quinta-feira, 11 de julho de 2019

COL025.10 A jovem Virgínia é raptada

Virgínia Pulver deu um grito e agarrou-se a Joe Brand. Harry Coley estava justo dos cavalos e voltou-se sacando os seus revólveres. Joe passou o braço pelas costas da rapariga.
—O que é que viu, menina Pulver?
Virgínia respirou profundamente e voltou-se assinalando umas pedras.
— Ali! Um lagarto! Estava-me olhando... Pareciam os olhos duma pessoa... Era grande, enorme.
A jovem estremeceu.
—Bem — disse Joe. — Penso que encontrámos o meu amigo «velho Jones». Esperem aqui.
Começou a andar para o lugar em que Virgínia tinha visto o lagarto. Harry Coley foi atrás dele, dizendo:
—Tenho curiosidade para ver que classe de trabalho é o teu, chefe.
Deram a volta ao pinhal. Joe deteve-se vendo sobre as pedras um rasto de baba seca que brilhava ao sol como se estivesse tecida com fios de prata. O rasto não era contínuo e até desaparecia por vezes no espaço de algumas jardas. Finalmente, chegaram até um buraco.
—E esse o seu esconderijo? —. perguntou Harry Coley.
—O «velho Jones» é um tipo muito inteligente. Possivelmente terá uma centena de refúgios neste lugar do Deserto Pintado. Nós poderíamos permanecer aqui, à espera de que saísse, e ele estaria rindo-se a um par de milhas de distância, apanhando tranquilamente o sol.
—Como os caças, Joe?
— A maneira mais corrente é a de armar uma armadilha com canas, mas isso não serve para o «velho Jones». Uma vez estive quase a agarrá-lo utilizando a maneira do trapo.
— Que é isso?
— Os lagartos mordem um trapo convenientemente untado de sebo. Então dá-se um puxão e o bicharoco fica preso pela boca, mas isso só se aplica quando os lagartos são jovens. Com os velhos só se consegue fazendo perder-lhes uns quantos dentes, mas o tipo fica à mesma dentro do buraco.
De repente, a atmosfera foi rasgada por um novo grito de Virgínia Pulver. Harry Coley pôs-se a rir.


— Isso quer dizer que viu outra vez o teu amigo «Jones». Ao que parece, quer jogar às escondidas contigo.
— Vamos lá—disse Brand.
De repente ouviram um galope e os dois ficaram imóveis. Mudaram o olhar e começaram a correr imprimindo às suas pernas toda a velocidade que lhes era possível.
Joe chegou antes ao lugar onde tinham deixado Virgínia. Ao longe viram um ginete índio que fugia levando nos braços a jovem. Saltaram sobre as suas cavalgaduras e lançaram-se cm perseguição do seu sequestrador.
— Segue-o, Harry! — gritou Joe. — Eu vou atalhá-lo. De acordo, Joe.
Brand traçou um arco pensando que o comanche terminaria dirigindo-se para Este, mas o seu cálculo foi errado porque aquele continuou para norte e desta forma só conseguiu aumentar a distância que os separava. Viu ao longe que Harry Coley tão-pouco conseguia aproximar-se do índio. Isto era devido a que o comanche montava um corcel possuidor dumas boas patas e duma grande fortaleza.
Joe pensou que se se lançasse atrás do índio nunca o conseguiria alcançar. As suas esperanças consistiam em que aquele, tarde ou cedo, se desviasse do seu caminho para Este, e, portanto, continuou nessa direção.
Quando dez minutos mais tarde se deteve, o índio somente era uma nuvem de pó no horizonte. E então descobriu que Harry Coley estava no chão coxeando e o seu cavalo um pouco mais afastado. Joe dirigiu-se para ele.
— Bem, que vamos fazer agora — disse quando chegou a seu lado.
Harry fez uma careta de dor.
— O meu cavalo tropeçou e estive quase a partir uma perna quando me cuspiu da sela. — Olhou para o caminho que tinha seguido o índio. — Diabos, nunca vi um cavalo correr tanto como o desse condenado comanche.
— Vamos, sobe para o cavalo duma vez. Temos de livrar Virgínia.
—Sim? De que forma?
— Conheço os costumes de Butchery.
—Bem, se os conheces da mesma forma que os do «velho Jones», estamos bem arranjados.
Continuaram a marcha em direção a Este e sempre vendo ao longe a nuvem de pó que deixava o ginete atrás de si, e de repente, esta começou a aumentar de tamanho pouco a pouco. Joe apertou a rédeas sorrindo.
—Não me enganei, Harry. Temos de dar muita pressa agora. — Apontou umas colinas que havia à direita. — Iremos por trás e se esse tipo segue o caminho que está a levar, chegaremos a encontrar-nos.
Correram por detrás dos promontórios. Detiveram-se nas depressões para observar o comanche que cada vez se via mais próximo.
— Butchery deve estar por aí — disse Joe. — Temos de ter cuidado para que não nos descubra.
Avançaram outras cinco milhas. Joe levantou o braço e saltou do cavalo.
— Onde vais? — perguntou Harry Coley.
Joe não deu resposta. Correu colina acima e quando estava quase a chegar ao alto deteve-se e atirou-se para o chão rastejando. Viu o índio a meia milha. Justamente dirigia-se para a colina que havia ao fundo. Joe regressou para junto de Harry.
— Bem, já os temos. Estão ali atrás. Temos de continuar o caminho a pé. Pega na espingarda.
Seguiram adiante preparados para qualquer surpresa. Subiram a ladeira cheia de pedras e Joe fez sinal a Harry para que tivesse cuidado ao pôr os pés. Arrastaram-se silenciosamente até chegarem à beira duma pequena elevação. Ao fundo viram uns quantos homens.
— Demónios — exclamou Harry Coley. — Esses são os Randall.
— Sim, mas também está Butchery — respondeu Joe. —Pelos vistos chegaram a um acordo. Agora os Randall têm armas.
Virgínia estava no chão soluçando e a duas jardas dela, de pé, encontravam-se Butchery e os Randall.
—Quero o mapa — ordenou Nick Randall, com voz seca. — Ela tem-no, Butchery.
O comanche tinha os dedos no cinturão e sorriu brincalhão.
— Já no-lo dará, Randall — declarou. —Primeiro tenho de matar Joe Brand e ela vai-me servir de isca. Depois nos ocuparemos desse ouro a que te referiste.
Butchery voltou-se para o ginete que tinha raptado Virgínia Pulver.
— Como é possível que não te tenham seguido, Vitorio?
—Um deles vinha atrás de mim. Não sei se era Joe ou o outro. O seu cavalo tropeçou e o ginete foi-se abaixo. Tomei-lhes muita vantagem. Quando chegava às colinas não vinha rasto deles nas minhas costas.
— Está bem. Será melhor que subas para a colina e vigies dali.
— Está bem, chefe — disse Vitório.
E começou a andar para o lugar onde se encontravam Joe e Harry. Este murmurou:
—Porque não lhes damos uns tirinhos, Joe?
—Eles podem matar Virgínia. Temos de assegurar-nos de que isso não aconteça. Esconde-te. Temos de eliminar esse tipo que se aproxima. Mas é melhor que o deixes por minha conta. Se eu falho, tu entrarás em ação.
Harry confirmou e foi-se refugiar atrás duma pedra. Joe encostou-se à parede duma elevação de terreno. Ouviu os passos do índio que subia a ladeira e de repente apareceu a menos duma jarda dele. O índio viu-o pelo canto do olho e começou a voltar-se levantando a espingarda.
Joe lançou-se sobre o seu inimigo dando-lhe uni terrível murro no estômago. Ambos rolaram ladeira abaixo, justamente para o lugar onde se encontrava Harry, que se agachou sobre o índio e lhe deu uma pancada com a culatra da espingarda privando-o instantaneamente do conhecimento.
Joe pôs-se em pé prestando atenção aos ruídos que pudessem chegar do outro lado. Harry Coley olhou com um sorriso o raptor de Virgínia.
— Não penso que tenham ouvido. Demo-nos muito pressa em tirá-lo do meio. Qual é o número seguinte?
—Vamos assaltar o acampamento, tu pelo Norte e eu pelo sul. Mas, recorda-o, Harry. Necessitamo-la viva.
— Sim, chefe.
Separaram-se, indo cada um ocupar o seu lugar para iniciar o ataque. Joe procurou um ponto de observação donde pudesse ver de vez em quando Harry. Esperou um momento até que o seu companheiro lhe fez o sinal com a mão e então começaram a descer amparando-se nas depressões do terreno.
Finalmente, Joe perdeu de vista Coley. Estava a umas vinte jardas do lugar onde se encontravam acampados os Randall e Butchery. Virgínia tinha-se sentado numa pedra. Os Randall estavam de cócoras, comendo uma ração de toucinho, Butchery olhava a jovem e de vez em quando bebia um trago de uma garrafa de whisky. Dois comanches entoavam uma canção enquanto examinavam os seus revólveres. O outro compincha dos Randall entretinha-se a apontar a espingarda a um suposto alvo.
Joe decidiu aproximar-se um pouco mais. Mas, de repente, Harry Coley fez fogo do outro lado. O tipo da espingarda ficou um instante quieto e depois caiu de bruços.
— Deita-te ao chão, Virgínia — gritou Joe.
Mas a jovem tinha ficado imóvel. Os Randall levantaram-se rapidamente deitando a mão às suas armas e Butchery já tinha a espingarda junto à cara enquanto os outros dois comanches olhavam assustados para um e outro lado.
Joe saiu do seu esconderijo e começou a correr para Butchery. Harry Coley continuou disparando a sua espingarda e os Randall atiraram-se para uma cova para evitarem as balas.
Butchery voltou-se ao ouvir uma corrida nas suas costas. Joe viu que o seu inimigo se dispunha a fazer fogo, mas ele apertou o gatilho antes. Butchery recebeu o impacto no peito e soltou o revólver lançando as mãos à ferida. Murmurou algo entre dentes e, finalmente, caiu no chão.
Joe ia lançado e atirou-se para onde se encontrava Virgínia perseguido pelas balas de dois comanches que já se tinham refeito da surpresa.
Nick Randall levantou-se para fazer fogo, mas Harry Coley estava vigiando os dois irmãos e cravou-lhe uma bala na testa.
Joe, apenas chegou junto de Virgínia, voltou-se como um raio e disparou contra os índios. Um deles dobrou-se para diante e caiu no chão, estremecendo umas quantas vezes antes de morrer. O outro índio deixou cair a espingarda e levantou os braços.
— Não atirem, amigos!
Isto foi o final do combate. Bob Randall também levantou as mãos ligadas. Harry Coley avançou movendo a espingarda e Joe pôs-se de pé.
—Já passou tudo, menina Pulver.
Harry Coley lançou um assobio e depois disse:
—Que dizes agora, Joe? Estes tipos devem morrer.
—Não farás isso — respondeu Brand. — Bob Randall está inutilizado e este ladrão índio dar-se-á muita pressa em afastar-se destes lugares.
Bob Randall olhou o seu irmão Nick.
—Ele tinha razão — murmurou. — Não mostrava apego a este caminho para chegar à Califórnia. Preferia ir por Silver City, mas sempre quis deixar que satisfizesse o meu capricho.
Joe moveu a cabeça.
—Vai-te embora, Bob.
O loiro fez um gesto afirmativo.
— Podes levar uma espingarda — disse Joe.
Harry Coley foi para protestar, mas Brand fez-lhe um sinal e guardou silêncio. Bob Randall agarrou uma das espingardas que estavam no chão e colocou-a na funda da sua sela. Depois montou e ficou olhando para Brand. Finalmente, sem dizer nada, esporeou a sua cavalgadura e esta partiu dirigindo-se para o Sul. Depois, Joe falou ao índio sobrevivente do massacre.
—Tu também te vais embora, irmão, mas recorda-o enquanto viveres. Não te cruzes no caminho de Joe Brand.
O comanche titubeou.
— Joe Brand, homem generoso. Já mo tinha dito António e agora também o sei.
Caminhou para onde estavam os cavalos e montou em pelo sobre um deles. Depois afastou-se a trote na direção contrária à seguida por Randall.
Harry Coley deu um suspiro.
—Pergunto a mim mesmo se alguma vez terminaremos esta viagem.
-- Agora não teremos nenhuma dificuldade — respondeu Joe. — Tudo irá como uma maravilha. Vamos, menina Pulver?

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