —Porque não? — Dar-te-ei o teu revólver quando eles se forem embora. Assim poderás resistir à tentação.
Coley endireitou-se outra vez sorrindo.
—Que diz a isto, Virgínia? Sempre acode a defendê-los, mas acho que nesta ocasião não vale a pena.
— Não vou desautorizar Brand — disse a ruiva. — Você esteve quase a ponto de nos fazer perder a viagem, Harry.
Nick Randall voltou a si e ao comprovar que tinham sido derrotados fez ranger os dentes.
—Felicito-a, menina Pulver. Fez um bom trabalho.
— Deixe cair o cinturão ao chão, Nick — ordenou Joe.
— Que vão fazer agora?
— Dar-lhe-emos o passaporte para que possam viajar livres, mas particularmente vou-lhes dar um conselho. Não tentem seguir-nos. Agora não terão nenhuma arma na mão. Quando os vir assomar a cabeça, juro que não os pouparei. Por isso é preferível que se esqueçam de nós.
Fez-se uma pausa e depois Nick Randall obedeceu deixando cair o cinturão, que caiu no chão. Depois, Joe aproximou-se de Bob Randall e depois de lhe tirar a espingarda, ele mesmo lhe retirou o cinturão. Finalmente chegou a vez da vítima de Harry Coley.
— Subam para os cavalos — ordenou por último Joe. — F, recordem-se, esta é a última vez que nos, vemos. Vão--se embora.
Os dois Randall e o seu companheiro esporearam as cavalgaduras e pouco depois desapareciam por detrás da encosta. Joe dirigiu-se a Coley.
— Já podes agarrar o teu revólver, Harry.
Harry agarrou na arma e, com um joelho no chão, apontou o revólver hesitando se devia usá-lo ou não. Virgínia disse:
— Por favor, vamo-nos embora.
Coley pôs a arma na funda. Joe também fez o mesmo e aproximou-se de Virgínia que já tinha subido para o cavalo.
— Você foi muito valorosa, mas não devia tê-lo feito.
—Você sabia que eu ia sacar o revólver, não é verdade, Joe?
Por isso distraiu Nick Randall falando-lhe acerca dos cavalos.
—Não estava muito certo que você ia sacar o revólver, mas preparei-me para o que desse e viesse. Também Harry se portou bem.
Coley riu baixinho.
— Esperas comover-me com isso, Joe?
— Não, penso que não.
—Tu e eu ainda não terminámos.
Virgínia olhou para os dois homens.
—Porque não chegam a um acordo? Podem continuar sem lutar até que regressemos a Forte Diabo. Uma vez ali, serão livres para demonstrarem qual dos dois é mais bruto.
Sem esperar uma resposta, a jovem lançou a sua cavalgadura numa rápida corrida. Harry e Joe olharam-se e finalmente, sem dizer nada, montaram os seus cavalos e foram atrás da mulher.

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